Esse negócio de melhor geração é muito relativo. Títulos pelos títulos, penso, não são critérios herméticos para arrematar a melhor geração. Acho que a gente tem que entender o contexto primeiro e depois olhar peça por peça, homem por homem.
Por exemplo, a nossa geração de 94-06 era, no papel, em termos de diversidade de valores, além dos 11 em campo, nas mais diversas posições, melhor do que a geração da década de 58-70. Em termos de atacantes, zagueiros e laterais, a geração de 94-06 foi melhor do que a geração 78-90, esta geração que nos deu uma profusão de jogadores técnicos.
Ainda sim, a geração de Reinaldo e Zico não ganhou nada, nem a Copa América. Absurdo isso quando tivemos gente como Zico, Sócrates, Falcão (nosso melhor volante da história), Leandro (talvez o melhor lateral direito da história do futebol, segundo o próprio Carlos Alberto), Reinaldo (o melhor centroavante da história do Brasil, até então), Junior (para quem viu, muito melhor do que R. Carlos e Marcelo), Dinamite, Dirceu Guimarães, Oscar (há quem diga ser o melhor zagueiro brasileiro da história). Mas não ganharam nada! Nem Copa América. E disputaram, diferente da geração de Pelé, que fazia pouco caso do torneio continental.
A geração do Pelé, aliás, não ganhou também uma Copa América sequer, embora o torneio não fora disputado de 67 a 75. Mas o auge do Pelé, que foi de 60 a 66, Pelé não ganhou. Não ganhou porque a seleção titular não disputava o torneio, fazia pouco caso de títulos, preferindo viajar à Europa e confrontar as grandes seleções europeias, seja lá, seja aqui mesmo, em busca de dinheiro. O único torneio que importava mesmo à seleção brasileira era a Copa do Mundo. Tal como os times brasileiros, como Botafogo, Palmeiras e Santos, que preferiam disputar torneios na Europa, em vez da Libertadores.
Ao passo que a nossa geração de 94-06 é a mais vitoriosa da nossa seleção, em títulos oficiais, mais do que a geração Pelé. Acredito que a década de 90 até meados de 2000 tivemos o maior número de jogadores de qualidade, na nossa história. Todo torneio era uma seleção diferente e todo torneio ganhávamos.
Por isso, acredito que títulos pelos títulos não são suficientes.
É difícil arrematar qual a melhor geração do Chile, visto que, como um país pequeno e de população reduzida que tem, o país, quando forma um time competitivo, é em razão de no máximo quatro jogadores de alto nível. Não sei se, de fato, esta geração é, individualmente, a melhor do Chile. O fato é que ela é a mais equilibrada. Sem a menor dúvida. Explico.
Taticamente, entende-se a formação de um time a partir de sua coluna central, que é o goleiro, um zagueiro, um meia e um atacante. O time que tiver quatro excelentes jogadores formando a coluna central de um time, vai ser mais equilibrado do que aquele que só tem valores excelentes em certas posições de campo - como é o caso dessa atual e ruim geração argentina, que tem uma coluna vertebral fraquíssima, somente a sua vértebra de ataque é poderosa. Goleiro, zagueiros e meias são notadamente inferiores aos atacantes. O resultado está aí.
Quanto à geração de Zamorano e Salas, ela sofria exatamente de uma coluna vertebral fraca. Essa dupla de ataque era uma das mais perigosas do mundo. Se a gente assistir apenas os jogos da fase de grupos do Chile em 98, veremos que eles eram mortíferos em bola aérea e no um-dois. Sierra era o Valdívia do seu tempo. Lampejos de genialidade. Clarence Acuña era o quarto nome dessa geração. Bom jogador do New Castle. Ou seja, dois excepcionais atacantes e dois meias medianos. Em termos de valores individuais, acredito que esta atual é ligeiramente melhor - A. Sanchez, excelente atacante; Vidal, excepcional meia; Medel, excelente zagueiro; e, Bravo, ótimo goleiro. Uma coluna mestra perfeita! É uma geração mais equilibrada.
Também ouve a geração da Copa de 1974, época em que classificava apenas TRÊS SELEÇÕES da América do Sul. Argentina e Brasil, como de praxe, e Chile se classificaram. Figueroa e Quintano formavam a melhor dupla de defesa do mundo, segundo Beckenbauer. Além de Francisco Valdes e Carlos Reinoso, dois camisas dez tipicamente sulamericanos. Faltava atacante. Figueroa, inclusive, é considerado o terceiro melhor zagueiro de todos os tempos, perdendo só para Beckenbauer e Baresi. De certo, nem um jogador dessa atual geração figura como top 20 de todos os tempos, tampouco entre os 100.
Tem também a geração de Eyzaguirre, Leonel Sanchéz e Hormazábal, terceira colocada na Copa de 62.
E tem algumas atenuantes em relação à geração do Zamorano, o time não disputou as eliminatórias da Copa de 94 por ter sido banido dos torneios FIFA, devido à punição imposta pelo episódio de Rojas e a Rosinery Fogueteira. Mas jogaram a Copa América.
E, naturalmente, quanto aos torneios continentais, a seleção chilena não dava para competir com a ótima geração uruguaia de Bengoechea, Gustavo Poyet, Fonseca, Francescoli, Rúben Sosa e Herrera, que não se classificou para a Copa de 94 (mas foi campeã da Copa América em 95 e foi à Copa de 90); com a geração de 90 da Argentina, bicampeã da Copa América, composta de Simeone, Ruggeri, Sensini, Basualdo, Burruchaga, Maradona (que não jogou), Batistuta, Caniggia e Balbo, e depois complementada por Redondo e Ortega; além da Colômbia de Escobar, Rincón, Álvarez, Asprilla, Valencia e Valderrama; e a nossa seleção brasileira que, bem ou mal, sempre foi uma equipe de grandes nomes, apesar das ingerências da CBF junto a Falcão, e depois as birras de Parreira, que impediam de convocar jogadores da Copa de 90, Romário, para prestigiar jogadores que atuavam no futebol brasileiro.
Na época do Chile de Zamorano, de meados de 92 a 2000, acredito que a Argentina e o Brasil estavam em outra categoria. Bem acima. Tal como este Brasil de Tite está agora. Essas duas seleções tinham além de uma coluna central excepcional, tinha jogadores ótimos e excelentes nas demais posições, algo que a Argentina não possui mais. Uruguai e Colômbia vinham logo atrás. Colômbia que deu show nas Eliminatórias e Atropelou a argentina. Sem esquecermos do Paraguai de Chilavert, Gamarra, Ayala, Arce, Acuña, Benitez e Cardozo, que deixaram de se classificar em 94. E ainda tinha a Bolívia de Etchverry, Erwin Sanchez e Cristaldo.
Penso que a seleção chilena de hoje está no mesmo nível de Argentina e Uruguai de hoje. Médias. Nota 6. Não se classificou, acredito, por razões de excesso de confiança e desconcentração em alguns jogos passados. Brasil está melhor, no nível de Alemanha, Espanha e França. Nota 8, muito em razão da injeção de ânimo dado pelo Tite e por encontrar, sorte ou não, um centroavante de alto nível, um meia-atacante quase ao nível do Neymar e um volante que além de poderoso na marcação, sabe sair jogando. Hoje o Brasil além de ter uma coluna fortíssima, tem "costelas" excelentes.
Essa atual geração do Chile é muito boa. Ganhou duas copas continentais de forma meritória, mas não se pode negar que pegou duas gerações bem niveladas por baixo de Argentina e Brasil (2011 - 2015), antes de Coutinho, Jesus e Casimiro, que deram qualidade absurda ao time. Além de um Uruguai com dois atacantes excepcionais, um zagueiro excelente, e os demais medianos para ruins. Bem como uma Colômbia também desequilibrada, com um atacante excepcional, um meia excelente e os demais medianos para ruins. Paraguai, Peru, Equador, times bem medianos, compostos por jogadores esforçados, velhos e dedicados apenas. Com exceção do Guerrero, que é ótimo jogador.