Não quero dizer que não é democrática, mas a demo cracia, poder do povo, não é absoluto, este poder está submetido a constituição, por isso ela quase não se alterou ao longo de décadas, eles acreditam mesmo que é um documento sagrado, alguns mais "supersticiosos" que foi algo inspirado por Deus e tal, é uma República constitucional com viés democrático, veja o vídeo abaixo:
Não há falsa incoerência, e sim, esquerdistas que são favoráveis a liberar drogas, aborto e etc mas são contra liberar porte de armas também são incoerentes, é só o outro lado da moeda.
Bom, continua errado. Pelo menos, do ponto de vista técnico, como falei. Entender democracia como poder absoluto do povo é simplesmente desconhecer o conceito da própria democracia moderna, instituído, paradoxalmente, pelos americanos que, hoje, estão tão fascinados pelo revisionismo histórico e mudança arbitrária de significados que só a Internet permite, forçando a barra para que tudo se adeque à ideologia de cada um ou do momento.
Quanto à falsa incoerência, ela decorre da incapacidade de enxergar os contextos distintos. Botar tudo no "exercício de liberdade individual" é não compreender o alcance das próprias liberdades públicas, que são sempre limitadas e se adequam a realidades específicas (assim, a liberdade de expressão, de crença religiosa, de reunião, artística, profissional, de preservação da intimidade e privacidade são aspectos diferentes do grande "direito à liberdade"; cada um em seu contexto, cada qual com suas limitações e características).
Assim, enquanto a liberação do consumo de drogas é desejada por alguns com base num aspecto de liberdade (usar o próprio corpo como bem entender, inclusive estragando-o ou entorpecendo-o), quem defende o uso de armas de fogo geralmente o faz com base em outro aspecto: o direito à autodefesa (preservar a incolumidade do seu próprio corpo e de outras pessoas, geralmente familiares). Ser favorável a um não significa ser necessariamente favorável ao outro, pois cada um tem seu próprio "quadrado" (apesar dos pontos de interseção, claro).
Fora que há distinção também nos argumentos dos males sociais presumidos pelos críticos: enquanto para alguns a disseminação das drogas traria caos social decorrente de viciados partindo para violência e perda da capacidade produtiva, comportamental e educacional de parcela considerável da juventude, para outros a liberação do uso de armas de fogo potencializaria a letalidade dos conflitos pequenos e aumentaria a quantidade de acidentes fatais.
Só isso já mostra que não há, de fato, verdadeira incoerência. Ela é falsa, já que só existe quando alguém ignora os detalhes e questões mais sutis. Essa prática, aliás, de alijar as opiniões alheias de densidade, exibindo-as como meras caricaturas do que efetivamente são, com o escopo de reduzi-las e facilitar a crítica, é muito nociva, mas infelizmente, bastante comum.
Tem mas um pouco. Vamos lembrar da proibição para dirigir veículo automotor sob o efeito de álcool. Todos concordamos que é uma proibição, pelo menos, razoável? Pois bem. Em se tratando de arma de fogo liberada numa sociedade onde é permitido consumir todo tipo de droga (estou sendo extremista porque é o mote do tópico), parece que temos uma mistura ainda mais complicada para resolver. Um "louco nas drogas" com arma de fogo é tão perigoso quanto um motorista bêbado, porém mais difícil de fiscalizar. Logo, alguém preocupado com os riscos de uma sociedade com tal nível de vulnerabilidade, pode acabar por ser favorável à liberação de apenas uma das opções (drogas ou armas) e não estará, necessariamente, sendo incoerente. Ele apenas tem um ponto de vista diferente e talvez até frágil, porém coerente.
De minha parte, uso arma de fogo há uma década e meia (tudo legalizado) e sou abstêmio em relação a bebida alcoólica ou qualquer substância que afete minha sobriedade. Inclusive, sou considerado bem chato por isso também. Considero irresponsável beber e andar armado, porque a arma de fogo exige muito controle emocional para só ser usada no momento certo. Briga no trânsito ou na rua podem levar alguém alterado a sacar desnecessariamente o seu instrumento de proteção. É preciso ter cuidado.
Não sou adepto de armas com base em "liberdade individual". Pelo contrário. Meu sonho é uma sociedade desarmada, assim como no Japão. Só que um país continental, com população gigante altamente complexa e violenta, tem muito mais dificuldades para fazer um controle de armas efetivamente funcional. E, dada a circunstância atual, de incapacidade do Estado brasileiro de executar qualquer política de segurança pública aceitável, sou favorável a facilitar a aquisição e o porte para cidadãos que desejam aumentar as chances de autodefesa, especialmente na própria residência.
Quanto às drogas, meu posicionamento é semelhante. Nem vou dizer aqui o nível de nojo que tenho de quem consome essas porcarias, para não criar polêmica. Quero distância dessa gente. Só que o Brasil já perdeu, a meu ver, qualquer chance de futuro com a política de segurança atual. É uma questão de tempo até que nos tornemos uma narco-nação, com os poderes centrais submetidos ao tráfico riquíssimo e incontrolável. E, dada a circunstância atual, de absoluta falta de perspectiva em insistir na estratégia de combate, sou favorável a estudar uma forma de regulamentar o acesso e o consumo de certas substâncias, para experimentar se realmente é correta a tese que diz que o fortalecimento de um negócio legalizado poderá contribuir justamente para o enfraquecimento econômico do ilegal e, com isso, diminuir os fatores que retroalimentam a violência urbana exacerbada de hoje.