Ecce Animus
Bam-bam-bam
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Fui a um encontro e encontrei a solidão
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Não sou broxa, sou um gênio!
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Não sou broxa, sou um gênio!
Cheguei a conclusão que não sou broxa, mas que sou um gênio. Talvez isso seja uma desculpa conveniente, porém é exatamente isso que meu teste psicológico retirado aleatoriamente de um site aleatório diz. Alguns mal-intencionados dirão que sou pura e simplesmente gay, mas isso é uma inverdade tenebrosa. (Eu já tentei transar com homens, broxei também.)
Conheci uma garota aleatória no Tinder e combinamos de nos encontrar. Encontrei-me com a moça num shopping pelas redondezas. Ela era esplêndida, bela como uma deusa. Havia, porém, um problema. Eu não conseguia me concentrar nela de forma alguma. Eu estava presencialmente lá, no shopping, com uma bela garota, com uma sorte brutal e inigualável. Todo homem, naquele momento, invejar-me-ia quando me vesse, todo homem almejaria ser eu naquele momento. Eu era o vencedor, o ganhador da bilheteria. Minha mente vagueava sobre a política, sobre a culinária e sobre a cultura japonesa, chinesa e russa.
Isso acontece sempre, não consigo me concentrar em coisa alguma ou, melhor dizendo, em pessoa alguma. Para disfarçar meu isolamento mental e sentimental acabo por contar piadas. Piadas imbecis, mal formuladas. Um observador apurado pode sempre bem dizer: -- Este rapaz não está aqui, está na Lua juntamente com a Nasa ou fazendo sondas em Marte. Eu a beijei no estacionamento e, de repente, ela me perguntou:
-- Por que parou de me beijar?
Naquele exato momento em pensava em SNK (Shingeki no Kyojin). Não me passava pela a cabeça que, em algum momento, eu a estava beijando. Esqueci-me do beijo, da garota, do shopping e de todo resto. Era-me tudo uma paisagem obtusa, sem valor. Imaginem só, imagem só: enquanto havia nela uma atração tremenda para um homem distraído e estranho como eu, o homem com quem ela estava perguntava-se acerca da maldição do poder titã -- caso você tenha se perdido, leitor: esse tal homem distraído era eu.
Esforcei-me novamente, dei tudo de mim. Tentei ser alegre, tentei ser capaz. Sentia-me atraído por ela, mas ela não me era uma ideia fixa. Entre ter uma relação sexual com a garota e ler mais sobre os mísseis nucleares da Coréia do Norte, eu ficaria com os mísseis. Na verdade, trocaria os mísseis norte-coreanos para estudar literatura russa. Trocaria a literatura russa para comparar a Revolução Francesa com a Revolução Americana e tecer a elogios a obra de Burke e Tocqueville. Penso em coisa demais em questão de pouco tempo fazendo meu processador cerebral pifar.
Não, não, eu não sou gay. Nada disso, calma lá! Eu queria tê-la, mas, ao mesmo tempo, queria ler Dostoiévski. Para se fazer sexo se é necessário a ideia fixa. O homem, durante o sexo, tem que se concentrar no sexo e só no sexo. No encontro se precede o mesmo: o homem deve se concentrar na mulher e só na mulher. Mesmo assim eu tratava a garota como se fosse uma paisagem obtusa, o shopping como se fosse meu quarto e usava meu cérebro como se fosse meu computador para acessar links de minha memória no qual eu estudava sobre o regime civil-militar brasileiro.
Agora tenho outro medo, um medo brutal e fulminante. Eu fujo do sexo na faculdade. Seriamente fujo do sexo na faculdade. Não consigo fazer sexo sem broxar. Para alguns o sexo termina depois do gozo, para mim o sexo termina quando eu broxo. (Leitor, saiba de uma coisa: eu sempre broxo). Tenho medo de ter que transar. Tenho medo que me perguntem o motivo de eu transar e descobrirem que eu sou broxa. Tenho medo que uma garota me chame e eu tenha que dizer a ela que não posso ir. Quanto mais se acentua a minha relação com a faculdade e o ambiente social acadêmico: maiores são as chances disso acontecer. Quando isso acontecer a faculdade inteira saberá: sou um nerd broxa. Pior que isso, já me perguntaram se eu peguei uma garota da faculdade e eu disse que não. Dei todo tipo de pirueta para justificar a minha falta de interesse pelas garotas que ficam ao meu lado cinco dias (ou quase) por semana.
Beijo mulheres e fico duro. Já tentei com homens e tive nojo, não bateu a brisa dionísica, o hedonismo erótico. Descobri recentemente que sou uma pessoa ultra-introspectiva. Que sou um INTP. INTPs são pessoas que adoram teorias, que adoram pensar. Eu penso em muita coisa, a grande maioria delas não da retorno financeiro. Descobri que sou um sujeito lógico, pensante, cabeça séria. Isso explica muita coisa, muita coisa mesmo. Eu não sou só um nerd, sou um ultra-nerd. Comigo estão 3% a 4% da humanidade. Pela primeira vez na história um homem pode broxar e dizer que é inteligente demais para fazer sexo e por isso falha.
Claro que não há nenhum estudo sério mostrando que INTPs broxam; porém ainda é uma boa desculpa para um rapaz jovem e introvertido como eu. Nos assuntos sociais não sei dissertar sobre coisa alguma além de política, literatura e teorias sobre animes e mangás japoneses. Falo também sobre jogos. Sobre sentimentos? O que são sentimentos? Não sei o que é ter um sentimento, mas posso sistematizar uma conclusão lógica sobre os sentimentos. Ah, esperem, esperem. Eu falava sobre uma garota, não falava? Voltemos a garota.
No momento em que estive com ela, estive só. Eu era solitário. Eu era solitário e causava solidão. O mundo virou-me uma paisagem obtusa, desimportante. A garota queria me ter. Eu queria voltar pra casa, talvez levá-la comigo e depois esquecê-la enquanto leio artigos no computador. Nunca consigo me conectar sentimentalmente com ninguém. Eu tento, mas há em mim o instinto isolacionista e pensativo. Isolo-me em meu cérebro e me afasto através de pensamentos sobre variados assuntos. Sou um broxa, mas sou um broxa por ser pensante.
Fonte: Dom Astrogildo