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Meu relato sobre um programa de PhD pós-modernista.

Mr.Disco

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Meu relato sobre um programa de PhD pós-modernista.

Por Lawrence Belluci.



Há cerca de 4 anos atrás me inscrevi para um programa de PhD de uma conceituada universidade em uma cidade Brasileira cujo nome será suprimido. Estando no sistema educacional brasileiro por toda minha vida, estava bastante ciente da prevalência dos chamados escritores pós-modersnistas nas Faculdades e Universidades.


Gente como Derrida, Foucault, Deleuze e outros “intelectuais” franceses eram praticamente louvados como deuses em Humanas. Pessoalmente, eu sempre fui cético quanto a intelligentsia francesa e isso foi um dos motivos pelos quais desisti de me graduar em psicologia – campo em que, para minha surpresa, o pós-modernismo era endêmico. Eventualmente, me formei em Direito, área que é relativamente livre desse absurdo.


Eu sempre tive interesse em filosofia (filosofia de verdade, não o charlatanismo francês) e na faculdade tive interesse particular na epistemologia jurídica, um assunto em que gostaria de me aprofundar. Depois do bacharelado, se eu quisesse seguir uma carreira acadêmica, eu teria de enfrentar a tolice do pós-modernismo mais uma vez. Apesar de ser um prospecto desagradável, decidi que, a essa altura da minha vida, estava preparado para lidar (e argumentar contra) os franceses. Isso quando da inscrição e posterior aprovação em um programa de PhD em Epistemologia da Interdisciplinariedade. Aquilo com o que eu me deparei não foi exatamente o que eu esperava.


Estava nesse programa por três anos e, coincidentemente, durante esse tempo, notei o crescimento na crença pós-modernista. Os eventos insanos em Berkeley e Evergreenhave trouxe à tona o assunto de preceitos acadêmicos e liberdade de expressão no campus, onde a farsa do “Pênis Conceitual” levou alguns a externalizarem dúvidas quanto a integridade de todo o campo de estudos de gênero. Alguns (mais notavelmente Jordan Peterson) apontam que o pós-modernismo é a principal causa para toda esta insanidade.

Agora, a situação do Brasil não é a mesma que a dos Estados Unidos. Há diferenças significativas quanto a cultura do campus e práticas acadêmicas e falarei um pouco sobre elas. Dessarte, acredito que há semelhanças entre os ativistas ideológicos de ambos os países que, pelo menos, ajudam a explicar a proeminente insanidade que ameaça sucumbir o sistema de educação superior nos Estados Unidos.

Considerando que eu era um intruso neste programa pós-modernista - minha crenças e interesses me separavam de meus colegas e professores – eu via coisas que eram ignoradas ou simplesmente eram tidas como absolutas pelos adeptos. Coisas que, mesmo quando notadas, estes hesitavam em compartilhar com gente de fora. Por outro lado, anos de exposição a ideologia deles permitiram que alcançasse um patamar de compreensão que até mesmo os críticos mais preparados não conseguem alcançar.

Então, antes de tudo, o que é esse negócio de pós-modernismo sobre o qual as pessoas estão falando? Se você perguntar a um bacharel de filosofia, há uma boa chance de que ele dirá que apesar da palavra ser aplicada por historiadores de arte para se referir a alguns movimentos artísticos, é um termo inventado quando o assunto é Filosofia – cada autor normalmente associado com o termo é tão diferente do outro que usar uma única palavra para descrevê-los como um grupo é inútil ou desonesto.


Isso não é necessariamente verdade. Enquanto há diversas distinções e divergências entre os autores, há uma característica singular que é comum a todos os pós-modernistas: eles tem um patamar muito frouxo para justificativas válidas.


Os ditos pós-modernistas possuem um ponto de vista diferente a respeito. Eles aparentemente acham que discutir é um engodo, então decidiram simplificar drasticamente o patamar do que pode ser considerado como um argumento. É por isso que é possível encontrar frases como “o que está em movimento é o próprio horizonte: o horizonte relativo se distancia quando o sujeito avança, mas o horizonte absoluto, nós estamos nele sempre e já, no plano de imanência” (isso é uma frase verdadeira tirada de o que é filosofia?, escrito pela dupla francesa Deleuze e Guattari).


Então, isso traz a questão do porquê alguém aceitaria esse tipo de pensamento. Porquê muitos Mestres aceitariam que alguém pode se livrar do fardo de argumentar suas próprias ideias? É simples: se você aceita que as ideias de Foucault ou Deleuze com pouca ou nenhuma justificativa, então suas ideias precisam de pouca ou nenhuma, também. É por isso que essa é uma oferta que pouca gente recusaria (e não recusam).


Ese é um ponto que a maioria dos críticos e comentaristas do pós-modernismo. Não é o caso de que Derrida e gente de sua estirpe corromperam acadêmicos que outrora eram competentes mas, sim, que acabaram por montar um palco cheio de fumaças e espelhos, onde eles – indivíduos irrelevantes – poderiam fingir que eram o imenso e poderoso Oz; e outros seguiram na esperança de que eventualmente teriam um lugar atrás das cortinas para si próprios.


Não tenho a intenção de ser duro. A maioria de meus colegas e mestres eram gente decente, os quais apreciava em um nível pessoal. Porém deve ser entendido, especialmente por aqueles que se opõem aos ideais pós-modernistas, que isso não é uma mera questão de simplesmente convencer teóricos de gênero e pós-estruturalistas a abandonar suas falsas crenças e ingressar em uma conversa racional – se esses acadêmicos largarem sua crença pós-modernista, não terão mais o que justificar suas cadeiras e fundos para pesquisa.


Notei que comparado com minhas experiências acadêmicas anteriores, as aulas em meu programa de PhD eram mais diretas e claras. Talvez pelo critério de seleção extremamente enviesado (e possivelmente algum viés pessoal, também), a maioria dos candidatos compartilhava da mesma postura política que os mestres. Possivelmente por essa razão que aqueles que ministravam aulas pareciam confortáveis para deixar de lado (ou simplificar consideralvemente, pelo menos) os jargões e se engajar em uma padrão de fala quase normal.


Outro ponto que geralmente é neglicenciado é que os acadêmicos pós-modernistas não são, em princípio, aversos ao debate: eles são apenas muito, mas muito ruins nisso. Quando falam para um grupo de convertidos, em geral o palestrante ou mestre, de início, usa o senso comum e argumentos compreensíveis. Isso transcorre sem problemas já que a maioria dos candidatos já concorda com as ideias sendo apresentadas mas, eventualmente, alguém (geralmente eu) vai discordar.


Isso pode ser uma surpresa para você mas pós-modernistas são virtualmente incapazes de defender suas ideias. Em retrospecto, isso deveria ser óbvio: os franceses ofereceram um aparato de ferramentas retóricas que permitiriam qualquer um parecer erudito sem ter qualquer conhecimento e evitar debates apenas se escondendo atrás de um jargão e frases prontas – quem seria mais suscetível a isso do que gente que tem problema com conhecimento e debate?


Infelizmente, para o ativista pós-modernista, sua principal ferramenta – o relativismo epistemológico (a ideia de que a verdade é uma construção que se apoia em algum fator subjetivo, como a cultura do indivíduo) - pode ser eficiente para silenciar os opositores mas termina por ser um freio quando se tenta coordenar outros para atingir um fim de fato. Isso é óbvio quando se pensa a respeito: se todas as ideias tem o mesmo valor, qual seria o sentido de se dizer algo?


Deve ser por isso que, de início, seus discursos baseados em anticientificismo e relativismo pareciam timidamente esquecidos nas aulas em que estive. Em seu lugar, ideologia partidária crua rondava vez ou outra. Políticos e Professores geralmente confabulavam sobre os aspectos técnicos do ativismo político – especialmente em como “politizar os pobres”, o que era um eufemismo para propagar a agenda política de seu partido. Eufemismos assim eram muito comuns: um mestre em particular encorajava todos os candidatos a “agregar sua pesquisa a causa do proletário”, o que significava que cada projeto deveria incluir algum tipo de crítica ao sistema capitalista, independente do assunto.


Mas, como aprendi, isso não significava que a retórica do relativismo e do anticientificismo foram abandonadas. Note que se a pesquisa científica for útil, os ativistas do pós-modernismo irão usá-la. Apenas quando os dados científicos são inconvenientes, a noção de que o método científico é colonialista será trazida à tona.


Como disse antes, a situação do Brasil não é a mesma que a dos Estados Unidos da América. Apenas agora a interseccionalidade apareceu na mídia e no meio acadêmico, e os campus são parte de um debate sobre liberdade de expressão que borbulha lentamente. Ainda assim, alguns aspectos do Brasil parecem a frente da curva pós-modernista quando comparados com os Estados Unidos da América. O pensamento pós-modernista é prevalente do ensino médio em diante e tenho certeza de que isto é pelo menos uma das razões pelas quais, apesar de investimento pesado em educação e aumento de ingressos em faculdades, o sistema de educação brasileiro parece não ter melhorado em nada na última década.


No mesmo compasso, meus colegas (a maioria professores e mestres) parecem ter sido completamente desiludidos ou agressivamente radicalizados. Aqueles que eram ou viraram verdadeiros adeptos guinaram cada vez mais ao extremo, perdendo qualquer interesse remanescente no diálogo. Apesar de não querer concluir que esta mudança se deve a influência do programa de PhD (a situação política do Brasil mudou drasticamente nos últimos anos e isso deve ter alguma influência), estou certo de que ter professores dizendo que o capitalismo era a única causa de todos os problemas e que qualquer um que não compartilhasse essa ideia era um perigoso inimigo, não ajudou.


Gostaria de dizer para qualquer um que considera ingressar qualquer programa ou área que é influenciada pelo pós-modernismo: não vá. Se for possível, tente outro caminho. Se não pode – ou se já está engajado em algum programa e tem dúvidas – saiba que, apesar das cortinas e fumaças, atrás das cortinas é apenas uma pessoa. Quando se entende suas técnicas, debater pós-modernistas é bastante fácil. Esteja avisado: eles não gostarão de você depois.


____________________________________________________________________________

Fonte: https://areomagazine.com/2017/09/09/my-experience-in-a-postmodern-phd-program/

Texto traduzido "nas coxas" (estou de férias e entediado). Podem haver imprecisões.
 
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Beren_

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Meu relato sobre um programa de PhD pós-modernista.

Por Lawrence Belluci.



Há cerca de 4 anos atrás me inscrevi para um programa de PhD de uma conceituada universidade em uma cidade Brasileira cujo nome será suprimido. Estando no sistema educacional brasileiro por toda minha vida, estava bastante ciente da prevalência dos chamados escritores pós-modersnistas nas Faculdades e Universidades.


Gente como Derrida, Foucault, Deleuze e outros “intelectuais” franceses eram praticamente louvados como deuses em Humanas. Pessoalmente, eu sempre fui cético quanto a intelligentsia francesa e isso foi um dos motivos pelos quais desisti de me graduar em psicologia – campo em que, para minha surpresa, o pós-modernismo era endêmico. Eventualmente, me formei em Direito, área que é relativamente livre desse absurdo.


Eu sempre tive interesse em filosofia (filosofia de verdade, não o charlatanismo francês) e na faculdade tive interesse particular na epistemologia jurídica, um assunto em que gostaria de me aprofundar. Depois do bacharelado, se eu quisesse seguir uma carreira acadêmica, eu teria de enfrentar a tolice do pós-modernismo mais uma vez. Apesar de ser um prospecto desagradável, decidi que, a essa altura da minha vida, estava preparado para lidar (e argumentar contra) os franceses. Isso quando da inscrição e posterior aprovação em um programa de PhD em Epistemologia da Interdisciplinariedade. Aquilo com o que eu me deparei não foi exatamente o que eu esperava.


Estava nesse programa por três anos e, coincidentemente, durante esse tempo, notei o crescimento na crença pós-modernista. Os eventos insanos em Berkeley e Evergreenhave trouxe à tona o assunto de preceitos acadêmicos e liberdade de expressão no campus, onde a farsa do “Pênis Conceitual” levou alguns a externalizarem dúvidas quanto a integridade de todo o campo de estudos de gênero.


Agora, a situação do Brasil não é a mesma que a dos Estados Unidos. Há diferenças significativas quanto a cultura do campus e práticas acadêmicas e falarei um pouco sobre elas. Dessarte, acredito que há semelhanças entre os ativistas ideológicos de ambos os países que, pelo menos, ajudam a explicar a proeminente insanidade que ameaça sucumbir o sistema de educação superior nos Estados Unidos.

Considerando que eu era um intruso neste programa pós-modernista - minha crenças e interesses me separavam de meus colegas e professores – eu via coisas que eram ignoradas ou simplesmente eram tidas como absolutas pelos adeptos. Coisas que, mesmo quando notadas, estes hesitavam em compartilhar com gente de fora. Por outro lado, anos de exposição a ideologia deles permitiram que alcançasse um patamar de compreensão que até mesmo os críticos mais preparados não conseguem alcançar.

Então, antes de tudo, o que é esse negócio de pós-modernismo sobre o qual as pessoas estão falando? Se você perguntar a um bacharel de filosofia, há uma boa chance de que ele dirá que apesar da palavra ser aplicada por historiadores de arte para se referir a alguns movimentos artísticos, é um termo inventado quando o assunto é Filosofia – cada autor normalmente associado com o termo é tão diferente do outro que usar uma única palavra para descrevê-los como um grupo é inútil ou desonesto.


Isso não é necessariamente verdade. Enquanto há diversas distinções e divergências entre os autores, há uma característica singular que é comum a todos os pós-modernistas: eles tem um patamar muito frouxo para justificativas válidas.


Os ditos pós-modernistas possuem um ponto de vista diferente a respeito. Eles aparentemente acham que discutir é um engodo, então decidiram simplificar drasticamente o patamar do que pode ser considerado como um argumento. É por isso que é possível encontrar frases como “o que está em movimento é o próprio horizonte: o horizonte relativo se distancia quando o sujeito avança, mas o horizonte absoluto, nós estamos nele sempre e já, no plano de imanência” (isso é uma frase verdadeira tirada de o que é filosofia?, escrito pela dupla francesa Deleuze e Guattari).


Então, isso traz a questão do porquê alguém aceitaria esse tipo de pensamento. Porquê muitos Mestres aceitariam que alguém pode se livrar do fardo de argumentar suas próprias ideias? É simples: se você aceita que as ideias de Foucault ou Deleuze com pouca ou nenhuma justificativa, então suas ideias precisam de pouca ou nenhuma, também. É por isso que essa é uma oferta que pouca gente recusaria (e não recusam).


Ese é um ponto que a maioria dos críticos e comentaristas do pós-modernismo. Não é o caso de que Derrida e gente de sua estirpe corromperam acadêmicos que outrora eram competentes mas, sim, que acabaram por montar um palco cheio de fumaças e espelhos, onde eles – indivíduos irrelevantes – poderiam fingir que eram o imenso e poderoso Oz; e outros seguiram na esperança de que eventualmente teriam um lugar atrás das cortinas para si próprios.


Não tenho a intenção de ser duro. A maioria de meus colegas e mestres eram gente decente, os quais apreciava em um nível pessoal. Porém deve ser entendido, especialmente por aqueles que se opõem aos ideais pós-modernistas, que isso não é uma mera questão de simplesmente convencer teóricos de gênero e pós-estruturalistas a abandonar suas falsas crenças e ingressar em uma conversa racional – se esses acadêmicos largarem sua crença pós-modernista, não terão mais o que justificar suas cadeiras e fundos para pesquisa.


Notei que comparado com minhas experiências acadêmicas anteriores, as aulas em meu programa de PhD eram mais diretas e claras. Talvez pelo critério de seleção extremamente enviesado (e possivelmente algum viés pessoal, também), a maioria dos candidatos compartilhava da mesma postura política que os mestres. Possivelmente por essa razão que aqueles que ministravam aulas pareciam confortáveis para deixar de lado (ou simplificar consideralvemente, pelo menos) os jargões e se engajar em uma padrão de fala quase normal.


Outro ponto que geralmente é neglicenciado é que os acadêmicos pós-modernistas não são, em princípio, aversos ao debate: eles são apenas muito, mas muito ruins nisso. Quando falam para um grupo de convertidos, em geral o palestrante ou mestre, de início, usa o senso comum e argumentos compreensíveis. Isso transcorre sem problemas já que a maioria dos candidatos já concorda com as ideias sendo apresentadas mas, eventualmente, alguém (geralmente eu) vai discordar.


Isso pode ser uma surpresa para você mas pós-modernistas são virtualmente incapazes de defender suas ideias. Em retrospecto, isso deveria ser óbvio: os franceses ofereceram um aparato de ferramentas retóricas que permitiriam qualquer um parecer erudito sem ter qualquer conhecimento e evitar debates apenas se escondendo atrás de um jargão e frases prontas – quem seria mais suscetível a isso do que gente que tem problema com conhecimento e debate?


Infelizmente, para o ativista pós-modernista, sua principal ferramenta – o relativismo epistemológico (a ideia de que a verdade é uma construção que se apoia em algum fator subjetivo, como a cultura do indivíduo) - pode ser eficiente para silenciar os opositores mas termina por ser um freio quando se tenta coordenar outros para atingir um fim de fato. Isso é óbvio quando se pensa a respeito: se todas as ideias tem o mesmo valor, qual seria o sentido de se dizer algo?


Deve ser por isso que, de início, seus discursos baseados em anticientificismo e relativismo pareciam timidamente esquecidos nas aulas em que estive. Em seu lugar, ideologia partidária crua rondava vez ou outra. Políticos e Professores geralmente confabulavam sobre os aspectos técnicos do ativismo político – especialmente em como “politizar os pobres”, o que era um eufemismo para propagar a agenda política de seu partido. Eufemismos assim eram muito comuns: um mestre em particular encorajava todos os candidatos a “agregar sua pesquisa a causa do proletário”, o que significava que cada projeto deveria incluir algum tipo de crítica ao sistema capitalista, independente do assunto.


Mas, como aprendi, isso não significava que a retórica do relativismo e do anticientificismo foram abandonadas. Note que se a pesquisa científica for útil, os ativistas do pós-modernismo irão usá-la. Apenas quando os dados científicos são inconvenientes, a noção de que o método científico é colonialista será trazida à tona.


Como disse antes, a situação do Brasil não é a mesma que a dos Estados Unidos da América. Apenas agora a interseccionalidade apareceu na mídia e no meio acadêmico, e os campus são parte de um debate sobre liberdade de expressão que borbulha lentamente. Ainda assim, alguns aspectos do Brasil parecem a frente da curva pós-modernista quando comparados com os Estados Unidos da América. O pensamento pós-modernista é prevalente do ensino médio em diante e tenho certeza de que isto é pelo menos uma das razões pelas quais, apesar de investimento pesado em educação e aumento de ingressos em faculdades, o sistema de educação brasileiro parece não ter melhorado em nada na última década.


No mesmo compasso, meus colegas (a maioria professores e mestres) parecem ter sido completamente desiludidos ou agressivamente radicalizados. Aqueles que eram ou viraram verdadeiros adeptos guinaram cada vez mais ao extremo, perdendo qualquer interesse remanescente no diálogo. Apesar de não querer concluir que esta mudança se deve a influência do programa de PhD (a situação política do Brasil mudou drasticamente nos últimos anos e isso deve ter alguma influência), estou certo de que ter professores dizendo que o capitalismo era a única causa de todos os problemas e que qualquer um que não compartilhasse essa ideia era um perigoso inimigo, não ajudou.


Gostaria de dizer para qualquer um que considera ingressar qualquer programa ou área que é influenciada pelo pós-modernismo: não vá. Se for possível, tente outro caminho. Se não pode – ou se já está engajado em algum programa e tem dúvidas – saiba que, apesar das cortinas e fumaças, atrás das cortinas é apenas uma pessoa. Quando se entende suas técnicas, debater pós-modernistas é bastante fácil. Esteja avisado: eles não gostarão de você depois.


____________________________________________________________________________

Fonte: https://areomagazine.com/2017/09/09/my-experience-in-a-postmodern-phd-program/

Texto traduzido "nas coxas" (estou de férias e entediado). Podem haver imprecisões.

Interessante. Principalmente as "ferramentas".

Vou ler de novo depois com mais calma.
 

Ghost·

Bam-bam-bam
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"...que acabaram por montar um palco cheio de fumaças e espelhos, onde eles – indivíduos irrelevantes – poderiam fingir que eram o imenso e poderoso Oz; e outros seguiram na esperança de que eventualmente teriam um lugar atrás das cortinas para si próprios..."
Essa parte é simplesmente perfeita e explica muito do comportamento das vítimas de certas ideologias destrutivas.
Aparentemente essas ideologias alimentam o desejo de suas vítimas de ser aquela criatura especial, o centro do universo e protagonistas insubstituíveis em um cenário de mudanças dramáticas que é construído a cada respiração desses seres.
Criaturas delirantes.
 

lagom

Ei mãe, 500 pontos!
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Qual a principal escola de filosofia imediatamente anterior aos franceses do século XX? Os alemães do século XIX?

Dá pra olhar a coisa nesses termos?
 

DanteSCO

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Cansei de ler na metade, esse texto não vai direto ao ponto, enrola demais, odeio ler texto assim
 

Mr.Disco

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Qual a principal escola de filosofia imediatamente anterior aos franceses do século XX? Os alemães do século XIX?

Dá pra olhar a coisa nesses termos?

Não sei responder.

Se você encarar que elas não se "exaurem ou se excluem", como diz a Wikipedia, acho que não dá pra encarar como um antes e depois. A filosofia seria como aquela cobra engolindo o próprio rabo.

Eu acho que o pós-modernismo pode ser considerado como um marco que divide o troço num antes e depois porquê ele ele bizarramente invalida a filosofia como um todo. Na verdade, a lista do que ele invalida é longa.

Pegaram o Nihilismo do Nietzche e foram "pedal to the metal" no negócio.
 


Gargantua

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Qual a principal escola de filosofia imediatamente anterior aos franceses do século XX? Os alemães do século XIX?

Dá pra olhar a coisa nesses termos?
Não sei responder.

Se você encarar que elas não se "exaurem ou se excluem", como diz a Wikipedia, acho que não dá pra encarar como um antes e depois. A filosofia seria como aquela cobra engolindo o próprio rabo.

Eu acho que o pós-modernismo pode ser considerado como um marco que divide o troço num antes e depois porquê ele ele bizarramente invalida a filosofia como um todo. Na verdade, a lista do que ele invalida é longa.

Pegaram o Nihilismo do Nietzche e foram "pedal to the metal" no negócio.
@Sr.Haller e @Mr.Disco
Farei um breve comentário sobre a questão (infelizmente estou com o tempo limitado).

Mr. Disco, você comenta sobre o "niilismo de Nietzsche", vi comentários similares feitos por outro usuário.

Parece ser um equivoco comum atualmente, mas Nietzsche não prega o niilismo, muito pelo contrário, ele aponta e critica o niilismo!
A busca do aprimoramento da comunhão com a "besta interior", no "eu completo e superior" (detalhes que claramente inspiraram muito Jung), na quebra de paradigma do escravo e do mestre, nas alegorias gregas e pagãs que ele "reutilizava" e em outros detalhes da sua obra é possível compreender que o caminho defendido por Nietzsche é o OPOSTO do niilismo.

Mesmo que ele apontasse e criticasse aspectos niilistas na sociedade, incluindo nos dogmas do cristianismo (que favorecem a negação do total aprimoramento e realização em vida), ele também aponta o possível niilismo na queda da religião e em uma sociedade futura que não reconheça os valores sublimes do homem como divindade e como animal (bem relacionado ao Sturm und Drang, não concordam)? Talvez seja essa crítica de mão dupla que passe a falsa impressão que a filosofia de Nietzsche é uma filosofia que conduz ao niilismo.

O pós-modernismo realmente desconstrói inúmeros paradigmas e valores, mas é preciso lembrar que historicamente modernismo e pós-modernismo andam juntos, só que a faceta do pós modernismo é mais sínica, decadentista e caótica.

Por exemplo, na música a dodecafonia é uma expressão pós moderna, ela realmente desconstrói as harmonias e escalas relacionadas com estéticas e emoções comumente usadas e identificadas por compositores e pela audiência. Mas do outro lado existe a visão modernista, que vai além dos paradigmas românticos, mas ainda mantendo a estrutura. A reação natural perante a total desconstrução é o resgate, então na música contemporânea acaba surgindo a união da audácia modernista, com a desconstrução pós-moderna, com o resgate das estéticas e conceitos do passado (do barroco ao romantismo, por exemplo). Sendo assim, o resultado final não é o absoluto niilismo, mas uma vasta possibilidade. Portanto, não vejo o pós-modernismo com esse bicho papão. (desculpem ter usado o exemplo musical e não filosófico)

A mescla do pós-modernismo com marxismo é sim recheada de ilusões e merece críticas (deixarei para uma próxima postagem).

Em paralelo:

Atualmente, o Jordan Peterson é um popular antagonista do pós-modernismo, pessoalmente gosto dos comentários dele sobre arquétipos, sobre a obra de Jung e alguma coisa dele sobre Nietzsche. Mas curiosamente, no debate entre ele e o Sam Harris (fácil de encontrar no youtube), ele acabou usando uma postura absolutamente (e ironicamente) pós-moderna focando na ideia de relativizar o conceito de "verdade" para haver uma base desnecessariamente maleável para a discussão. O Harris apresenta uma visão muito mais coerente e clara... (sei que fui breve demais, mas se possuem interesse no tema, procurem pelo debate).


No momento existe esse pânico perante o pós-modernismo, mas na minha visão o casamento ilusório do marxismo com o pós-modernismo está fadado a se canibalizar e qualquer pensamento é contra argumentado com maior produtividade sem a motivação irracional do pânico. Porém, é sempre preciso lembrar que o pós-modernismo nunca anda sozinho, nunca será realmente dominante, é apenas uma faceta da percepção e da estética contemporânea.

(editado/algumas pequenas correções)
 
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Pingu77

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Que bostinha de texto, hein? Com o devido respeito, Mr. Disco:

"Meu maior problema com autores como Derrida, Deleuze e Foucault (e os demais que são ligados ao pós-modernismo ou pós-estruturalismo, mas não somente estes) é que, em graus variados entre si (e em graus variados dentro de seus trabalhos, individualmente) eles são escorregadios. Não é questão de serem relativistas (epistemológicos ou sobre o domínio que for), é antes de tudo questão de sequer se comprometerem claramente com qualquer tipo de relativismo (ou mesmo não-relativismo). São escorregadios quando não se comprometem com nada significativo pelo que possam ser justificadamente cobrados.

Isso é errado da parte deles? Que razões podemos ter para exigir que um autor se posicione de tal modo que possa estar errado e que possa reconhecer se está errado? Qualquer razão que possamos ter parece sempre condicional: se o objetivo do autor for estabelecer que certa tese é verdadeira, digamos, então o autor deve se posicionar de um modo em que possa estar errado e que possa reconhecê-lo. Mas, e se o autor alegar ou insinuar que seu objetivo é outro, que é tal que não exige esse posicionamento? Talvez diga ou insinue que seu objetivo é o de explorar possibilidades conceituais, motivar suspeitas ou elaborar ficções, por exemplo. Nada sobre o que ele possa estar objetivamente errado. Nesse caso, como proceder criticamente?

Suspeito que temos que nos contentar com cobranças condicionais, aceitar que os objetivos do pensamento podem ser diversos. Assim, a reclamação sobre esses autores serem escorregadios é no fundo a reclamação de que esses autores são escorregadios quando fazem parecer que seus objetivos são estabelecer teses, por exemplo. E isso pode motivar a reclamação de que, se o objetivo desses autores em algum momento foi estabelecer certa tese, suas argumentações podem ter deixado a desejar. Seja como for, não é possível fazer essas reclamações, que me parecem justas ainda que modestas e pontuais, junto com acusações baratas e genéricas de “relativismo”, “irracionalismo” ou “obscurantismo”."

 

Pingu77

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Que bostinha de texto, hein? Com o devido respeito, Mr. Disco:

"Meu maior problema com autores como Derrida, Deleuze e Foucault (e os demais que são ligados ao pós-modernismo ou pós-estruturalismo, mas não somente estes) é que, em graus variados entre si (e em graus variados dentro de seus trabalhos, individualmente) eles são escorregadios. Não é questão de serem relativistas (epistemológicos ou sobre o domínio que for), é antes de tudo questão de sequer se comprometerem claramente com qualquer tipo de relativismo (ou mesmo não-relativismo). São escorregadios quando não se comprometem com nada significativo pelo que possam ser justificadamente cobrados.

Isso é errado da parte deles? Que razões podemos ter para exigir que um autor se posicione de tal modo que possa estar errado e que possa reconhecer se está errado? Qualquer razão que possamos ter parece sempre condicional: se o objetivo do autor for estabelecer que certa tese é verdadeira, digamos, então o autor deve se posicionar de um modo em que possa estar errado e que possa reconhecê-lo. Mas, e se o autor alegar ou insinuar que seu objetivo é outro, que é tal que não exige esse posicionamento? Talvez diga ou insinue que seu objetivo é o de explorar possibilidades conceituais, motivar suspeitas ou elaborar ficções, por exemplo. Nada sobre o que ele possa estar objetivamente errado. Nesse caso, como proceder criticamente?

Suspeito que temos que nos contentar com cobranças condicionais, aceitar que os objetivos do pensamento podem ser diversos. Assim, a reclamação sobre esses autores serem escorregadios é no fundo a reclamação de que esses autores são escorregadios quando fazem parecer que seus objetivos são estabelecer teses, por exemplo. E isso pode motivar a reclamação de que, se o objetivo desses autores em algum momento foi estabelecer certa tese, suas argumentações podem ter deixado a desejar. Seja como for, não é possível fazer essas reclamações, que me parecem justas ainda que modestas e pontuais, junto com acusações baratas e genéricas de “relativismo”, “irracionalismo” ou “obscurantismo”."



@Gargantua
 

Gargantua

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@Pingu77 e @Mr.Disco
Além dos textos postados, gostaria de saber a visão pessoal de cada um de vocês sobre o pós-modernismo e também quais são as expressões pós-modernas atuais nas suas perspectivas (pergunto para vocês dois, pois acho que será interessante conhecer visões opostas).

Eu digo isso, pois na minha opinião muitas vezes quando o tema "pós-modernismo" é discutido, o foco (incluindo até o foco Peterson, citado na minha postagem anterior) é voltado às manifestações e expressões universitárias que parecem ignorar a percepção dos autores do passado perante o próprio decadentismo e o próprio caos, gerando assim uma mistura pueril de arte mal formada, com uma ideia vaga de justiça e inclusão social, a tal mistura de utopia com rebeldia confortável e obliteração mal direcionada.

Muitas vezes, tanto essa visão universitária, utópica e equivocada, quando a visão externa de quem está chocado com a "desconstrução" parecem não perceber que o caos e a desconstrução propositais não são o fim, mas uma ponte que inspira a ordem (não por ser uma diretriz do movimento, mas por ser uma busca presente na condição humana), conforme as ilusões são quebradas.

Edit- Para deixar meu ponto mais claro sobre a "ponte".
 
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Mr.Disco

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Pingu77e @Mr.Disco
Além dos textos postados, gostaria de saber a visão pessoal de cada um de vocês sobre o pós-modernismo e também quais são as expressões pós-modernas atuais nas suas perspectivas (pergunto para vocês dois, pois acho que será interessante conhecer visões opostas).

Eu digo isso, pois na minha opinião muitas vezes quando o tema "pós-modernismo" é discutido, o foco (incluindo até o foco Peterson, citado na minha postagem anterior) é voltado às manifestações e expressões universitárias que parecem ignorar a percepção dos autores do passado perante o próprio decadentismo e o próprio caos, gerando assim uma mistura pueril de arte mal formada, com uma ideia vaga de justiça e inclusão social, a tal mistura de utopia com rebeldia confortável e obliteração mal direcionada.

Muitas vezes, tanto essa visão universitária, utópica e equivocada, quando a visão externa de quem está chocado com a "desconstrução" parecem não perceber que o caos e a desconstrução propositais não são o fim, mas uma ponte que inspira a ordem, conforme as ilusões são quebradas.

Não há por parte do pós-modernismo nenhuma intenção de construir pontes para ordem depois da morte de deus. Criam um poço sem fundo hermenêutico sob o pretexto de quebrar ilusões mas o troço todo termina por invalidar o conceito de sociedade e ordem. Isso é basicamente te jogar no meio do oceano pacífico e te dizer que agora você está livre pra gritar na direção que você quiser.

Partindo do seu post anterior, eu tenho conhecimento de que há o niilismo e o niilismo por Nietzsche (lato/stricto senso, talvez). Em Nietzsche, há diferença entre o niilismo positivo e o negativo-destrutivo. O pós-modernismo pega o segundo e vai fundo na conclusão radical que é justamente o caos niilista e não vejo nenhuma intenção de tomar as rédeas na construção de valores. O que eu vejo é justamente o contrário.

Eu fico receoso de apontar exemplos do pós-modernismo contemporâneo porquê eles são envoltos em histeria e irracionalidade, original ou emprestada. Você termina por ser taxado de paranoico no processo. Não vou apontar dedo pra ninguém mas a interseccionalidade e o desconstrutivismo são levados a sério fora do campus. Também duvido que vão chegar a algum lugar mas... existem.
 
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Gargantua

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Não há por parte do pós-modernismo nenhuma intenção de construir pontes para ordem depois da morte de deus. Criam um poço sem fundo hermenêutico sob o pretexto de quebrar ilusões mas o troço todo termina por invalidar o conceito de sociedade e ordem. Isso é basicamente te jogar no meio do oceano pacífico e te dizer que agora você está livre pra gritar na direção que você quiser.

Partindo do seu post anterior, eu tenho conhecimento de que há o niilismo e o niilismo por Nietzsche (lato/stricto senso, talvez). Em Nietzsche, há diferença entre o niilismo positivo e o negativo-destrutivo. O pós-modernismo pega o segundo e vai fundo na conclusão radical que é justamente o caos niilista e não vejo nenhuma intenção de tomar as rédeas na construção de valores. O que eu vejo é justamente o contrário.

Eu fico receoso de apontar exemplos do pós-modernismo contemporâneo porquê eles são envoltos em histeria e irracionalidade, original ou emprestada. Você termina por ser taxado de paranoico no processo. Não vou apontar dedo pra ninguém mas a interseccionalidade e o desconstrutivismo são levados a sério fora do campus. Também duvido que vão chegar a algum lugar mas... existem.
@Mr.Disco
Você leu meu exemplo sobre música? Nele eu comentei sobre o paralelo relacionado ao modernismo, ao pós-modernismo e o resgate, correto?

O caminho modernista e o resgate romântico NÃO fazem parte do pós modernismo como filosofia. Mas naturalmente, a obliteração da estrutura, do humano e o decadentismo perante si mesmo desperta o resgate. O ser humano e a natureza não compreendem o fim, somente a transformação. Portanto, por mais que o pós-modernismo coloque um fim em um lapso de pessimismo e desesperança, ele não dita e nunca será realmente o fim, a história humana, a filosófica e a arte já deixaram isso claro. Compreende meu ponto?

Sim, Nietzsche discute muito sobre todas as facetas do niilismo. Mas mais uma vez, repito: A filosofia de Nietzsche não busca o niilismo, muito pelo contrário e sim, é opositora aos conceitos pós-modernos que viriam depois. Mas compreende esses conceitos e suas origens.

Tente entrar em contato com a filosofia de Nietzsche tendo em mente o seu momento, não deixe o Sturm und Drang que citei de fora. A forma que Jung se mostra completamente inspirado por Nietzsche também é interessante.

Eu perguntei para você e para o @Pingu77 os exemplos de expressões pós-modernistas atuais pela seguinte razão:

Curioso para saber a perspectiva dos jovens atuais eu dei uma busca que refletiria completamente a perspectiva deles sobre o pós-modernismo. Sejamos realistas, o que impacta realmente na vida da maioria dos jovens (e velhos) não é o livro que eles dizem ler na universidade e que nunca tocarão depois de três meses, mas o entretenimento que eles consomem por livre espontânea vontade inúmeras vezes, como os filmes que gostam, correto?

Fiz inúmeras buscas sobre filmes que expressam a estética e os conceitos pós-modernos, sabe qual foi o resultado?

Você imaginaria que Naked Lunch do Cronenberg, inspirado na obra do William Burroughs, correto? (caso não tenha assistido, recomendo e muito, mas não assista como uma obra que quer ditar o futuro da humanidade, pois não é esse o ponto)

Mas não, sabe qual é o filme que estava em absolutamente TODAS as listas (Naked Lunch estava presente somente em uma lista de um velho apreciador de cinema)?

Kill Bill... sim, Kill Bill.

Sabe o que isso mostra? Que a visão "pós-modernista" mainstream, dos universitários é uma versão suavizada, pueril, heroica (que contradição) do pós-modernismo. A obliteração da realidade base, da moral e do "eu", ou até mesmo a quebra da estrutura de narrativa, simplesmente não são pontos que a maioria (criticada por você e pelo Peterson) compreendem, ou sequer percebem.

O maior problema é a absoluta limitação cultural, professores despreparados que possuem mais arrogância, ego e ideologia do que bagagem.

Quando eu digo que a ponte para a ordem e para a estrutura sempre existe, não é por que são detalhes pós-modernistas, não são! Mas não precisam ser! São aspectos humanos.
Pós-modernismo na verdade não é um pensamento, uma união de conceitos, uma estética tão acessíveis que serão capazes de "dominar a humanidade".

Uma compreensão profunda do pós-modernismo e de todos os movimentos filosóficos e artísticos é sempre válida (mesmo que o pós-modernismo não seja o seu "movimento" favorito, como também não é o meu). Como aqui é um fórum de video-game, vale citar que Metal Gear Solid, Silent Hill e SOMA são exemplos de jogos que flertam com o drama existencial, mas também flertam com aspectos pós-modernos.

Quando pergunto para você relatar, (na sua visão) exemplos de expressões pós-modernistas, não faço isso para combater a sua ideia, mas para conversarmos sobre. Pela sua descrição, o que me veio em mente foi justamente o pessoal universitário histérico que mescla partes mal compreendidas do pós-modernismo, com marxismo, e uma suposta postura inclusiva social, mas atira pela culatra gerando coisas como "apropriação cultural". Correto?

edit- pequenas correções
 
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Eu aqui juninho da vida sem saber sobre metade do que falam. Vou googleando atras de algumas coisas e me abstenho para não falar m**** hauha.

Mas postem que to lendo. =P
 

Pingu77

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@Gargantua , @Mr.Disco

Existe um espantalho estúpido sobre a "pós-modernidade", quando o que define a palavra enquanto CORRENTE INTELECTUAL é muito mais uma semelhança tênue entre autores bastante diversos (Deleuze, Derrida, Foucault, Lyotard, etc.) ou "fim das grandes narrativas" - como o estruturalismo universalizante que esses autores atacaram (de Lévi-Strauss), o projeto "moderno" de progresso e o marxismo tradicional -, mas que possui diversos outros significados, encarado também como FENÔMENO SOCIAL de anomia e libertação do "eu" (explicado de Durkheim até Bauman), como a pessoa nascer com cromossomos de homem, mas quer vestir-se com os trejeitos socialmente criados para uma mulher, a ascensão da ética do egoísmo de Ayn Rand ou até o Estado, como unidade política de que agregaria o bem comum a todos, é visto com desconfiança por milhares (talvez milhões) de pessoas, bem como CORRENTE ARTÍSTICA, como é explicado no livro "As Origens da Pós-modernidade" do Perry Anderson, que fala que a palavra já existe há algum tempo para definir um momento da produção artística que veio após ao modernismo do começo do século 20.

Por exemplo, um livro mais recente, só para lembrar um famoso e que o autor ficou em evidência por conta da morte, "O Nome da Rosa" do Umberto Eco, tem várias das características que definem um estilo artístico pós-moderno:

http://revistas.fw.uri.br/index.php/literaturaemdebate/article/view/646

Aliás, outra parte de fenômeno social que parece ser uma consequência da modernidade e figuraria em uma sociedade pós-moderna, seria que hoje um indivíduo pode transitar livremente entre culturas, se apropriar de elementos de outras (não tô entrando no debate da apropriação cultural), e não sofrer (tanta - é variável, na real) repreensão por conta disso. Quando, em outros tempos, essa transição era quase impossível e haviam barreiras que ligavam a sua identidade a um povo, a uma religião, a um local, etc. (Claro, esse fenômeno de transição é bem mais comum em populações "WEIRD" [ocidental, educada, industrializada, rica e democrática], mas é interessante que esse é um fenômeno cada vez mais comum, por exemplo, em tribos urbanas em diversas grandes cidades pelo mundo inteiro.)

Isso estaria ligado de forma mais ampla à consequência do projeto moderno-científico-universalizante que cairia na objetivação de tudo, todas as experiências se tornariam opacas (como diria Camus, falando do "absurdo"), a dissolução de grandes valores, não mais transcendentes e importantes em si mesmos (como a religião), tornando em um ponto extremo a vida tediosa e às vezes sem significado nenhum. É a anomia que mencionei.

Falando mais sobre determinados fenômenos observados, Frederic Jameson, por exemplo, diz que um dos pilares do pós-modernismo é o abandono da tarefa de transformar o mundo real fora de nosso conhecimento ou cultura, e ao invés disso temos que objetivar desmantelar o nosso entendimento, temos que "desconstruir" todos os diferentes meios que desenvolvemos de conhecer o mundo. É investigar a própria maneira estabelecida de conhecer.



Guy Debord, por exemplo, fala do espetáculo que organiza nossas vidas; que o espetáculo não é um conjunto de imagens (midiáticas ou arquetípicas, etc.), mas que é uma relação social entre pessoas mediadas por essas imagens.

Como os memes, o fluxo de informação hoje no uso da internet, fazem informações concorrentes disputarem em condições quase idênticas - como o Twitter fake humorístico do Neil deGrasse Tyson fez, de no contexto do desligamento por Trump de agência de pesquisa sobre o aquecimento global, falou que os cientistas deveriam levar Foucault mais a sério, já que precisam fazer manifestações "em defesa da ciência", provando o ponto que informação e poder são quase duas faces da mesma moeda.

E daí que você repara um cenário quase total de hiperrealidade de Baudrillard ou de desgaste das meta-narrativas de Lyotard, quase de Metal Gear, aonde há disputas entre versões e significados de fatos, zonas de indistinção entre ficção e realidade, por exemplo, no patrulhamento à esquerda e à direita na imprensa tradicional ("Fake News"), esta não mais confiável, e a própria ciência e o papel do cientistas perdendo espaço como figuras de autoridade difusoras de um conhecimento autêntico, observado no crescimento de defensores de movimentos anti-vacinação em países centrais ou defensores da Teoria da Terra Plana.
 

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"...estruturalismo universalizante..."
"...moderno-científico-universalizante..."
"...um cenário quase total de hiperrealidade de Baudrillard ou de desgaste das meta-narrativas de Lyotard..."

Sem crítica negativa alguma...Apenas espantado pela minha própria ignorância...
Me lembra tanto com aquela proposição de que o que se desloca, ao andarmos para frente, é a linha do horizonte e não nós mesmos.
:kwow:kkk:kkk
 

Pingu77

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Não há por parte do pós-modernismo nenhuma intenção de construir pontes para ordem depois da morte de deus. Criam um poço sem fundo hermenêutico sob o pretexto de quebrar ilusões mas o troço todo termina por invalidar o conceito de sociedade e ordem. Isso é basicamente te jogar no meio do oceano pacífico e te dizer que agora você está livre pra gritar na direção que você quiser.

Partindo do seu post anterior, eu tenho conhecimento de que há o niilismo e o niilismo por Nietzsche (lato/stricto senso, talvez). Em Nietzsche, há diferença entre o niilismo positivo e o negativo-destrutivo. O pós-modernismo pega o segundo e vai fundo na conclusão radical que é justamente o caos niilista e não vejo nenhuma intenção de tomar as rédeas na construção de valores. O que eu vejo é justamente o contrário.

Eu fico receoso de apontar exemplos do pós-modernismo contemporâneo porquê eles são envoltos em histeria e irracionalidade, original ou emprestada. Você termina por ser taxado de paranoico no processo. Não vou apontar dedo pra ninguém mas a interseccionalidade e o desconstrutivismo são levados a sério fora do campus. Também duvido que vão chegar a algum lugar mas... existem.

A questão no Deleuze e no Guattari, retomando o desafio do Espinosa e do Nietzsche, é a criação de novos modos de vida, imanentes - que levem em conta quais são os seus "remédios e venenos" - que potenciem o sujeito, revalorizem a vida, e não seja a favor do "fora" (fora do sujeito: a religião, o Estado, a sociedade, etc.) que vem para te esmagar, organizar, enquadrar, depreciam a vida.

E para isso, para eles é justamente mapear as forças que estão em jogo, colidindo, quais são as máquinas (sociais) nocivas que estão agindo não para um escape criativo, que cria o novo, mas estão te reorganizando, te colocando para funcionar de uma maneira que te despotencia, te entristece.

Não se aponta quais são esses valores justamente porque essa é uma tarefa imanente, a ser feita segundo uma disposição específica, de vida, de lugar, de tempo, de preferências, etc. Um dos objetivos deles é justamente buscar investigar essa dimensão da criatividade do sujeito, enquanto um problema ético-estético, da vida enquanto uma formação de um valor novo. O que está em transformação na subjetividade, o que perverte para criar, sair do que está estático. Uma entropia vital, pode-se até arriscar a dizer.

Por outro lado, o modismo social que surgiu em academias americanas - o dos SJWs - chamados vulgarmente de "pós-modernos", que é algo dos anos 80 e 90, é muito distinto dos ciberneticistas franceses dos anos 70, Deleuze e Guattari, já que são autores que trabalham conceitos justamente como o dito acima: a transformação do sujeito; a perversão; a identidade como algo fluído, em movimento; a "diferença"; a "multiplicidade"; nunca a "identidade oprimida" como algo estático, sacralizado, também nunca seriam a favor de "micro-fascismos".

Foucault em prefácio ao Anti-Édipo de Deleuze e Guattari:

Xt6NXbP.jpg
 

Pingu77

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"...estruturalismo universalizante..."
"...moderno-científico-universalizante..."
"...um cenário quase total de hiperrealidade de Baudrillard ou de desgaste das meta-narrativas de Lyotard..."

Sem crítica negativa alguma...Apenas espantado pela minha própria ignorância...
Me lembra tanto com aquela proposição de que o que se desloca, ao andarmos para frente, é a linha do horizonte e não nós mesmos.
:kwow:kkk:kkk

"Estruturalismo universalizante" diz respeito a uma forma de investigação/compreensão que acha que diferentes sociedades têm em comum certas estruturas distintas na forma, no significado, mas que sempre desempenham a mesma dinâmica para funcionamento de todas essas sociedades ou para a compreensão delas. (Relações de família, o papel dos mitos, etc.)

"Moderno-científico-universalizante" se refere a uma forma de pensamento que foi deixando a força da autoridade, dos valores como importantes em si mesmos (subjacente uma "hierarquia"), para cada vez mais ganhar importância o experimentalismo como fonte do conhecimento, a igualdade de todos os fenômenos do ponto de vista do conhecimento.

"...um cenário quase total de hiperrealidade de Baudrillard ou de desgaste das meta-narrativas de Lyotard...". A hiperrealidade de Baudrillard fala de tomar as representações como realidade, não haver separação clara. E as metanarrativas de Lyotard remetem ao fim das metanarrativas do progresso, como o marxismo, a ciência positiva e o estruturalismo, que caíram em descrédito.
 

Pingu77

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A questão no Deleuze e no Guattari, retomando o desafio do Espinosa e do Nietzsche, é a criação de novos modos de vida, imanentes - que levem em conta quais são os seus "remédios e venenos" - que potenciem o sujeito, revalorizem a vida, e não seja a favor do "fora" (fora do sujeito: a religião, o Estado, a sociedade, etc.) que vem para te esmagar, organizar, enquadrar, depreciam a vida.

E para isso, para eles é justamente mapear as forças que estão em jogo, colidindo, quais são as máquinas (sociais) nocivas que estão agindo não para um escape criativo, que cria o novo, mas estão te reorganizando, te colocando para funcionar de uma maneira que te despotencia, te entristece.

Não se aponta quais são esses valores justamente porque essa é uma tarefa imanente, a ser feita segundo uma disposição específica, de vida, de lugar, de tempo, de preferências, etc. Um dos objetivos deles é justamente buscar investigar essa dimensão da criatividade do sujeito, enquanto um problema ético-estético, da vida enquanto uma formação de um valor novo. O que está em transformação na subjetividade, o que perverte para criar, sair do que está estático. Uma entropia vital, pode-se até arriscar a dizer.

Por outro lado, o modismo social que surgiu em academias americanas - o dos SJWs - chamados vulgarmente de "pós-modernos", que é algo dos anos 80 e 90, é muito distinto dos ciberneticistas franceses dos anos 70, Deleuze e Guattari, já que são autores que trabalham conceitos justamente como o dito acima: a transformação do sujeito; a perversão; a identidade como algo fluído, em movimento; a "diferença"; a "multiplicidade"; nunca a "identidade oprimida" como algo estático, sacralizado, também nunca seriam a favor de "micro-fascismos".

Foucault em prefácio ao Anti-Édipo de Deleuze e Guattari:

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"'fim das grandes narrativas' - como o estruturalismo universalizante que esses autores atacaram (de Lévi-Strauss), o projeto 'moderno' de progresso e o marxismo tradicional -"

Alguns desses autores também questionam a ideia do protagonismo humano ou da própria formação da ideia do humano, como contingência na História ou mesmo a agência humana - enquanto o primeiro nas máquinas mecânicas na instalação do capitalismo, e por sua vez a o segundo na análise de máquina social, como o inconsciente maquínico na formação do sujeito, para o Deleuze e o Guattari.

As disciplinas/saberes, as instituições, a própria razão como ponto central da modernidade (um valor transcendente que valida disciplinas outrora autoritárias, como já foi a medicina e a psiquiatria, por exemplo) e seus pontos falhos, há uma crítica do mundo moderno e do que o estrutura.
 

Mr.Disco

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@Gargantua , @Mr.Disco

Existe um espantalho estúpido sobre a "pós-modernidade", quando o que define a palavra enquanto CORRENTE INTELECTUAL é muito mais uma semelhança tênue entre autores bastante diversos (Deleuze, Derrida, Foucault, Lyotard, etc.) ou "fim das grandes narrativas" - como o estruturalismo universalizante que esses autores atacaram (de Lévi-Strauss), o projeto "moderno" de progresso e o marxismo tradicional -, mas que possui diversos outros significados, encarado também como FENÔMENO SOCIAL de anomia e libertação do "eu" (explicado de Durkheim até Bauman), como a pessoa nascer com cromossomos de homem, mas quer vestir-se com os trejeitos socialmente criados para uma mulher, a ascensão da ética do egoísmo de Ayn Rand ou até o Estado, como unidade política de que agregaria o bem comum a todos, é visto com desconfiança por milhares (talvez milhões) de pessoas, bem como CORRENTE ARTÍSTICA, como é explicado no livro "As Origens da Pós-modernidade" do Perry Anderson, que fala que a palavra já existe há algum tempo para definir um momento da produção artística que veio após ao modernismo do começo do século 20.

Por exemplo, um livro mais recente, só para lembrar um famoso e que o autor ficou em evidência por conta da morte, "O Nome da Rosa" do Umberto Eco, tem várias das características que definem um estilo artístico pós-moderno:

http://revistas.fw.uri.br/index.php/literaturaemdebate/article/view/646

Aliás, outra parte de fenômeno social que parece ser uma consequência da modernidade e figuraria em uma sociedade pós-moderna, seria que hoje um indivíduo pode transitar livremente entre culturas, se apropriar de elementos de outras (não tô entrando no debate da apropriação cultural), e não sofrer (tanta - é variável, na real) repreensão por conta disso. Quando, em outros tempos, essa transição era quase impossível e haviam barreiras que ligavam a sua identidade a um povo, a uma religião, a um local, etc. (Claro, esse fenômeno de transição é bem mais comum em populações "WEIRD" [ocidental, educada, industrializada, rica e democrática], mas é interessante que esse é um fenômeno cada vez mais comum, por exemplo, em tribos urbanas em diversas grandes cidades pelo mundo inteiro.)

Isso estaria ligado de forma mais ampla à consequência do projeto moderno-científico-universalizante que cairia na objetivação de tudo, todas as experiências se tornariam opacas (como diria Camus, falando do "absurdo"), a dissolução de grandes valores, não mais transcendentes e importantes em si mesmos (como a religião), tornando em um ponto extremo a vida tediosa e às vezes sem significado nenhum. É a anomia que mencionei.

Falando mais sobre determinados fenômenos observados, Frederic Jameson, por exemplo, diz que um dos pilares do pós-modernismo é o abandono da tarefa de transformar o mundo real fora de nosso conhecimento ou cultura, e ao invés disso temos que objetivar desmantelar o nosso entendimento, temos que "desconstruir" todos os diferentes meios que desenvolvemos de conhecer o mundo. É investigar a própria maneira estabelecida de conhecer.



Guy Debord, por exemplo, fala do espetáculo que organiza nossas vidas; que o espetáculo não é um conjunto de imagens (midiáticas ou arquetípicas, etc.), mas que é uma relação social entre pessoas mediadas por essas imagens.

Como os memes, o fluxo de informação hoje no uso da internet, fazem informações concorrentes disputarem em condições quase idênticas - como o Twitter fake humorístico do Neil deGrasse Tyson fez, de no contexto do desligamento por Trump de agência de pesquisa sobre o aquecimento global, falou que os cientistas deveriam levar Foucault mais a sério, já que precisam fazer manifestações "em defesa da ciência", provando o ponto que informação e poder são quase duas faces da mesma moeda.

E daí que você repara um cenário quase total de hiperrealidade de Baudrillard ou de desgaste das meta-narrativas de Lyotard, quase de Metal Gear, aonde há disputas entre versões e significados de fatos, zonas de indistinção entre ficção e realidade, por exemplo, no patrulhamento à esquerda e à direita na imprensa tradicional ("Fake News"), esta não mais confiável, e a própria ciência e o papel do cientistas perdendo espaço como figuras de autoridade difusoras de um conhecimento autêntico, observado no crescimento de defensores de movimentos anti-vacinação em países centrais ou defensores da Teoria da Terra Plana.


A questão no Deleuze e no Guattari, retomando o desafio do Espinosa e do Nietzsche, é a criação de novos modos de vida, imanentes - que levem em conta quais são os seus "remédios e venenos" - que potenciem o sujeito, revalorizem a vida, e não seja a favor do "fora" (fora do sujeito: a religião, o Estado, a sociedade, etc.) que vem para te esmagar, organizar, enquadrar, depreciam a vida.

E para isso, para eles é justamente mapear as forças que estão em jogo, colidindo, quais são as máquinas (sociais) nocivas que estão agindo não para um escape criativo, que cria o novo, mas estão te reorganizando, te colocando para funcionar de uma maneira que te despotencia, te entristece.

Não se aponta quais são esses valores justamente porque essa é uma tarefa imanente, a ser feita segundo uma disposição específica, de vida, de lugar, de tempo, de preferências, etc. Um dos objetivos deles é justamente buscar investigar essa dimensão da criatividade do sujeito, enquanto um problema ético-estético, da vida enquanto uma formação de um valor novo. O que está em transformação na subjetividade, o que perverte para criar, sair do que está estático. Uma entropia vital, pode-se até arriscar a dizer.

Por outro lado, o modismo social que surgiu em academias americanas - o dos SJWs - chamados vulgarmente de "pós-modernos", que é algo dos anos 80 e 90, é muito distinto dos ciberneticistas franceses dos anos 70, Deleuze e Guattari, já que são autores que trabalham conceitos justamente como o dito acima: a transformação do sujeito; a perversão; a identidade como algo fluído, em movimento; a "diferença"; a "multiplicidade"; nunca a "identidade oprimida" como algo estático, sacralizado, também nunca seriam a favor de "micro-fascismos".

Foucault em prefácio ao Anti-Édipo de Deleuze e Guattari:

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"'fim das grandes narrativas' - como o estruturalismo universalizante que esses autores atacaram (de Lévi-Strauss), o projeto 'moderno' de progresso e o marxismo tradicional -"

Alguns desses autores também questionam a ideia do protagonismo humano ou da própria formação da ideia do humano, como contingência na História ou mesmo a agência humana - enquanto o primeiro nas máquinas mecânicas na instalação do capitalismo, e por sua vez a o segundo na análise de máquina social, como o inconsciente maquínico na formação do sujeito, para o Deleuze e o Guattari.

As disciplinas/saberes, as instituições, a própria razão como ponto central da modernidade (um valor transcendente que valida disciplinas outrora autoritárias, como já foi a medicina e a psiquiatria, por exemplo) e seus pontos falhos, há uma crítica do mundo moderno e do que o estrutura.

Eu já li umas duas vezes. Com e sem referências.

Tudo é extremante confuso. Me lembrou duma entrevista velha que vi esses dias do tal do Chomsky dizendo que nem ele entedia o que diabos pós-modernistas queriam dizer com suas palavras polissilábicas, construção complexa, inflada e, que no final, não fazia sentido nenhum.

O que eu vejo é que você patina entre conceitos pós-modernistas e modernistas num labirinto gigantesco de contorcionismo de linguagem para passar um pano quente gigantesco para Lyotard ou Foucault, por exemplo. Gente que dizia que Saddam Hussein era vítima do imperialismo assim como Hitler e que doenças mentais são um construto social.

Você vai me perdoar mas não consigo engolir isso.
 
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Eu já li umas duas vezes. Com e sem referências.

Tudo é extremante confuso. Me lembrou duma entrevista velha que vi esses dias do tal do Chomsky dizendo que nem ele entedia o que diabos pós-modernistas queriam dizer com suas palavras polissilábicas, construção complexa, inflada e, que no final, não fazia sentido nenhum.

O que eu vejo é que você patina entre conceitos pós-modernistas e modernistas num labirinto gigantesco de contorcionismo de linguagem para passar um pano quente gigantesco para Lyotard ou Foucault, por exemplo. Gente que dizia que Saddam Hussein era vítima do imperialismo assim como Hitler e que doenças mentais são um construto social.

Você vai me perdoar mas não consigo engolir isso.

Que parte ficou confusa?

Posso te explicar, na boa.

E Lyotard e Foucault defenderem Saddam, errarem nesse ponto, não torna automaticamente erradas ou ruins todas as outras ideias deles. E nem são quem eu mais concordo, para falar a verdade.
 
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