Este é de fato um grande problema. Repetir o mesmo "gesto" antigo numa nova época, e ainda por cima mantendo a aparência do original é quase que uma derrota por definição. Sobre mimese e representação, é sempre bom lembrar (e eu serei aqui "breve") que estas são duas noções interdependentes, vez que a imitação habitual de uma ação (a minese) também é co-dependente da necessária existência prévia de uma representação social que se almeja imitar.
Nós só imitamos "sombras" (ou "aparências") que, por sua vez, nos trazem uma ilusão estruturalmente necessária de que verdadeiramente ocultam algo substancial em seu misterioso semblante escuro - isto é, muito embora os nossos costumes sociais sejam sempre contingentes e inconsistentes, em seu ato de reprodução propriamente dito, frequentemente experienciamos o "significante como um significado", nós somos "pegos em nossa própria brincadeira", por assim dizer.
Mas, retornando ao que você colocou, realmente é uma situação difícil e que se derrota já em sua própria iniciativa. Afinal de contas, o que estas renovações de franquias clássicas almejam é praticamente impossível - a imediata coincidência harmoniosa entre o velho e o novo. Nós queremos um "novo-velho Doom de sempre". A situação de Doom é especialmente problemática, vez que muita água já passou por debaixo da ponte dos FPS desde que ele foi lançado. Mas ainda há uma luz no fim do túnel. Sabe quem (quase) sempre consegue sustentar a ilusão de se "renovar sempre só para permanecer o mesmo"? Mario.
Acho que absolutamente ninguém conseguiu ser mais consistentemente exitosa neste departamento do que a Nintendo durante as décadas. Quando eu joguei o original Super Mario Bros., eu não acreditei. Mas aí, veio SMB. 3 e, depois, o Super Mario World, seguido pelo completo choque da coincidência entre o radicalmente novo e o deliciosamente familiar de Mario 64, seguido, mais adiante, pelo igualmente maravilhoso Super Mario Galaxy, sem falar no ótimo SM3D World, do Wii U, e sabe-se lá o que virá agora, com o NX.