Trump diz que se arrepende da escolha de Sessions para secretário de Justiça
Jonathan Ernst/Reuters
O secretário de Justiça dos EUA, Jeff Sessions, durante depoimento no Senado
DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS
20/07/2017 08h44
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse nesta quarta-feira (19) que jamais teria nomeado o procurador-geral, Jeff Sessions, se soubesse que ele se pediria afastamento da investigação da suposta tentativa de ingerência da Rússia nas eleições.
Em uma entrevista ao jornal New York Times, o presidente também criticou o recente
depoimento de Sessions a um painel do Senado que investiga o possível conluio entre Moscou e a campanha de Trump, dizendo que ele deu "algumas respostas ruins".
Sessions
afastou-se do caso russo em março, depois que o Washington Post informou que ele se
encontrou duas vezes com o embaixador russo Sergey Kislyak durante a campanha.
Trump disse que Sessions agiu de forma injusta ao assumir o cargo, em primeiro lugar, sabendo que se sentia comprometido com o caso.
"Como você pega um emprego e depois se recusa (a trabalhar)? Se ele tivesse recusado antes o trabalho, eu teria dito:" Obrigado, Jeff, mas não vou ficar com você".
"É extremamente injusto –usando uma palavra suave– para com o presidente", completou Trump.
Em um depoimento ao Comitê de Inteligência do Senado em junho, Sessions
negou veementemente qualquer conluio com a Rússia em favor de Trump nas eleições americanas do ano passado. Ele classificou a suposição de "mentirosa e detestável".
Ele também se envolveu em prováveis trocas de ofensas com vários senadores que o pressionaram por detalhes sobre suas conversas com Trump, que se recusou a fornecer em nome da confidencialidade.
"Jeff Sessions me deu respostas ruins", disse o presidente ao jornal nova-iorquino.
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Guerra de Trump contra a mídia reflete também entre jornais
NELSON DE SÁ
DE SÃO PAULO
20/07/2017 02h00
Foram seis meses ou mais de constante "guerra de jornais" entre o "New York Times" e o "Washington Post", por notícias exclusivas sobre Donald Trump —que respondeu tachando-os de inimigos do povo.
O auge até o momento foi a revelação pelo "NYT"
do encontro, durante a campanha de 2016, de Trump Jr. com uma advogada russa e outros que haviam prometido munição contra Hillary Clinton.
Alex Brandon/Associated Press
O presidente dos EUA, Donald Trump, participa de encontro de produtores americanos nesta quarta
Como escreveu a colunista de mídia do "WP", era notícia para calar o mantra de "fake news" usado pelo presidente americano para desqualificar a cobertura sobre os elos de sua campanha com o governo russo.
Mas isso não aconteceu, Trump
voltou ao Twitter como se nada tivesse mudado. O mantra não vai embora, diz Margaret Sullivan, simplesmente porque funciona, é o que basta para sua base.
Outro crítico de mídia, Jay Rosen, concorda quanto à base de sustentação ser um nicho que não responde a fatos contrários, por mais comprovados que estejam, mas acrescenta outras razões.
Uma delas é que a atual Casa Branca é incapaz de oferecer estratégia alternativa.
Outra, na mesma linha, é que Trump e equipe são crias da imprensa.
Stephen Bannon e
Jared Kushner são até ex-publishers.
Falhas pontuais da própria mídia também não ajudam, sobretudo aquelas mais bombásticas, da CNN —canal já marcado pelo vazamento de perguntas para a candidata democrata em dois debates.
As falhas ajudam a compreender pesquisas como a Gallup de 4 e 5 de julho, que encontrou os americanos divididos a respeito da cobertura de Trump: 35% acham "muito pesada", 34%, "não o bastante".
Os EUA podem estar rachados quanto à cobertura, mas não quanto ao desempenho de Trump no cargo, que começou a derreter: 58% desaprovam, 36% aprovam, pela pesquisa ABC/"WP".
O resultado foi usado como argumento pelo "Wall Street Journal", de Rupert Murdoch, confidente de Trump, para cobrar que ele comece a contar a verdade sobre os elos da campanha com a Rússia.
A Fox News, canal do mesmo Rupert Murdoch e maior sustentáculo de Trump na mídia, rachou depois da notícia do encontro de Trump Jr., com apresentadores de um lado e outro trocando acusações públicas.
Restam unidos, ao lado de Trump, os radialistas ultraconservadores, como Rush Limbaugh, cada vez mais exasperados —e agora clamando contra a mídia e todo o establishment, que prepara um "golpe silencioso".