O Mistério de Abydos
Uma das mais controversas informações apresentadas pela Ufoarqueologia refere-se à uma estranha inscrição, encontrada no alto de uma parede em um templo de Abydos, no Egito. Seria ela uma representação de uma tecnologia antiga ou profetização de uma tecnologia futura em relação ao seu tempo? Poderia existir uma explicação lógica para esta inscrição?
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Por Jackson Luiz Camargo -
ufojack@yahoo.com
Sumário:
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Artigo
Abydos era uma das mais importantes cidades do Antigo Egito, situada a 11 quilômetros a oeste do Rio Nilo, na latitude 26º 10' N, na região do Alto Egito. Seu nome original é Abdju, sendo esta a referência encontrada nos próprios sítios arqueológicos locais. Foram os gregos que mais tarde denominaram o local como Abydos, nome pelo qual é conhecido atualmente.
Esta região começou a ser utilizada a partir de 3 mil anos antes de Cristo, com a fundação de vários templos e túmulos de Faraós da 1ª Dinastia. Posteriormente outros templos foram construídos no local, sendo os mais importantes o Grande Templo de Osiris, o Templo de Seti I e o Templo de Ramsses II. Também destaca-se a Tumba de Umm el-Qa'ab, que era uma necrópole da realeza egípcia, onde vários faraós foram sepultados. A região continuou sendo utilizada até a 30ª Dinastia, por volta de 380 d. C.
Mapa da região de Abydos
A imagem de Abydos é composta por várias figuras sendo que o que é comumente apresentado em sites e livros de Ufologia e esoterismo é apenas uma parte dela. A figura completa, que pode ser observada abaixo, apresenta um símbolo inicial à esquerda (1) que indica o nome do faraó, sendo geralmente seguido por um ou dois títulos (representado em 2). Logo em seguida, temos a parte mais polêmica. O primeiro conjunto (3) é formado pelo desenho do helicóptero, posicionado na parte superior e abaixo dele um conjunto de caracteres sem uma identificação clara. Na imagem mais famosa e difundida, percebe-se uma mancha indefinida, um pouco abaixo do helicóptero, que passa despercebida da maioria das pessoas. Devido à qualidade da imagem não é possível identificar a real natureza dessa parte do conjunto que só torna-se claro quando observado a partir de outras fotografias. Trata-se de uma ave, que se sobrepõem ao que seria o bico do hipotético helicóptero. Mais a frente comentaremos este detalhe e suas implicações neste caso. Por fim, à direta deste, temos as outras três figuras polêmicas que lembram um submarino ou tanque de guerra, um avião e um planador.
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http://www.ancientegyptonline.co.uk/Gardiner-sign-list.html, cataloga 300 dos mais de 900 caracteres conhecidos. A forma de classificação é bem simples, separando-os por categorias específicas, como representações de partes corporais, animais, natureza, etc.
Em uma rápida consulta à listagem é possível identificar variados caracteres que sobrepostos poderiam reproduzir o Conjunto de Abydos. Após separar estes caracteres fizemos combinações entre eles, reproduzindo uma a uma as figuras presentes nas fotografias. A partir da listagem todas as figuras foram reproduzidas com êxito comprovando a hipótese de Palimpsesto. Apenas no caso do "helicóptero" um caractere adicional foi utilizado. Vejamos então como ocorreu estas sobreposições individualmente e posteriormente em conjunto:
O Tanque/submarino
Esta figura, uma das mais interessantes do conjunto, é associada por alguns à um tanque de guerra. Para outros representaria um submarino. No entanto, uma análise a partir de fotografias de boa qualidade, revelam detalhes não compatíveis com estes veículos: sulcos horizontais do centro para a direita da figura, como se fosse a palma de uma mão aberta. Quando consultamos a listagem de Gardiner encontramos um hieróglifo representado justamente por uma palma de mão aberta. No entanto, este caractere, identificado como D46, por Gardiner, não reproduz a totalidade da figura. A parte superior do desenho, que prolonga-se e assemelha-se à uma torre de um tanque de guerra (daí a similaridade) era produzida por algum tipo de figura composta por linhas retas e finas, curvada em um dos lados. O caractere que se enquadra nesse aspecto é identificado na listagem como Aa26 e quando sobreposto reproduziu com perfeição a polêmica imagem.
Hieroglifos que compõem esta imagem
Imagem formada pela união das duas figuras
O Avião
Outra imagem bastante conhecida do conjunto é a figura do avião. Sua forma realmente lembra uma aeronave militar. A identificação dos caracteres que compõem esta figura foi um pouco mais complicada, pois desta vez não foram dois, mas três hieróglifos sobrepostos. Após uma série de combinações identificamos os caracteres D21, V31 e D36 e com eles pudemos reproduzir plenamente a figura.
Hieroglifos que compõem esta figura
Imagem formada pela união das figuras
O Hieróglifo original desta figura é o D21, que foi inserido na etapa inicial da formação da figura, representado em preto. Quando houve a sobreposição de escrita, foram inseridos dois
O Planador
Outra figura polêmica é o chamado Planador, embora apresente um corpo principal, um leme vertical e não exista indícios de asas. Esta figura é facilmente identificável devido à sua simplicidade. O caractere principal identificado na figura é o D44, que compõem o que seria o corpo principal da aeronave. Acima dele é perfeitamente identificável o caractere classificado pro Gardiner como I6 e dois outros caracteres parcialmente sobrepostos ao principal, posteriormente identificados como O49 e X1.
Hieroglifos que compõem esta figura
Imagem formada pela união das figuras
Outras figuras
As outras figuras presentes na imagem de Abydos também são geradas por palimpsesto. Abaixo do helicóptero existe um conjunto de imagens composta de pequenos retângulos na vertical, com prolongações triangulares, sem um sentido lógico. Esta figura também surgiu a partir da junção de dois tipos de caracteres específicos identificados como Z2 e N25. Confira no quadro abaixo como ocorreu essa sobreposição:
Hiroglifos que compõem esta imagem
Imagem formada pela união das figuras
O "Helicóptero"
O Helicóptero é o símbolo mais famoso do conjunto de Abydos devido à sua inquestionável semelhança com o helicóptero de guerra americano Apache. Céticos, em sua pressa na interminável luta por desmistificar todo e qualquer fato associado à Ufologia, costumam citar que existe ausência de rotor traseiro, ou seja, que um helicóptero de verdade apresentaria aquelas duas pequenas hélices no leme traseiro para dar sustentação à aeronave. Sem elas, um helicóptero apenas giraria no ar e não sairia do lugar. Não deixam de estar certos, embora não aprofundem a pesquisa buscando a verdade em relação aos fatos e apresentando os resultados, como estamos fazendo aqui.
Na investigação em torno desta figura selecionamos, a partir da lista de Gardiner, quase uma dúzia de caracteres para testes de sobreposição. Destes, três caracteres reproduziram parte da figura, restando identificar o caractere que compunha a hélice. Foi necessário uma busca geral em conjuntos de hieróglifos que não compunham a listagem de Gardiner e que se enquadrassem na figura. Nesta busca, descobrimos uma imagem, obtida no próprio templo de Abydos que confirmou nossas suspeitas e identificou o caractere desconhecido, que identificamos aqui como "caractere X". Esta nova imagem apresenta todos os caracteres originais, impressos na primeira fase de composição da imagem. Tal conjunto é uma identificação do Faraó Seti I, usado possivelmente para identificá-lo como construtor do templo, ou como personagem de algum relato ali inscrito.
Figura semelhante ao palimpsesto de Abydos, encontrada no Templo de Seti I
Através dessa imagem foi possível identificar, não só nesta, mas em todas as outras do conjunto, todos os caracteres iniciais, impressos a mando do Faraó Seti I. De posse desta imagem e dos símbolos sobrepostos posteriormente não foi difícil encontrar uma outra identificação, desta vez do Faraó Ramssés, seu filho. Este novo conjunto de sinais indica que Seti I morreu durante a construção do templo, sendo que seu filho, Ramssés continuou a obra imprimindo sua própria marca a partir de então. A imagem de Abydos foi resultado de Palimpsesto envolvendo estes dois conjuntos, talvez para identificar o ponto onde houve a transição de um faraó para outro.
Vejamos então como ocorreu este processo que deu origem à imagem do "Helicóptero de Abydos":
Hieroglifos que compõem esta imagem
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Imagem formada pela união das figuras
As figuras iniciais do conjunto são o "caractere X" e o caractere X1 (apresentados em 1). No processo de sobreposição foram inseridos os caracteres D38 e G45 (representados em 2), dando o formato final à figura (representado em 3).
Entendendo o Palimpso
O templo começou a ser edificado por volta de 1270 a.C., pelo Faraó Seti I. Com a morte de Seti, em 1279 a.C. a tarefa foi continuada por seu filho, Ramssés II, que assumiu o trono. Era um costume antigo, cada Faraó imprimir sua marca em cada obra por eles realizada. Sendo assim, no início da construção do templo, a marca de Seti foi impressa em variados lugares para identificá-lo como construtor do templo. Mais tarde, com a morte deste, Ramssés continuou a obra imprimindo sua própria marca. No quadro abaixo podemos verificar a marca de Seti I e a de Ramssés II:
SETI I RAMSÉSS II
Foi exatamente a sobreposição de um conjunto sobre outro que deu origem às polêmicas imagens, conforme percebe-se no quadro abaixo:
Criando um Mito
Como vimos de fato existiu sobreposição de hieróglifos no conjunto de imagens de Abydos. Mas o que poderia ter influenciado na repercussão desta imagem no meio esotérico e ufológico? Existem vários fatores atuando direta ou indiretamente na repercussão da imagem.
O primeiro deles é o uso de uma imagem ligeiramente desfocada e de baixa qualidade para a divulgação da figura. Devido às características desta fotografias, detalhes importantes da figura ficaram apagados, e certos detalhes foram realçados fortalecendo a idéia de representação de um helicóptero na imagem. Compare nas imagens abaixo a diferença básica entre a imagem original (manipulada) e outra obtida aleatoriamente, à direita:
A "cabeça da ave" posiciona-se justamente sobre a ponta do "helicóptero". Na imagem desfocada, isso causa um efeito interessante criando a imagem do aparelho. Já na imagem à direita, percebe-se claramente o prolongamento do que seria o bico do helicóptero, passando por trás da ave.
O segundo aspecto que influi na fama destas figuras é a precipitação por parte de alguns pesquisadores que primeiro a divulgaram. Aparentemente não houve uma checagem sobre a origem, natureza e história destas figuras e do local onde estão inseridas, muito menos uma tentativa de entender ou traduzir seu sentido. Apenas divulgou-se como sendo uma prova do uso de alta tecnologia nos primórdios da história humana. Ainda dentro deste aspecto, a falta de conhecimento sobre hieróglifos contribuiu para a disseminação dessa história. Ao contrário do que geralmente se pensa, a escrita hieroglífica não era apenas ideográfica, ou seja, cada símbolo representando uma idéia distinta. Na verdade a escrita era uma combinação de três características: fonogramas, ideogramas e determinativos. A primeira refere-se à símbolos que representavam um som fundamental, o chamado fonema. Nesse caso, uma determinada imagem era empregada para representar o som, ao invés de sua representação visual. Um exemplo bem comum deste tipo é a figura de uma lebre que era usada para representar o som emitido pela sua pronúncia em egípcio. A segunda característica refere-se à imagem representada pelo hieróglifo, como por exemplo o desenho de um determinado animal para representar o próprio animal. Já os determinativos eram hieróglifos usados para identificar a natureza da mensagem transmitida. Quando, por exemplo, referiam-se à violência, guerras, combates, era comum incluírem um símbolo de braço armado, representando a idéia de violência. Em alguns casos o símbolo poderia representar também alguma coisa ligada ao hieróglifo apresentado. O ideograma do Sol, por exemplo, poderia representar luz, dia, pôr-do-sol, etc. Todos os símbolos eram gerados a partir de coisas conhecidas e comuns em seu dia a dia. Helicóptero não faziam parte do cotidiano dos egípcios, caso contrário haveriam hieróglifos específicos para representá-los e haveriam incontáveis registros históricos a respeito. E como sabemos não é esse o caso.
Outro ponto fundamental que contribuiu com a disseminação das imagens é o elo comum à todos aqueles ligados à área de Ufologia, sejam eles ufólogos, testemunhas ou apenas interessados no tema, que é a esperança pela prova definitiva. A prova incontestável que confirme a realidade das visitas extraterrestres ao nosso planeta. Essa busca obsessiva por provas e fundamentações para determinadas teorias leva alguns pesquisadores a ignorarem ou omitirem certos detalhes, em seus objetos de estudo. O Caso de Abydos, por exemplo, fortalece, num primeiro momento, a Teoria do Deuses Astronautas. Quem é partidário dessa teoria, em seu contato inicial com a fotografia (manipulada), não vai buscar a veracidade da imagem. A fotografia, por seu caráter extraordinário, será logo aceita e repassada como prova histórica à favor da Teoria à qual defende.
Do lado do ufófilo, ou seja o interessado que não chega a realizar a pesquisa ufológica propriamente dita, existe a necessidade de acreditar. Isso decorre do constante assédio do meio cético, que embora não abale a certeza destes interessados os leva, indiretamente, a aceitar mais facilmente aquilo que tenha um certo respaldo científico, governamental ou social. A figura de Abydos enquadra-se bem nesse aspecto, pois ele tem o respaldo arqueológico e social comprovando que elas existem de fato mais ou menos da forma como é apresentado. Então, ao invés de checar a veracidade da figura repassa-se a informação como autêntica, fortalecendo suas convicções perante o ceticismo que o cerca.
Encarar a pesquisa ufológica com seriedade e objetividade, sem se deixar levar pelas pressões de céticos e detratores é requisito essencial para o crescimento da Ufologia. Aliado à isso, uma nova postura na busca de informações reais que fundamentem uma pesquisa, o uso de metodologias específicas, de acordo com o meio científico, e o intercâmbio de informações só tendem a melhorar a imagem da Ufologia perante a opinião pública. Agora a questão é: conseguiremos isso? Fica em aberto o debate...
http://www.fenomenum.com.br/ufo/investigacao/abydos/abydos