Vamos à uma das mais antigas nações
do mundo, isso mesmo, a Etiópia já era rica e poderosa quando Moisés recebia os Mandamentos e os gregos fugiam de ciclopes e deuses raivosos.
República Democrática Federal da Etiópia
Provável lar ancestral de nós, homo sapiens (e mulheres sapiens) modernos, a Etiópia começa sua história em 800 aC, com o surgimento do reino D'mt, reino que daria origem a Etiópia. Na época de gregos e hebreus, a Etiópia já era uma nação poderosa, de onde veio a famosa rainha de Sabá.
Lendas?
Se formos levar a Biblia em conta, a Rainha de Sabá (ou Shva ou Mkeda) ao saber da sabedoria do Rei Salomão, teria visitado o Reino de Israel levando enorme quantidade de ouro como presente, discutido assuntos de Estado e, depois de algum tempo, retornado a seu país.
Porém, todavia, entretanto, ela teria sido seduzida (ou seduzido, há controvérsias) Salomão e, dele, teria surgido a dinastia que séculos depois ainda controlaria o país, de acordo com a versão etíope.
História real.
Após o século IV aC, o reino se divide em vários reinos menores, até o século I AC, quando um desses reinos menores, Axum, se torna um império e domina os outros reinos, estabelecendo uma longa e duradoura cultura e expandindo seus domínios para o sul do chifre da África (curiosamente, mesma região da vizinha Somália, que eu falarei mais pra frenteno tópico) nos séculos seguintes.
Axum, junto com China, Pérsia e Roma foram listadas pelo sábio persa Maniqueu como as maiores potências do mundo a sua época (o que contrasta bastante com a lenda que aprendemos nas escolas que a Africa era um continente atrasado e pobre desde sempre).
No século XV, a Etiópia voltou a encontrar com seus irmãos cristãos da europa, em busca de aliados, contatando os reis de Inglaterra e Portugal e obtendo ajuda contra invasores islâmicos. Se, a princípio, o reencontro com irmãos cristãos foi enxergado como algo bom, com o tempo missionários jesuítas passaram a converter etíopes para o catolicismo e a criar atritos com a Igreja Ortodoxa Etíope, gerando uma época de sérios conflitos, que terminou com a expulsão dos jesuítas do país e da confirmação da Igreja Ortodoxa Etíope como a oficial do país em cerca de 1630.
Seguiu-se uma longa idade de isolacioninsmo, com o poder imperial diminuindo e se fragmentando nos 2 seculos seguintes.
Teodoros II e a reunificação imperial.
Teodoro II capturando Henry Stern, 1863
O Imperador Tewodros (Teodoro) II surgiu em 1855, usurpando o trono e unindo todo o reino novamente. Ele enfrentou diversas revoltas internas, principalmente por não ter sangue real, e buscou ajuda inglesa. Inicialmente para modernizar e unificar a Etiópia (então com o nome de Abissínia). Mas com o tempo, os ingleses pararam de ajudar ao monarca. Insatisfeito com a recusa inglesa em maior ajuda, Tewodros sequestrou missionários, comerciantes e representantes ingleses com o objetivo de forçar a Inglaterra a negociar. Não foi a melhor idéia que ele teve.
Se ele tivesse se feito de vítima, esperado 3 séculos, talvez pudesse ter mais sucesso, mas naquele momento, a Inglaterra enviou uma enorme força-tarefa contra o país e, numa batalha em 1868, venceu as tropas de Tewodros, que se suicidou para evitar ser capturado.
Apesar da vitória, a Inglaterra não buscou conquistar a Etiópia, deixando o caminho livre para a Itália.
Menelik II e a guerra contra a Itália.
A história de Menelik II já daria, por si só, um tópico inteiro, mas resumidamente, Teodoro II, quando usurpou o trono, prendeu todos os legítimos herdeiros em uma cidade, onde poderia mantê-los como reféns em caso de necessidade. Teodoro não era um rei muito querido e, após os festejos por sua morte, Menelik foi um dos que buscaram provar seu direito ao trono. Foi um período de ainda mais guerras civis entre ele e seus rivais. Menelik, ao saber dos italianos, faz um acordo com eles em troca de ajuda.
O acordo foi manipulado (neste caso, sim, foi manipulado) de forma a haver um documento dando várias regalias e direitos à Itália em troca de auxílio político, militar e econômico da mesma. Mas a versão levada dalí para a Europa era bem outra. Nela, a Etiópia reconhecia que somente poderia se relacionar ao mundo externo por intermédio dos italianos. Que, claro, sempre deturpariam seus pedidos e anseios como melhor lhes conviesse.
Quando Menelik percebeu o logro, buscou modernizar seu exército, com armas e treinamento de origem européia. Quando os italianos tomaram parte do reino, a colônia da Eritréia, Menelik e sua esposa lançaram sua força de 110 mil guerreiros, incluindo soldados armados com rifles e cerca de 28 canhões. O resultado foi a primeira grande vitória de uma nação africana contra um colonizador europeu, em 1896. Vale lembrar, a Wikipedia
em portuguêsnem sempre é uma boa fonte, já que alguém por lá acha que africanos eram selvagens armados com lanças e flechas.
A vitória trouxe, além da retomada do reino e do respeito das nações européias, que consideraram a Etiópia como uma nação poderosa, um longo período de paz e acordos comerciais e diplomáticos vantajosos. Menelik morreu em 1913.
Rei Rasta!
Haile Selassie - Imperador, humanista, pacifista e messias nas horas vagas!
Haile Selassie então subiu ao trono. Inteligente, conseguiu acabar com as lutas internas da Etiópia, unindo os diversos clãs e levou adiante a modernização da Eitópia. Mais que apenas um rei Etíope, buscou unir as nações africanas e mesmo as européias numa tentativa de impedir massacres e guerras desnecessárias.
Selassia era um humanista. Um que não deixava os sonhos o impedirem de ver e reagir à realidade, mas que se adaptava aos fatos mantendo seus objetivos sempre como destino final. Foi um dos grandes incentivadores da Liga das Nações e das Nações Unidas, sendo considerados por muitos, um dos maiores oradores do Século XX.
Honestamente, não sabia muito sobre Selassie (exceto que tinha relação com os rastafari) e quanto mais lia sobre ele, mais interessante ele me parecia, como figura histórica e humana.
Foi ele quem aboliu a Escravidão na África - sim, o Brasil tá longe de ter sido o último país do mundo a abolir a escravidão - e buscou seguir os planos de modernização de seu país, tanto trazendo a tecnologia a seu país quanto tentando enquadrar seu país na comunidade internacional. Objetivos que ele conseguiu com certo sucesso, visto que quase toda a comunidade internacional foi contra a invasão italiana da Etiópia, ainda que nenhuma nação tenha se arriscado a entrar numa guerra por conta deles.
Em 1935, depois de sete meses e o uso de aviões e até armas químicas, a Itália conquista a Etiópia, forçando Selassia a se exilar na Inglaterra e, de lá, dirigir as tentativas de resistência ao inimigo.
Vale comentar que durante seu exílio da Etiópia e luta contra os invasores italianos, surgiu uma religião que considerava Selassie o messias (lembra que eu disse que a Rainha de Sabá teve um filho com o Rei Salomão? Se Jesus não era o Messias, por linha de sangue Selassie seria o Messias esperado!) na Jamaica. A religião tinha o nome pré-coroação de Selassie, Ras Tafari. Isso, essa mesa. Durante uma visita ao país, o imperador destronado recebeu o apoio de pessoas que o consideravam um deus. Enquanto muitos líderes, de Stálin a Lula, adorariam isso, Selassie tentou explicar aos jamaicanos que era apenas um homem e que essa religião com foco nele era errada.
Em 1941, seis anos depois, a itália é expulsa do país e Haile Selassie retorna, com planos de modernizar ainda mais o país, levando todos os avanços e melhorias que desfrutou na Inglaterra para seu povo. O exílio o fez querer que o povo da Etiópia tivesse a mesma qualidade de vida que o povo inglês. Ele procurou muitas idéias que poderiam ser aplicadas e seu povo e criou um plano de reformas lentas, que não destruíssem a coesão milenar de seu povo, mas que assim mesmo o levasse a adquirir os hábitos que, ele acreditava, tornariam seu país uma
WakandaInglaterra africana.
Impostos progressivos, com os mais ricos pagando mais, voto universal, uma constituição igualitária. Selassie era um governante progressista, mas de um tipo de progressismo que não interessava a todos os grupos no país. Certos grupos, indivíduos bons, iluminados, dispostos a levar a igualdade ao povo seguindo os ensinamentos de um profeta maluco chamado Carlos Marques estavam insatisfeitos com as melhorias insucifientes de Selassie, afinal, segundo eles, bastava seguir os ensinamentos de Carlos Marques e a Etiópia se tornaria um paraíso na Terra, não em décadas, mas rapidamente.
Agora sim, com Carlos Marques a Etiópia vai avançar!
Raul Castro, Fidel Castro e Mengistu, igualdade para todos! Ou quase todos!
Mengistu Haile Mariam foi o líder do
golpe militargrupo marxista-leninista que tomou o poder do país em 1974, aprisionando Selassie (e, segundo boatos, o assassinando) lançando o país, que crescera sob o governo Selassie, numa loooooooooooonga sequencia de mortes, falta de liberdade e fome, numa clara deturpação dos ideais de Carlos Marques. O governo Mengistu instituiu o terror vermelho como reação a um suposto terror branco (pessoas que realizavam matanças e massacres contra o pobre povo etíope), levando milhões de pessoas a passarem fome e, pelo menos 1 milhão de mortos. Não podemos colocar toda a culpa no arauto do socialismo, como sempre acontece, uma seca terrível causou a falta de comida, não o socialismo. Ah, os socialistas descobriram que podiam usar a fome como arma de guerra contra regiões insurgentes, causando ainda mais mortes.
Em 1977, a também socialista Somália invade a Etiópia e foi só graças à ajuda de URSS, Cuba, China e Alemanha Oriental, o país consegue se manter livre. Soldados cubanos e russos dão apoio logístico ao exército etíope, outrora orgulhoso de resistir aos ataques de potências européias muito superiores, agora perseguiam e caçavam seus próprios concidadãos.
Os anos 80 foram um festival de secas, guerras civis e algo inédito e impensável, numa nação que seguia os ensinamentos de Carlos Marques, com o governo se desintegrando em meio à guerra civil e o país entrando em caos. Nesse meio tempo, no resto do mundo, os países comunistas do Leste Europeu caem um a um, se tornando democracias no rastro da derrubada do Muro de Berlim. A própria União Soviética resiste mais um ano e também se desintegra (anotem essa palavra para o próximo país), deixando de enviar dinheiro para auxiliar os comunistas etíopes. Sem dinheiro para manter o pouco de exército e população fiel, lembrando a famosa frase "
o socialismo dura até acabar o dinheiro dos outros", em 1991 o governo cai e Mengistu é condenado por genocídio, mas consegue escapar para Zimbábue (nossa próxima parada em tópicos sobre países que deturparam Carlos Marques).
Atualidade. Ou quase.
Meles Zenawi era um estudante de medicina que, durante o golpe marxista, acabou deixando a faculdade para participar de guerrilhas contra os golpistas. Vale comentar que Zenawi era, ele mesmo, socialista mas contrário aos métodos e objetivos do governo marxista-leninista de Mengistu. Ele logo se tornou um dos lideres da guerrilha anti-governo e, quando o país se desintegrou após o fim da ajuda soviética, acabou se tornando o líder do governo de transição.
Zenawi reestabeleceu o multi-partidarismo e a liberdade religiosa, assim como institui eleiçoes democráticas livres e privatizou diversos setores da economia. Outra ação dele, já como presidente eleito, foi dividir o país em áreas de acordo com a etnia da população, evitando novos conflitos e guerras civis. Também neste período, após uma eleição, a Eritréia ganhou sua independência do país.
Apesar dos avanços, mais de 30 anos de fome, guerra civil e
socialismomortes trouxe seu preço, com o país precisando reconstruir sua infraestrutura e tudo o que foi destruído em todos esses anos.
Hoje, a Etiópia tem IDH de 0,44, o tornando o 174 (de 188 países) IDH do mundo.
Nada mal para uma nação com milhares de anos de existência, que resistiu aos ataques de uma nação européia muito mais poderosa.
Culpa, claro, do capitalismo opressor.
Fonte:
Wikipédia