Para pra pensar.
No começo da sua vida seus interesses são mamar, cagar, arrotar. Depois ficar olhando pra formas geométricas e figuras coloridas, principalmente se estiverem se mexendo. Depois seus interesses passam a ser progressivamente brincar, jogar bola, bater p*nh*ta, mulher, ganhar dinheiro, trabalhar, tirar férias, se aposentar, ver os netinhos, jogar bocha, fumar cachimbo, qualquer outra coisa. Em cada fase da sua vida você tem interesses diferentes, gostos diferentes, reage de maneira completamente diferente a estímulos. E tudo isso depende de uma coisa bastante palpável e manipulável, que é o seu cérebro. Se tirarem uma parte do seu cérebro, por exemplo, você pode ficar (bem) mais extrovertido. Se tirarem outra, você pode perder capacidade de raciocínio. Se tirarem outra, você pode se expressar de maneira menos fluente. Se tirarem outra você não vai entender o que os outros dizem. Se seu cérebro ficar doente, você pode ficar demenciado.
Em cada fase, em cada momento da vida você é uma pessoa completamente diferente e a pessoa que você é está claramente ligada a uma estrutura física palpável e manipulável.
Como você acha que seu fantasminha funcionaria? Ele seria parecido com você em qual momento da vida? Teria os interesses de um momento específico da vida ou todos juntos ou nenhum? Reagiria da maneira que você reagia quando bebê, chorando por qualquer coisa, ou como você reagia no final da vida, velho e demenciado, mal interagindo com o mundo?
Se você machuca a cabeça na infância e isso altera o seu comportamento... o comportamento do fantasminha se altera? Fica um fantasminha com comportamento alterado ou o fantasminha fica "como seria se não tivesse acontecido", diferente do que você foi em vida? Será que então tem gente que acaba com fantasminha demenciado? Ou fantasminha bebê? Será que são infinitos fantasminhas pra cada pessoa, um pra cada momento que ela viveu (correspondendo a cada pessoa que ela foi)? E será que tem um fantasminha pra cada possibilidade do que aconteceu fisicamente com o cérebro da pessoa (tipo o cara que teve uma meningite grave e viveu sequelado tem um fantasminha sem sequelas e também um fantasminha sequelado, mais parecido com o que ele foi em vida)?
Claro que tem aquela resposta vaga que não quer dizer muita coisa: o fantasminha vai ser a essência da pessoa que estava presente lá o tempo todo ao longo da vida dela... mas se o fantasminha não terá nossos interesses e não reagirá da mesma maneira que a gente reage a estímulos... dá pra considerar que é o nosso fantasminha? A pessoa que a gente é neste exato momento vai ser representada por um fantasminha? Vai ter um fantasminha meu que me representa agora, que gosta de ver jogo do meu time e de perder tempo na internet?
Nos filmes quando tem fantasminha é muito fácil: o fantasminha representa a pessoa na época em que o filme se passou, porque é o mesmo ator que faz os dois.
Uma coisa interessante é em Guerra nas Estrelas porque o Obi Wan morre e vira fantasminha velho, mas o Darth Vader morre e vira um fantasminha mais novo. Pra não ficar um fantasminha todo cheio de sequelas, queimaduras e malvado.
Acho que as pessoas talvez devessem ver menos filmes.