-Drope-
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Vou dar um exemplo de mim mesmo. Por sorte nasci "normal", com um cérebro saudável e uma beleza considerada razoável. Além disso, tive a sorte de ter nascido em uma família classe média. Atualmente, como já estão sabendo aqui, eu estou namorando e, sinceramente, por mais que sinta essa coisa de "amor" e "paixão", acho que no fundo no fundo só há interesse. Interesse por parte da minha namorada (e também meu), devido a minha condiçao, como estar estudando numa boa faculdade, estar estagiando, morando sozinho e etc. Ela mesma já chegou a dizer que uma das coisas que chamou a atenção dela em mim foi a minha segurança e seriedade ao me expor em sala de aula. Agora, imagina, se eu não tivesse tratado a minha fobia social e toc no passado? Continuaria sendo aquele cara calado e super inseguro, e ela nem saberia da minha existência.Detesto soar como uma adolescente revoltada, mas não consigo acreditar nesse amor idealizado que tanto pregam. O tal "amor cego". Acredito que sim, exista, e seja uma construção madura e quase racional entre duas pessoas que, juntas, desenvolvem um relacionamento e são capazes de se cuidar. Porém, não deixo de pensar em como até o "amor" ou a paixão são banais. É muito fácil amar uma pessoa com condição financeira estável, uma pessoa bonitinha, e por aí vai. As pessoas adoram falar sobre como o amor vence tudo, sobre como ele é aleatório e nada racional, mas...será mesmo?
Penso na minha irmã, por exemplo. Não fala, não anda, não consegue realizar atividade alguma sozinha, praticamente. Tem mais de 30 anos e uma de suas maiores dores é a solidão. A solidão romântica, no caso. Mas quem vai amar uma pessoa assim? Quantas estariam dispostas? É muito fácil amar a garota magra e bonitinha, ou o cara de "beleza normal", é muito fácil se apaixonar. Mas quem vai se apaixonar por alguém deficiente, ou com a cara queimada devido um incêndio, ou com alguma deformidade física que a tornaria atração de um "circo dos horrores", décadas atrás?
Eu estava conversando sobre isso com minha namorada, e pensando sobre o assunto, após ler certas discussões no Twitter. Eu só penso em como tudo isso é banal. E eu não me excluo: sou tão banal quanto. Tenho minhas preferências, e olha que nem curto contato físico. O lance é que, para pessoas normais, sempre vai ter alguém interessado. Eu sou uma pessoa comum, magra, de pele clara, então sempre aparece alguém, mesmo tendo uma aparência esquecível. E algumas dessas pessoas me consideram bonita. Mesmo quem deve me achar feia, provavelmente acha um "feio aceitável", o que a maioria de nós deve ser mesmo. E aí volto ao campo da paixão, do amor. Minha namorada me ama, mesmo? Meus pais se amam? As pessoas que vejo por aí? Quando é "amor", de fato? Parece-me algo tão raro que quase soa como um problema mental.
E aí eu volto a pensar: Será que as pessoas que se apaixonaram por mim, durante esses 23 anos, sentiriam o mesmo se eu pesasse 200kg? Se eu tivesse a face deformada? Se eu não tivesse braços ou pernas? Se não, por que seria amor? E a mesma pergunta vale para mim, também. Não serei hipócrita. Eu gostaria dessas pessoas se, aos meus olhos, não fossem tão atraentes? Parece bobo, mas é algo que me incomoda. Claro que estou falando sobre exemplos extremos, mas dá até pra traçar um paralelo em gente que é só "feia" por ser fora do padrão mesmo, que é pouco cobiçada por ser negra do cabelo duro, ou por ser acima do peso, ou qualquer coisa desse tipo. Muitas dessas já seriam muito inseguras, talvez se odiassem, simplesmente porque não tiveram sorte ao nascer. Claro, há formas de melhorar, como treinar em uma academia, fazer plásticas, usar maquiagem, mas...no fim, de que adianta? Se há quem namore contigo só por dinheiro, ou seja, interesse, beleza ficaria mais ou menos no mesmo campo. É muito fácil amar um ator ou atriz de Hollywood com suas aparências perfeitas. Tudo é tão focado nas aparências, que talvez seja quase impossivel se desvincular disso. Enfim, fica o desabafo. Eu só sinto que vivo em um mundo de ilusões, de troca de favores e interesses, enquanto tentam, a todo momento, empurrar idealizações absurdas, que não condizem com a realidade.
Idealização gera sofrimento. O ideal, para mim, é enxergar a vida de forma nua e crua, realista, e aceitar que não é um conto de fadas. Todo mundo quer algo em troca, algum beneficio, sem essa de "amor cego que ultrapassa barreiras". Até deve existir, mas é muito raro. Acho que só de nos limitarmos a namorar gente de só um tipo, de só um sexo, já meio que anula essa coisa de "conexão sobrenatural". Se um homem hetero namora a sua bela mulher durante 10 anos e, por mágica, um dia, ela se transforma em um cara, o amor continua? Acho dificil.
É uma m**** pensar que todo esse "colorido" no início do nosso relacionamento é um bando de neurotransmissores sendo ativados, que irão se amenizar após alguns meses ou anos. Já é mais que sabido que se um relacionamento amoroso continua por décadas é porque o amor ficou no campo racional e não emocional. É triste, mas, uma hora isso vai acabar. Uma hora vou perceber coisas na minha namorada que vão me incomodar e que me deixarão de saco cheio. Toda noite antes de dormir eu fico muito angustiado quando penso nessas coisas.
Bom, o jeito é aproveitar cada momento enquanto ainda temos tempo, mesmo que seja uma ilusão...