Darth_Tyranus
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Lembro que no ensino fundamental nós plantamos árvores em torno da quadra, cada turma plantou uma, com a ideia de posterioridade e herança da nossa geração. A professora até discursou que um dia nós poderíamos voltar à escola no futuro, quando adultos, e olharmos para aquela árvore madura que assim como nós seríamos também maduros, estas contribuíram fazendo parte da paisagem, tornando o lugar mais bonito, além de fornecer sombra para as gerações vindouras, quem sabe até nossos filhos, poderíamos olhar para aquela árvore e se lembrar "fui eu quem plantei".Me sinto assim até hoje. Mesmo fazendo mais de 20 anos que terminei o ensino médio. Tem horas que fico "inconformado" por seguir a vida anonimamente, sem deixar qualquer marca da minha existência. Queria escrever um livro, plantar uma árvore, fazer um jogo, desenhar algumas artes em forma de quadrinhos ou pinturas, enfim, fazer alguma obra para gravar meu nome para as gerações vindouras. Nem mesmo um filho de sangue eu fui capaz de gerar... Sei que ainda há tempo, mas às vezes me pergunto se quero mesmo tudo isso, porque quem quer vai lá e faz. É simples assim.
Essa "inércia", creio eu, é causada em grande parte pelo excesso de informação e a possibilidade de realizar tantas coisas hoje em dia que fica até difícil ter foco. Eu tenho uma lista imensa de vídeos, textos, livros e jogos para finalizar, além de muitos projetos de profissões, lugares para visitar, coisas pra fazer e aprender, mas não consigo fazer nada e me frustro. Essa pandemia, com a quarentena, me fez perceber que não se trata de tempo e sim de atitude. Tempo eu tive até demais pra fazer muita coisa, mas não quis. Fui preguiçoso, relapso, desinteressado. Fiquei muito no fórum, vendo TV e Youtube me entretendo com coisas não muito interessantes.
Esse vazio do passado que você se refere é sobre relacionamento? Carreira? Estudos?
Sabe o que aconteceu? Quando as árvores começaram a crescer os maloqueiros da escola as arrancaram do chão pela raiz. Quando voltei lá, anos mais tarde, não encontrei árvore alguma. A paisagem era o memo terreno estéril, lotado de sujeira e gurias dançando funk. Isso foi uma lição de vida e também de história e cultura do Brasil. Nós não temos raizes, olhe para as nossas cidades, é uma confusão desgraçada de nomes e prédios que nada mais significam, depois do modernismo perdemos completamente a ordem mental que a organização urbana reflete. O que a árvore, a rua da minha escola, a cidade e as instituições me revelam é que a ideia de herança não é algo que nos pertença. Se eu escrever um livro, este será relegado ao fundo de algum sebo, consumido pelas traças, se eu tiver um filho este nascerá em pais eternamente condenado a um futuro próspero. Não adianta, nós estamos dentro do estômago do Leviatã, sendo digeridos pouco a pouco, é a nossa sina de nascer neste lugar. Deixei de e importar com essas ideias, não são próprias, mas sim alienígenas nesta terra que tudo consome.