Cláusula da Sony que permite banir
PS5 da PSN é abusiva, decide juíza; dono do console compartilhou jogos da PS Plus Collection
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Sony sofre nova derrota na Justiça de SP após banir PS5 de forma permanente
Cláusula da Sony que permite banir PS5 da PSN é abusiva, decide juíza; dono do console compartilhou jogos da PS Plus Collection
Por
Felipe Ventura
10/02/2021 às 13:43
NEWS
A
Sony não pode fazer bloqueio permanente do
PlayStation 5 caso o usuário viole suas regras, porque a cláusula que prevê isso nos termos de uso é abusiva e viola o Código de Defesa do Consumidor. É o que decidiu uma juíza do TJ-SP (Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo)
sobre o caso do PS5 que foi banido da PSN após o dono compartilhar jogos da
PS Plus Collection.
PS5 (Imagem: Divulgação/Sony)
Por que o PS5 foi banido pela Sony?
Para entender este processo judicial, você precisa saber de três coisas:
No processo judicial em questão,
o dono de um PS5 confirma que distribuiu a PS Plus Collection para diversas pessoas. Em 9 de dezembro de 2020, ele viu este aviso ao ligar o console: “o acesso desse
PS5 à PlayStation Network foi suspenso”. O suporte da Sony explicou que havia “banido permanentemente” o dispositivo, sem chance de reverter a decisão.
O dono do
PS5 abriu um processo e pediu que o console fosse desbloqueado durante o andamento do caso na Justiça, já que não poderia esperar até uma decisão final (o PS6 poderia ter saído até lá). No final de dezembro,
a Sony cumpriu uma decisão liminar e reverteu o banimento do PS5 – foi sua primeira derrota.
Bloqueio permanente do PS5 é abusivo, diz juíza
Agora, a juíza Carolina Santa Rosa Sayegh faz o julgamento do mérito: o
PS5 podia ser banido dessa forma? Ela acredita que não, explicando que a Sony descumpriu dois fatores: o dever legal de prestar informação clara e precisa sobre seus produtos e serviços; e o dever de manter uma relação paritária na medida do possível, porque o consumidor é considerado parte vulnerável.
A juíza escreve que, em primeiro lugar,
a Sony não informa adequadamente o usuário do que pode acontecer caso ele descumpra as regras. As punições constam no contrato sem qualquer destaque, tal como fonte maior ou campo específico, e “a gravidade das consequências contratuais impostas assim o exigiam”.
Além disso,
a empresa não dá detalhes sobre como seriam essas punições. O contrato menciona a suspensão e/ou cancelamento de serviços e produtos, porém “sem a mínima especificação de forma, prazo e afins”. Segundo a magistrada, isso viola o dever de informar acerca da punição contratual.
Tem mais: para Sayegh, o bloqueio permanente do
PS5 pode estar até previsto em contrato, mas viola o CDC (Código de Defesa do Consumidor). Ela explica que a restrição “coloca o consumidor em desvantagem exagerada, sendo nitidamente abusiva”; portanto, seria nula de pleno direito.
A juíza não descarta a possibilidade de um bloqueio temporário, mas diz que essa medida não pode ser irreversível, já que isso afeta o patrimônio do consumidor de modo absoluto.
Por fim, Sayegh levanta um ponto interessante: ela acredita que o bloqueio permanente do
PS5, aliado a uma suspensão temporária da PS Plus,
beneficia a Sony “de maneira patentemente desproporcional”.
Afinal, o cliente poderia gastar mais R$ 4 mil para comprar um novo console que funcionaria normalmente com sua conta, e ainda teria que pagar a assinatura da PS Plus. “Coloca-se, assim, o consumidor em desvantagem exacerbada, desmotivada e desproporcional, o que não se admite”, escreve a magistrada.
Nada de danos morais
O processo pedia, além do desbloqueio permanente do
PS5, uma indenização por danos morais no valor de R$ 15 mil. No entanto, para a juíza,
“o pedido de danos morais não se justifica”.
Ela afirma que a Sony violou o dever de informação e foi desproporcional em sua punição – mas nada disso “representa violação à honra, intimidade ou reputação”. Para a magistrada, o aborrecimento “não atingiu o grau necessário a justificar indenização por dano moral”.
Esta é uma decisão de primeiro grau e ambas as partes podem recorrer.