Antes de responder as últimas perguntas, quero esclarecer quando digo: "
o estado é ineficiente para prover serviços".
Ignorando as questões
éticas e morais (a saúde e a educação são
bens e não "direitos", e portanto é imoral você obrigar alguém a pagar por você).
Essa dúvida é comum. Vamos lá:
Os
serviços estatais podem funcionar bem sim (com qualidade). Isso é fato. Assim como qualquer
serviço público pode funcionar a contento dos cidadãos. É só dar uma volta pela Europa que se constata isso facilmente. Não é esse o ponto. A questão é a
eficiência:
A palavra eficiente tem a ver com o que se
entrega, dado um certo custo. E a
eficiência é útil quando usada de forma
comparativa:
Ser mais eficiente é
entregar mais pelo mesmo custo, ou entregar a mesma coisa por um custo mais baixo.
O fato é que dado um país, os serviços prestados pelo Estado são, na
absoluta maioria dos casos,
menos eficientes que os serviços prestados de forma
privada. Ou menos eficientes do que seriam os serviços prestados de forma privada num mercado livre.
E por quê?
Porque:
a) O serviço público carece das características que
elevem constantemente a eficiência: o olho do dono, a concorrência, a busca pelo lucro. Enfim: todos os dias o empreendedor acorda e pensa: como posso fazer mais com um custo menor?
b) Como o serviço público gere o dinheiro alheio, ele necessita de sistemas de controle maiores, que têm um custo.
c) Num sistema monopolizado pelo estado (ou fornecido pelo Estado a
custo zero), não há
livre formação de preços. Então os preços não
refletem as preferências dos consumidores, o que impede o planejamento eficiente do serviço ofertado. Preços são informação. Se eu pago, estou dizendo:
faça mais disso.
d) Se
custo = zero, a demanda tende para o
infinito. Isso gera a necessidade de um
racionamento. Daí as filas de espera nos hospitais públicos em todo o mundo.
e) Como o dinheiro é alheio, geralmente há mais
corrupção no serviço público. Quanto mais moral for a cultura do país em questão,
menor este efeito. Mas
sempre a corrupção é maior no sistema público...
Vamos pegar como exemplo a Espanha. A Espanha tem um dos melhores sistemas de saúde do mundo (OECD). Terceiro melhor da Europa.
A saúde pode funcionar bem na Espanha, mas seu custo é com certeza maior do que o sistema
privado equivalente. Esse dinheiro extra tirado da população à força na forma de impostos torna
todos mais pobres. O excesso de governo na Espanha faz com que a economia não
decole. Devem quase 90% do PIB, e o desemprego é da ordem de 24% (50% entre os com menos de 30 anos).
No caso da Noruega que estava sendo debatido antes, também fica óbvio quem paga a conta. A gasolina é a
segunda mais cara do mundo, os impostos são
altos, e a criação de riqueza na economia está
estagnada (desde a implantação do welfare state).
Compare por exemplo o sistema de saúde do Canadá
(todo público), com o da Alemanha (não é um livre-mercado, mas é todo fornecido e administrado de forma privada, o governo apenas impõe aos cidadãos e paga pelos mais pobres):
Note que, se eu tenho um orçamento X para a saúde, e o aplico no sistema menos
eficiente, eu estou matando pessoas
desnecessariamente. E isso é muito sério! É por isso que é impossível pedir que saúde educação sejam geridos pelo Estado. São coisas importantes demais para delegar ao sistema menos eficiente. E se nem saúde nem educação podem ser estatais por uma questão de lógica, sobra muito pouco para o papel do Estado...
Para o estado, ineficiente por natureza, oferecer um bom serviço, ele terá de
confiscar recursos a taxas crescentes de seus cidadãos e empresas. Isso gerará efeitos deletérios sobre toda a economia.
No caso espanhol, é impossível isso ser mais
óbvio: quem está arcando com tudo são os 20% de desempregados (uma das maiores taxas do mundo), que não encontram emprego porque as empresas e os patrões estão sufocados com a carga tributária necessária para bancar esse oásis.
Não se pode simplesmente ignorar essa realidade e sair dizendo que a saúde espanhola é
ótima, invejável, não gera
efeitos colaterais e deve ser copiada. Os efeitos colaterais estão aí, e são óbvios.
Para a saúde estatal ser "
ótima", muitos têm de bancá-la. O estranho seria, aí sim, ter essa saúde estatal perfeita e, ainda assim, ter um desemprego baixo, uma economia bombante e ninguém mais estar arcando com um
passivo por causa disso.
Isso é uma boa troca? Se você acha que sim, então pronto. Se vale a pena ter uma saúde estatal "boa" em troca de 20% de desemprego e uma economia estagnada, então fim do debate.
Não há nada de estranho ou de diferente na situação espanhola e norueguesa. Para o estado fornecer um "bom" serviço, há vários que estão pagando essa conta. E de maneira dolorosa.
Agora, se a saúde estatal espanhola e norueguesa fossem realmente perfeitas e, ao mesmo tempo, toda a economia passasse incólume por isso, sem ninguém estar sendo prejudicado de uma forma ou de outra (como os 20% de
desempregados espanhóis ou a segunda gasolina mais cara do
mundo norueguesa), aí sim haveria algo de errado e surreal. Aí sim a ciência econômica estaria
refutada.
Entenda esse básico: a economia é a ciência da
escassez. Se há uma entidade confiscando recursos para bancar um serviço universal, aqueles de quem esses recursos estão sendo confiscados (empreendedores e capitalistas) serão
afetados. E, ao serem afetados, outras pessoas também serão (trabalhadores que ficarão desempregados).
Caso isso não ocorresse, a escassez estaria
abolida e estaríamos vivendo na abundância
plena.
É exatamente isso o que a ciência econômica explica. Para o estado, ineficiente por natureza, oferecer um bom serviço, ele terá de confiscar recursos a taxas crescentes de seus cidadãos produtivos. Isso gerará efeitos deletérios sobre toda a economia. No caso espanhol e noruegues, é impossível isso ser mais óbvio.
Aí alguém diz:
"eu sinceramente não ligaria de pagar imposto pra sustentar um serviço público como o espanhol ou o norueguês".
Se eu fosse um espanhol ou norueguês com um
bom emprego, com
estabilidade, e ganhando
bem, também iria querer exatamente este arranjo. Estou arrumado na vida e ainda tenho a minha saúde custeada pelos
pobres e desempregados. Isso deve ser
bem gostoso.
(Na economia, tudo é uma questão de escolha).