Sou fã de MGS, o 3 comprei 3 vezes. Mas acho a estratégia de marketing do Kojima extremamente cansativa e de certa forma até desrespeitosa. Não estou falando de dar certo ou não, porque provavelmente dá, mas sei lá.
Fico vendo essas paradas e penso "porque o manicômio deu alta pra esse cara?"
Mas vamo que vamo.
Eu diria que isso aí é de menos.
O problema maior é o excesso de pedantismo.
Lance o jogo e deixe as pessoas julgarem por contra própria. Ninguém precisa dizer aos outros: agora você jogará o melhor jogo de todos os tempos, preste atenção, se não tomar cuidado, se não se lembrar disso, poderá correr o risco de achar apenas um game comum a qualquer outro.
O marketing dos dias atuais condiciona as leituras. Não deixa as pessoas, sem quaisquer mediações, degustarem os produtos e tecerem suas próprias críticas. Elas já vão condicionadas pelas notas dos reviews que são dadas antecipadamente ao lançamento do jogo. As crenças que são alimentadas no momento antecedente ao lançamento se transferem para os momentos iniciais, em que o hype é bastante alto e media a visão do jogador sobre aquilo que ele está jogando.
Parece que eles tem o receio de que se não insistentemente falarem que estão fazendo um bom jogo, ninguém o achará que está jogando um bom jogo.
Ora, um bom escritor sabe fazer um bom primeiro capítulo para manter o leitor interessado no prosseguimento de sua leitura. Um bom game designer tem que fazer o mesmo.
Só que parece que no caso de Death Stranding se não ficarem explicando o tempo todo que o jogo é alguma coisa muito diferente dos demais, o risco de alguém jogar os primeiros minutos e não se sentir interessado em prosseguir será muito grande.
Games open world em geral tem usado muito desses estratagemas de markenting uma vez que grande parte desses jogos levam muito tempo a se revelarem plenamente para os seus jogadores.
Mas o erro está em não fazer um inicio realmente interessante, em não deixar mais claro de que tipo de jogo está se tratando.
Entre os trailers exibidos e aquilo que é falado em entrevistas há uma discrepância. Os trailers não revelam nada de mais. Mas em entrevistas o tom pedante de "estamos fazendo algo revolucionário" é constante.
Quando existe essa necessidade constante de verbalizar aquilo que não está sendo transmitido por imagens, algo de errado tem aí.
Eles dizem que o game terá mecânicas e dinâmicas revolucionárias. Ora, por que além de assistirmos o Norman Reduss caminhando aqui e pra lá e assistindo algumas sessões de stealh, nós não estamos vendo nada dessas mecânicas e dinâmicas revolucionárias? Os trailers não exibem as regras do jogo, os objetivos a serem alcançados. Cadê a tal cooperação que eles constantemente verbalizam em entrevistas e deixam de lado nos vídeos exibidos? Cadê as dinâmicas de interação entre os personagens que criam elos entre eles?
Fora missões escort do tipo "carreguem esse bebê protegendo-o", está faltando mais nesses trailers.
Parece tudo forçado. Ao invés das mecânicas propriamente deixarem claro do que se trata o jogo, está sendo feito uma espécie de trabalho posterior em que o que se fala de um game deverá transferir e mediar a interação entre o jogador e o game. Qualquer game pode se tornar revolucionário dessa maneira, especialmente quando um olhar bastante enviesado se projeta para um jogo.
Quando speedrunners procuram exploits de um jogo, e quando eles são capazes de jogar de um modo completamente diferente do premeditado pelos game designers, eles expõem as falhas do jogo. É fácil eu dizer para alguém: você deve jogar esse jogo de tal maneira. Vários jogadores, ao entenderem que devem jogar o jogo dessa maneira, orientados verbalmente para isso, jogam o jogo assim. Até que um speedrunner mostra que o jogo é jogado de maneira mais eficiente se for jogado de outra maneira.
Com que quero chegar a isso? Ora, em Death Stranding eles podem dizer aos jogadores: cooperem, porque é assim que o jogo deve ser jogado. Mas e se um caçador de exploits achar que o jogo pode ser jogado melhor se o jogador simplesmente jogar como um Rambo?
É o próprio sistema de recompensas e punições que, se bem construído, deve instruir a maneira adequada de jogar o game. E se o jogo for muito exploitável, se a maneira de jogar for muito discrepante daquela intencionada pelos game designers, no fundo, temos um jogo muito ruim. Será que eles tem receio aqui que o sistema de recompensas e punições de Death Stranding não é suficiente para guiar o tipo de jogatina proposto?
Se o game é realmente revolucionário, apenas lance-o, deixe os jogadores experimentarem por conta própria, deixe os jogadores sentirem que não está dando certo usar excessivamente armas de fogo, deixe os jogadores sentirem por conta própria que a cooperação é a norma.
