Nem tanto aos céus, nem tanto aos infernos: eu fiz mestrado há 12 anos e não concluí. Sinal de burrice? Não: meu pai adoeceu para morrer daí 2 anos e meio. Juntou que eu fui morar sozinho em São Paulo capital (o tratamento dado pelo paulista é COMPLETAMENTE DISTINTO do tratamento dado pelo capixaba: sofri MUITO com isso) e eu peguei uma má orientadora (uma ególotra doutora de si mesma). Pós-graduação, por si só, é um momento que exige emocional e energeticamente. Se o ambiente que o cerca (família e trabalho) não andam bem...a coisa tende a desandar.
Lembro de uma professora da UFMG que eu conheci. Ela afirmava que "as pós-graduações e as obras em casa são geradoras de crises nos casamentos".
Neste momento eu estou na bica de fazer qualificação de um novo mestrado. Novamente os motivos circunstanciais (chefe morreu, setor encerrado, nova má escolha de orientadora) me levaram a acreditar que não fui feito para o meio acadêmico (não enxergar a luz no final do túnel) e larguei o mestrado por 5 semanas (mas fui convencido a terminá-lo). Nesse meio tempo me foram impostas troca de tema e de orientadora.
O que digo é o seguinte: mestrado é uma situação gostosa por um lado (adoro ler e estabelecer conexões entre assuntos - essa parte eu tiro de letra); mas dolorosa por outro (não sou exemplo pois vivi coisas muito extremas em ambas as experiências). Agora: precisa saber ler e escrever. Pode parecer básico, mas você não lê com toda a seriedade do mundo cada artigo e livro que você vê pela frente. Algumas coisas merecem leitura de 'revista Caras', e algumas outras merecem leitura dedicada e debruçada por horas e dias a fio. Do mesmo modo: ser fluente em Inglês e Espanhol é uma mão na roda...!
Ler: mantenha um documento de word com todos os trechos importantes dos textos que você ler. Isso ajuda DEMAIS ao escrever dissertação no final do curso.
Escrever: dizer que "escreveu a qualificação em 20 dias" é um extremo de muito preparo (ou, no extremo oposto, de uma chutada de balde). Não é para qualquer um. Ou, já havendo terminado as disciplinas, então 20 dias livres para escrever um projeto de qualificação são críveis (apesar de puxados). Tem dias que meu rendimento é de meia página; e quando estou bem disposto chego a 2 páginas e meia de word (times new roman, corpo 12, entrelinha 1,5 e sem figurinhas). Vejo colegas de sala com dificuldade de escrever 1/3 de página e que conseguiram qualificar antes de mim.
Ninguém escreve a frase definitiva e gramaticalmente correta de primeira. Pense seu texto como um jazz 'scat': é para cagar e errar mesmo! Mas cague muito, escreva muito e sem muito filtro. Depois você vai apurando com as novas leituras do trabalho. O importante é você conseguir estabelecer esqueletos de pontes entre o ponto A e B. O concreto virá depois.
Não caia na inocência de achar que você escreverá da página 1 à 80 em sequência. Sua mente não funciona assim. Eu comecei escrevendo o que hoje está na página 42 de minha dissertação (risos). Tem dias que vem uma super idéia para escrever a página 12. Alimento a conclusão do trabalho (página 80) a cada progresso que dou na parte escrita de meu trabalho. A página 1? Até escrevi recentemente. Mas certamente sofrerá alterações com a qualificação!
As aulas: elas exigem leituras e seminários. Há um macete: busque explorar os textos das disciplinas para montar sua própria argumentação na dissertação. Um texto bobo de uma disciplina salvou minha escritura de dissertação e ajudou a pensar os seminários de outras disciplinas.
Orientador(a): um erro que cometi por 2 vezes: escolher pessoas que DIZEM ser muito produtivas, terem livros publicados, realizado seminários, blá-blá-blá. São pessoas que só querem holofotes em cima de si mesmas (e nem sempre generosas). Curiosamente presenciei minhas 2 escolhas humilharem colegas de mestrado diante de turma de sala de aula (no sentido de não orientar a construir uma apresentação de trabalho e depois cacetar perante todos).
O que aprendi quantos aos orientadores: os gente fina, bonachões, nadadores, surfistas, cachaceiros e tiazinhas de instagram são os mais agradáveis de se lidar. Quem tem vida normal, em resumo. Orientador é uma pessoa que deve levantar seu ego para cima, e não pisoteá-lo para baixo. Agora...se esposa ou marido largou o orientador...se você o presencia desesperado para resolver 15 coisas ao mesmo tempo...se promete ler seu trabalho e não lê...se fala mal a seu respeito NA SUA FRENTE com terceiros...fuja!
Caso você esteja conciliando trabalho e estudos: meu amigo...vivo isso nesse momento. Não é agradável trabalhar 8 horas ao dia e fazer mais 4 horas de aula à noite. Ganha-se peso, perde-se noites em claro.
No mais: mestrado tem ritmo COMPLETAMENTE DISTINTO da graduação. Os pesos social e acadêmico são maiores e mais intensos. Há 12 anos caí no papo de que "mestrado é continuação da graduação". Não é. Os professores tem postura distinta, não há muito espaço para coleguismos e há uma competição entre alunos.
A quem seguir este caminho, espero que tenha pensado MUITO BEM antes de empatar tempo e dinheiro. Pois definitivamente não é para qualquer um.