Caro amigo, não teve nada de mais na reunião do presidente, esse é o jeito do capitão, vamos parar de mimimi e deixar o homem trabalhar, que ele vai se reeleger em 2022.
Alás, não custa lembrar...
1. Em agosto do ano passado, o Bolsonaro exigiu a substituição do superintendente da PF no Rio, mas isso não tem nada de mais, é natural que o presidente se interesse pelo trabalho da polícia.
2. Bolsonaro disse em público que era seu direito trocar qualquer superintendente da PF, e que se não pudesse trocar, trocaria o diretor, e se não pudesse trocar o diretor, trocaria o ministro. Mas isso é perfeitamente OK, afinal, a nomeação do ministro e do diretor da PF são prerrogativas do presidente.
3. Bolsonaro ameaçou dividir o ministério da Justiça em dois, sem motivo, mas não tem nada de mais, porque a atribuição dos ministérios é prerrogativa do presidente.
4. O que se dizia é que Bolsonaro ia nomear ministro da Segurança Pública, seu amigo Alberto Fraga, mas, ora, queriam que ele nomeasse quem? Um desconhecido? É natural que o presidente nomeie gente em que conhece, em quem confia.
5. No começo do ano, Bolsonaro pediu à PGR investigar o porteiro do caso Marielle (assunto que não era do MPF, nem lhe interessava), e a PF ameaçou o porteiro de pegar 20 anos de cana, e o porteiro se desmentiu. Nada disso tem a menor importância, a PGR podia ter dito não, e, depois, esse porteiro tinha mais é que ser preso para parar de caluniar o presidente.
6. Na manhã do dia 22 de abril, Bolsonaro mandou a Moro um mensagem em que comunicava que a demissão de Valeixo estava decidida, e Moro pediu uma reunião para discutir o assunto, que ficou para a manhã seguint. Tudo normal, essa gente é muito chata, faz mimimi com tudo.
7. Na reunião de ministério, no mesmo 22/4, Bolsonaro se queixou de que não recebia informações, mencionou expressamente a PF. Afirmou que não ia “esperar foder minha família e meus amigos”, e que ia interferir nos ministérios e “ponto final.” Em uma das vezes, olhou de maneira agressiva para Moro, que foi o único a receber um olhar assim. Bolsonaro também disse que tem um serviço de informações particular. Bolsonaro estava falando de sua segurança pessoal, e que que tem se o presidente tem amigos na polícia e conversa com eles? O que me deixa besta é que agora querem fiscalizar até olhar, essa gente não tem mesmo o que fazer. Vão procurar um roçado para carpir.
8. Ainda na reunião de ministério, Bolsonaro afirmou que tentara substituir o “responsável pela nossa segurança no Rio”, mas não conseguira. Mais tarde explicou que se referia não à PF, mas a sua segurança pessoal. É uma explicação curiosa, já que o responsável por sua segurança é o general Heleno, que não recebeu olhar agressivo e nunca se estressou com o chefe. E mais curioso ainda porque Bolsonaro tinha acabado de acabado de substituir o responsável por sua segurança pessoal no Rio sem encontrar qualquer obstáculo. O general Heleno já disse que essa matéria da Globolixo é maldosa, e que Bolsonaro estava falando em tese.
9. Moro passou toda a reunião de ministério profundamente contrariado, e foi-se embora antes de a reunião terminar. Vão fiscalizar careta, agora? O que o capitão tem a ver se o Moro brigou com a Rosângela na véspera? É cada uma.
10. Na manhã seguinte, 23/4, diante de uma mensagem de Moro a respeito de uma operação da PF contra deputados bolsonaristas, Bolsonaro respondeu “mais um motivo para a troca”, referindo-se a Valeixo. Bolsonaro respondeu que conversariam em reunião que começaria pouco depois. E daí, o que que tem?
11. Na reunião, Bolsonaro confirmou a Moro que a decisão de substituir Valeixo estava tomada, e que o substituto seria Alexandre Ramagem, amigo de Bolsonaro, então diretor da Abin. Moro não aceitou a indicação e imediatamente se demitiu. Quantas vezes vamos ter que repetir? A nomeação do diretor da PF é prerrogativa do presidente. Essa gente não lê a Constituição?
12. Na noite do dia 23/4, Carla Zambelli rogou a Moro que aceitasse a nomeação de Ramagem em troca de vaga no STF. Moro respondeu que não estava à venda. É muita má fé: todo mundo sabe que a Carla não fala pelo presidente. Aliás, o Moro foi o maior traíra de revelar as mensagens dela. Sacanagem.
13. Na manhã do dia 24, o Diário Oficial publicou a demissão de Valeixo à revelia de Moro e de Valeixo, com assinatura de Moro (falso) e “a pedido” de Valeixo (também falso). Moro se demitiu, denunciando Bolsonaro por interferir na PF por motivo pessoal. A assinatura, a praxe é essa, o ministro Jorge já explicou. O “a pedido”, o presidente ligou pro Valeixo, ele concordou, tudo certo.
14. No mesmo dia 24, à tarde, em pronunciamento, Bolsonaro não apresentou motivo para a demissão de Valeixo (em seu depoimento, Valeixo informaria que estava cansado, mas era por causa das pressões de Bolsonaro, e que não havia pedido para ser exonerado). A nomeação do diretor é prer-ro-ga-ti-va do presidente. Tá na Constituição.
15. No pronunciamento, Bolsonaro informou que havia “implorado” para a PF investigar o caso Marielle (que não era federal). E que havia pedido à PF que interrogasse o suposto assassino de Marielle, Ronnie Lessa, e que havia tido acesso ao relatório dele resultante. Ele pediu, ué. Que que tem? Pedir é pedir. Se não quisessem fazer, era só dizer não.
16. Dias após a demissão de Moro, Ramagem, que estava para ser nomeado diretor da PF, levou o superintendente do Rio, Carlos Henrique Souza, para se conhecer Bolsonaro. Ramagem pretendia promovê-lo a secretário-executivo da PF, tornando vaga a superintendência do Rio. Peraí! Que história é essa? Não sei disso, não. Deve ser fake news da Foice de São Paulo.
17. Bolsonaro nomeou o amigo Ramagem para o lugar de Valeixo. Não se deu ao trabalho de consultar André Mendonça, o novo ministro da Justiça, que ainda não havia tomado posse. É PRER-RO-GA-TI-VA do presidente. E como você sabe que não consultou? Pode muito bem ter consultado.
18. A nomeação de Ramagem foi barrada pelo ministro Alexandre de Moraes por suspeita de desvio de função, e Bolsonaro nomeou Rolando de Souza, segundo de Ramagem na Abin, e por ele indicado. Absurdo. Essa gente não sabe interpretar a Constituição. Tem que chamar as FFAA, pelo artigo 142, e prender esse ministro por ativismo judicial!
19. Imediatamente após assumir, Rolando promoveu Carlos Henrique a secretário-executivo da PF. Todos os envolvidos declararam que a ideia de tirar Carlos Henrique do Rio foi de Rolando e de mais ninguém. Normal, ué.
20. Em um primeiro depoimento, Carlos Henrique confirmou que fora Rolando que lhe oferecera a promoção. Dias depois, retificou seu depoimento, e informou quem o convidara para ser secretário-executivo da PF não fora Rolando, mas Ramagem. E que Ramagem, que seria em seguida nomeado para a diretoria da PF (mas cuja posse seria barrada), o levou para conhecer Bolsonaro, que deu o sinal verde. Isso aí também deve ser fake news da Globolixo.
Vem cá, amigo Bolsonarista, você jura que acha isso tudo normal, mesmo? Que o capitão é “pessoalmente honesto”, que você votou nele para ele fazer isso mesmo, e tudo vai às mil maravilhas?
- Ricardo Rangel