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Spoiler [TLOUS PT II - Tópico oficial dos spoilers] TLOUS PT II tem spoilers insanos vazados por falta de pagamento e crunch excessivo aos funcionários.

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Birdperson

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Vou comentar um pensamento meu que pode ser até um paralelo sobre o jogo ou não.

Enfim tenho dois amigos um é fã do itachi e outro do sasuke ... os dois entram em discussões em dizem qual é o melhor personagem da trama ... ai ficam entre discussões e memes e no fim um não muda o pensamento do outro cada qual gosta do personagem por características distintas. No fim os dois gostam do Naruto shippuden.

Eu acredito que ser divisível seja isso, a obra alcançou os dois foi um ótimo entretenimento para os dois e foi divisível aonde um compreende as escolhas e decisões de um personagem e outro entende a construção do outro personagem e no fim a obra por inteiro foi excelente para ambos.
 


Megazordi64

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Vou comentar um pensamento meu que pode ser até um paralelo sobre o jogo ou não.

Enfim tenho dois amigos um é fã do itachi e outro do sasuke ... os dois entram em discussões em dizem qual é o melhor personagem da trama ... ai ficam entre discussões e memes e no fim um não muda o pensamento do outro cada qual gosta do personagem por características distintas. No fim os dois gostam do Naruto shippuden.

Eu acredito que ser divisível seja isso, a obra alcançou os dois foi um ótimo entretenimento para os dois e foi divisível aonde um compreende as escolhas e decisões de um personagem e outro entende a construção do outro personagem e no fim a obra por inteiro foi excelente para ambos.

A discussão não é se as pessoas gostam mais da Ellie ou Abby.

Mas se a trama é boa ou ruim.

Na minha opinião a trama é tão ruim que não me importei sequer com a Ellie, se a Abby a tivesse matado no teatro não teria me importado.

Diferente do primeiro jogo que a gente se apega a Ellie e, até discordando, compreende a decisão do Joel no final.

Acho até que só nos importamos com a morte do Joel no The Last of Us 2 por ele ter poucos minutos de tela, se tivesse um pouco mais o Neil Druckmann teria estragado mais um personagem e ninguém iria querer vingá-lo. :kkk

Todo mundo é desprezível nesse jogo.
 

Birdperson

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A discussão não é se as pessoas gostam mais da Ellie ou Abby.

Mas se a trama é boa ou ruim.

Na minha opinião a trama é tão ruim que não me importei sequer com a Ellie, se a Abby a tivesse matado no teatro não teria me importado.

Diferente do primeiro jogo que a gente se apega a Ellie e, até discordando, compreende a decisão do Joel no final.

Acho até que só nos importamos com a morte do Joel no The Last of Us 2 por ele ter poucos minutos de tela, se tivesse um pouco mais o Neil Druckmann teria estragado mais um personagem e ninguém iria querer vingá-lo. :kkk

Todo mundo é desprezível nesse jogo.

Não sei se ficou confuso a forma que eu falei mas no fim isso que eu quis dizer a trama foi boa para ambos mesmo divergindo em certos pontos. Então eu creio que sim isso é ser divisível. A trama agradar ambos mesmo com divergências.

Algo que não acontece no tlou2. Mesmo com Neil dizendo que o jogo seria divisível.
 

Megazordi64

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Não sei se ficou confuso a forma que eu falei mas no fim isso que eu quis dizer a trama foi boa para ambos mesmo divergindo em certos pontos. Então eu creio que sim isso é ser divisível. A trama agradar ambos mesmo com divergências.

Algo que não acontece no tlou2. Mesmo com Neil dizendo que o jogo seria divisível.

The Last of Us 2 não é "divisível" no bom sentido como o primeiro.

O primeiro é digamos "divisível" por ter um final que algumas pessoas concordam com a decisão do Joel e outras discordam, mas ambos as lados compreenderam a decisão e gostaram da trama.

Já The Last of Us 2 está sendo "divisível" por um motivo completamente diferente, algumas pessoas gostaram do roteiro e outras não achando que a trama e desenvolvimento de personagens é ruim.
 

Craudiao

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The Last of Us 2 não é "divisível" no bom sentido como o primeiro.

O primeiro é digamos "divisível" por ter um final que algumas pessoas concordam com a decisão do Joel e outras discordam, mas ambos as lados compreenderam a decisão e gostaram da trama.

Já The Last of Us 2 está sendo "divisível" por um motivo completamente diferente, algumas pessoas gostaram do roteiro e outras não achando que a trama e desenvolvimento de personagens é ruim.
No primeiro unica coisa que questiono é em como a Marlene pode ser tão burra a ponto de chegar para o Joel e lançar na cara dele que ela iria morrer...
Se apenas chegassem depois e dissessem que teve um complicação e ela morreu, ele iria sofrer e talvez até surtar, mas tenho certeza que não chegaria perto de nada que rolou...
Mas ai ela do nada, sem nenhum motivo, vai lá e explana para ele... Essa parte é até mais ridícula quando a do "prazer, sou Tommy e esse é meu irmão Joel...
 

Trezoitao38

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No primeiro unica coisa que questiono é em como a Marlene pode ser tão burra a ponto de chegar para o Joel e lançar na cara dele que ela iria morrer...
Se apenas chegassem depois e dissessem que teve um complicação e ela morreu, ele iria sofrer e talvez até surtar, mas tenho certeza que não chegaria perto de nada que rolou...
Mas ai ela do nada, sem nenhum motivo, vai lá e explana para ele... Essa parte é até mais ridícula quando a do "prazer, sou Tommy e esse é meu irmão Joel...

Ela tem que falar, né? Pois se não como é o que Joel irá salvar a Ellie?

Tem muita conveniência de roteiro em TLOU 1 também.
 

Bloodstained

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Abaixo, deixo uma análise marota sobre a morte de Joel e porque ela é uma falha completa como evento catalizador da Part II. Preparem-se para um paredão de texto, feito por um "ista" e "fóbico" com QI abaixo da média, de acordo com os devotos de São Druckmann, o autoproclamado Deus da Narrativa.

Acho que, em termos de narrativa, a maior falha da Part II é a morte de Joel. O fato dele morrer não é o problema: o modo como a morte ocorreu é.

Uma grande história normalmente é configurada para que os personagens interajam de maneira orgânica uns com os outros. São essas interações que caracterizam algumas das melhores histórias já contadas.

A principal premissa da Part II repousa sobre três grandes objetivos que determinam a narrativa através de todo o jogo. Eles são os seguintes:


Objetivo 1: Joel é morto. Isso poderia acontecer de várias maneiras, mas esse objetivo acaba restrito pelos objetivos subsequentes;

Objetivo 2: a She-Hulk não só é a assassina, mas ela deve torturar Joel. Isso implica que haja um lugar seguro onde a morte possa ser executada dessa maneira;

Objetivo 3: Ellie precisa presenciar o assassinato.


Os Objetivos 2 e 3 compõe o Objetivo 1, e tornam bem mais complicado e desafiador chegar à uma conclusão que satisfaça os três apropriadamente.

Uma boa história trabalharia as interações entre os personagens para atingir seus objetivos, fazendo com que a trama se desenvolvesse de forma natural. Isso é algo difícil de se executar corretamente, pois uma história bem escrita demanda que escritores talentosos sejam contratados.

A história da Part II opera a partir de seus objetivos ao invés de seus personagens, que são tratados como considerações secundárias: eles agem conforme a trama exige, ao invés de agirem de acordo com suas personalidades. Isso indica uma escrita porca, que se baseia em artifícios de trama e furos de roteiro para chegar à conclusão desejada. Normalmente isso ocorre às custas da lógica, da razão e da integridade dos personagens.

Joel é uma vítima das circunstâncias. Sua morte ocorre de uma maneira absolutamente artificial, pois é fruto de uma quantidade absurda de coincidências irreais e inacreditáveis, bem como personagens agindo completamente fora de seus caráteres, com o único objetivo de servir o roteiro.

Comecemos bem do início. O pai da She-Hulk era o cirurgião encarregado pelos Vagalumes para obter uma possível vacina para o cordyceps, algo que demandava a morte de uma garota. Ele acaba morto pelo “pai” dela antes de iniciar o procedimento, algo que alimentaria o desejo de vingança da She-Hulk.

Durante muito tempo, a única informação que ela possuía era o nome do responsável: Joel. Anos se passam até que ela consiga uma outra pista: Joel tem um irmão chamado Tommy, que supostamente se encontra em um acampamento em Wyoming. A She-Hulk descobre isso através de alguns Vagalumes que trabalharam com Tommy há cerca de uma década atrás. De acordo com eles, esse era o local onde ele estava alojado na época. Aqui se iniciam os questionamentos: como a She-Hulk sabia que essas pessoas eram Vagalumes? Porque esses Vagalumes lhe ofereceram essa informação? Ela interrogou ou torturou essas pessoas?

De qualquer forma, a She-Hulk decide deixar Seattle e viajar até Wyoming. Não há qualquer menção a Jackson: ela possui apenas o nome do estado e mais nada. Wyoming possui aproximadamente 161.000 km², sendo que a maior parte dessa extensão é inóspita. Sem contar que após duas décadas num mundo pós-apocalíptico, seria absurdamente perigoso para qualquer pessoa arriscar uma viagem às cegas numa área tão ampla. Um dos amigos da She-Hulk, Owen, inclusive ressalta o quanto é improvável que essa viagem resulte em alguma coisa.

Mesmo que Tommy esteja em Wyoming após uma década e ainda que ela consiga encontra-lo, não há nenhuma garantia que ele saiba onde está Joel. Mesmo assim, a She-Hulk parte com um grupo de amigos, visando encontrar Tommy. Eles fazem a viajem a pé, o que levaria cerca de 14 dias de caminhada ininterrupta, desconsiderando por completo a necessidade de descanso. A viagem demoraria um período muito maior caso as paradas para alimentação e sono fossem levadas em consideração.

Eventualmente o grupo chega a Wyoming e se abriga numa mansão abandonada, que se encontra numa área montanhosa. Na manhã seguinte, Owen avista uma grande cidade à distância e mostra para She-Hulk. Ele admite que a mera visão da cidade seria o suficiente para convencer os outros a voltar para Seattle. Além disso, ele reconhece o quanto seria improvável e insanamente difícil descobrir se Tommy reside naquela cidade e, mesmo que fosse o caso, como seria possível travar contato com ele? E ainda que conseguissem, por acaso ele realmente saberia onde está Joel? Então, a She-Hulk oferece um plano tão patético que Owen questiona se ela ao menos ouviu seus questionamentos. Fica evidente que Owen está disposto a ajuda-la, mas que não pretende colocar a si mesmo e aos outros em risco no processo.

Até esse ponto a situação ainda é razoável e os jogadores não fazem ideia de quem são essas pessoas ou quais suas motivações. Em seguida, a She-Hulk fica put* com a cautela de Owen e parte enfurecida rumo a um dos postos avançados que avistaram à distância. Ressalte-se que ela não tem plano algum: está simplesmente indo em direção ao posto, esperando pelo melhor. Ela se perde no percurso mas, eventualmente, avista marcas de cascos de cavalos na neve. Ela ainda não sabe, mas essas marcas foram feitas pelos cavalos de Joel e Tommy, as duas pessoas que ela procura numa cidade com milhares de habitantes. Uma coincidência para lá de conveniente, não é mesmo?

Seguindo as marcas, ela é surpreendida por uma grande horda de infectados, fazendo com que abandone o caminho numa tentativa desesperada de sobrevivência. Ela faz o possível para escapar, mas os infectados eventualmente conseguem alcança-la. É quando está prestes a ser morta que, contra todas as possibilidades, ela acaba sendo salva por Joel, o homem que matou seu pai anos atrás.

A chance de haver uma coincidência de tal proporção, resultando nesse encontro absolutamente improvável, é astronomicamente risível. Os escritores simplesmente não foram capazes de criar uma narrativa que fosse mais convincente que essa série afortunada de coincidências improváveis para realizar o encontro dos personagens.

Em sua tentativa desesperada de sobrevivência, a She-Hulk recebeu tudo de bandeja. Os infectados estavam no mesmo lugar que Joel e Tommy, no exato momento em que eles seriam necessários para salvá-la. Se eles houvessem se atrasado por qualquer motivo, mesmo que por um período ínfimo de tempo, a She-Hulk teria sido massacrada pelos infectados ou não teria encontrado com os irmãos de maneira completamente acidental.

Além disso, o fato de Joel salvar uma estranha completamente aleatória é uma traição ao caráter do personagem. Para aqueles que possam ter esquecido a verdadeira natureza de Joel, basta recordar sua recusa em auxiliar uma família à beira da estrada, no dia em que a infecção se espalhou pelo mundo, no primeiro jogo. Joel não se importou em abandonar essa família, pressupondo que isso garantiria a segurança das pessoas que ele amava (Tommy e Sara). E olhem que esse era o Joel “civilizado” e não o Joel com mais de vinte anos de experiência de vida num mundo pós-apocalíptico. Cinco anos em Jackson não seriam suficientes para subitamente tornar Joel tão benevolente, altruísta e disposto a confiar em completos estranhos. Mas o roteiro precisa que Joel e a She-Hulk se encontrem e isso é feito às custas de Joel, que trai seu próprio caráter para que os eventos subsequentes ocorram da forma que os escritores desejam. Se Joel fosse mantido fiel ao seu caráter, ele simplesmente não iria se colocar em risco para salvar uma completa estranha. O problema é que, se ela morresse, o jogo terminaria e isso não poderia ocorrer em hipótese alguma, por mais que esse fosse o resultado mais provável, caso o caráter de Joel tivesse sido respeitado.

O forçado encontro aleatório se torna ainda mais exacerbado logo após Joel salvar a She-Hulk. Tommy pede para que eles o sigam e corre em direção a um prédio, entrando em um corredor, em cujo final se encontra uma porta dupla. Porém, infectados começam a invadir o corredor por essa porta. Como esse era o único caminho disponível, é óbvio que Tommy e Joel vieram por ele para salvar a She-Hulk. Porém, Tommy aparentava não ter ideia que haviam infectados lá. Ou seja: eles teriam passado por um caminho com infectados e chegado no corredor no exato momento em que eram necessários para salvar a She-Hulk mas, logo em seguida, Tommy “esquece” dos infectados e tenta voltar pelo mesmo caminho do qual que vieram originalmente, apenas para serem surpreendidos pelos ditos cujos. Por sorte, Joel encontra uma porta lateral para escaparem do grupo de infectados.

Após correrem um pouco e conseguirem um pequeno intervalo para recuperar o fôlego, Tommy apresenta a si mesmo e Joel, antes de perguntar o nome da She-Hulk. Eles não fazem a menor ideia de quem é essa garota, mas agora é a vez de Tommy trair seu próprio caráter, apresentando a si mesmo e seu irmão com seus verdadeiros nomes. Além de não saberem quem ela é, eles também não fazem a menor ideia do motivo pelo qual ela está ali e qual seriam suas motivações ou intenções. Essa atitude de Tommy é completamente irresponsável e até mesmo potencialmente perigosa, dependendo das intenções da estranha, ainda mais quando essa estranha estava procurando um Tommy para que ela pudesse matar um Joel. A própria She-Hulk não é capaz de acreditar em sua própria sorte, diante de mais uma absurda coincidência...

Para fazer um paralelo com o primeiro jogo, essa situação seria equivalente a Ellie entregando informações importantes para David assim que se encontraram. Porém, ela não faz isso, por saber o quão perigosas as pessoas podem ser. Na verdade, ela se porta de uma maneira completamente apreensiva e defensiva durante seu encontro com ele. Ellie inclusive mente para ele numa tentativa de ocultar sua identidade, porque ela não sabe quem ele é, quais são suas motivações ou mesmo suas intenções. Quando David pergunta seu nome, ela ainda está relutante em entregar essa informação e questiona o motivo pelo qual ele quer saber. Nessa situação, Ellie está sendo esperta e cautelosa. Em contraste, Tommy age de uma maneira estúpida e impulsiva numa situação semelhante.

No início do jogo, Joel compartilha seu maior segredo pessoal com Tommy: ele salvou Ellie, mas mentiu para ela a respeito de como isso ocorreu. É extremamente provável que Tommy também tenha ficado sabendo do grupo de canibais que caçou Joel, em busca de vingança. Essa não é a primeira vez que Joel é caçado por suas ações terem desencadeado consequências para outras pessoas. É absolutamente irresponsável e inacreditável que Tommy tenha colocado a si mesmo e seu irmão desnecessariamente em perigo. A She-Hulk não faz ideia da aparência de Tommy ou Joel: sem seus nomes, ela jamais seria capaz de identifica-los. Porém, o roteiro precisa que ela descubra seus nomes, então Tommy simplesmente age como um idiota, para que a trama siga em frente. Tommy basicamente sentencia Joel à morte nesse momento. Ele não foi pressionado ou enganado: ele apenas foi estúpido.

Por causa disso, a She-Hulk não precisou sequestrar ou interrogar nenhuma patrulha de Jackson para descobrir se Tommy vivia na cidade que Owen mostrou a ela e nem mesmo precisou interrogar o próprio dito cujo, para descobrir onde seu irmão estava. Tudo isso demandava uma escrita competente. Seria preciso dedicar atenção e tempo na história para que os eventos fossem mostrados de uma maneira apropriada. Ao invés disso, ela recebeu tudo de bandeja, sem ter que fazer nenhum esforço para isso. O roteiro precisava que esses três personagens se encontrassem e isso foi feito na base de uma sequência de coincidências totalmente improváveis.

Logo em seguida, o momento do trio recuperar o fôlego está se esgotando e Joel diz que eles precisam voltar, mas Tommy diz que não é possível. Como Tommy sabe que eles não podem voltar? Não há nenhum outro lugar seguro além de Jackson? Ele e Joel certamente conhecem a área muito bem e seria razoável supor que hajam abrigos alternativos seguros fora da cidade, como por exemplo algum posto avançado. Não é possível que uma cidade do tamanho de Jackson não possua postos de observação, visando garantir a segurança de seus habitantes contra estranhos e infectados. Ao invés disso, a She-Hulk sugere que o esconderijo onde ela está abrigada com seus amigos, ao norte, é seguro. Como ela sabe que é mais seguro viajar até lá do que viajar até Jackson, ou mesmo até um dos postos avançados? Se os irmãos não tivessem encontrado a She-Hulk, para onde eles iriam? Há mais pessoas por aí, além dessa estranha? Quantas mais? Porque? De onde elas vieram? O que elas estão fazendo nesse esconderijo? Algumas das patrulhas de Jackson descobriu essas pessoas? Por quanto tempo elas tem estado escondidas nesse local? Tantas perguntas e tão poucas respostas... A falta de pensamento crítico até poderia ser justificada pelas circunstâncias, mas não justifica que tanto Joel quanto Tommy pareçam dois peixes fora d’água, completamente alheios aos seus respectivos caráteres.

Joel reconhece o esconderijo ao qual a She-Hulk se referiu e o identifica como a Mansão Baldwin. Ele diz que buscar refúgio lá pode funcionar, mas como? Porque lá pode funcionar, mas não Jackson ou qualquer um dos postos avançados? Como diabos eles sabem em quais pontos a horda se encontra nesse momento? Os três foram pegos de surpresa pela horda. Eles não sabem de onde ela veio, quantos infectados fazem parte dela e quais rotas são ou não seguras. Porém, o roteiro precisa de um lugar seguro para atingir o Objetivo 2, então eles concordam com a sugestão da She-Hulk, apesar de todos os metafóricos alertas vermelhos que a situação deveria acionar.

Joel seria incrivelmente relutante, cauteloso, cético e até mesmo um tanto desconfiado. Ele pede que a She-Hulk cavalgue com ele e, se estivesse sendo fiel ao seu caráter, esse pedido seria motivado pela necessidade de mantê-la como refém, caso alguma coisa desse errado. Essa seria a mentalidade de Joel para assegurar sua sobrevivência e a de Tommy a qualquer custo.

Apenas então Ellie descobre que Joel e Tommy estão desaparecidos. Ela se junta a Dina e Jesse para procura-los. Para cobrirem uma área maior, Ellie sugere que se separem e Jesse diz para que ela siga rumo ao leste. Enquanto isso, Joel, Tommy e a She-Hulk estão fugindo a cavalo da horda durante uma tempestade de neve, rumo ao suposto esconderijo seguro. Porém, o caminho até a Mansão Baldwin é tudo menos seguro, já que os infectados podem ser vistos em tudo quanto é lado, durante todo o percurso. Por sorte, os amigos da She-Hulk estão a postos para recebê-la com o portão aberto, como se ela tivesse feito uma ligação para eles, informando que estava a caminho. Ainda que houvesse um batedor posicionado fora da mansão (algo extremamente improvável, já que a horda estava nos arredores da dita cuja), dificilmente ele conseguiria avistar qualquer coisa na tempestade. E ainda que ele visse os cavalos, não saberia que era a She-Hulk (até porque ela partiu a pé e sozinha, quando ficou put* com Owen). Mal é possível avistar qualquer coisa além do portão mas, ainda assim, os amigos da She-Hulk estão lá, com o dito cujo escancarado... Porquê? E porque diabos eles estão lá fora, no meio de uma tempestade de neve, com uma horda circulando nos arredores da mansão? Como diabos eles sabiam que pessoas estavam para chegar no local, exatamente naquele momento? É como se os amigos da She-Hulk tivessem lido o roteiro e soubesse que ela estava a caminho por causa disso...

Além disso, é provável que a She-Hulk estivesse perdida há um tempo considerável... e nenhum dos amigos dela foi enviado para procura-la? Aparentemente não. Ao invés disso, todos estão convenientemente posicionados no portão, permitindo que os três entrem sem qualquer problema e escapem da horda, quando fecham o portão. Não só isso: eles estão armados e começam a balear os infectados logo em seguida, embora o barulho dos disparos certamente atrairia mais membros da horda. Os putos possuem até mesmo coquetéis molotov em mãos, para lidar com a grande quantidade de infectados aglomerando rapidamente no portão. Não há qualquer motivo para eles estarem armados até os dentes no portão, esperando pela She-Hulk ou qualquer outra pessoa que viesse montada a cavalo. O grupo estava miraculosamente posicionado para recebe-los, apenas porque o roteiro assim demanda. Se não estivessem lá, o trio seria morto sem conseguir atravessar o portão.

Porém, conforme dito anteriormente, o roteiro exige um lugar seguro para atingir o Objetivo 2. Nessa altura do campeonato, já não dá nem para tratar isso como conveniência: trata-se de uma colcha de retalhos composta por artifícios que não fazem nenhum sentido.

Owen diz para todos entrarem e os irmãos Miller nem questionam: apenas obedecem, ignorando todos os alertas vermelhos, apesar de agora se encontrarem dentro de um abrigo cheio de pessoas sobre as quais eles não sabem nada a respeito. Joel e Tommy aparentam estar completamente receptivos, relaxados e confiantes, a despeito da situação. Eles agora se encontram em completa desvantagem numérica, à mercê de um grande grupo de pessoas desconhecidas e potencialmente perigosas.

Fazendo outro paralelo com o jogo original, alguém se lembra do que Tommy faz ao se deparar com estranhos (Joel e Ellie), quando eles estão chegando perto de Jackson? Ele e Maria os recepcionam no topo dos muros, com armas em riste. É possível reparar a apreensão e a hostilidade que ambos possuem em relação àqueles dois estranhos, algo perfeitamente natural num mundo onde estranhos podem te ferir ou mesmo te matar. Mas que se dane a cautela em relação à She-Hulk e seus amigos, porque o roteiro assim demanda, não é mesmo?

Ao entrarem pelo portão, Joel e Tommy estão com suas mochilas nas costas mas, na cena seguinte, ao entrarem na Mansão Baldwin, elas literalmente desapareceram. O roteiro fez suas armas desaparecerem porque eles precisam estar desarmados para que o Objetivo 2 ocorra sem qualquer resistência. Joel, um homem que sobreviveu por décadas num mundo pós-apocalíptico, que abandonou uma família à beira da estrada no dia em que a infecção foi deflagrada, que está disposto a matar qualquer um que ameace sua segurança ou a segurança das pessoas com as quais ele se importa e que consegue notar uma emboscada de longe... Esse Joel é o mesmo que se encontra prestes a entrar voluntariamente numa emboscada, desarmado e sem qualquer meio disponível para defender a si mesmo ou seu irmão. Não dá nem para considerar Joel como ele mesmo nesse ponto. O personagem na tela simplesmente traiu tudo que representa Joel: é um Joel impostor, um Joel falso. Não é nem mesmo um personagem: é apenas um boneco que se parece com Joel, manipulado por cordas invisíveis para atender a todas as demandas do roteiro. O Joel do jogo original jamais se permitiria entrar na situação na qual ele se meteu. Ele não seria tão relaxado e despreocupado com completos estranhos, e jamais se deixaria tão vulnerável a ataques.

Enquanto isso, Tommy continua entregando informações que podem levar pessoas à morte: ele diz que moram perto dali, a algumas horas de distância em relação ao sopé da montanha. Não só isso: ele ainda convida o grupo de estranhos para ir até Jackson, para lhes fornecer suprimentos, antes que eles continuem sua viagem. Basicamente, Tommy informa ao grupo que eles fazem parte de uma cidade e onde ela pode ser encontrada. E se esse grupo for composto apenas de batedores, que fazem parte de um grupo ainda maior, composto por pessoas malignas? Com isso, agora o grupo possui informações valiosas, que podem ser utilizadas para ferir o povo de Jackson.

A estupidez de Tommy parece ser contagiosa e, aparentemente, Joel foi contaminado. Joel, um homem que fez coisas horríveis no passado, a ponto de ser caçado por pessoas dispostas a eliminá-lo, se posiciona desarmado no meio de uma sala cheia de pessoas que ele não conhece e, voluntariamente, revela seu verdadeiro nome. Ele simplesmente não cogita o que as pessoas ao seu redor podem fazer com essa informação. Ele falha em cogitar as possíveis consequências de suas ações. Após dizer seu nome, Joel repara a apreensão dos estranhos à sua volta e, como um completo imbecil, comenta que eles parecem já ter ouvido seu nome ou algo do tipo. E se eles realmente já tiverem ouvido, Joel? O que você fará se eles tiverem te reconhecido e quiserem te machucar? Joel não pensou em nada disso: ele foi lobotomizado por Neil Druckmann.

Após mais de duas décadas de sobrevivência num brutal mundo pós-apocalíptico, o veterano casca-grossa Joel, escolhe dar um voto de confiança e colocar sua própria vida nas mãos de um grupo aleatório de pessoas potencialmente perigosas. E se elas forem hostis? Joel falha em considerar a possibilidade de que essas pessoas podem machucar ele e Tommy. Como isso é possível? A situação é a epítome da artificialidade do roteiro e é o resultado direto da desastrosa busca dos escritores em atingir os objetivos pré-estabelecidos a qualquer custo, ao invés de respeitar a integridade dos personagens, fazendo com que eles ajam de acordo com seus caráteres, para que possam atingir esses mesmos objetivos naturalmente.

É então que Joel, que sabe muito bem as maldades que estranhos são capazes de perpetrar, recebe um lembrete brutal: um tiro de espingarda num dos joelhos, disparado por ninguém menos que a She-Hulk. Joel tem sua perna praticamente destroçada... e como Tommy reage? Talvez um disparo em retaliação? Não. Como sua mochila desapareceu magicamente na cena anterior, Tommy está desarmado. Ele decide trabalhar com o que o roteiro lhe forneceu: seus punhos. Desnecessário dizer que foi inútil: ele é imediatamente imobilizado e posto inconsciente, na base de coronhadas da arma de um dos estranhos.

E assim retornamos à She-Hulk... Vocês se lembram que ela foi salva por Joel há alguns minutos atrás? Porque ela aparentemente não se lembra. Joel ter literalmente salvo sua vida não causou nenhum impacto ou impressão positiva nela, de forma alguma. E nesse ponto, é o caráter da própria She-Hulk que é traído pelo roteiro. Afinal, ela passa a maior parte de sua campanha ajudando duas crianças do grupo Serafitas, porque elas salvaram sua vida. Ela passa por um verdadeiro inferno para proteger Yara e Lev. É verdade que essas crianças não mataram o pai dela, mas Joel não matou o pai dela à toa. Ele iria matar a “filha” de Joel, sem o consentimento de qualquer um dos dois, por uma mera chance de obter uma cura. Ressalte-se: uma chance e não uma garantia.

Fazendo um paralelo com o mundo real, estamos a meses à mercê de uma pandemia e, até o momento, nenhuma vacina foi produzida, apesar de nossa sociedade estar no ápice no que diz respeito aos pesquisadores e às tecnologias que eles possuem à sua disposição. Um mundo pós-apocalíptico que está se deteriorando há mais de duas décadas, está numa situação tecnológica muito mais precária que o nosso mundo. É bem provável que a morte de Ellie resultasse em absolutamente nada e Joel levou isso em consideração quando decidiu salvá-la.

A She-Hulk, por sua vez, não leva nada disso em consideração e está totalmente focada em seus objetivos egoístas. Isso faz com que ela pareça unidimensional e é um grande desserviço dos escritores à personagem. Não há conflitos internos, não há sinais de hesitação... Não importa se Joel salvou a vida dela ou quais foram seus motivos ao salvar Ellie. As implicações morais das ações dela não são levadas em consideração, porque agora o roteiro pode matar dois coelhos com uma só cajadada. Tudo o que importa são as necessidades da trama. A She-Hulk simplesmente ignora o fato de que Joel pode não ser uma pessoa tão ruim quanto ela imagina, para que a trama atinja o resultado que os escritores desejam, mas que não fizeram por merecer. Por esse motivo, embora Joel tenha salvo a She-Hulk, ela decide não apenas mata-lo, como também tortura-lo lenta e brutalmente, até que ele dê seu último suspiro graças à ela. E pensar que os escritores esperam que os jogadores tenham empatia por essa personagem posteriormente...

A próxima cena mostra Ellie que, por coincidência, encontrou a mansão na qual Joel está sendo torturado até a morte. Lembrando que ela partiu de Jackson rumo ao leste, enquanto a Mansão Baldwin estava ao norte do local onde Joel e Tommy salvaram a vida da She-Hulk. Até mesmo a geografia é desconsiderada para que o roteiro atinja seu próximo objetivo. Seria incrivelmente difícil encontrar alguém com uma grande horda de infectados vagando pela área, mas Ellie consegue alcançar a mansão ilesa, sem que haja sequer um infectado nos arredores. Ou seja: Ellie não só consegue encontrar o local exato onde Joel está, evitando qualquer contato com a horda de infectados, como chega na mansão a tempo de presenciar a She-Hulk terminando de tortura-lo. Pelo visto, simplesmente não há limites para as coincidências e conveniências do roteiro.

Ellie adentra a mansão com sua pistola empunhada, desce uma escadaria e entreabre uma porta, apenas para ver Joel agonizando no chão da próxima sala, com sua torturadora espancando-o com um taco de golfe. Ela tem apenas duas opções nessa situação:


Opção 1: Apontar a arma e dar um tiro na cabeça da She-Hulk;

Opção 2: Adentrar a sala sem qualquer necessidade, apenas para ser subjugada pelos amigos da She-Hulk.


A Opção 1 representa o cenário mais realista, lógico, sensato e crível, mas isso encerraria o jogo imediatamente e não satisfaria o Objetivo 3. Por esse motivo, Ellie é compelida a escolher a Opção 2, mesmo que não faça nenhum sentido e conceda a ela um aspecto de incompetência completa. A integridade e credibilidade de Ellie é comprometida, apenas para o roteiro atingir o Objetivo 3.

E assim os escritores conseguiram o que queriam: Joel foi torturado, Ellie testemulhou e a She-Hulk conseguiu executá-lo. Porém, isso foi conquistado às custas da identidade e da integridade de personagens queridos pelos jogadores, transformando-os em cópias baratas, rasas e pouco convincentes. Além disso, o jogo é severamente prejudicado na perspectiva narrativa, já que o catalizador da história é baseado num amálgama de artifícios forçados a tal ponto que chegam até mesmo a ser cômicos.

Mas ainda não terminou. Após executar Joel, a She-Hulk tem duas opções para lidar com as testemunhas:


Opção 1: Ela pode eliminar o irmão de Joel, junto com a furiosa “filha” enlutada que jurou vingança, desse modo impedindo que eles a persigam do mesmo modo que ela perseguiu Joel;

Opção 2: Ela pode deixar Tommy e Ellie vivos.


A Opção 1 representa o cenário mais lógico e razoável. A She-Hulk não se importa em sujar suas mãos, a ponto de seus amigos reconhecerem e deixaram bem claro que ela é uma má pessoa que faz coisas ruins. Ela não se importa se tiver que executar uma mulher grávida, após bater a cabeça dela no chão diversas vezes, mesmo que a gestante tenha sido alvejada por uma flecha momentos antes e já não representasse mais uma ameaça, dada a gravidade do ferimento. E também não se importa em executar diversos de seus antigos parceiros, quando tentam ferir ela e Lev.

Se a She-Hulk tivesse sido mantida fiel a seu caráter, ela não hesitaria um segundo sequer para executar Tommy e Ellie ali mesmo. A única razão pela qual ela não faz isso na cena do teatro é porque Lev, sua “consciência adotiva”, implora para que ela poupe Dina e Ellie. Do contrário, ela executaria as duas, sem qualquer problema. Matar Tommy e Ellie era a solução razoável, mas o jogo terminaria imediatamente se isso acontecesse. A Naughty Dog possui “profundas mensagens” a serem veiculadas no jogo, então o roteiro exige que a She-Hulk traia seu caráter pelo bem da trama, compelindo a personagem a escolher a Opção 2.

A produtora assumiu grandes riscos, mas não conseguiu lidar com eles de forma natural. Ao invés disso, enfiou coincidência atrás de coincidência goela abaixo dos jogadores, sufocando-os como uma série de eventos que desafia a lógica e a razão.

Por todos esses motivos, o modo como a morte de Joel ocorreu é a maior falha da Part II. Por ser um evento catalizador falho, todas as narrativas secundárias, que se originam a partir desse evento, também estão destinadas ao fracasso. No final, o jogo parece um castelo de cartas fadado a desmoronar desde o início, por causa de seu roteiro patético e da vexatória narrativa utilizada para justifica-lo.


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Abaixo, deixo uma análise marota sobre a morte de Joel e porque ela é uma falha completa como evento catalizador da Part II. Preparem-se para um paredão de texto, feito por um "ista" e "fóbico" com QI abaixo da média, de acordo com os devotos de São Druckmann, o autoproclamado Deus da Narrativa.

Acho que, em termos de narrativa, a maior falha da Part II é a morte de Joel. O fato dele morrer não é o problema: o modo como a morte ocorreu é.

Uma grande história normalmente é configurada para que os personagens interajam de maneira orgânica uns com os outros. São essas interações que caracterizam algumas das melhores histórias já contadas.

A principal premissa da Part II repousa sobre três grandes objetivos que determinam a narrativa através de todo o jogo. Eles são os seguintes:


Objetivo 1: Joel é morto. Isso poderia acontecer de várias maneiras, mas esse objetivo acaba restrito pelos objetivos subsequentes;

Objetivo 2: a She-Hulk não só é a assassina, mas ela deve torturar Joel. Isso implica que haja um lugar seguro onde a morte possa ser executada dessa maneira;

Objetivo 3: Ellie precisa presenciar o assassinato.


Os Objetivos 2 e 3 compõe o Objetivo 1, e tornam bem mais complicado e desafiador chegar à uma conclusão que satisfaça os três apropriadamente.

Uma boa história trabalharia as interações entre os personagens para atingir seus objetivos, fazendo com que a trama se desenvolvesse de forma natural. Isso é algo difícil de se executar corretamente, pois uma história bem escrita demanda que escritores talentosos sejam contratados.

A história da Part II opera a partir de seus objetivos ao invés de seus personagens, que são tratados como considerações secundárias: eles agem conforme a trama exige, ao invés de agirem de acordo com suas personalidades. Isso indica uma escrita porca, que se baseia em artifícios de trama e furos de roteiro para chegar à conclusão desejada. Normalmente isso ocorre às custas da lógica, da razão e da integridade dos personagens.

Joel é uma vítima das circunstâncias. Sua morte ocorre de uma maneira absolutamente artificial, pois é fruto de uma quantidade absurda de coincidências irreais e inacreditáveis, bem como personagens agindo completamente fora de seus caráteres, com o único objetivo de servir o roteiro.

Comecemos bem do início. O pai da She-Hulk era o cirurgião encarregado pelos Vagalumes para obter uma possível vacina para o cordyceps, algo que demandava a morte de uma garota. Ele acaba morto pelo “pai” dela antes de iniciar o procedimento, algo que alimentaria o desejo de vingança da She-Hulk.

Durante muito tempo, a única informação que ela possuía era o nome do responsável: Joel. Anos se passam até que ela consiga uma outra pista: Joel tem um irmão chamado Tommy, que supostamente se encontra em um acampamento em Wyoming. A She-Hulk descobre isso através de alguns Vagalumes que trabalharam com Tommy há cerca de uma década atrás. De acordo com eles, esse era o local onde ele estava alojado na época. Aqui se iniciam os questionamentos: como a She-Hulk sabia que essas pessoas eram Vagalumes? Porque esses Vagalumes lhe ofereceram essa informação? Ela interrogou ou torturou essas pessoas?

De qualquer forma, a She-Hulk decide deixar Seattle e viajar até Wyoming. Não há qualquer menção a Jackson: ela possui apenas o nome do estado e mais nada. Wyoming possui aproximadamente 161.000 km², sendo que a maior parte dessa extensão é inóspita. Sem contar que após duas décadas num mundo pós-apocalíptico, seria absurdamente perigoso para qualquer pessoa arriscar uma viagem às cegas numa área tão ampla. Um dos amigos da She-Hulk, Owen, inclusive ressalta o quanto é improvável que essa viagem resulte em alguma coisa.

Mesmo que Tommy esteja em Wyoming após uma década e ainda que ela consiga encontra-lo, não há nenhuma garantia que ele saiba onde está Joel. Mesmo assim, a She-Hulk parte com um grupo de amigos, visando encontrar Tommy. Eles fazem a viajem a pé, o que levaria cerca de 14 dias de caminhada ininterrupta, desconsiderando por completo a necessidade de descanso. A viagem demoraria um período muito maior caso as paradas para alimentação e sono fossem levadas em consideração.

Eventualmente o grupo chega a Wyoming e se abriga numa mansão abandonada, que se encontra numa área montanhosa. Na manhã seguinte, Owen avista uma grande cidade à distância e mostra para She-Hulk. Ele admite que a mera visão da cidade seria o suficiente para convencer os outros a voltar para Seattle. Além disso, ele reconhece o quanto seria improvável e insanamente difícil descobrir se Tommy reside naquela cidade e, mesmo que fosse o caso, como seria possível travar contato com ele? E ainda que conseguissem, por acaso ele realmente saberia onde está Joel? Então, a She-Hulk oferece um plano tão patético que Owen questiona se ela ao menos ouviu seus questionamentos. Fica evidente que Owen está disposto a ajuda-la, mas que não pretende colocar a si mesmo e aos outros em risco no processo.

Até esse ponto a situação ainda é razoável e os jogadores não fazem ideia de quem são essas pessoas ou quais suas motivações. Em seguida, a She-Hulk fica put* com a cautela de Owen e parte enfurecida rumo a um dos postos avançados que avistaram à distância. Ressalte-se que ela não tem plano algum: está simplesmente indo em direção ao posto, esperando pelo melhor. Ela se perde no percurso mas, eventualmente, avista marcas de cascos de cavalos na neve. Ela ainda não sabe, mas essas marcas foram feitas pelos cavalos de Joel e Tommy, as duas pessoas que ela procura numa cidade com milhares de habitantes. Uma coincidência para lá de conveniente, não é mesmo?

Seguindo as marcas, ela é surpreendida por uma grande horda de infectados, fazendo com que abandone o caminho numa tentativa desesperada de sobrevivência. Ela faz o possível para escapar, mas os infectados eventualmente conseguem alcança-la. É quando está prestes a ser morta que, contra todas as possibilidades, ela acaba sendo salva por Joel, o homem que matou seu pai anos atrás.

A chance de haver uma coincidência de tal proporção, resultando nesse encontro absolutamente improvável, é astronomicamente risível. Os escritores simplesmente não foram capazes de criar uma narrativa que fosse mais convincente que essa série afortunada de coincidências improváveis para realizar o encontro dos personagens.

Em sua tentativa desesperada de sobrevivência, a She-Hulk recebeu tudo de bandeja. Os infectados estavam no mesmo lugar que Joel e Tommy, no exato momento em que eles seriam necessários para salvá-la. Se eles houvessem se atrasado por qualquer motivo, mesmo que por um período ínfimo de tempo, a She-Hulk teria sido massacrada pelos infectados ou não teria encontrado com os irmãos de maneira completamente acidental.

Além disso, o fato de Joel salvar uma estranha completamente aleatória é uma traição ao caráter do personagem. Para aqueles que possam ter esquecido a verdadeira natureza de Joel, basta recordar sua recusa em auxiliar uma família à beira da estrada, no dia em que a infecção se espalhou pelo mundo, no primeiro jogo. Joel não se importou em abandonar essa família, pressupondo que isso garantiria a segurança das pessoas que ele amava (Tommy e Sara). E olhem que esse era o Joel “civilizado” e não o Joel com mais de vinte anos de experiência de vida num mundo pós-apocalíptico. Cinco anos em Jackson não seriam suficientes para subitamente tornar Joel tão benevolente, altruísta e disposto a confiar em completos estranhos. Mas o roteiro precisa que Joel e a She-Hulk se encontrem e isso é feito às custas de Joel, que trai seu próprio caráter para que os eventos subsequentes ocorram da forma que os escritores desejam. Se Joel fosse mantido fiel ao seu caráter, ele simplesmente não iria se colocar em risco para salvar uma completa estranha. O problema é que, se ela morresse, o jogo terminaria e isso não poderia ocorrer em hipótese alguma, por mais que esse fosse o resultado mais provável, caso o caráter de Joel tivesse sido respeitado.

O forçado encontro aleatório se torna ainda mais exacerbado logo após Joel salvar a She-Hulk. Tommy pede para que eles o sigam e corre em direção a um prédio, entrando em um corredor, em cujo final se encontra uma porta dupla. Porém, infectados começam a invadir o corredor por essa porta. Como esse era o único caminho disponível, é óbvio que Tommy e Joel vieram por ele para salvar a She-Hulk. Porém, Tommy aparentava não ter ideia que haviam infectados lá. Ou seja: eles teriam passado por um caminho com infectados e chegado no corredor no exato momento em que eram necessários para salvar a She-Hulk mas, logo em seguida, Tommy “esquece” dos infectados e tenta voltar pelo mesmo caminho do qual que vieram originalmente, apenas para serem surpreendidos pelos ditos cujos. Por sorte, Joel encontra uma porta lateral para escaparem do grupo de infectados.

Após correrem um pouco e conseguirem um pequeno intervalo para recuperar o fôlego, Tommy apresenta a si mesmo e Joel, antes de perguntar o nome da She-Hulk. Eles não fazem a menor ideia de quem é essa garota, mas agora é a vez de Tommy trair seu próprio caráter, apresentando a si mesmo e seu irmão com seus verdadeiros nomes. Além de não saberem quem ela é, eles também não fazem a menor ideia do motivo pelo qual ela está ali e qual seriam suas motivações ou intenções. Essa atitude de Tommy é completamente irresponsável e até mesmo potencialmente perigosa, dependendo das intenções da estranha, ainda mais quando essa estranha estava procurando um Tommy para que ela pudesse matar um Joel. A própria She-Hulk não é capaz de acreditar em sua própria sorte, diante de mais uma absurda coincidência...

Para fazer um paralelo com o primeiro jogo, essa situação seria equivalente a Ellie entregando informações importantes para David assim que se encontraram. Porém, ela não faz isso, por saber o quão perigosas as pessoas podem ser. Na verdade, ela se porta de uma maneira completamente apreensiva e defensiva durante seu encontro com ele. Ellie inclusive mente para ele numa tentativa de ocultar sua identidade, porque ela não sabe quem ele é, quais são suas motivações ou mesmo suas intenções. Quando David pergunta seu nome, ela ainda está relutante em entregar essa informação e questiona o motivo pelo qual ele quer saber. Nessa situação, Ellie está sendo esperta e cautelosa. Em contraste, Tommy age de uma maneira estúpida e impulsiva numa situação semelhante.

No início do jogo, Joel compartilha seu maior segredo pessoal com Tommy: ele salvou Ellie, mas mentiu para ela a respeito de como isso ocorreu. É extremamente provável que Tommy também tenha ficado sabendo do grupo de canibais que caçou Joel, em busca de vingança. Essa não é a primeira vez que Joel é caçado por suas ações terem desencadeado consequências para outras pessoas. É absolutamente irresponsável e inacreditável que Tommy tenha colocado a si mesmo e seu irmão desnecessariamente em perigo. A She-Hulk não faz ideia da aparência de Tommy ou Joel: sem seus nomes, ela jamais seria capaz de identifica-los. Porém, o roteiro precisa que ela descubra seus nomes, então Tommy simplesmente age como um idiota, para que a trama siga em frente. Tommy basicamente sentencia Joel à morte nesse momento. Ele não foi pressionado ou enganado: ele apenas foi estúpido.

Por causa disso, a She-Hulk não precisou sequestrar ou interrogar nenhuma patrulha de Jackson para descobrir se Tommy vivia na cidade que Owen mostrou a ela e nem mesmo precisou interrogar o próprio dito cujo, para descobrir onde seu irmão estava. Tudo isso demandava uma escrita competente. Seria preciso dedicar atenção e tempo na história para que os eventos fossem mostrados de uma maneira apropriada. Ao invés disso, ela recebeu tudo de bandeja, sem ter que fazer nenhum esforço para isso. O roteiro precisava que esses três personagens se encontrassem e isso foi feito na base de uma sequência de coincidências totalmente improváveis.

Logo em seguida, o momento do trio recuperar o fôlego está se esgotando e Joel diz que eles precisam voltar, mas Tommy diz que não é possível. Como Tommy sabe que eles não podem voltar? Não há nenhum outro lugar seguro além de Jackson? Ele e Joel certamente conhecem a área muito bem e seria razoável supor que hajam abrigos alternativos seguros fora da cidade, como por exemplo algum posto avançado. Não é possível que uma cidade do tamanho de Jackson não possua postos de observação, visando garantir a segurança de seus habitantes contra estranhos e infectados. Ao invés disso, a She-Hulk sugere que o esconderijo onde ela está abrigada com seus amigos, ao norte, é seguro. Como ela sabe que é mais seguro viajar até lá do que viajar até Jackson, ou mesmo até um dos postos avançados? Se os irmãos não tivessem encontrado a She-Hulk, para onde eles iriam? Há mais pessoas por aí, além dessa estranha? Quantas mais? Porque? De onde elas vieram? O que elas estão fazendo nesse esconderijo? Algumas das patrulhas de Jackson descobriu essas pessoas? Por quanto tempo elas tem estado escondidas nesse local? Tantas perguntas e tão poucas respostas... A falta de pensamento crítico até poderia ser justificada pelas circunstâncias, mas não justifica que tanto Joel quanto Tommy pareçam dois peixes fora d’água, completamente alheios aos seus respectivos caráteres.

Joel reconhece o esconderijo ao qual a She-Hulk se referiu e o identifica como a Mansão Baldwin. Ele diz que buscar refúgio lá pode funcionar, mas como? Porque lá pode funcionar, mas não Jackson ou qualquer um dos postos avançados? Como diabos eles sabem em quais pontos a horda se encontra nesse momento? Os três foram pegos de surpresa pela horda. Eles não sabem de onde ela veio, quantos infectados fazem parte dela e quais rotas são ou não seguras. Porém, o roteiro precisa de um lugar seguro para atingir o Objetivo 2, então eles concordam com a sugestão da She-Hulk, apesar de todos os metafóricos alertas vermelhos que a situação deveria acionar.

Joel seria incrivelmente relutante, cauteloso, cético e até mesmo um tanto desconfiado. Ele pede que a She-Hulk cavalgue com ele e, se estivesse sendo fiel ao seu caráter, esse pedido seria motivado pela necessidade de mantê-la como refém, caso alguma coisa desse errado. Essa seria a mentalidade de Joel para assegurar sua sobrevivência e a de Tommy a qualquer custo.

Apenas então Ellie descobre que Joel e Tommy estão desaparecidos. Ela se junta a Dina e Jesse para procura-los. Para cobrirem uma área maior, Ellie sugere que se separem e Jesse diz para que ela siga rumo ao leste. Enquanto isso, Joel, Tommy e a She-Hulk estão fugindo a cavalo da horda durante uma tempestade de neve, rumo ao suposto esconderijo seguro. Porém, o caminho até a Mansão Baldwin é tudo menos seguro, já que os infectados podem ser vistos em tudo quanto é lado, durante todo o percurso. Por sorte, os amigos da She-Hulk estão a postos para recebê-la com o portão aberto, como se ela tivesse feito uma ligação para eles, informando que estava a caminho. Ainda que houvesse um batedor posicionado fora da mansão (algo extremamente improvável, já que a horda estava nos arredores da dita cuja), dificilmente ele conseguiria avistar qualquer coisa na tempestade. E ainda que ele visse os cavalos, não saberia que era a She-Hulk (até porque ela partiu a pé e sozinha, quando ficou put* com Owen). Mal é possível avistar qualquer coisa além do portão mas, ainda assim, os amigos da She-Hulk estão lá, com o dito cujo escancarado... Porquê? E porque diabos eles estão lá fora, no meio de uma tempestade de neve, com uma horda circulando nos arredores da mansão? Como diabos eles sabiam que pessoas estavam para chegar no local, exatamente naquele momento? É como se os amigos da She-Hulk tivessem lido o roteiro e soubesse que ela estava a caminho por causa disso...

Além disso, é provável que a She-Hulk estivesse perdida há um tempo considerável... e nenhum dos amigos dela foi enviado para procura-la? Aparentemente não. Ao invés disso, todos estão convenientemente posicionados no portão, permitindo que os três entrem sem qualquer problema e escapem da horda, quando fecham o portão. Não só isso: eles estão armados e começam a balear os infectados logo em seguida, embora o barulho dos disparos certamente atrairia mais membros da horda. Os putos possuem até mesmo coquetéis molotov em mãos, para lidar com a grande quantidade de infectados aglomerando rapidamente no portão. Não há qualquer motivo para eles estarem armados até os dentes no portão, esperando pela She-Hulk ou qualquer outra pessoa que viesse montada a cavalo. O grupo estava miraculosamente posicionado para recebe-los, apenas porque o roteiro assim demanda. Se não estivessem lá, o trio seria morto sem conseguir atravessar o portão.

Porém, conforme dito anteriormente, o roteiro exige um lugar seguro para atingir o Objetivo 2. Nessa altura do campeonato, já não dá nem para tratar isso como conveniência: trata-se de uma colcha de retalhos composta por artifícios que não fazem nenhum sentido.

Owen diz para todos entrarem e os irmãos Miller nem questionam: apenas obedecem, ignorando todos os alertas vermelhos, apesar de agora se encontrarem dentro de um abrigo cheio de pessoas sobre as quais eles não sabem nada a respeito. Joel e Tommy aparentam estar completamente receptivos, relaxados e confiantes, a despeito da situação. Eles agora se encontram em completa desvantagem numérica, à mercê de um grande grupo de pessoas desconhecidas e potencialmente perigosas.

Fazendo outro paralelo com o jogo original, alguém se lembra do que Tommy faz ao se deparar com estranhos (Joel e Ellie), quando eles estão chegando perto de Jackson? Ele e Maria os recepcionam no topo dos muros, com armas em riste. É possível reparar a apreensão e a hostilidade que ambos possuem em relação aqueles dois estranhos, algo perfeitamente natural num mundo onde estranhos podem te ferir ou mesmo te matar. Mas que se dane a cautela em relação à She-Hulk e seus amigos, porque o roteiro assim demanda, não é mesmo?

Ao entrarem pelo portão, Joel e Tommy estão com suas mochilas nas costas mas, na cena seguinte, ao entrarem na Mansão Baldwin, elas literalmente desapareceram. O roteiro fez suas armas desaparecerem porque eles precisam estar desarmados para que o Objetivo 2 ocorra sem qualquer resistência. Joel, um homem que sobreviveu por décadas num mundo pós-apocalíptico, que abandonou uma família à beira da estrada no dia em que a infecção foi deflagrada, que está disposto a matar qualquer um que ameace sua segurança ou a segurança das pessoas com as quais ele se importa e que consegue notar uma emboscada de longe... Esse Joel é o mesmo que se encontra prestes a entrar voluntariamente numa emboscada, desarmado e sem qualquer meio disponível para defender a si mesmo ou seu irmão. Não dá nem para considerar Joel como ele mesmo nesse ponto. O personagem na tela simplesmente traiu tudo que representa Joel: é um Joel impostor, um Joel falso. Não é nem mesmo um personagem: é apenas um boneco que se parece com Joel, manipulado por cordas invisíveis para atender a todas as demandas do roteiro. O Joel do jogo original jamais se permitiria entrar na situação na qual ele se meteu. Ele não seria tão relaxado e despreocupado com completos estranhos, e jamais se deixaria tão vulnerável a ataques.

Enquanto isso, Tommy continua entregando informações que podem levar pessoas à morte: ele diz que moram perto dali, a algumas horas de distância em relação ao sopé da montanha. Não só isso: ele ainda convida o grupo de estranhos para ir até Jackson, para lhes fornecer suprimentos, antes que eles continuem sua viagem. Basicamente, Tommy informa ao grupo que eles fazem parte de uma cidade e onde ela pode ser encontrada. E se esse grupo for composto apenas de batedores, que fazem parte de um grupo ainda maior, composto por pessoas malignas? Com isso, agora o grupo possui informações valiosas, que podem ser utilizadas para ferir o povo de Jackson.

A estupidez de Tommy parece ser contagiosa e, aparentemente, Joel foi contaminado. Joel, um homem que fez coisas horríveis no passado, a ponto de ser caçado por pessoas dispostas a eliminá-lo, se posiciona desarmado no meio de uma sala cheia de pessoas que ele não conhece e, voluntariamente, revela seu verdadeiro nome. Ele simplesmente não cogita o que as pessoas ao seu redor podem fazer com essa informação. Ele falha em cogitar as possíveis consequências de suas ações. Após dizer seu nome, Joel repara a apreensão dos estranhos à sua volta e, como um completo imbecil, comenta que eles parecem já ter ouvido seu nome ou algo do tipo. E se eles realmente já tiverem ouvido, Joel? O que você fará se eles tiverem te reconhecido e quiserem te machucar? Joel não pensou em nada disso: ele foi lobotomizado por Neil Druckmann.

Após mais de duas décadas de sobrevivência num brutal mundo pós-apocalíptico, o veterano casca-grossa Joel, escolhe dar um voto de confiança e colocar sua própria vida nas mãos de um grupo aleatório de pessoas potencialmente perigosas. E se elas forem hostis? Joel falha em considerar a possibilidade de que essas pessoas podem machucar ele e Tommy. Como isso é possível? A situação é a epítome da artificialidade do roteiro e é o resultado direto da desastrosa busca dos escritores em atingir os objetivos pré-estabelecidos a qualquer custo, ao invés de respeitar a integridade dos personagens, fazendo com que eles ajam de acordo com seus caráteres, para que possam atingir esses mesmos objetivos naturalmente.

É então que Joel, que sabe muito bem as maldades que estranhos são capazes de perpetrar, recebe um lembrete brutal: um tiro de espingarda num dos joelhos, disparado por ninguém menos que a She-Hulk. Joel tem sua perna praticamente destroçada... e como Tommy reage? Talvez um disparo em retaliação? Não. Como sua mochila desapareceu magicamente na cena anterior, Tommy está desarmado. Ele decide trabalhar com o que o roteiro lhe forneceu: seus punhos. Desnecessário dizer que foi inútil: ele é imediatamente imobilizado e posto inconsciente, na base de coronhadas da arma de um dos estranhos.

E assim retornamos à She-Hulk... Vocês se lembram que ela foi salva por Joel há alguns minutos atrás? Porque ela aparentemente não se lembra. Joel ter literalmente salvo sua vida não causou nenhum impacto ou impressão positiva nela, de forma alguma. E nesse ponto, é o caráter da própria She-Hulk que é traído pelo roteiro. Afinal, ela passa a maior parte de sua campanha ajudando duas crianças do grupo Serafitas, porque elas salvaram sua vida. Ela passa por um verdadeiro inferno para proteger Yara e Lev. É verdade que essas crianças não mataram o pai dela, mas Joel não matou o pai dela à toa. Ele iria matar a “filha” de Joel, sem o consentimento de qualquer um dos dois, por uma mera chance de obter uma cura. Ressalte-se: uma chance e não uma garantia.

Fazendo um paralelo com o mundo real, estamos a meses à mercê de uma pandemia e, até o momento, nenhuma vacina foi produzida, apesar de nossa sociedade estar no ápice no que diz respeito aos pesquisadores e às tecnologias que eles possuem à sua disposição. Um mundo pós-apocalíptico que está se deteriorando há mais de duas décadas, está numa situação tecnológica muito mais precária que o nosso mundo. É bem provável que a morte de Ellie resultasse em absolutamente nada e Joel levou isso em consideração quando decidiu salvá-la.

A She-Hulk, por sua vez, não leva nada disso em consideração e está totalmente focada em seus objetivos egoístas. Isso faz com que ela pareça unidimensional e é um grande desserviço dos escritores à personagem. Não há conflitos internos, não há sinais de hesitação... Não importa se Joel salvou a vida dela ou quais foram seus motivos ao salvar Ellie. As implicações morais das ações dela não são levadas em consideração, porque agora o roteiro pode matar dois coelhos com uma só cajadada. Tudo o que importa são as necessidades da trama. A She-Hulk simplesmente ignora o fato de que Joel pode não ser uma pessoa tão ruim quanto ela imagina, para que a trama atinja o resultado que os escritores desejam, mas que não fizeram por merecer. Por esse motivo, embora Joel tenha salvo a She-Hulk, ela decide não apenas mata-lo, como também tortura-lo lenta e brutalmente, até que ele dê seu último suspiro graças à ela. E pensar que os escritores esperam que os jogadores tenham empatia por essa personagem posteriormente...

A próxima cena mostra Ellie que, por coincidência, encontrou a mansão na qual Joel está sendo torturado até a morte. Lembrando que ela partiu de Jackson rumo ao leste, enquanto a Mansão Baldwin estava ao norte do local onde Joel e Tommy salvaram a vida da She-Hulk. Até mesmo a geografia é desconsiderada para que o roteiro atinja seu próximo objetivo. Seria incrivelmente difícil encontrar alguém com uma grande horda de infectados vagando pela área, mas Ellie consegue alcançar a mansão ilesa, sem que haja sequer um infectado nos arredores. Ou seja: Ellie não só consegue encontrar o local exato onde Joel está, evitando qualquer contato com a horda de infectados, como chega na mansão a tempo de presenciar a She-Hulk terminando de tortura-lo. Pelo visto, simplesmente não há limites para as coincidências e conveniências do roteiro.

Ellie adentra a mansão com sua pistola empunhada, desce uma escadaria e entreabre uma parte, apenas para ver Joel agonizando no chão da próxima sala, com sua torturadora espancando-o com um taco de golfe. Ela tem apenas duas opções nessa situação:


Opção 1: Apontar a arma e dar um tiro na cabeça da She-Hulk;

Opção 2: Adentrar a sala sem qualquer necessidade, apenas para ser subjugada pelos amigos da She-Hulk.


A Opção 1 representa o cenário mais realista, lógico, sensato e crível, mas isso encerraria o jogo imediatamente e não satisfaria o Objetivo 3. Por esse motivo, Ellie é compelida a escolher a Opção 2, mesmo que não faça nenhum sentido e conceda a ela um aspecto de incompetência completa. A integridade e credibilidade de Ellie é comprometida, apenas para o roteiro atingir o Objetivo 3.

E assim os escritores conseguiram o que queriam: Joel foi torturado, Ellie testemulhou e a She-Hulk conseguiu executá-lo. Porém, isso foi conquistado às custas da identidade e da integridade de personagens queridos pelos jogadores, transformando-os em cópias baratas, rasas e pouco convincentes. Além disso, o jogo é severamente prejudicado na perspectiva narrativa, já que o catalizador da história é baseado num amálgama de artifícios forçados a tal ponto que chegam até mesmo a ser cômicos.

Mas ainda não terminou. Após executar Joel, a She-Hulk tem duas opções para lidar com as testemunhas:


Opção 1: Ela pode eliminar o irmão de Joel, junto com a furiosa “filha” enlutada que jurou vingança, desse modo impedindo que eles a persigam do mesmo modo que ela perseguiu Joel;

Opção 2: Ela pode deixar Tommy e Ellie vivos.


A Opção 1 representa o cenário mais lógico e razoável. A She-Hulk não se importa em sujar suas mãos, a ponto de seus amigos reconhecerem e deixaram bem claro que ela é uma má pessoa que faz coisas ruins. Ela não se importa se tiver que executar uma mulher grávida, após bater a cabeça dela no chão diversas vezes, mesmo que a gestante tenha sido alvejada por uma flecha momentos antes e já não representasse mais uma ameaça, dada a gravidade do ferimento. E também não se importa em executar diversos de seus antigos parceiros, quando tentam ferir ela e Lev.

Se a She-Hulk tivesse sido mantida fiel a seu caráter, ela não hesitaria um segundo sequer para executar Tommy e Ellie ali mesmo. A única razão pela qual ela não faz isso na cena do teatro é porque Lev, sua “consciência adotiva”, implora para que ela poupe Dina e Ellie. Do contrário, ela executaria as duas, sem qualquer problema. Matar Tommy e Ellie era a solução razoável, mas o jogo terminaria imediatamente se isso acontecesse. A Naughty Dog possui “profundas mensagens” a serem veiculadas no jogo, então o roteiro exige que a She-Hulk traia seu caráter pelo bem da trama, compelindo a personagem a escolher a Opção 2.

A produtora assumiu grandes riscos, mas não conseguiu lidar com eles de forma natural. Ao invés disso, enfiaram coincidência atrás de coincidência goela abaixo dos jogadores, sufocando-os como uma série de eventos que desafia a lógica e a razão.

Por todos esses motivos, o modo como a morte de Joel ocorreu é a maior falha da Part II. Por ser um evento catalizador falho, todas as narrativas secundárias, que se originam a partir desse evento, também estão destinadas ao fracasso. No final, o jogo parece um castelo de cartas fadado a desmoronar desde o início, por causa de seu roteiro patético e da vexatória narrativa utilizada para justifica-lo.


Fonte


Muito bom o textão. Vale a pena ler, ele é muito bem explicado, analítico e objetivo, direto ao ponto. Obrigado por compartilhar.
 

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Muito bom o textão. Vale a pena ler, ele é muito bem explicado, analítico e objetivo, direto ao ponto. Obrigado por compartilhar.
Na verdade, agradeço por ter tirado um tempo para lê-lo, man. Por ser longo, pode ser um tanto incômodo de ser lido na tela de um PC... Ao menos ele tem o mérito de destrinchar e enfatizar bem como o evento catalizador da Part II é falho, em termos narrativos.
 

Trezoitao38

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Sabe quem escreveu? não parece tradução de Google, parece ter sido escrito por um brasileiro.
 

Bloodstained

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Sabe quem escreveu? não parece tradução de Google, parece ter sido escrito por um brasileiro.
Bom, se você verificar a fonte no final do texto, vai ser direcionado para um vídeo no Youtube. Eu apenas traduzi e adaptei o conteúdo do vídeo, adicionando algumas impressões pessoais em alguns pontos específicos. Realmente não é uma tradução do Goggle: é uma tradução by Bloodstained. :klol
 

Trezoitao38

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Bom, se você verificar a fonte no final do texto, vai ser direcionado para um vídeo no Youtube. Eu apenas traduzi e adaptei o conteúdo do vídeo, adicionando algumas impressões pessoais em alguns pontos específicos. Realmente não é uma tradução do Goggle: é uma tradução by Bloodstained. :klol

Ah sim, excelente trabalho.
 

Rel666

Bam-bam-bam
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Vou comentar um pensamento meu que pode ser até um paralelo sobre o jogo ou não.

Enfim tenho dois amigos um é fã do itachi e outro do sasuke ... os dois entram em discussões em dizem qual é o melhor personagem da trama ... ai ficam entre discussões e memes e no fim um não muda o pensamento do outro cada qual gosta do personagem por características distintas. No fim os dois gostam do Naruto shippuden.

Eu acredito que ser divisível seja isso, a obra alcançou os dois foi um ótimo entretenimento para os dois e foi divisível aonde um compreende as escolhas e decisões de um personagem e outro entende a construção do outro personagem e no fim a obra por inteiro foi excelente para ambos.

Vou te dizer que diferente da divisão por gostar mais de um personagem ou outro do Naruto no fim seus amigos ainda continuaram a ver a serie porque gostam dela e querem sempre saber como seus personagens favoritos eram se desenvolver enquanto houver coerência nas atitudes deles os argumentos para defende-los como melhor personagem valeram para seus amigos agora em TLOU 2 a divisão só serve para afastar as pessoas que gostavam do primeiro e faze-las perder interesse na serie se este aqui já muda os personagens e cria situações inverossímeis só para dar continuidade a historia que não esta boa a vontade de continuar a acompanhar os próximos jogos tende a diminuir.
 

michaeljovi

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Lendo o tópico oficial da até uma vergonha alheia, sei lá

Tô meio bêbado agora, mas sem entrar em política, acho que todos que gostaram desse jogo ganham 10k e vivem na Suécia, sei lá, única explicação por curtir tanto um jogo que fudeu o personagem que deu a vida por esse jogo ser o que é hj com ações que ele tomou que qlqr pessoa que tem algum amor próprio e já teve alguma perda na vida não faria



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isso é exatamente oque tornou a historia tão interessante e epica.. é como voce dizer que o Jack não deveria ter morrido no final do Titanic porque ele fez tudo pela Rose.. a vida não é assim, não acontece apenas oque gostamos, e o jogo retrata isso muito bem. bem como as consequências e o vazio da vingança., mais que um jogo é uma lição de vida.
 

Frank Williams

Lenda da internet
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Ainda tem gente perdendo o tempo com esse jogo aqui? Rsrs

Única coisa que esse jogo serviu pra mim, foi pra me deixar esperto e não comprar mais nenhum jogo da ND na pré venda. As decisões desse jogo, na minha opinião, não só afundaram a franquia, mas toda a empresa.

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Gbdiniz

Bam-bam-bam
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Atualizando pra galera do tópico:

Quando o jogo foi lançado, em menos de 24h tinha mais de 10 mil avaliações negativas e algumas centenas positivas.

Agora, com o pessoal conseguindo finalizar A Obra Absoluta de Nossa Geração, as avaliações estão em:

57 mil negativas (dessas, podemos citar umas 90% como falsas, tendo em vista o comportamento inicial dos avaliadores)

59 mil positivas

Resumindo, além de ser o jogo com mais críticas positivas da história, se o MC fosse honesto e sumisse com os fakes, a média dos jogadores deveria ser até maior que a da crítica. Suspeito que entre os gamers, o jogo tem uma média entre 9.7 e 10 (comigo é 9.9, só não é 10 pois a parte da Abby é menor, e como ela é a melhor personagem criada nos últimos anos, merecia no mínimo mais umas 12h de gameplay).

Abraços!

Resumindo esse post

g7bz7959vpj21.jpg
 

Gbdiniz

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Eu ainda acho esse aqui mais vergonhoso, cada cabeça uma sentença né :D

Aqui é um reduto de nobres cavalheiros zombando de uma tranqueira pretensiosa fruto de uma mente doentia, cujas supostas realizações foram todas, sem exceção, foram farsantes ou manipuladas.
 

ryutorrent

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Única coisa que esse jogo serviu pra mim, foi pra me deixar esperto e não comprar mais nenhum jogo da ND na pré venda. As decisões desse jogo, na minha opinião, não só afundaram a franquia, mas toda a empresa.

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Exatamente meu pensamento.

Para a ND ganhar meu dinheiro vai ter que fazer um trabalho muito grande.

Não sou consumidor de Nintendo e Microsoft e ambas estão em ultimo na minha escala de compras. Hoje compro produtos de ambas no lançamento mas não compro da ND tamanho o descrédito que tenho nela hoje.
 

Megazordi64

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Agora estão comentando que essa fala não foi uma piada de duplo sentido e que só uma pessoa desprovida de intelecto poderia entender que foi. :kkk

_ Um pouco envergonhado com o que eu tive que trocar para conseguir, mas...
_ Não é ruim.

129124

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Hitmanbadass

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isso é exatamente oque tornou a historia tão interessante e epica.. é como voce dizer que o Jack não deveria ter morrido no final do Titanic porque ele fez tudo pela Rose.. a vida não é assim, não acontece apenas oque gostamos, e o jogo retrata isso muito bem. bem como as consequências e o vazio da vingança., mais que um jogo é uma lição de vida.

Na sua analogia, o Jack teria morrido logo na hora que o barco afundou preso lá com a galera da econômica, porque ele teria falado/conferssado quem ele era ao invés de fingir pertencer à primeira classe.

A vida ser imprevisível e nem sempre justa não tem nada a ver com um roteiro ser fraco, um bom roteiro sabe que um furo dessa magnitude coloca tudo a perder, tem que ter mta, mas mta boa vontade para fingir que não foi algo completamente incongruente.
 

The Spectre

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Agora estão comentando que essa fala não foi uma piada de duplo sentido e que só uma pessoa desprovida de intelecto poderia entender que foi. :kkk

_ Um pouco envergonhado com o que eu tive que trocar para conseguir, mas...
_ Não é ruim.

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"mas não é ruim" se referindo ao café, apesar de tudo o café era bom e mesmo ele tendo que entregar vários itens valeu a pena a troca.
 

Megazordi64

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"mas não é ruim" se referindo ao café, apesar de tudo o café era bom e mesmo ele tendo que entregar vários itens valeu a pena a troca.

Ou...

Como disse, é uma piada de duplo sentido por deixar no ar essa ambiguidade.

Da pra ver em como a cena foi feita que quiseram fazer uma piada.

Acho engraçado ver gente defendendo a inexistência dela quando é tão clara.

Só achei o timing meio errado por ser um momento que era pra ser dramático.
 
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