Entre alugar e comprar um imóvel, o que vale mais a pena? Será que a resposta para essa decisão precisa ser mesmo um “depende”?
Veja porque acredito que pagar aluguel é “quase” sempre a melhor alternativa, seja financeiramente, mas também pela paz de espírito.
A dúvida entre comprar e alugar um imóvel tem sido alvo de constantes debates entre as famílias. Nesse texto, conto minha experiência no mercado imobiliário e como essa decisão não é apenas financeira, mas envolve, além de sentimentos, muitos preconceitos.
Ao invés de simples “achismos”, ele é embasado em dados reais e fatos bem claros que envolvem nosso cotidiano. Inicio com a avaliação financeira entre pagar aluguel ou comprar o imóvel e, posteriormente, comento sobre preconceitos e bloqueios emocionais.
Veja qual será a melhor decisão para você. Boa leitura!
Por que perdemos dinheiro comprando, ao invés de alugar um imóvel?
Se você já está plenamente convencido de que no Brasil,
quase sempre perde-se dinheiro comprando um imóvel, pode avançar para o próximo tópico sobre os preconceitos e bloqueios emocionais. Nesse tópico, mostro, com dados históricos, porque não vale a pena financeiramente comprar um imóvel visando sua moradia ou receber dinheiro de aluguel.
A chave para chegar a essa conclusão é comparar as situações de compra e aluguel de um imóvel com base no
custo de oportunidade. Ou seja, comprando um imóvel, você renuncia investir o seu dinheiro na
renda fixa ou em fundos imobiliários. É verdade que a primeira vem pagando bem menos do que o histórico dos últimos anos, mas os fundos podem tomar facilmente seu lugar, mantendo seu dinheiro no ramo imobiliário.
Na comparação entre alugar ou comprar um imóvel, em geral são criados dois entraves mentais na maioria das pessoas:
Vamos conversar rapidamente sobre cada um deles.
Não vale a pena: seja pagando o imóvel à vista ou financiado, você perde dinheiro
Acredito que o leitor saiba que comprar algo à vista é mais vantajoso do que pagar a prazo, evitando o pagamento de juros. Porém, a realidade do Brasil impede que a maior parte das pessoas estejam aptas a usar essa forma de pagamento. Falarei então brevemente sobre o financiamento de imóveis para depois comentar o pagamento à vista.
Comprar o imóvel com financiamento
Vários blogs já fizeram simulações de financiamento no site da CEF para tais avaliações. E todos eles chegaram na mesma conclusão: você perde dinheiro no financiamento. Muito dinheiro.
Vou enfatizar: muito mesmo! Não vou entrar em detalhes financeiros aqui, pois não vou ficar repetindo o que encontra-se facilmente na web. Para aprofundamento desse ponto,
veja esse artigo.
Apesar do autor ter usado números conservadores (alugar o imóvel por um valor mensal de 0,5%), eu nunca cheguei a pagar tal percentual (atualmente, pago 0,3%). Mesmo sendo exigente em relação à opção de alugar um imóvel, ele chegou à conclusão de que pagamos o dobro do valor com um financiamento.
Ou seja, você poderia ter dois imóveis ao invés de um se pagasse à vista. Isso é bom para você ou para o banco que financia?
Um parênteses: as poucas exceções desse caso geral, onde a prestação já começa com um valor similar ao aluguel, envolvem
privilégios sociais. Mas o texto é debatermos as condições gerais da opção entre comprar ou alugar um imóvel, certo? Não estamos tratando de exceções.
Comprar o imóvel à vista
Bom, será que é um bom negócio então comprar o imóvel à vista?
Não é difícil encontrar imóveis com o aluguel sendo oferecido pelo valor de 0,3% de seu valor de venda. É pouco menos do que rendimento mensal de um título seguro e conservador de longo prazo do Tesouro Direto em maio de 2020. E considere que estamos no piso histórico de juros, ou seja, uma situação muito mais desfavorável, teoricamente, para a opção do aluguel.
Abaixo são alguns dos imóveis que encontrei na web com ambos valores. Considere que, quanto maior o imóvel, maior a vantagem do aluguel e vice-versa. De qualquer forma, variações existem e há que se entrar em contato com o proprietário para avaliar possíveis descontos, tanto na venda como no aluguel e recalcular os valores.
Os juros recebidos em uma aplicação de renda fixa de longo prazo e o aluguel pago são equivalentes: até o imposto de renda pago é o mesmo. Historicamente, os juros foram constantemente mais altos, o que fez com que o aluguel fosse muito mais vantajoso. Hoje, com os juros baixos, há um equilíbrio. Avalie sempre o contexto econômico atual e compare sempre!
Considere ainda alguns diferenciais: na compra do imóvel você paga
impostos adicionais, como ITBI, escritura pública e cartório, que variam de estado para estado. Elas somam em torno de 5% do valor do imóvel, o que dá mais de um ano de aluguel.
Ou então, é um valor suficiente para uma
viagem de um ano ao redor do mundo, hein? Se o apartamento for novo, acresça colocação de pisos, armários, boxes e outros acabamentos necessários.
Ainda parece um bom negócio?
Veja que escolhi para comparação o título de renda fixa mais conservador de longo prazo do mercado. Se pensássemos em
investir em fundos imobiliários, conseguimos valores médios de rendimentos isentos de impostos em torno de 0,5% por mês, tornando tal investimento muito mais vantajoso. E investindo no mesmo mercado imobiliário!
Tais investimentos permitiriam pagar o aluguel do imóvel acima e ainda desfrutar de cerca de 0,2% do valor do imóvel por mês. Livres. Assim, seja financiando ou pagando à vista, você perde dinheiro se for comprar um imóvel no Brasil, ao invés de alugá-lo. É matemática simples.
Vamos conversar agora de outro mito: a valorização do imóvel.
Comprar um imóvel pela sua suposta valorização é um mito
Se você pensa que os imóveis sempre valorizam, você não está sozinho. Isso é um senso comum, principalmente no Brasil. Um senso comum deveras equivocado. Os imóveis não se valorizam mais do que boas aplicações em renda fixa.
Para as pessoas menos inexperientes na área econômica, deixo claro aqui que o conceito de
valorização deve ser sempre
deflacionado. Ou seja, devemos sempre descontar a inflação da valorização bruta.
Vamos então aos fatos.
O gráfico abaixo mostra a valorização dos imóveis no Brasil pelo índice FIPE/ZAP. Repare que desde 1979 até 2014 os imóveis valorizaram-se acima da inflação em apenas 53,38%. Projetando até 2016 com dados do site da
FIPE/ZAP, vemos que a variação real de 2015 até agosto de 2016 é de apenas 0,2%, com uma inflação no período de pouco mais de 16%. Se o gráfico fosse atualizado, sua extremidade direita estaria ladeira abaixo, próximo ao índice 130 do eixo das ordenadas.
Retirado de http://rexperts.com.br/valorizacao-dos-imoveis-brasil-fipe-zap/
Ou seja,
os imóveis no Brasil tiveram uma valorização real, acima da inflação, abaixo de 30% entre 1979 a 2016. Um rendimento em 37 anos que hoje você pode alcançar com investimentos em fundos imobiliários em menos de 5 anos.
A valorização dos imóveis nos últimos 40 anos, foi apenas cerca de 1% ao ano.
Veja que nesse período há generosidade na análise, pois pegamos a hiper-valorização dos imóveis que ocorreu na primeira metade desse século. O que ocorreu depois? Veja esse gráfico da FIPE-ZAP com dados até Março de 2019. Clique para acessar o relatório.
Valorização dos imóveis frente à inflação nos últimos 10 anos
O gráfico mostra que, após 2014, a valorização vem perdendo continuamente da inflação. Se usarmos esses dados no gráfico histórico anterior encontramos um valor de valorização médio de 1% ao ano nos últimos 40 anos. Ainda acha vantagem?
Mas o leitor agora pode me perguntar: e se eu comprasse o imóvel em 2007 e o vendesse em 2013, no boom de preços?
Lembram-se das exceções? Claro, algum sortudo pode ter sido coroado de acertar exatamente o fundo e o topo dos preços dos imóveis nos últimos anos, mas que não muda a conclusão de que
imóvel NÃO é um bom negócio. Se você foi esse sortudo, parabéns!
Exceções não são bons pilares para decisões sobre investimentos. Mas ainda que você fique animado com elas, acrescento que mesmo nesse caso citado, existia uma chance de ganhar ainda mais na renda fixa com um título de longo prazo, como pode ser visto no gráfico abaixo:
Índice FIPEZAP x NTNB Tesouro IPCA
O título do Tesouro Direto obteve um rendimento ainda maior do que a valorização bruta de imóveis no período de alta imobiliária, entre 2008 e 2012.
Quando fazemos análises comparativas, incluindo
o custo de oportunidade, torna-se mais clara a desvantagem de comprar imóveis frente ao aluguel.
Novamente podemos lembrar aqui os custos da transferência do imóvel, capitalizados por décadas na renda fixa… Além disso, se o imóvel era novo, existiram gastos com pisos, armários, etc… Bem, melhor não fazer a conta… Fica mais fácil (e nos enche de orgulho) dizer que tivemos lucro com o imóvel
Um imóvel pode desvalorizar muito? Uma pulga atrás da orelha.
Normalmente, quando ouvimos falar de desvalorização de imóveis, relacionamos a fatos como problemas de violência na vizinhança, caos econômicos em cidades, perigos que tornaram-se mais próximos, seja de segurança ou ambientais.
Mas será que os preços dos imóveis podem cair abruptamente?
Vocês lembram-se dos telefones fixos? Houve uma época em que eles eram declarados até no Imposto de Renda anual, devido aos seus altos valores. Hoje, com o advento da tecnologia sem fio, são peças de museu, sem valor.
Um campo que está crescendo muito ultimamente é a impressão em 3D. Muitos entendidos proclamam que é a uma das novas fronteira da ciência. E já chegamos ao ponto de construir casas através das impressoras 3D. Já existem vários exemplos reais dessa nova tecnologia, como
essa pequena casa em Amsterdã e
essa bem maior no Reino Unido. Há até
vilas inteiras sendo construídas com casas “impressas” no México.
Não sei o que vai acontecer no futuro, mas é possível que uma nova revolução esteja chegando por aí. Claro que transições como essas não são fáceis. Há muitos interesses em jogo. Mas eu consideraria para repensar melhor meus investimentos. Ou seja, comprar um imóvel hoje, só se fosse uma grande pechincha!
Uma exceção onde a compra de um imóvel vale a pena financeiramente
Espero que o leitor que já comprou seu imóvel não fique ressentido com esses números e comentários. A ciência dos fatos é importante, e nem sempre ela deve gerar arrependimentos, mas sim sabedoria para os próximos passos.
Eu também cometi o ato falho de comprar um imóvel no passado. Financiado, ainda por cima… Foi em 1994. Um desastre. Eu não me lembro do tipo de financiamento que a CEF disponibilizava naquele tempo, mas eu lembro que meu saldo devedor aumentava todo mês, apesar de pagar a prestação todo santo dia 10.
Passei ele para a frente 5 ou 6 anos depois, quase de graça. Não consegui cobrir nem 20% de todas as parcelas que paguei de financiamento. Mas ficou a lição.
Entretanto, voltei a comprar outro imóvel em 2008. Como explicar?
Simples: eu usei a
única condição onde comprar um imóvel é vantajosa financeiramente: com o
dinheiro do FGTS. Lembra dele? É aquele dinheiro que o governo surrupia mensalmente de todo assalariado. Na verdade grande parte é de fato roubada, pois você não recebe de volta o mesmo montante. Seu saldo é rentabilizado abaixo da inflação, ano a ano. Ou seja, prejuízo na certa.
Em 2008 eu tinha saldo suficiente no FGTS para comprar um imóvel. E o fiz para tirá-lo da agonia de ver meu dinheiro diminuindo mês a mês. Assim, temos uma exceção aqui. Se você for usar todo o dinheiro do FGTS na compra de um imóvel, pode sim valer a pena financeiramente.
Isso é mais verdadeiro quanto maior for o saldo do seu FGTS. No primeiro semestre de 2017 o governo brasileiro autorizou o saque provisório das contas inativas do FGTS. Para os beneficiados nessa situação, a regra acima já não é mais verdadeira. Eu procuraria boas aplicações para colocar esse montante.
Em 2019 e 2020 ele continuou com seu programa de saques. Torço para que a liberação desse dinheiro seja cada vez mais fácil e universal. Afinal, o dinheiro pertence às pessoas e não à Caixa Econômica Federal! Mudanças nessa política e melhoria das remunerações pode modificar avaliações nessa parte da análise. Assim, fiquem atentos!
Bloqueios emocionais na compra ou aluguel do imóvel
Deixemos agora a parte financeira de lado. Vamos sair da racionalidade e entrar nas paixões. O sonho da casa própria é uma dessas paixões que constroem modelos mentais difíceis de serem extirpados de nossa mente. Modelos mentais que insistem em corroborar nossas certezas, mesmo quando a realidade aponta para o outro lado. Vamos analisar alguns desses padrões que vejo por aí.
1) Alugar é jogar dinheiro fora. Na prestação, pago por algo que é meu
Esse é um padrão clássico. Vamos pensar: qual a diferença básica de alugar e pagar uma prestação? No aluguel, pagamos pelo usufruto de um imóvel. Na prestação do financiamento, pagamos pelos juros de um montante em dinheiro que nos foi emprestado. E pagamos proporcionalmente mais, como demonstrado acima.
Ora,
qual a vantagem em dizer que estou pagando mais pelos juros de um empréstimo do que pagando menos pelo usufruto de um imóvel?
Pois é, leitor, esses é um dos mistérios do senso comum. E será que o imóvel é mesmo seu? Vamos continuar…
2) A casa própria dá sensação de segurança
Lembre-se que no financiamento você estará pagando muito caro por algo que
não é seu. Sim, o imóvel, até que você o quite,
não é seu. O imóvel é do banco. Experimente atrasar um pouco os pagamentos e espere para ver o que ocorre. Onde está a sensação de segurança e tranquilidade?
No aluguel também pagamos por algo que não é nosso. Mas a diferença é que ao alugar – e não comprar um imóvel, pagamos bem menos. E podemos guardar a diferença para momentos de crise, tornando-nos mais capitalizados, o que nos deixa em melhor situação em cenários mais dramáticos.
A casa própria pode ser a solução para as pessoas para a realização de um sonho, para a satisfação na sensação de pertencimento de um lugar, para a identificação com algo que lhe é próprio. Mas nada disso é racional. Deixemos para a psicologia e sociologia tais debates.
3) Morar de aluguel é para solteiros. Uma família precisa possuir um imóvel
Não entendo bem esse padrão de pensamento.
Você casa e compra um imóvel. Daí sua família aumenta e vai para outro maior. Uma, duas ou três trocas, pois além do número de filhos aumentar, eles crescem e necessitam de outros benefícios. E depois seus filhos vão embora e a casa enorme fica para o solitário casal.
Não parece óbvio o excesso de gastos que uma família média gasta em cada mudança desse tipo? Suas despesas seriam muito menores (e seu patrimônio seria muito maior) se tivessem escolhido alugar os imóveis ao invés de comprá-los.
Ficaria também muito mais fácil corrigir possíveis escolhas erradas do imóvel ou do bairro. Mas isso deixo para comentar no último item referente à paz e tranquilidade. Sigamos!
4) A casa própria é imprescindível, pois posso deixar ela do jeito que eu quero
Existem nesse momento que escrevo, 144.068 anúncios de aluguel em São Paulo em apenas um site imobiliário. Será que não existe um imóvel “do seu jeito”? Será que precisamos ser tão específicos?
Sim, eu concordo que uma coisa e outra gostaríamos que fosse diferente. Mas estamos falando de algo maior. De derrubar paredes e construir. Afinal, coisas menores podemos fazer também em um imóvel alugado. Não há impedimento para isso, como algumas pessoas fazer crer. Hoje há várias soluções
para mudar o visual de sua casa sem muito esforço.
Mas a inquietação do ser humano faz com que sejamos tentados a mudar sempre. A não gostar do que temos. A querer sempre mais, mesmo não avaliando a real necessidade das mudanças. Já vi em várias ocasiões quebras-quebras e arrependimentos. Depois, mais quebras-quebras. Vontade não satisfeita, mais quebras-quebras.
Será que essa vida estética, hedonista que vivemos não nos trará de volta a uma pseudo-escravidão do desejo? Bom, esse foi um assunto que escrevi quando relacionei a
vergonha, o hedonismo e a independência financeira…
De qualquer forma, tem gente que gosta. Cada um com seu cada um. Eu acho mais fácil trocar de casa e, fazendo do aluguel o seu modo de vida, tudo se torna mais fácil e barato.
5) Eu moro com mais conforto em minha casa, pois cuido muito bem dela
O cuidado que temos com nossas posses, de fato, é maior do que com posses de terceiros. Mas tudo deve ser bem ponderado. Se você faz um financiamento de um imóvel, por exemplo, pretende ficar por muito tempo na casa. Talvez até mais de 30 anos.
Você vai gastar
muito com ela. Não, não estou falando dos investimentos iniciais, como piso, armários e outros puxadinhos. Estou falando de conserto de telhado, quebrar paredes por causa de infiltrações, revisão de fiação elétrica, entupimentos de tubulações, etc, etc. Meus pais têm uma casa de 38 anos e eu sei muito bem o que é isso.
E lembre-se que, por mais que você cuide de sua casa, ela envelhece. Quando você terminar o seu financiamento, você terá uma casa…
velha.
E morando de aluguel, caso haja algum problema estrutural, quem paga é o proprietário. Ou ainda, você pode mudar-se para um imóvel novo sempre que desejar.
6) Eu quero paz e tranquilidade. Então, vou de casa própria
Vamos fazer um exercício. Você comprou sua sonhada casa própria. Mas depois de um tempo…
- Um presídio (ou uma marmoraria) foi construído ao seu lado;
- O bairro começou a ficar menos seguro;
- Vizinhos indesejados (por vários motivos) compraram o imóvel do lado;
- Você mudou de emprego, bem longe de onde mora;
- Você se cansou da cidade e quer mudar para o interior (ou capital);
- Você verifica que existem problemas estruturais no seu imóvel que demandarão uma ampla (e cara) reforma;
- Percebe que o condomínio está muito mal gerido e está fazendo com que seu imóvel esteja desvalorizando, apesar das taxas de condomínio sempre crescentes;
- Você resolve fazer uma longa viagem. Consequentemente, vai ter dor de cabeça em deixar sua casa só. Estresse e preocupação;
- Por qualquer motivo acima, você resolve alugar sua casa própria. Novamente, estresse e preocupação.
A lista é longa, mas acredito que a ideia foi transmitida. Embora você sempre possa vender o seu imóvel e comprar outro posteriormente, o processo é muito mais demorado e custoso. No inquilinato, você muda e entrega o imóvel com muito mais facilidade. E não vai ter dor de cabeça com inquilinos, caso decida pelo último item.
Onde então temos mais paz e tranquilidade?
Aproveito a deixa desse tópico para comentar abaixo a minha vida imobiliária. E mostrar por que, além do plano financeiro, eu prefiro morar de aluguel do que ter um imóvel próprio. Eu quero é justamente, paz e tranquilidade.
Minha vida imobiliária nos últimos 25 anos
Exceto entre os anos de 1994 e 1999 e entre os anos de 2008 a 2010, eu sempre fui inquilino. Nunca fui incomodado de nenhuma forma. Acredito que a chance de um locador pedir o imóvel ao locatário (possivelmente o único fator que vejo essa opção como negativa) é muito remota, caso ele seja um bom cliente. A possibilidade existe, mas se ocorrer, é fácil resolver a situação.
No ano 2000 eu saí de São Paulo e fui morar no Rio de Janeiro até o ano 2002. Morava em um apartamento de dois quartos, onde fiz amizade com a proprietária e nunca tivemos problemas durante o contrato.
No ano de 2002 a 2003, fui morar na Alemanha, enviado para fazer um curso pela empresa. Novamente, fiquei em um apartamento alugado, totalmente mobiliado. A proprietária também era ótima. Ela serviu inclusive como um suporte para resolver muitas coisas, como instalações de telefone e internet e foi muito solícita em trocar a máquina de lavar roupa quando esta deu defeito. Novamente, nenhum contratempo.
Quando voltei ao Brasil, fiquei em Recife por um prazo curto, de alguns meses. Aluguei um flat de frente para a praia. Foi a melhor vista que já tive da janela do meu quarto. Mesmo deitado na cama dava para ver o mar. Nesse imóvel, as facilidades eram ainda maiores. Tinha arrumadeira, lavanderia e café da manhã disponível.
Tudo isso muito mais barato do que a prestação de um imóvel equivalente.
O “meu” quarto de melhor visão da minha vida
Após Recife fui morar no interior do Maranhão, no final de 2004. Aluguei por um preço muito baixo um sobrado com 230m2 construídos, piscina e sauna, no centro da cidade. Resolvi tudo em menos de dois dias. Imagine se eu cismasse que queria uma casa própria?
Após quase dois anos, a empresa convocou-me para um projeto onde eu ficaria visitando várias unidades do grupo. Ou seja, não teria uma moradia fixa. A empresa bancaria os hotéis e eu ficaria de lá para cá, acumulando milhagens no cartão vermelho da TAM. Fiquei mais de um ano nessa toada. É claro, como eu tinha alugado, ficou muito fácil entregar a casa e sair tranquilo nessa zoeira…
Voltei em seguida para o Maranhão, mas coloquei para mim mesmo que seria por pouco tempo. Preferi ficar nesse caso, em um pequeno apartamento recém-construído, também perto do centro. Acertei um contrato de apenas seis meses, mas acabei ficando por quase um ano.
O aluguel nos permite tais liberdades. E como disse anteriormente, se você for um bom cliente, consegue muitas benesses. O proprietário era um velhinho meio ranzinza, mas muito cordial.
Em 2008 voltei para Itu, em São Paulo e usei a maior parte do meu FGTS para comprar um apartamento na cidade. Mas sabia que iria vendê-lo logo, pois já estava planejando pedir demissão da empresa e voltar para Campinas. Além disso, o mercado imobiliário estava valorizando, além da conta, os imóveis.
Em 2010, me demiti. Como havia uma pessoa interessada em alugar meu apartamento, fiz um contrato de um ano e fui morar em Campinas, alugando um apartamento ao lado da avenida mais bonita da cidade (popularmente conhecida como Norte-Sul).
Com mais tempo, estudei com calma a melhor forma de vender o imóvel de Itu e isso ocorreu pouco mais de um ano depois, em meados de 2011.
Investi tudo em fundos imobiliários, ao invés de comprar outro imóvel. Afinal, além de querer paz e tranquilidade eu já sabia que a bolha imobiliária ia estourar logo logo…
Abaixo mostro a valorização de um dos fundos imobiliários que comprei – o FCFL11. Esse gráfico mostra apenas a valorização do ativo. Não mostra os rendimentos mensais de aluguéis, que já pagou o equivalente ao que investi nos papéis em 2011. E olha que ele não é um dos que mais pagam rendimentos…
Gráfico histórico do fundo imobiliário FCFL11
Em 2012 bateu vontade de viajar. Uma viagem um pouco mais longa do que eu normalmente fazia. E como eu havia escolhido alugar um imóvel, tudo ficou mais fácil. Devolvi o apartamento e toda a grana que eu gastava em aluguel, condomínio, energia elétrica, TV a cabo, internet, faxineira, etc foi para o financiamento da viagem. E adivinha?
Fiquei 205 dias fora, viajando pela Europa e Ásia e
gastei menos do que gastaria se ficasse no Brasil. Sim, você leu direito.
Se eu estivesse pagando prestação de imóvel financiado isso seria impossível. Não posso pedir para “parar” de pagar. Além disso, o apartamento ficaria lá, sem gerar lucro algum, demandando pagamentos de condomínio e as tarifas básicas de utilidades. Sem contar o pó que ia acumular quando eu voltar…
Caso tenha interesse em ver as
postagens dessa viagem, o índice está aqui.
Quando voltei, em 2013, aluguei um apartamento próximo à Unicamp. Ela era novinho, fui o primeiro morador. Mas não gostei muito dele em função de espaço e vizinhos, mas ele me convinha pela localização por motivos pessoais. Assim que deixou de convir, mudei para o apartamento que estou até hoje, também de aluguel.
Novamente, escolhi um apartamento cuja construtora tinha acabado de entregar. Sou o primeiro morador. Estou satisfeitíssimo no local atual. Pago o equivalente a 0,3% do valor do apartamento por mês. E o rendimento médio real nos últimos dois anos do meu patrimônio ultrapassa facilmente o dobro desse valor. Mas se um dia resolver sair, o leitor já sabe: é tudo muito fácil. Nada me prende aqui.
Conclusão e palavras finais
É esse tipo de liberdade que me dá
paz e tranquilidade. Essa liberdade de não estar preso a algo, mesmo sendo a sua tão sonhada e querida casa própria, não pode ser medida. É um conceito que pode ser extrapolado de diversas maneiras, inclusive pelo
minimalismo.
Liberdade para
morar onde quiser quando bater uma vontade de sentir novos ares.
Liberdade de entregar as chaves e sair pelo mundo,
sem preocupações de ter deixado algo para trás.
Liberdade de
livrar-se de problemas estruturais, vizinhos chatos, ruídos incômodos que não estavam lá quando você se mudou.
Liberdade de não ter a
carga emocional de deixar para trás sua casa própria, que você não quer mais mas sacrificou-se tanto para conseguir.
Reconheço que essa forma de vida é compatível com pessoas que sabem cuidar bem da sua vida financeira. Prestações de casa própria podem ser a única forma de algumas pessoas pouparem algum dinheiro. Mas elas precisam estar cientes que perdem muito apostando nessa alternativa.
Será que não é mais interessante adquirir a sabedoria financeira e fazer as coisas do melhor jeito para elas? Conselho: comece fazendo um bom orçamento.
Leia o essencial do orçamento e fluxo de caixa e baixe uma planilha para seu controle.
DISSERTEM TETAS