Não, tinha muita briga também. E os dois principais videogames daquela época eram bem diferentes. O conceito de multiplataforma só estava surgindo, eram consoles que tinham gametecas imensas de exclusivos e diferenciadas.
Mas o que você se refere é outra coisa. É uma discussão deslocada no tempo, que vai envolver pessoas mais maduras, que enxergam as coisas já de uma certa distância. É diferente de quando discutimos o presente, as emoções afloram.
Por outro lado, videogame, como qualquer coisa cultural, envolve gosto. As pessoas tem gostos diferentes. Eu particularmente nunca engoli essa de que tem que haver um consenso de que tal jogo é bom e todo mundo tem que engolir descendo à goela. Há uma falsa impressão de cara amistoso que gosta de jogar de tudo e está aberto ao que der e vier "desde que seja bom". O que tem que haver é respeito e não essa obrigação de jogar de tudo.
As gametecas do Super Nintendo e do Mega Drive foram tão diferenciadas que alguém que teve um dos consoles em sua infância e formou o seu gosto por uma delas e se afeiçoou tão intensamente por uma delas, acaba não vendo sentido na outra. Porque não encontra aquilo que essas pessoas conceberam como deve ser um videogame, como deve ser os jogos, o que é importante ter nele para ser bom. Uma pessoa que amou o Super Nintendo fica sentindo uma falta no Mega Drive, e uma pessoa que amou o Mega Drive, fica sentindo uma falta no Super Nintendo. Não é que um é melhor que o outro, apenas diferentes.
E se você pegar o exemplo de The Last of Us, isso fica mais claro. A maneira como as pessoas se posicionam a respeito desse game diz muito respeito a maneira como elas concebem o videogame. Depende muito do que cada um gosta em um videogame. O máximo que se discute é se um videogame é capaz de atingir essa meta, de satisfazer um determinado gosto, de conseguir atiçar as emoções que um determinado gamer espera sentir ao jogar um videogame. Pra muita gente, The Last of Us cumpriu muito bem esse papel. Para outros, chegou muito longe disso, ou então, não são essas emoções que essas pessoas procuram, mas outras.
Quando o tempo passa as pessoas reconhecem isso. E aí passa a existir mais respeito. Pessoalmente eu tentei gostar do Mega Drive, joguei vários jogos, joguei Sonic na minha infância sem ter tido um Mega Drive, porque também foi lançado para PC o Sonic 3 e o Sonic CD. Voltei a jogar mais tarde em emuladores, comprei o Sonic Mania e joguei mais um tanto. Mas pra mim nunca desceu, ou ao menos, nunca foi como o que senti jogando Mario ou Donkey Kong. Crash é outro jogo que não curti. Isso é sintoma de apenas uma coisa, gosto. Meu gosto é assim, o de outros é diferente. E eu sei que quando uma pessoa diz que Sonic é o seu jogo favorito, eu sei que ela está sendo sincera e que ela realmente encontra algo de gratificante na experiência de jogá-lo. Então pra que brigar por isso? chamar as outras pessoas de burras, deslegitima-las, falar que elas não entendem de videogame e isso e aquilo? Ficar acreditando que um argumento, em forma de texto, uma teoria, vai mudar a experiência prática que elas tem com aquele referido videogame. Sabe quando você um filme, e não o entende, e ao acabar de ver o filme, você sente que não gostou dele? E daí você procura uma explicação, alguém te fala sobre o que se trata o filme, da sua mensagem, você a compreende, e continua mesmo assim não gostando? Porque a magia está ali na hora de ver o filme. Com videogame é a mesma coisa, a pessoa tem que sentir o prazer enquanto está jogando. Porque o resumo, explicação do filme, resenha etc, é o resumo, explicação do filme, resenha etc, e o filme é o filme. O filme é aquela mensagem encapsulada naquela forma audiovisual, é como comer ovo e tomar albumina, o conteúdo é o mesmo, mas a forma faz toda a diferença. E os nossos gostos são por formas. Quando entramos em contato com as formas os nossos corpos são afetados. Ou seja, se trata de afetos. E afetos não são coisas que estão ali impressas nos objetos, mas são relações que se dão entre nós e esses objetos. E por isso que não são objetivos.