Uma conversa entre Adolf Hitler e Carl Mannerheim
A impressionante história da única gravação de áudio conhecida a capturar a voz do Führer em tom de conversa.
Em 4 de junho de 1942 comemorou-se o aniversário de 75 anos do Marechal-de-Campo finlandês Carl Gustav Emil Mannerheim. Adolf Hitler aproveitou a ocasião para voar a Helsinki e encontrá-lo pessoalmente para discutir o andamento da guerra na Rússia. Alemanha e Finlândia, embora sem uma aliança formal, tinham desenvolvido um bom relacionamento e eram “co-beligerantes” na luta contra a União Soviética. Tinham boas relações desde a Primeira Grande Guerra, após os alemães terem cedido treinamento militar e suprimentos. Ambos nutriam um profundo ódio pelo comunismo, o que era muito interessante, pois tinham sistemas políticos bastante diferentes. A Alemanha era mundialmente conhecida pelo nazismo (socialista), com Hitler como ditador, e a Finlândia era uma república que elegia presidentes desde 1918. Mannerheim havia começado sua reputação como o principal general do país em 1918, quando liderou os finlandeses contra os comunistas na Guerra Civil que resultou na independência da Finlândia. Ele foi novamente seu comandante supremo na guerra Russo-Finlandesa (ou Guerra de Inverno) de 1939-1940, e agora na Guerra de Continuação ao lado dos alemães contra a URSS.
A este ponto da guerra contra os soviéticos, ambos os exércitos finlandês e alemão se encontravam num impasse, já que seguravam Leningrado em suas garras, sem poder esmagá-la. O cerco já estava em seu décimo mês, já que os soviéticos continuavam a suprir a cidade pelo lago Ladoga e construir mais defesas. Já que era a terceira guerra dos finlandeses contra a União Soviética, o entusiasmo da população começou a declinar enquanto as baixas aumentavam e nenhum avanço decisivo era conseguido.
A Alemanha tinha agora a pressão extra dos Estados Unidos da América na guerra contra ela; a Finlândia não tinha, já que só estava em guerra contra a URSS. Ao mesmo tempo Hitler não oferecia ao país nenhum novo tratado militar ou acordos, somente promessas de novas ofensivas. Dados todos esses eventos, era muito incomum que Hitler fosse a algum outro país para visitar seu líder. Normalmente, esses líderes eram convocados a Berlim como convidados pessoais do Führer. Sua estratégia era provavelmente mostrar ao mundo que ele considerava a Finlândia como um importante aliado, e o mais importante de tudo, mostrar que ambos os países continuavam lado-a-lado. Isso foi devido ao desapontamento da Barbarossa em conseguir nocautear a Rússia fora da guerra.
Ainda assim, esse encontro de 4 de junho teria permanecido como apenas uma nota de rodapé na imensa história do Front Leste, não fosse por um incidente, em que 11 minutos de conversa particular foram acidentalmente gravados por um engenheiro de rádio finlandês. Ele estava a postos para registrar comentários oficiais para a imprensa, e sem perceber deixou seu gravador ligado. O resultado sobreviveu à história dentro dos arquivos finlandeses até ser recentemente liberado para uso pelos historiadores. Trata-se da única gravação conhecida que registra a voz de Adolf Hitler em tom de conversa.
Essa gravação consiste primariamente num monólogo de Hitler, embora o presidente finlandês Ryte e o Marechal-de-Campo Wilhelm Keitel estivessem juntos na sala com o Marechal Mannerheim. A fala de Hitler não é interessante somente pelas informações sobre as quais ele discorre, mas pelo jeito que ele apresenta suas decisões na véspera de sua ordem para rumar sul rumo aos poços de petróleo do Cáucaso. Ainda mais fascinante é franqueza de Hitler quanto aos seus próprios erros de julgamento ao atacar a União Soviética, as falhas de seu país e como aquilo tudo partiu diretamente dele...
A gravação segue transcrita abaixo, da forma como foi originalmente gravada, sem edições. Inicia-se no meio de uma fala de Hitler:
Hitler: ...é um perigo muito sério, talvez o mais sério deles – toda a sua extensão nós só agora podemos julgar. Nós não entendíamos o quão esse estado [a União Soviética] era armado.
Mannerheim: Não, nós não pensamos nisso.
Hitler: Não, eu também, não.
Mannerheim: Durante a Guerra de Inverno – durante a Guerra de Inverno nós também não pensamos nisso. É claro...
Hitler: (Interrompendo) Sim.
Mannerheim: Mas então, como eles – na realidade – e agora não há dúvidas de tudo o que eles tinham – o que eles tinham em seus estoques!
Hitler: Absolutamente, isto é – eles tinham o mais imenso armamento que, uh, alguém poderia imaginar. Bem – se alguém tivesse me dito que um país – com...(Hitler é interrompido pelo som de uma porta se abrindo e fechando) Se alguém tivesse me dito que uma nação podia começar com 35.000 tanques, eu teria dito: “Você é louco!”
Mannerheim: Trinta e cinco?
Hitler: Trinta e cinco mil tanques.
Outra voz no fundo: Trinta e cinco mil! Sim!
Hitler: Nós já destruímos – agora – mais de 34.000 tanques. Se alguém tivesse me dito isso, eu teria dito: “Você!” Se algum dos meus generais tivesse dito que alguma nação tinha 35.000 tanques, eu teria dito: “Você, meu bom senhor, você vê tudo duplicado ou multiplicado por dez. Você é louco, você vê fantasmas.” Eu não teria acreditado nisso. Eu já lhe disse antes que nós encontramos fábricas, uma delas em Kramatorskaja, por exemplo, que há dois anos atrás tinham apenas duas centenas [de tanques]. Nós não sabíamos de nada. Hoje, lá existe uma fábrica de tanques, onde – durante o primeiro turno um pouco mais de 30.000, e durante o dia todo um pouco mais de 60.000 operários trabalham – uma única fábrica de tanques! Uma fábrica gigantesca! Massas de trabalhadores que certamente, vivem como animais e...
Outra voz no fundo: (Interrompendo) Na área do Donets?
Hitler: Na área do Donets. (Ruídos no fundo de apanhar de xícaras e pratos sobre uma mesa)
Mannerheim: Bem, se você pensar que eles tiveram quase 20 anos, quase 25 anos de – liberdade para se armarem...
Hitler: (Interrompendo quietamente) Foi inacreditável.
Mannerheim: E tudo – tudo gasto em armamento.
Hitler: Somente em armamento.
Mannerheim: Somente em armamento!
Hitler: (Tosse) Somente – bem, é – como disse ao seu presidente [Ryte] antes – eu não tinha idéia daquilo. Se eu tivesse idéia – então seria ainda mais difícil pra mim, mas eu teria tomado a decisão [de invadir] de qualquer forma, porque – não havia outra saída. Era – certo, já no inverno de 39/40, que a guerra tinha que começar. Eu tinha somente esse pesadelo – mas ainda tem mais! Porque uma guerra em duas frentes – teria sido impossível – teria nos destruído. Hoje, nós vemos mais claramente – do que nós vimos naquela época – que teria nos destruído. E toda minha – eu originalmente queria – já no outono de 39 eu queria conduzir uma campanha no oeste – mas o contínuo mau tempo que experimentamos nos deteve.
Todo o nosso armamento – você sabe, era – puramente armamento de bom tempo. É bastante capaz, muito bom, mas infelizmente apenas armamento de bom tempo. Nós vimos isso na guerra. Nossas armas foram naturalmente feitas para o oeste, e todos nós pensamos, e isso era verdade naquela época, uh, era a opinião dos primeiros tempos: não se pode conduzir uma guerra no inverno. E nós também, temos, os tanques alemães, eles não eram testados, por exemplo, para prepará-los para uma guerra de inverno. Ao invés disso conduzimos testes para provar que era impossível conduzir guerra no inverno. Era um ponto de vista diferente [dos soviéticos]. No outono de 1939 nós sempre enfrentávamos a questão. Eu queria desesperadamente atacar, e acreditava firmemente que podíamos vencer a França em seis semanas.
No entanto, enfrentamos a questão de se podíamos sequer nos mover – chovia continuamente. E eu conheço o terreno francês muito bem, eu também não podia ignorar as opiniões, de muitos dos meus generais que, nós – provavelmente – não teríamos o élan, que nossos tanques não seriam eficientes, que nossa força aérea não seria eficiente dos nossos aeródromos por causa da chuva.
Eu conheço o norte da França. Você sabe, eu servi na Grande Guerra por quatro anos. E – o atraso ocorreu. Se eu tivesse eliminado a França em 39, então a história do mundo seria outra. Mas eu tive de esperar até 1940, e infelizmente não foi possível antes de maio. Somente em 10 de maio houve o primeiro bom dia – e em 10 de maio eu imediatamente ataquei. Eu dei a ordem de atacar no dia 10 no dia 8. E – então tivemos que, conduzir essa enorme transferência de nossas divisões do oeste para o leste.
Primeiramente a ocupação da – então tivemos a tarefa na Noruega – ao mesmo tempo que enfrentamos – eu posso francamente dizer hoje – um grande infortúnio – a fraqueza da Itália. Por causa disso – primeiramente a situação no Norte da África, depois, em segundo, por causa da situação na Albânia e na Grécia – um grande infortúnio. Nós tivemos que ajudar. Isso significou para nós, com um pequeno estoque, primeiro – a divisão de nossa força aérea, a divisão de nossos tanques, enquanto ao mesmo tempo preparávamos, os, tanques para o leste. Tivemos que abrir mão – de uma só vez – de duas divisões, duas divisões inteiras às que se juntou uma terceira – e tivemos que repor continuamente, severas perdas lá. Foi – uma luta sangrenta no deserto.
Tudo isso era inevitável, como você vê. Tive uma conversa com Molotov [ministro soviético] naquele tempo, ficou absolutamente claro que Molotov partiu com a decisão de começar a guerra, e eu ignorei a possibilidade de começar a guerra, e eu o deixei com a decisão de – impossível, agradá-lo. Havia – era a única – por causa das demandas que aquele homem trouxe que eram objetivadas a dominar, no fim a Europa. (Praticamente sussurrando agora) Então tive que – não politicamente... (termina)
Já no outono de 1940 nós continuamente enfrentávamos a questão, uh: devemos, considerar um rompimento [nas relações com a URSS]? Naquele tempo, eu alertei o governo finlandês que – negociar e, ganhar tempo e, agir lentamente nesse caso – porque sempre temi – que a Rússia pudesse atacar a Romênia no fim do outono – e ocupar os poços de petróleo, e nós não estávamos prontos no fim do outono de 1940. Se a Rússia de fato tomasse os poços de petróleo romenos, então a Alemanha estaria perdida. Seria preciso – somente 60 divisões russas para assegurar a missão.
Na Romênia nós tínhamos – naquela época – nenhuma grande unidade. O governo romeno somente se virou para nós recentemente – e o que tínhamos lá era ridículo. Eles só tinham que ocupar os poços de petróleo. Claro, com nossas armas eu não poderia iniciar uma guerra em setembro ou outubro. Isso estava fora de questão. Naturalmente, a transferência para o leste ainda não estava muito adiantada. Claro, as unidades antes tinham que consolidar o oeste. Primeiramente os armamentos tiveram que ser repostos porque também tivemos – sim, também tivemos perdas em nossa campanha no oeste. Seria impossível atacar – antes da primavera de 1941. E se os russo tivessem naquele tempo – no outono de 1940 – ocupado a Romênia – tomado os poços de petróleo, então estaríamos perdidos em 1941.
Outra voz no fundo: Sem petróleo...
Hitler: (Interrompendo) Nós tínhamos uma enorme produção alemã: no entanto, as demandas de nossa força aérea, de nossas divisões panzer – são realmente imensas. Seu nível de consumo está além da imaginação. E sem a adição de quatro a cinco milhões de toneladas de petróleo romeno, não poderíamos lutar a guerra – e teríamos que deixar acontecer – o que era minha grande preocupação. Então eu queria ampliar o período de negociações até que estivéssemos fortes o suficiente para, enfrentar aquelas demandas extorsivas [de Moscou] porque – aquelas demandas eram simplesmente extorções cruas. Eram extorções. Os russos sabiam que estávamos presos no oeste. Podiam extorquir tudo de nós. Somente quando Molotov me visitou – então – eu lhe disse francamente que suas demandas, suas numerosas demandas, não eram aceitáveis para nós. Com isso as negociações chegaram a um fim abrupto naquela mesma manhã.
Haviam quatro tópicos. O único tópico que, envolvia a Finlândia era, a liberdade de se protegerem contra a ameaça finlandesa, ele disse. [Eu disse] “Você não quer me dizer que a Finlândia te ameaça!” mas ele disse: “Na Finlândia estão – aqueles que tomam ações contra os amigos da União Soviética. Eles iriam [tomar ações] contra nossa sociedade, contra nós – eles iriam continuamente, nos perseguir e, um grande poder não pode ser ameaçado por uma pequena nação.”
Eu disse: “Sua existência não é ameaçada pela Finlândia! Isto é, você quer me dizer...”
Mannerheim: (Interrompendo) Ridículo!
Hitler: “...que sua existência é ameaçada pela Finlândia?” “Bem [Molotov disse] há uma ameaça moral feita contra um grande poder”, e o que a Finlândia estava fazendo, era uma ameaça moral à existência deles. Então eu lhe disse que não aceitaríamos mais uma guerra báltica como espectadores passivos. Em resposta ele me perguntou como víamos nossa posição na, Romênia. Você sabe, demos a eles [os romenos] uma garantia. [Molotov perguntou] “Essa garantia se estendia também contra a Rússia?” E na hora lhe disse: “Eu não acho que é direcionada a você, porque eu não acho que você tem intenções de atacar a Romênia. Você sempre disse que a Bessarábia era sua, mas você – nunca disse que queria atacar a Romênia!”
“Sim”, ele me disse, mas ele queria saber mais precisamente se essa garantia...(Uma porta se abre e a gravação termina).
(O arquivo de áudio da conversa encontra-se disponível para download em:
http://www.megaupload.com/?d=C8WL53S2)
Fonte deste artigo: Tradução livre de Júlio César Guedes Antunes do áudio da rádio finlandesa YLE