Mulatos, as mulas raciais.
Gente, peço desculpas, minha postagem de "daqui 10 minutos" se tornou uma pesquisa de quase uma hora, seguida de dois textos que odeiei já no fim.
Então, talvez dessa vez saia algo legal, senão deixa pra lá.
Anteriormente, neste mesmo tópico, expliquei como uma "verdade" que vale para os EUA foi transportada aqui mesmo para o Brasil por descerebrados que reclamam que todo mundo (menos eles) copiam suas ideias dos EUA.
No caso dessa mentira, ela é tão facilmente desmentida, que não parece que muita gente com mais de dois neurônios a leva a sério.
Mas não devemos nos enganar, a tese/certeza de que
negro é ofensivo e que o certo é chamar as pessoas de
pretas é uma das famosas mentiras que, repetidas mil vezes, se tornam uma verdade. Já em 2000 eu via gente repetindo essa ideia na universidade, já em 2010 tinha gente propagando ela no YouTube e já em 2020 um BBB negro, que nunca pisou numa universidade, estava repetindo ela como se fosse verdade. Mais 10 anos e as pessoas, com preguiça de pesquisar vão achar que é verdade e se você apresentar dados e fatos, vão ignorar e dizer que
negro é ofensivo.
Até porque,
mulato é o mais puro exemplo de que uma mentira repetida mil vezes se torna uma verdade.
Antes de mais nada uma série de pequenas informações, que espero abram sua mente para alguns conceitos.
=>
Piada homofóbica ou de costumes?
"Sabe a diferença entre homossexual e b*ch*?
Homossexual é quando é o seu filho, b*ch* é quando é o filho do vizinho"
Uma coisa bem interessante sobre essa piada, se é que é uma piada, é que ela não é homofóbica, como um mimimista pensaria, afinal se tem gay e tem b*ch*, é homofobia, diriam eles. Mas pelo contrário, é uma ironia do comportamento humano.
Quantas pessoas você não conhece que "O nosso é bom, o deles é ruim" é um modo de pensar?
Você pode pegar aqui na OS mesmo, o usuário quase baba de raiva quando você diz que a ditadura militar foi um mal menor, mas dois tópicos depois está defendendo a ditadura do proletariado e dizendo que Stalin matou foi pouco (levei uma warn ao comentar essa frase uns anos atrás).
Não é só esquerdista. O mesmo bolsonarista que acha inaceitável os roubos de Lula, defende que o Flávio Bolsonaro é perseguido injustamente (eu quero é que ele seja investigado e, se for culpado seja preso, se for culpado) e é a mesma coisa, "nosso suspeito sem julgamento é suspeito, o suspeito de vocês, sem julgamento, é culpado) [sou bolsominion, usei o exemplo pra mostrar que esse comportamento independe de ideologia].
Peço que guarde esse pensamento, "O filho dos outros pode ser b*ch*, mas o nosso, não, é homossexual". Não tem nada a ver com raça negra ou mulatos, mas você vai entender mais pra frente.
=> Palavras e nomes mudam.
Muitos anos atrás, foi com enorme surpresa que descobri que Jacó e Tiago são o mesmo nome.
Como, não sabia?
No original, Yaakov, virou Jacob, que virou Jacó mas também Iacó, que virou Tiago (ligado a Santo Iago, Santiago - San).
Sabia que Tiago e James são o mesmo nome?
James vem de Yaakov, que virou Giacobo, que virou Jacomo, que virou Jammo e que, finalmente, virou James.
Você tem que pensar que do sotaque hebreu, os nomes passaram para o sotaque grego (de um lado), romano (de outro) ou qualquer outro. E desse sotaque, o nome passou para outros povos que também tinham seus sotaques. E, por milhares de anos.
Se você pegar Guilherme e William, vai se chocar ao saber que são o mesmo nome, seguindo a mesma lógica.
Aliás, não só nomes. Você sabia que enxaqueca vem do árabe ax-xaquica. Tipo, se eu só te falasse ax-xaquica, sem citar enxaqueca, você dificilmente imaginaria que são a mesma palavra, mudada ao passar do árabe ao português.
Se possível, também guarde esse pensamento "Palavras mudam de pronúncia, algumas até de forma que mal se pode imaginar seu significado original".
Guardou? Vamos voltar a ele em breve.
=> Espanha e Portugal foram dominados pelos árabes por cerca de 700 anos.
Não foi por acaso que citei ax-xaquica, pois entre os anos 700 e 1400 a península Ibérica esteve sob domínio islâmico, quando incontáveis palavras passaram a entrar no vocabulário ibérico.
Quando os invasores foram expulsos, deixaram não só uns netos mais morenos (tanto que muitos gringos consideram portugueses menos brancos que outros) quanto várias obras de arquitetura, comidas típicas e palavras. Como enxaqueca, fulano, xaveco, álcool, alcachofra...
=> Agora, vamos dividir esquerdistas de direitistas.
Você consegue juntar todos esses elementos?
Não,
ainda não, falta um último elemento chave, mas vamos deixar pra daqui a pouco, primeiro, me siga na junção dos elementos.
Primeiro, vamos falar mal (mais?) dos esquerdistas. Não de todos, mas daqueles mais inteligentes, cheios de argumentos e que te mandam estudar porque estão repetindo (sem estudar) o que um
intelectual diz que é.
A esquerda tem esse hábito de tratar as pessoas como robozinhos. Elas crêem que se elas acham que as pessoas eram X, elas vão agir de forma X, muitas vezes baseadas apenas no "eu quero que seja assim" e pronto.
A palavra mulato vem de mula, porque portugueses e espanhóis achavam que os filhos de brancos com negros, muitas vezes filhos se estupros, eram vistos como animais.
Sabe onde isso acontecia? Nos EUA malvadões (que são a fonte de história deles). Não é que espanhóis e portugueses fossem senhores de escravos bons, que não houvessem estupros, mas você não chega a ter mais pardos do que brancos num país com todos eles sendo vítimas de estupro, certo?
Da mesma forma, nem todo português que vinha ao Brasil era um poderoso senhor de engenho. Havia capatazes, serventes, todo tipo de funcionário e trabalhador português que vinha para cá. E não havia tantas mulheres brancas disponíveis (e essas, via de regra, prefeririam os brancos ricos) que quer por amor, quer por poder da força, escolhiam índias e negras como companheiras e, destas relações nasciam filhos que não eram, todos, desprezados como animais.
Pelo contrário, por mais que tentem esconder esse passado, filhos negros de senhores de escravos tanto podiam viver entre os senhores como seus filhos e filhas eram agregados e, em não poucos casos, eram tratados como filhos.
Porque eram filhos.
E você chamaria seus filhos de cavalos, burros ou mulos? Não né.
É aquele lance que eu comentei antes do filho b*ch* e filho homossexual.
Brancos portugueses chamarem filhos de índios e negros de algum nome idiota? Faz todo o sentido. Brancos chamarem filhos de negros e orientais de algum nome idiota? Faz sentido. Filhos de índios com orientais receberem nmes idiotas? Faz sentido. Mas chamarem os próprios filhos de um nome idiota?
Tem que ser muito idiota ou ter uma opinião muito ruim sobre os brancos.
Então, assim como tem idiota que quer problematizar e procura, procura e procura até achar que nigro em grego quer dizer inimigo e, com isso, prova que Negro é ofensivo (ô gente pra adorar ser ofendido, é masoquismo que chama?) mesmo que palavra Negro venha do latim e não do grego.
O fato de parecerem iguais e servir para a narrativa, faz com que possam repetir no Brasil o argumento dos negros americanos. E, como país colonizado, vira verdade, mesmo que não faça sentido real, né?
Finalmente, os árabes dominaram a península Ibérica, de onde vieram portugueses e espanhóis, que pegaram várias palavras de seu vocabulário do árabe. Papagaio era babaga, por exemplo.
E eis que, em árabe,
mullawad significa literalmente
filho de árabe com não árabe e, na península Ibérica, tambem o cristão que se convertia ao islamismo
[1].
Ou seja, mullawad passou para o português/espanhol e, como várias palavras, sofreu algumas alterações.
Algum inteligente problematizador gringo foi procurar as origens da palavra mullato (em inglês mesmo) e não achou que mullawad tinha a ver. Mas quando leu "mula is the same as mule" e "
A mule is the offspring of a male donkey (jack) and a female horse (mare)." deu trigger!
Oh, my god! Mullato ia an offensive term! The horrible white slavers called mula their sons! This word must be prohibited!"
Pois é, aí você repete essa mentira por 10, 20, 30 anos e - surpresa - ela vira verdade. Uma pessoa que ouviu essa mentira escreve um livro falando dela. Outra pessoa lê o livro e escreve outro livro. Logo, você tem 20 livros falando que "é verdade!" e se referenciando um no outro, mas sem uma prova inconteste.
Ou seja, o tópico todo é só mais mimimi/mentira para justificar mimimi.