"Não quero pôr uma criança pra sofrer nesse mundo doente". Conversa fiada! Para quem usa isso como justificativa, seja homem e admita que você não quer gastar seu tempo, disposição, dinheiro, o que for, com outra pessoa! Nunca - nunca! - houve um mundo tão seguro e favorável às crianças.
No meu caso nunca quis filhos e deixava isso claro para minhas namoradas e, posteriormente, esposa. E isso quase acabou com o meu casamento. É falta de caráter dar esperanças às mulheres que querem ter filhos e estão se relacionando de forma séria com um homem que não quer ser pai. Minha esposa sabia disso desde o início, mas na cabeça dela, eu mudaria. E... mudei. Mas não havia qualquer garantia.
Por que não queria filhos? Muito por imaturidade e vã expectativa de controlar tudo na minha vida. Sempre gostei muito de crianças, amo meus sobrinhos, mas vendo as angústias e dificuldades da criação de uma criança, doenças, acidentes, eu me achava incapaz de lidar com isso, com o que não podia controlar. E realmente era incapaz.
Minha esposa, anos após nos casarmos, foi diagnosticada como infértil por três especialistas em fertilidade humana. Tanto que deixamos de usar qualquer método contraceptivo. Até que, 8 anos depois, pelos meios que a biologia encontra para garantir a reprodução da espécie, ela engravidou naturalmente. Para agravar tudo, eu havia acabado de perder 5/6 da minha renda, por uma aposta profissional que ainda era só isso: uma aposta.
Não foi fácil. Arrumei outro emprego, trabalhava das 8:00 às 22:30. Mas seguramos a barra. A gravidez e os primeiros anos do meu filho foram uma fase de encantamento e afirmo sem dúvidas que foi com ele que descobri o que é a minha manifestação máxima do amor por alguém. E há um amor mais forte ainda, que é o amor da minha esposa por ele.
Custa caro. Muito caro. Financeiramente, emocionalmente, profissionalmente. Como tudo na vida, exige e exige muito. Se você é egoísta, odeia compartilhar, não é para você. Mesmo. Seja honesto consigo mesmo, com a parceira, e todos ficarão melhor assim. Houve (e há) imprevistos que quase me enlouqueceram, como quando ele precisou ser internado com pouco mais de 2 anos e não havia leitos pediátricos disponíveis (e que ocasionou o desenvolvimento de distúrbios de ansiedade em mim).
Há outros possíveis problemas que devem ser levados a sério. Síndromes, más-formações, erros médicos. Essa conversinha de parto em casa, com doula, me deixa louco. Quando fomos decidir qual tipo de parto seria para nosso filho, optamos pela cesariana. Estatisticamente é o mais seguro para mãe e bebê. É o que os obstetras fazem com as próprias esposas. Planeje. Estude. Ainda assim, muita coisa sairá do controle.
Entrando em clichês verdadeiros, meu filho se tornou a coisa mais importante da minha vida. Mas tive que fazer escolhas que foram boas para ele, ruins para mim. Atualmente ele tem 11 anos, está começando a se tornar um adolescente chato e ainda tem indícios de autismo leve (tivemos que interromper o diagnóstico por causa da pandemia). Envelheci, perdi oportunidades profissionais, mas por escolha minha em estar mais com ele que trabalhando. Só pensem bem, antes de se decidirem. Valeu a pena? Para mim, sim. Me arrependo de não ter mais um.