Fábio Ostermann: ‘’É difícil construir uma força liberal em um país tão atrasado como o Brasil’’.
Fábio Ostermann, deputado estadual eleito pelo Partido Novo, com 48.897 votos, nasceu em Porto Alegre e tem 34 anos. É formado em Direito pela UFRGS e mestre em Ciência Política pela PUCRS. Também foi um dos fundadores do MBL, movimento político que reúne hoje mais de 6,2 milhões de seguidores em suas redes sociais. Na entrevista, nos conta sobre suas aspirações políticas para os próximos anos, e as dificuldades e desafios de um parlamentar liberal na Assembleia Legislativa e no contexto político atual.
Leonardo Moura
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Nov 22, 2018 · 11 min read
Fábio Ostermann em entrevista realizada no dia 14/11/2018 na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul — Foto: Leonardo Moura/Arquivo pessoal.
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Leonardo Moura
Em uma quarta feira de tempo nublado em Porto Alegre, me encontro com Fábio Ostermann para uma conversa no café da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul. O recém-eleito deputado estadual logo que chega já me pede desculpas pelas mais de duas remarcações de horário para nossa entrevista. Acontece que Fábio ainda está se acostumando com a lotada agenda de um político eleito. No mesmo dia, já havia feito uma reunião e logo após nossa conversa iria ‘’voando’’ para a Câmara Municipal tentar barrar um projeto de aumento do IPTU.
Foi durante as manifestações pró-impeachmant de 2015, que o deputado começou a ganhar notoriedade junto com outros coordenadores do MBL. Ostermann deixou o MBL no fim de 2015, por conta de diversos desgastes internos que estava tendo e por discordar de alguns posicionamentos do movimento. Diz hoje não acompanhar e nem ter mais contato com ninguém do Movimento Brasil Livre. Também acha que atualmente o mesmo está muito mais focado em se pautar pelo antipetismo e antiesquerdismo, do que pela defesa de ideias liberais.
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Eu tenho visto que eles (MBL) estão muito mais focados em se pautar pelo antipetismo e antiesquerdismo, do que pela defesa de ideias liberais. A minha ideia quando fundei o MBL, era que ele fosse um movimento de vanguarda liberal que conectasse a população com pautas liberalizantes, que pudéssemos avançar rumo a um país mais livre, não necessariamente um país sem esquerda’’, comenta o deputado.
No início de 2016 fundou o LIVRES, uma corrente interna dentro do PSL que buscava resgatar os valores liberais presentes na fundação da sigla. Nesta época, foi o Presidente Estadual do partido no Rio Grande do Sul e disputou a prefeitura de Porto Alegre, ficando em sexto lugar, com 7.054 votos.
Em janeiro de 2018, Ostermann saiu do PSL juntamente com o LIVRES, que agora segue como um movimento civil e suprapartidário, no qual o deputado é um dos principais representantes. O motivo de sua saída do PSL foi devido à filiação de Jair Bolsonaro ao partido. Fábio alega incompatibilidade com boa parte das visões políticas de Bolsonaro.
Logo após sair do PSL, se filiou ao NOVO, partido do qual foi um dos percursores em sua organização no Rio Grande do Sul. Foi pelo Partido Novo que Ostermann se elegeu deputado estadual. Agora terá 4 anos de mandato para defender seus ideais liberais, buscar uma renovação de ideias e impedir que pautas estatizantes sejam aprovadas.
Segundo o recém-eleito deputado, a renovação expressiva na Assembleia foi um recado da população, que demonstra a insatisfação da sociedade em relação aos rumos que a nossa política tem tomado e a incapacidade da mesma de responder a esses rumos.
‘’Foi a maior renovação da história da Assembleia Legislativa, acho que é o prenúncio de 4 anos que vão ser bem agitados, com diversas possibilidades em relação a muitas ideias e práticas aqui implementadas’’, comenta Ostermann.
A respeito das dificuldades da Assembleia nos próximos anos, Fábio diz que a Assembleia vai estar necessariamente pautada pela atual situação fiscal do Estado, que segundo ele, é gravíssima. Sendo essa a ‘’ordem do dia ‘’. Acredita que é uma oportunidade interessante de promover um debate mais amplo a respeito da função do Estado e buscar um novo modelo, pois na sua visão, o modelo usado nas últimas décadas aqui no Rio Grande do Sul se mostrou fracassado, por ser um modelo de Estado excessivamente inchado.
Perguntado sobre o que acha da nova direita brasileira, Ostermann já começa dizendo que não se considera de direita, se considera apenas um liberal. Para ele, não é surpresa que uma grande parcela da população tenha se identificado nos últimos anos com ideias mais à direita, porém, acha que o liberalismo seja o ‘’corpo estranho’’ dessa história. Segundo o deputado, o Brasil ainda é um país muito atrasado, sendo difícil de construir uma força inteiramente liberal.
‘’A gente duela diariamente nessa tensão entre modernização e arcaísmo que vigora no Brasil, um país dominado por uma cultura política patrimonialista e regada muito em tradições’’, comenta o deputado.
Fábio Ostermann se mostra um liberal convicto e apaixonado pela ideologia que prega a liberdade individual, o igualitarismo, e o livre mercado. Cita os filósofos e economistas que foram fundamentais em sua formação acadêmica e enquanto pessoa, como Friedrich Hayek, Milton Friedman e Ludwig Von Mises. Exalta a importância do liberalismo na abolição da escravatura, no empoderamento feminino através do voto, na liberdade das mulheres de trabalhar e de construir seus próprios destinos. Afirma que o liberalismo sempre foi uma força civilizadora, no sentido de reconhecer em qualquer pessoa uma dignidade inata.
Fábio Ostermann segurando um cartaz em uma manifestação — Foto: Divulgação
Hoje, o deputado acredita que os liberais devem orientar suas atuações de formas mais conectadas com os desafios atuais. Entendendo quais os desafios em tempos de governo Bolsonaro, do qual diz não aderir apenas por acenar com pautas liberais em áreas específicas. Apesar disso, torce para que o presidente adote políticas liberalizantes e faça um bom governo. Diz que vê essa situação de forma cética e manterá seu viés crítico. Acredita que manter uma crítica construtiva e fiscalizar é algo fundamental, que todo liberal irá fazer de forma coerente e íntegra durante os próximos 4 anos.
Ao ser questionado se o Brasil tende a se tornar um país mais liberal, Fábio diz que acha difícil opinar sobre ainda. Porém, acha que se Bolsonaro tomar medidas mais liberalizantes na economia, será o grande diferencial de seu governo. Ostermann acha também que Bolsonaro deve empenhar seu capital político para fazer as reformas que considera necessárias nos próximos anos, como a reforma da previdência, e parar de gastar tempo com o que o deputado diz ser bobagem, como kit gay e ideologia de gênero, temas que o presidente eleito é veementemente contra e acabaram marcando sua campanha eleitoral.
A respeito do Escola Sem Partido, foi categórico em falar que é contra. Ostermann acredita que apesar do projeto fazer um diagnóstico adequado a respeito da doutrinação ideológica, a solução que ele apresenta é ruim e têm medidas equivocadas.
‘’Acredito que a solução para a gente resolver o problema de doutrinação é, em primeiro lugar, termos uma educação mais livre e inovadora, sem tantas amarras como temos hoje. Não só o MEC, mas também as diversas leis que regulam o funcionamento do sistema educacional no Brasil, limitam a capacidade das instituições de inovarem, e de gerarem concorrência e competição’’, diz Fábio Ostermann.
Entrevista na íntegra
Quem é o Fábio Ostermann e por que ele resolveu se candidatar a deputado estadual?
— Sou um porto alegrense e tenho 34 anos. Sou formado em direito pela UFRGS e também fiz mestrado em Ciência Política pela PUCRS. Sempre tive interesse pela política, não necessariamente a política partidária, me envolvi com ela mais afundo na criação do NOVO aqui no Estado. A partir dali, comecei a me envolver e a entender que havia espaço para construir uma política diferente. Só por isso. Porque reuniram as condições para fazer algo diferente na política, que eu realmente resolvi sair candidato. E, também, porque acredito que se as pessoas sérias, éticas e honestas, não se envolverem, a gente vai ficar preso a esse velho sistema que gera esses resultados que estamos cansados de saber.
Por que o Partido Novo?
— Porque é o único partido hoje que representa eticamente aquilo que eu defendo para a política. Uma política para o cidadão, não para o político. Uma política que tenha por objetivo tirar o poder das mãos de políticos e burocratas e devolver às pessoas. Uma política que consiga criar um mercado realmente livre, que é a única maneira por meio do qual um povo possa ser livre. Acredito que não existe um povo livre, sem mercado livre. Porque ele possibilita que cada um de nós tenha um poder, como cidadão e consumidor, ao ver a ação do governo ser limitada. Então, primeiramente, quero que a gente viva numa sociedade mais inovadora, onde haja um constante crescimento da produtividade da riqueza e da tecnologia, que é o que eu cravo que realmente irá nos libertar.
Você foi um dos fundadores do MBL. Já ouvi você falando em outras entrevistas que tem muito orgulho de ter participado desse movimento. Hoje, como você vê o MBL e, na sua opinião, qual a relevância que o movimento ainda tem no cenário político atual?
— Eu acho que o Movimento Brasil Livre teve uma importância na construção da viabilidade do impeachment. Acho que foi, seguramente, a organização da sociedade civil mais importante nesse processo. Hoje, eu não acompanho mais o MBL, não sei mais o que fazem ou deixam de fazer, então não me sinto em condições de julgar a respeito disso. Eu tenho visto que eles estão muito mais focados em se pautar pelo antipetismo e antiesquerdismo, do que pela defesa de ideias liberais. A minha ideia quando fundei o MBL, era que ele fosse um movimento de vanguarda liberal que conectasse a população com pautas liberalizantes, que pudéssemos avançar rumo a um país mais livre, não necessariamente um país sem esquerda.
Ainda tem contato com alguém do MBL?
— Não. Nenhum.
Como você vê a renovação na Assembleia?
— Essa renovação expressiva demonstra a insatisfação da sociedade em relação aos rumos que a nossa política tem tomado e a incapacidade da mesma em responder a esses rumos. Acho que foi um recado que a população deu, pois a insatisfação é enorme com os resultados dos últimos anos. Foi a maior renovação da história da Assembleia Legislativa, acho que é o prenúncio de 4 anos que vão ser bem agitados, com diversas possibilidades em relação a muitas ideias e práticas aqui implementadas.
Quais serão as principais dificuldades nesses próximos 4 anos de mandato na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul?
— Acho que a Assembleia vai estar necessariamente pautada pela gravíssima atual situação fiscal do Estado, então isso vai ser a ordem do dia, necessariamente, toda as medidas que a gente tomar não podem ser desvinculadas a isso. Acho que é uma oportunidade interessante da gente promover um debate mais amplo a respeito da função do Estado. É fato que no Rio Grande do Sul a gente tem buscado ao longo das últimas décadas um modelo que se mostrou fracassado. Um modelo de Estado excessivamente inchado e que precisa ser desafiado.
Nos últimos anos estamos vendo um grande número de pessoas que, de certa forma, estão se assumindo de direita. Muitos chamam de ‘’onda conservadora’’, alguns chamam de nova direita. Mas de fato, há muitas pessoas que antes tinham vergonha de se assumir de direita, pois foi criado uma situação em que era vergonhoso e feio falar que era de direita, hoje militando em prol de uma causa, que é um Brasil mais à direita. Nesse meio há uma grande parcela de conservadores e outra grande parcela de liberais. Como você vê essa situação e o que você acha dessa direita brasileira que se formou durante os últimos anos?
— Eu, inclusive, não me considero de direita, me considero um liberal. Existe um empoderamento de setores da sociedade, que anteriormente eram tratados como invisíveis, que não partiam das mesmas premissas da esquerda ou da centro-esquerda, que criou esse establichment social democrata no qual a gente vive. Não é uma surpresa. Era uma surpresa que uma parcela da população brasileira marcada por ser arcaica, ter níveis educacionais baixos e valores tradicionais, votassem na esquerda. Isso que era estranho, não que surjam forças políticas que ofereçam uma resposta à essa população, ou não deveria ser estranho pelo menos. O liberalismo talvez seja o ‘’corpo estranho’’ nessa história. É difícil construir uma força liberal em um país tão atrasado como o Brasil. E o Brasil ainda é um país muito atrasado. A gente duela diariamente nessa tensão entre modernização e arcaísmo que vigora no Brasil, um país dominado por uma cultura política patrimonialista e regada muito em tradições. O liberalismo historicamente sempre procurou emancipar as pessoas. Foi o grande responsável pela construção da ideia de abolição da escravatura, do empoderamento feminino por meio do voto, da liberdade da mulher de trabalhar e construir seus próprios destinos. O liberalismo sempre foi uma força civilizadora nesse sentido, ao reconhecer em qualquer pessoa, independente da orientação sexual, gênero, e cor da pele, uma dignidade inata. Hoje, a gente precisa orientar as nossas atuações de formas mais conectadas com os desafios atuais, entendendo quais os desafios atuais para os liberais, então eu sou uma das pessoas que defende que, por exemplo, a gente não deve aderir a um governo qualquer que acene com pautas liberais em áreas especificas. Temos que manter um viés critico. Eu estou falando, obviamente em específico, do governo Bolsonaro. Torço para que ele faça um bom governo e que adote políticas liberalizantes, sou cético em relação a isso, obviamente, mas torço para que seja o mais liberal possível. Porém, vou manter a minha crítica construtiva e fiscalizar. Acho que isso é um papel fundamental que os liberais vão ter de forma coerente e íntegra.
Jair Bolsonaro se autodeclara um conservador nos costumes e um liberal na economia. O seu futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, é considerado por muitos um ultraliberal. Na sua visão, o Brasil tende a se tornar um país mais liberal?
— É difícil dizer. Existem algumas evidências circulando que o governo Bolsonaro tem compromisso com a liberalização econômica, acho que vai ser o grande diferencial dele se levar isso a cabo. Também não acho que o governo vai ficar gastando seu capital político limitado buscando restringir liberdades individuais, buscando perseguir negros e restringindo direitos de mulheres, esses espantalhos que criaram durante a eleição. Até porque ele nem tem poder para isso, a não ser que ele seja muito burro para ficar comprando esses desgastes. Acho que ele vai ter que empenhar seu capital político para fazer reformas absolutamente fundamentais, como a reforma da previdência, que não pode ser mais adiada. Espero que ele consiga. Espero que ele também pare de gastar tempo e energia com bobagem sem sentido, como kit gay, ideologia de gênero e esses tipos de coisas.
Muito se discute hoje a questão da doutrinação nas escolas do Brasil. Você é a favor do Escola Sem Partido?
— Não. Porque eu acho que apesar de fazer um diagnóstico adequado a respeito da doutrinação ideológica, que é um problema estrutural do Brasil, a solução que ele dá é ruim. Eu vi, inclusive, o perfil institucional do Escola Sem Partido defendendo a instalação de câmeras em salas de aulas, o que é um passo além ainda dessa postura equivocada de ficar criando um clima de beligerância e vigilância em sala de aula. Acredito que a solução para a gente resolver o problema de doutrinação é, em primeiro lugar, termos uma educação mais livre e inovadora, sem tantas amarras como temos hoje. Não só o MEC, mas também as diversas leis que regulam o funcionamento do sistema educacional no Brasil, limitam a capacidade das instituições de inovarem, e de gerarem concorrência e competição. Acho que precisamos desarmar essa hiper-estrutura ineficiente, cara e doutrinadora, que é o sistema de educação estatal no Brasil. Devemos buscar construir a transição para um modelo de educação privada, onde aqueles que não tiverem condições de pagar, tenham o acesso subsidiado pelo governo de forma muito mais barata do que mantendo essas megaestruturas de escolas estatais. Elas não funcionam e têm criado gerações inteiras de pessoas que não são atendidas pelo sistema, que ficam depois sub empregadas e desempregadas, ou até como vítimas fáceis para o crime.
Você tem inspirações ou ídolos, seja na política ou na vida?
— Na política, há pessoas que tomam atitudes que eu admiro e acho bacana, mas não trabalho muito com a ideia de ídolos. Existem pessoas que fazem coisas que devem ser louvadas e outras não, mas não gosto muito da ideia de ídolos. Na vida, tenho seguramente meus pais, que são pessoas que eu admiro e sou muito grato. Mas existem vários filósofos e economistas liberais que marcaram minha formação, que pautaram meu sistema de crenças a respeito da vida, do mundo e da sociedade, como Friedrich Hayek, Milton Friedman, Ludwig Von Mises, entre outros.
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