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Após dois séculos, rapé volta aos narizes urbanos e está até na Cracolândia

Hellskah

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"A gente gosta mesmo de colocar umas coisas no nariz e ficar doidão, né? Mas vamos alterar a consciência sem precisar se destruir." Adriano de Camargo, 43, abre assim uma roda de rapé com 20 pessoas, tentando sair do lugar para onde o destino (ou o desatino) as levou: a Cracolândia, no centro de São Paulo.

Depois de passar pela prisão, a rua e o vício, Adriano achou sua salvação na chamada "medicina da floresta", por indicação de um amigo. Agora, guia outros com histórias parecidas com a sua. Na estratégia de redução de danos para dependentes químicos, troca-se o pó da cocaína pelo do rapé. A calçada dá lugar ao colchonete. Some o traficante e aparece um xamã.

No século 19, cheirar rapé era um hábito refinado entre damas e cavalheiros, que guardavam essa mistura de tabaco, cinzas, cascas e folhas em galantes estojos decorados com marfim e pedras incrustadas.

Logo as cafungadas entraram em desuso. Só continuaram em seu local originário (aldeias do Acre e Amazonas) e no campo, onde idosos preservam o costume para descongestionar as vias respiratórias e tratar sinusites e enxaquecas.

Nos últimos tempos, com a expansão de crenças xamânicas e terapias alternativas, esse pó voltou aos sistemas olfativos das grandes metrópoles, começando pelos hipsters, artistas e ativistas da causa indígena.

"De dez anos pra cá, mais que duplicaram as vendas. O público é que está buscando um caminho espiritual, seja por moda ou necessidade. E na pandemia aumentou também, porque as pessoas ficaram em casa, tinham mais tempo e usavam para se acalmar e se desligar do perigo que rondava", conta Sarita Moura, proprietária da loja Mukani Shop, que comercializa rapé em São Paulo.

Sai a mata, entra a moto

Trabalhando com dependentes há duas décadas, Adriano fundou o Instituto Nhanderu em 2018 junto com sua mulher, Tuca Fontes. A sede fica em um prediozinho no meio da "boca das motos", tradicional quadrilátero que reúne dezenas de lojas e oficinas de motocicletas, vizinho à Cracolândia.

Os atendidos, a maioria vinda de centros de acolhimento para pessoas em situação de rua, atravessam as fileiras motorizadas no meio-fio, chamam pelo interfone e ascendem pela escada até chegar ao terceiro andar e a outras atmosferas. Pela janela ainda se escuta um carro passando com um funk pornográfico com volume no talo. Mas, dentro em breve, a música de rezo vai tomar aquele espaço.

"Se chegar sob efeito de droga ou álcool, não participa de nosso ritual", avisa Adriano. Antes de entrar no salão principal, eles são incensados para uma "limpeza espiritual". Uns andam cabisbaixos, entre concentrados e envergonhados. Outros, mais expansivos, cumprimentam e brincam com Adriano, que se apresenta como educador social e psicanalista especializado em terapias psicodélicas e dependência química. "Um xamã nunca fala o que é: os outros o chamam assim", diz Tuca.

Cada um segura uma garrafa de água, um maço de papel toalha e um pote com saco plástico. As reações corporais depois da inalação do rapé explicam tantos apetrechos: um coral de espirros, tosses e vômitos se mistura aos pássaros, grilos e riachos vindos da caixa de som. "São os expurgos. A gente precisa se livrar deles, assim como dos medos, das culpas e das sombras", explica Adriano.

A iluminação fica vermelha, e a música ganha um ritmo forte, repetitivo e hipnótico. O ambiente fica carregado. Alguns deitam em posição fetal e se contorcem. Quem perde o efeito recebe o sopro de uma segunda dose. "Pai Rapé está fazendo a cura", grita o xamã. E emenda: "Viva a força do Pai Rapé". Os presentes repetem a frase, reverenciando o espírito da floresta.

Então, os assistentes passam borrifando água de cheiro para elevar os ânimos. As luzes roxas são acesas, e a trilha fica mais lenta, alegre e melódica. É o que eles chamam de hora de "transmutação da energia". Uns choram, outros ficam em posição contemplativa. "O que eles trazem da vida é muita tragédia. Isso aflora no ritual.".

O perigo nasal

Nas paredes e nos altares há imagens de Jesus, Buda, Ganesha, Iemanjá, Pachamama, Mestre Irineu do Santo Daime e várias divindades. "Para você se elevar, qualquer um deles serve. Ou nenhum. A conexão que faz sentido é aquela com você mesmo", diz para um seguidor.

O projeto na Cracolândia começou com quatro garotos, em abril de 2018, e já ajudou mais de 30 dependentes, mas teve de parar em março de 2020 com a chegada ao Brasil do vírus que entrava justamente pelo nariz.

Nesse período, eles distribuíram kuripis, canudos em "v" para a autoaplicação, e mensalmente davam um frasco de rapé por pessoa. "Não é a mesma coisa. Tinha gente que usava a cota mensal em três dias, depois voltava para o crack e entrava em depressão. Mesmo com o risco, tivemos que voltar. O dano maior para eles é não ter essa assistência", afirma Adriano. O rapé, por conter nicotina, pode causar dependência e, em excesso, provocar os mesmos males dos outros produtos tabagistas.

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No final de 2020, retomaram as sessões com rapé, ayahuasca e psicoterapia. Ele diz que o sopro do xamã faz diferença. "É algo até metafísico. Tem muito da energia de quem sopra, de quem recebe e do local." Agora estão todos vacinados — população de rua e profissionais da saúde tiveram prioridade.

Para Adriano, os viciados em crack representam a versão extrema de uma sociedade ansiosa, deprimida e desligada da natureza e de si mesma. "Deu ruim pra vocês e pra mim também. A gente abusou, caiu, mas agora pode se levantar", discursa Adriano no final do ritual.

O trabalho deles e o nome também (Nhanderu é o deus dos guaranis) chamou a atenção de lideranças de aldeias no bairro de Parelheiros, zona sul de São Paulo, que enfrenta os mesmos problemas com entorpecentes entre seus jovens.

Os guaranis (Adriano é neto de indígenas dessa etnia) não usam tradicionalmente o rapé, mas adotaram recentemente o costume da Amazônia, onde cada tribo tem sua mistura. O do tipo mais caro, dos apurinãs, chega a custar R$ 1.500 o quilo, leva oito dias por trilhas e rios para chegar a Rio Branco (AC) e tem uma receita secreta para evitar a biopirataria. Nas cidades, o rapé acabou gourmetizado: hoje é possível comprar frascos com gengibre e manjericão.

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Rapé na Cracolândia - Pó Mágico

Até poucos anos, rapé era uma daquelas palavras em que se tropeçava em livros de Machado de Assis, Eça de Queiroz ou Charles Dickens e tinha-se que apelar para o dicionário atrás de seu significado.

Saído da América, o pozinho atravessou o Atlântico e ganhou notoriedade com Jean Nicot, embaixador francês em Portugal no século 16. Ele fez tanta propaganda das propriedades para aliviar a enxaqueca que seu nome apelidou o princípio ativo: a nicotina. Teve quatro séculos de fama. A elite acabou adotando o charuto como símbolo de status, no século 20.

Nos rituais xamânicos atuais, o rapé é combinado com outra tecnologia amazônica, a ayahuasca. Enquanto o líquido solta a mente pelo ar em projeções cósmicas, o pó é usado para aterrissar, mudar a percepção do real e facilitar a concentração.

Adriano é pioneiro no uso de rapé para diminuir o vício em cocaína ou crack — a ayahuasca é utiizada há mais de 20 anos por centros para dependentes químicos no Brasil e Peru. Segundo Luis Fernando Tófoli, professor da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e coordenador do Laboratório de Estudos Interdisciplinares sobre Psicoativos, ainda não há pesquisas acadêmicas sobre o rapé nessa função — diferentemente da ayahuasca, que parece ter propriedades "antiaditivas" (substância que combate o vício em entorpecentes), mas sobre o qual também faltam mais estudos.

Passado o efeito do rapé indígena, a percepção da realidade é sentida também na barriga. Tanto é assim que o ritual do Nhanderu, instituição que se banca com as vendas da loja e doações de alguns frequentadores, é seguido de um lanche. "Depois do rapé, nada melhor que um patê", brinca o adepto esfomeado.
 

proximus-one

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UHAHAHA bando de dementes.

Bom que já até se preparam para o pior com saco de vômito e tudo o mais uahhaah.

E sempre a desculpa da "orientação espiritual". Até arranjaram uns indios random para serem os """xamãs"""" . Tão querendo gourmetizar e glorificar isso daí estilo "Santo Daime"
 

Delphinus

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Nunca entendi qual é desse negócio direito

Cocaína deixa o caboclo a 1000

Mas e isso dai?
 


Carolíngio

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Rapé até onde sei não é droga. Meu pai usava muito isso. Só parou nem sei pq. Mas pro povo mais antigo usar rapé é coisa normal.
Esse povo aí que quer ser o "jovem espiritual" e quer misturar outras coisas pq se acham espiritualmente elevados.
 

Barb

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Cheirei rapé na roça quando eu tinha uns 10 anos, espirrei ate morrer. O povo de lá usava só pra desentupir o nariz mesmo.
Muito interessante re-gourmetizarem ele pra zé-droguinha pagar de natureba evoluido
que todos se fodam
 

Riveler

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Cheirei rapé na roça quando eu tinha uns 10 anos, espirrei ate morrer. O povo de lá usava só pra desentupir o nariz mesmo.
Muito interessante re-gourmetizarem ele pra zé-droguinha pagar de natureba evoluido
que todos se fodam

Quando eu era criança pequena lá em Barb... er... Ilhéus, um conhecido da família usava rapé.
Eu, capeta curioso que era, esperei ele se descuidar da caixinha de madeira lindamente adornada, peguei uma pitadinha do pó preto, botei na mão e aspirei. Espirrei tanto, mas tanto, que tive de lavar o nariz pra poder parar. Nunca mais cheirei pó preto depois disso.
 

Brets

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Quando eu era criança pequena lá em Barb... er... Ilhéus, um conhecido da família usava rapé.
Eu, capeta curioso que era, esperei ele se descuidar da caixinha de madeira lindamente adornada, peguei uma pitadinha do pó preto, botei na mão e aspirei. Espirrei tanto, mas tanto, que tive de lavar o nariz pra poder parar. Nunca mais cheirei pó preto depois disso.
E pó branco?:ksafado
 

Riveler

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O Rei Rubro

RIP AND TEAR
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Aqui na roça isso sempre existiu. Como sou frequentador de butecos das antigas, tem por baixo um 4 que eu frequento que se tu pedir, tem sempre uma latinha no balcão pra dar umas cafungadas. NO mercado municipal tem sabor de baunilha, menta, hortelã...

Não é "droga", mas é uma mistura que vai tabaco, que no fundo é droga. Tentei cheiras umas 3 vezes. Não entendo a liga. Como sofro de rinite a vida toda, toda vez que tentei cheirar isso foi um dia fodido espirrando igual um miserável. Mas tem uns chapa que dá umas cafungada e fica de boas....é como mascar fumo: costume antigo e meio nada a ver.
 

ROLGENIO

Lenda da internet
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Após dois séculos, rapé volta aos narizes urbanos e está até na Cracolândia

Maior prova que a humanidade tá regredindo é quando até um negócio de índio volta a ser modinha 200 anos depois...
 

Senhor Catástrofe

Bam-bam-bam
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me diz um motivo pra eu encher minha fossa nasal com casca de árvore, cinzas, tabaco e mato

eu provavelmente iria espirrar até sangrar
 

TheCollector

Bam-bam-bam
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O problema não é o vício, mas sim as formas de sustentá-lo e a suas consequências...

(Nossa, eu estou tão philosófico hoje... :viraolho)

(E PELAMORDEDEUS, voltem com o trema de uma vez por todas em nosso idioma, se eu fosse o ditador do Huezil a primeira coisa que iria fazer seria obrigar o retorno desse acento tão nobre e tão distinto que só as culturas mais evoluídas se atrevem a adotá-lo (francês, espanhol, alemão, línguas do cáucaso, até mesmo o inglês tem esse acento em uma das suas poucas exceções), enfim só os preguiçosos, istas, marxistas, oportunistas, medíocres e FDP afins negam o seu valor, dekolekitoru tomém eh curtura...)
 
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City Hunter

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Nunca entendi qual é desse negócio direito

Cocaína deixa o caboclo a 1000

Mas e isso dai?
eu usei rapé uma única vez, na escola (LOL). Um professor ofereceu a mim e a um colega.

Apesar da matéria associar o rapé como substituto da cocaína, isso sequer deveria ser considerado como droga! Lembro-me vagamente do rapé parecer-se com tabaco retirado de cigarro. Aspira-se e em algum momento você espirra.

Com o pouco conhecimento prático que tive com rapé digo que é prá lá de louvável que alguém se preocupe em usá-lo como substituto de drogas pesadaças! Esse pessoal está de parabéns!
 
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