Primeira parte é que terceirização não mata. Sou da área de T.I, área que normalmente sempre foi terceirizada. As empresas terceirizadas são quem possibilitam, na maior parte dos casos, a aprendizagem de iniciantes, porque têm mão de obra e know-how para isso.
E o quê mais vemos por aí é o pessoal da área de T.I. reclamando dos salários, das oportunidades e da instabilidade da área. Poucos realmente conseguem fugir desse viés e conseguem se dar muito bem na profissão. Incrivelmente, os que mais que conseguem são, justamente, aqueles que acabaram se tornando empresários, por que será?
Segunda parte, a terceirização no Brasil é feita errada, pois visa somente a diminuição no custo sem especialização. A terceirização consegue reduzir o custo exatamente porque ela tem um know-how muito grande da área, então um serviço que custaria X com ela custaria X/2 não porque paga mal, mas sim porque ela sabe meios de fazer mais barato, ou tem equipamentos para isso. Vou de dar um exemplo para ficar fácil:
Se ela já era feita errada e existia no entendimento jurisprudencial o cabimento da OJ (Orientação Judicial) 383 da SDI-1 do TST [Subseção 1 Especializada em Dissídios Individuais, do Tribunal Superior do Trabalho] que, antes da lei 13.429/17, garantia a isonomia salarial entre os empregados da contratante e os terceirizados que realizavam a mesma função no local. A nova lei abone essa isonomia desde que prevista em contrato, tornando isso totalmente facultativo à empresa sem quaisquer objeções, então, com esse novo respaldo da lei que abre mais ainda as portas para que ela piore, qual garantia, então, teremos que um dia ela será feita da suposta forma "correta"?
1° Uma pequena empresa precisa de um técnico local para eventuais problemas cotidianos com computadores, mas ela tem um servidor(Computador) que exige um alto conhecimento para repara-lo sendo necessário um técnico sênior para isso, porém, ressalvo, isso eventualmente. Logo oque ela faz ? Contrata um técnico Júnior pagando 1500 ou um sênior pagando 6000 ? Ela opta por uma terceirizada que faz um contrato por 2500 na qual ela coloca um técnico Júnior e quando eventualmente precisar a terceirizada manda o senior para reparar o servidor. Além disso, a terceirizada fica responsável por repor o técnico em caso de férias, doença ou qualquer afastamento e ainda pelos custos do técnico a mais.
Eu sei que as profissões vão mudando com o passar do tempo. Hoje não precisamos mais de alguém da datilografia, porque máquinas datilográficas só existem agora em museus, os computadores tomaram conta. Não precisamos mais de telefonistas há várias décadas, o acendedor de postes, talvez nem na época da minha querida falecida avó precisaria, e por aí vai...
Não sei se você chegou a ler o livro do historiador e economista Leo Huberman, História da Riqueza do Homem, onde ele cita as mudanças de trabalho que vinham num processo da confecção de um sapato, por exemplo, sendo feito completamente por um artesão-mestre, com um controle absoluto de todas as etapas, para algo, anos depois, com a chegada da revolução industrial em um processo fracionado e diluído, o que também dilui a autonomia daquele trabalhador sobre à produção. Os sapatos eram caríssimos e duravam a vida inteira de um indivíduo. Claro que isso é apenas um exemplo anedótico. A necessidade do mundo atual de 7 bilhões de pessoas não iria permitir um processo como esse a larga escala. Na verdade, isso ainda existe, mas é restrito aos mais ricos que podem pagar 10 mil dólares num único sapato confeccionado por um mestre.
Hoje a sociedade tem necessidades dinâmicas que não existiam há duas décadas. Eu até entendo que deve sim existir uma flexibilização do trabalho, que a própria CLT poderia atender há uma realidade de 70 anos não mais a de hoje que entrega coisas que na época não existiam. Mas, ao mesmo tempo, com um mundo indo cada vez mais para uma realidade robótica, mecanizada e menos humana, temos que atingir processos que garantam a sustentabilidade de uma nação, dos indivíduos.
A mais terceirizada paga menos. Idai ? Então vamos definir salário mínimo em 5000 então, aí ninguém vive na miséria.
Aumento de salário ? Se fala com a sua empresa, não com a contratante. "Se aumentar para um terá que aumentar para todos" mesma coisa com quem é contratado direto.
É daí que o meu poder de compra cai.
Se antes eu poderia ir ao mercado e comprar 50 itens, agora eu só posso dispor de 30 com o dinheiro que me é retido. Se eu compro menos, consumo menos, se consumo menos porque tenho menos, então a empresa que recebia mais dinheiro proveniente dos meus gastos passa também a obter menos lucro, a não ser que ela consiga encontrar esse outrem para manter as contas como estava (geralmente o mercado externo), senão, ela própria também terá prejuízo.
E, por favor, sabemos que ajustes artificiais de salários levam uma economia ao colapso. É receita certa para gerar inflação. E acho que isso ninguém quer, não é vero? Dilmão estoca-vento fez ajustes artificiais na economia, como o incentivo à crédito que não existia, tudo isso para se reeleger e olha no que deu...
Uma pergunta simples, querida colher: você hoje aceitaria ter menos poder aquisitivo? Você tá batalhando todo dia pra ganhar menos e não ter condição de se sustentar? De não conseguir o seu carrinho e a sua casa?
No mais, desculpa. Já fui tanto funcionário direto como terceirizado. Tudo que se falou depende da empresa. Na atual empresa que estou, presta serviços a um órgão público e com minha estabilidade é maior que 90% dos trabalhadores privados.
A questão não é ser terceirizado ou não e sim sobre ser "peao".
Eu sei que há empresas e empresas, não podemos colocar todas no mesmo balaio de gato, seria um reducionismo estúpido, de fato.
Em 2013, a OMC (que, inclusive, é presidida por um brasileiro), fez um estudo que avaliou que a terceirização em primeira instância entrega redução de custos às empresas, contudo, o estudo alerta que esses benefícios não são repassados aos trabalhadores. O GCS traz prós e contras, mas a cadeia mais fraca acaba sendo prejudicada.
E podemos ver essa realidade de forma patente até mesmo na China que está focando a sua produção e fábricas em outros países asiáticos devido ao aumento dos salários médio chineses.