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Tetas, avaliem ae a história que eu escrevi e tals.
O ventríloquo
Me lembro, que quando criança, havia um ventríloquo em minha rua. Com certeza era uma figura que despertava certa curiosidade. Aparentava ter uns 50 anos, com o cabelo desgrenhado e escuro e uma barba grisalha. A pele era clara, porém bastante castigada pelo sol e usava roupas velhas e muitas vezes rasgadas. Mas o que mais me chamava atenção naquele homem era seu olhar. Era distante e triste, e tenho quase certeza que, de vez em quando, habitava uma lágrima solitária em seus olhos, daquelas que ficam algum tempo e secam antes mesmo de descer.
Ele ficava sempre no mesmo canto da praça, tendo seu boneco junto a ele. Tinha mais ou menos meio metro, a cabeça feita de material rígido e o resto do corpo de pano. Ao contrário do ventríloquo, apresentava sempre uma expressão alegre. As pessoas que ali passavam eram constante alvo das brincadeiras do boneco, o que divertia muito as crianças. Ele paquerava as moças bonitas, fazia piadas e conversava com quem quer que lhe desse atenção. Mas mesmo quando o boneco estava fazendo todos em volta rirem, o homem continuava com aquele mesmo olhar triste e distante, como se estivesse vendo algo que ninguém mais conseguia ver. Era de fato bastante habilidoso, pois ninguém via sua boca se mexer. Quando alguém tentava lhe falar algo, como um elogio, ou alguma pergunta curiosa, ele nada respondia. Apenas o boneco, que falava “ele nasceu mudo, coitado”, ou algo parecido. As pessoas intepretavam isso como se fosse parte daquele show, e se davam por satisfeitas.
No final do dia, o homem pegava seu chapéu velho onde depositavam o dinheiro que lhe davam e ia embora, com o rosto olhando em direção o chão, com passos lentos e vacilantes. Recordo que um dia eu tentei segui-lo, para ver onde morava, mas ficou tarde, e como estava longe, tive que me apressar para voltar para casa. Perguntei para muitos, mas ninguém fazia idéia de onde é que ele morava, e porque havia escolhido justo aquela rua para passar os dias.
Ele estava lá enquanto nós jogávamos bola, quando nós voltávamos da escola e quando íamos ao cinema. O tempo foi passando e o homem ia envelhecendo, com seus cabelos e barba ficando mais e mais brancos. Os anos, entretanto, pareciam não fazer efeito algum no boneco, que sempre mantinha sua aparência jovem, e continuava a entreter os transeuntes. Eu parei de brincar na rua, e o homem continuava lá, bem mais velho, é verdade. Não sabia a quanto tempo exatamente ele fazia aquilo, mas sei que era bem antes de eu ter nascido.
Um dia, o homem não apareceu mais. Todos comentaram, se perguntando se ele havia ficado doente ou morrido. Não tivemos mais notícia daquele homem, desde aquele dia. Ainda hoje, quando passo por aquela praça, e vejo aquele canto, hoje vazio, me lembro daquele homem, e seu olhar triste. Para onde é que ele olhava afinal?
O ventríloquo
Me lembro, que quando criança, havia um ventríloquo em minha rua. Com certeza era uma figura que despertava certa curiosidade. Aparentava ter uns 50 anos, com o cabelo desgrenhado e escuro e uma barba grisalha. A pele era clara, porém bastante castigada pelo sol e usava roupas velhas e muitas vezes rasgadas. Mas o que mais me chamava atenção naquele homem era seu olhar. Era distante e triste, e tenho quase certeza que, de vez em quando, habitava uma lágrima solitária em seus olhos, daquelas que ficam algum tempo e secam antes mesmo de descer.
Ele ficava sempre no mesmo canto da praça, tendo seu boneco junto a ele. Tinha mais ou menos meio metro, a cabeça feita de material rígido e o resto do corpo de pano. Ao contrário do ventríloquo, apresentava sempre uma expressão alegre. As pessoas que ali passavam eram constante alvo das brincadeiras do boneco, o que divertia muito as crianças. Ele paquerava as moças bonitas, fazia piadas e conversava com quem quer que lhe desse atenção. Mas mesmo quando o boneco estava fazendo todos em volta rirem, o homem continuava com aquele mesmo olhar triste e distante, como se estivesse vendo algo que ninguém mais conseguia ver. Era de fato bastante habilidoso, pois ninguém via sua boca se mexer. Quando alguém tentava lhe falar algo, como um elogio, ou alguma pergunta curiosa, ele nada respondia. Apenas o boneco, que falava “ele nasceu mudo, coitado”, ou algo parecido. As pessoas intepretavam isso como se fosse parte daquele show, e se davam por satisfeitas.
No final do dia, o homem pegava seu chapéu velho onde depositavam o dinheiro que lhe davam e ia embora, com o rosto olhando em direção o chão, com passos lentos e vacilantes. Recordo que um dia eu tentei segui-lo, para ver onde morava, mas ficou tarde, e como estava longe, tive que me apressar para voltar para casa. Perguntei para muitos, mas ninguém fazia idéia de onde é que ele morava, e porque havia escolhido justo aquela rua para passar os dias.
Ele estava lá enquanto nós jogávamos bola, quando nós voltávamos da escola e quando íamos ao cinema. O tempo foi passando e o homem ia envelhecendo, com seus cabelos e barba ficando mais e mais brancos. Os anos, entretanto, pareciam não fazer efeito algum no boneco, que sempre mantinha sua aparência jovem, e continuava a entreter os transeuntes. Eu parei de brincar na rua, e o homem continuava lá, bem mais velho, é verdade. Não sabia a quanto tempo exatamente ele fazia aquilo, mas sei que era bem antes de eu ter nascido.
Um dia, o homem não apareceu mais. Todos comentaram, se perguntando se ele havia ficado doente ou morrido. Não tivemos mais notícia daquele homem, desde aquele dia. Ainda hoje, quando passo por aquela praça, e vejo aquele canto, hoje vazio, me lembro daquele homem, e seu olhar triste. Para onde é que ele olhava afinal?