Presidente do BNDES deve se explicar nesta quarta, 29, sobre contrato de R$ 48 milhões
Gustavo Montezano, presidente do BNDES, recebeu como missão abrir a suposta caixa-preta do banco durante o governo de Jair Bolsonaro Wilton Junior/Estadão - 19/7/2019
Mateus Vargas, Adriana Fernandes e Patrik Camporez, O Estado de S.Paulo
29 de janeiro de 2020 | 04h00
BRASÍLIA - O presidente Jair Bolsonaro disse que
“tem coisa esquisita” no reajuste que levou o
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) a pagar R$ 48 milhões a uma auditoria para abrir a “caixa-preta” do banco em operações com o grupo J&F, sem encontrar nenhuma irregularidade.
Após o
Estado ter revelado
o valor total do contrato para a auditoria, na semana passada, o atual presidente do BNDES, Gustavo Montezano, tentou inicialmente se esquivar da responsabilidade pelo valor. Em seguida, com a revelação de que ele mesmo autorizou o último aumento do contrato, o executivo não falou mais no assunto.
Bolsonaro comentou na terça, 28, o fato de seu subordinado ter ajudado a elevar o valor do contrato. Ele disse que “parece que alguém quis raspar o tacho”, sem dar nomes, e cobrou explicações. “Expõe logo o negócio e resolve”, ordenou o presidente ao chegar no Palácio da Alvorada, depois de viagem oficial à Índia. Os próprios diretores do banco e membros do conselho de administração já cobravam uma posição de Montezano. Eles pedem uma resposta mais contundente e rápida sobre a contratação da auditoria externa que investigou as operações do banco entre 2005 e 2018, com um passo a passo.
Pressionado, Montezano se encontrou na terça com o ministro da
Economia,
Paulo Guedes. Na noite anterior, executivos do banco já tinham participado de uma reunião para discutir as explicações que serão dadas hoje por Montezano na sede do Ministério da Economia, em Brasília. O
Estado apurou que a permanência do executivo no cargo depende do desempenho dele em explicar os detalhes do contrato de auditoria, incluindo aditivos e valores.
“Essa auditoria começou no governo Temer. E tiveram dois aditivos. O último parece, não tenho certeza, seria da ordem de R$ 2 milhões. E chegou a R$ 48 milhões no final. Tá errado. Tá errado”, afirmou Bolsonaro.
O último aditivo, de outubro de 2019, foi feito sob a gestão de Montezano. Por ele, houve incremento de cerca de R$ 15 milhões no valor do contrato com a Cleary Gopttlieb Steen & Hamilton LLP . “Não sei se vou ter tempo para estar com Paulo Guedes (ministro da Economia) hoje (terça-feira), parece que ele está em Brasília. É o garoto lá, foi o garoto, porque, conheço por coincidência desde pequeno, o presidente do BNDES é um jovem bem intencionado. E ele que passou as informações disso que falei para vocês (jornalistas) agora, que são os aditivos. A ordem é não passar a mão na cabeça de ninguém.”
Sem irregularidades
Após um ano e dez meses de trabalho focado em oito operações com as empresas JBS, Bertin, Eldorado Brasil Celulose, a auditoria não apontou nenhuma irregularidade. O Ministério Público Federal em Brasília, porém, identificou prejuízos de R$ 2 bilhões ao banco em operações com o grupo J&F, controlador da JBS. Dados da Operação Bullish mostram desrespeito ao limite de crédito que poderia ser emprestado à companhia e a dispensa do recebimento de juros sobre o valor injetado na empresa.
Na sexta-feira, o Tribunal de Contas da União (TCU) deu 20 dias para o BNDES dar explicações sobre o aumento do valor da auditoria. O caso ainda pode se tornar alvo de uma fiscalização específica da Corte de Contas, já que o Ministério Público junto ao TCU entrou com uma representação pedindo verificação do pagamento ao escritório americano.
Na segunda-feira, a cúpula do banco passou o dia em Brasília para dar explicações. A primeira rodada de conversas ocorreu na Controladoria-Geral da União (CGU) e seguiu no início da tarde para a Câmara dos Deputados e o Tribunal de Contas da União. Não houve, porém, coletiva de imprensa.
O ex-presidente do BNDES Paulo Rabello de Castro, responsável pelo início da auditoria, também engrossa o pedido por explicações em carta a Montezano. Segundo apurou o
Estadão/Broadcast, o contrato inicialmente previa um custo próximo a R$ 16 milhões. A revelação do aditivo assinado sob a gestão Montezano causou ainda mais desgaste interno porque o atual presidente, em entrevista em Davos, na Suíça, havia tentado jogar a responsabilidade pela auditoria para seus antecessores.
A ideia inicial do BNDES era investigar 40 funcionários e dirigentes, mas, orientado pela KPMG Auditores Independentes, o banco decidiu incluir no escopo mais 10 colaboradores e 100 mil documentos. “Tal aumento do teto era necessário para que as referidas entidades continuassem a realização dos serviços, que deveriam ser concluídos até o fim de 2018”, diz trecho da ata da reunião do conselho de administração de 12 de novembro de 2018.
Apesar do acréscimo no contrato, autorizado naquela reunião, a auditoria não foi finalizada naquele ano e o BNDES continuou contratando os serviços do escritório estrangeiro ao longo de 2019, durante a gestão de Bolsonaro.
Mateus Vargas, O Estado de S.Paulo
28 de janeiro de 2020 | 09h09
BRASÍLIA - O presidente
Jair Bolsonaro disse nesta terça-feira, 28, que "tem coisa esquisita" no
reajuste que levou o BNDES a pagar R$ 48 milhões a uma auditoria para abrir a
"caixa-preta" do banco em operações com o grupo
J&F, sem encontrar nenhuma irregularidade. Ao comentar o último aditivo, feito pelo atual presidente do banco, Gustavo Montezano, Bolsonaro disse que "parece que alguém quis raspar o tacho”.
"Essa auditoria começou no governo Temer. E tiveram dois aditivos. O último aditivo parece, não tenho certeza, seria na ordem de R$ 2 milhões. E chegou a R$ 48 milhões no final. Tá errado. Tá errado", afirmou Bolsonaro ao chegar ao
Palácio da Alvorada, residência oficial da
Presidência da República,
após visita oficial à Índia.
Como revelou o
Estado, o último aditivo do contrato, de outubro de 2019, foi realizado
sob a gestão de Montezano. Por ele,
houve incremento de cerca de R$ 15 milhões no valor do contrato com o Cleary.
"Tem coisa esquisita aí. Parece que alguém quis raspar o tacho. Não sei se vou ter tempo para estar com Paulo Guedes
(ministro da Economia) hoje
(terça-feira, 28), parece que ele está em Brasília. É o garoto lá, foi o garoto, porque, conheço por coincidência desde pequeno, o presidente do BNDES é um jovem bem intencionado. E ele que passou as informações disso que falei para vocês
(jornalistas) agora, que são os aditivos. A ordem é não passar a mão na cabeça de ninguém. Expõe logo o negócio e resolve", disse o presidente.
Após um ano e dez meses de trabalho focado em oito operações com as empresas
JBS,
Bertin,
Eldorado Brasil Celulose, a auditoria não apontou nenhuma irregularidade. O
Ministério Público Federal em
Brasília, porém, apontou prejuízos de R$ 2 bilhões ao banco em operações com o grupo J&F, controlador da JBS. Dados da
Operação Bullish mostram desrespeito ao limite de crédito que poderia ser emprestado à companhia e dispensa de recebimento de juros sobre o valor injetado na empresa.
Além do aditivo de Montezano, o contrato já tinha sido reajustado na gestão de
Dyogo Oliveira no BNDES, no segundo semestre de 2018. Na sexta-feira, o
Tribunal de Contas da União (TCU) deu um prazo de 20 dias para o BNDES dar explicações sobre o aumento do valor da auditoria.
O caso ainda pode se tornar alvo de uma fiscalização específica na corte de contas, já que o Ministério Público junto ao TCU entrou com uma representação pedindo verificação do pagamento ao Cleary Gottlieb Steen & Hamilton, escritório americano contratado para realizar os serviços de auditoria.
Desde a revelação do caso pelo Estado do valor de R$ 48 milhões da auditoria que não encontrou nenhuma irregularidade, o atual presidente do banco tem sido pressionado pela diretoria e pelo Conselho de Administração do BNDES. Eles pedem uma resposta mais contundente e rápida sobre a auditoria contratada para desvendar a suposta caixa-preta de operações feitas entre 2005 e 2018.
A avaliação entre diretores e conselheiros do BNDES é que o banco está muito lento para responder e divulgar uma nota oficial justificando a contratação da auditoria externa que investigou as operações, com um passo a passo. Na segunda-feira, 27, a cúpula do banco passou o dia em Brasília para dar explicações. A primeira rodada de conversas ocorreu na
Controladoria-Geral da União (CGU) e seguiu no início da tarde na
Câmara dos Deputados e no Tribunal de Contas da União. Não houve, porém, coletiva de imprensa.
O ex-presidente do BNDES
Paulo Rabello de Castro, responsável pelo início da auditoria, também engrossa o
pedido por explicações em carta a Montezano. Segundo apurou o
Estadão/Broadcast, o contrato inicialmente previa um custo próximo a R$ 16 milhões.
A revelação do aditivo assinado sob a gestão Montezano causou ainda mais desgaste interno porque o atual presidente, em entrevista em
Davos, Suíça, havia tentado jogar a responsabilidade pela auditoria para seus antecessores.
Patrik Camporez, O Estado de S.Paulo
28 de janeiro de 2020 | 09h50
BRASÍLIA - No governo do ex-presidente
Michel Temer, o
BNDES aumentou em R$ 4 milhões o pagamento ao escritório americano contratado para abrir a
“caixa-preta” das operações com o grupo
J&F. Esse reajuste teve como objetivo incluir 10 funcionários na investigação e uma nova leva de 100 mil documentos. À época, o banco era presidido por
Dyogo Oliveira.
Como revelou o
Estado, a auditoria custou ao todo R$ 48 milhões aos cofres do BNDES. No total, 50 funcionários e dirigentes foram alvos de investigação. Após analisar cerca de 300 mil documentos que estavam nos computadores dos funcionários da instituição e também no exterior, o escritório Cleary Gopttlieb Steen & Hamilton LLP emitiu um relatório que não atribuía indícios de corrupção a esses funcionários. O trabalho levou um ano e dez meses e focou em oito operações com as empresas
JBS,
Bertin e
Eldorado Brasil Celulose.
O
Ministério Público Federal em
Brasília, porém, apontou prejuízos de R$ 2 bilhões ao banco em operações com o grupo J&F, controlador da JBS. Dados da
Operação Bullish mostram desrespeito ao limite de crédito que poderia ser emprestado à companhia e dispensa de recebimento de juros sobre o valor injetado na empresa.
A ideia inicial do BNDES era investigar 40 funcionários e dirigentes, mas, orientado pela
KPMG Auditores Independentes, o banco decidiu incluir no escopo mais 10 empregados e 100 mil documentos.
“Tal aumento do teto era necessário para que as referidas entidades continuassem a realização dos serviços, que deveriam ser concluídos até o final de 2018”, diz trecho da ata da reunião do Conselho de Administração de 12 de novembro de 2018.
Apesar do acréscimo no contrato, autorizado naquela reunião, a auditoria não foi finalizada naquele ano e o BNDES continuou contratando os serviços do escritório estrangeiro ao longo de 2019, durante a gestão do presidente Jair Bolsonaro. Como revelou o
Estado, o último aditivo do contrato, de outubro de 2019, foi realizado sob a gestão do atual presidente do banco, Gustavo Montezano. Por ele, houve incremento de cerca de R$ 15 milhões o valor do contrato com o Cleary.
Nesta terça-feira, 28, o
presidente Bolsonaro disse que “está errado” o último aditivo. “Tem coisa esquisita aí. Parece que alguém quis raspar o tacho”, afirmou ao chegar ao Palácio da Alvorada, depois de voltar da viagem à Índia.
Procurado pela reportagem, o BNDES não se manifestou sobre o motivo de a auditoria ter se estendido ao longo de 2019. Ontem, a cúpula do banco esteve em Brasília para dar explicações na Controladoria-Geral da União (CGU), na Câmara dos Deputados e no Tribunal de Contas da União (TCU).
Redação, O Estado de S.Paulo
25 de janeiro de 2020 | 05h00
Entenda passo a passo como o contrato do BNDES com um escritório internacional para prestar serviços jurídicos foi responsável pela auditoria que acabou não achando nenhuma irregularidade nas operações do banco com o grupo J&F.
Depois de passar por quatro governos, subcontratar empresas e receber dois aditivos, o custo do contrato passou de US$ 14 milhões (em torno de R$ 58 milhões) para US$ 17,5 milhões (superior a R$ 70 milhões).