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Bolsonaro é contra a ciência

The Kong

Cruz Bala Trevoso
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Extrema-direita à brasileira e servida com muito molho de laranja. A "ideologia" do tiozão de churrasco bêbado e falador de m****, e que também demonstra um certo saudosismo pela ditadura - "os bons e velhos tempos". Se o "trumpismo" existe, então também podemos ter a nossa versão tupiniquim.

Vlw

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"Desde o começo da crise do covid o americano Tomas Pueyo está trabalhando com dados das estratégias de contenção. Ele fez esse gráfico fenomenal e muito didático situando a fase que estão diferentes países, mas não tinha o Brasil. Adicionei a gente com uma breve explicação. As próximas semanas serão decisivas."

Fonte: Gráfico original https: // medium . com / @tomaspueyo/coronavirus-learning-how-to-dance-b8420170203e

Meu estudo sobre situação brasileira: thomasvconti.com.br/pubs/coronavirus/

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Pingu77

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Covid-19: Estudo liga comportamento de Bolsonaro a 10% dos casos e mortes no Brasil

Pesquisa de professor da Universidade de Cambridge em parceria com FGV-SP indica que presidente pode ter estimulado afrouxamento do distanciamento social

LONDRES — Atos e discursos do presidente Jair Bolsonaro contra o isolamento social como forma de combate à pandemia do novo coronavírus podem estar por trás de pelo menos 10% dos casos e até mesmo de mortes pela Covid-19 registrados no Brasil até ontem. A insistente defesa de Bolsonaro do fim do distanciamento teria afetado o comportamento dos brasileiros, sobretudo nos municípios onde seus seguidores são mais numerosos.

A conta é do economista Tiago Cavalcanti, professor da Universidade de Cambridge, e um dos autores do estudo “Mais do que palavras: discurso de líderes e comportamento de risco durante a pandemia”, divulgado nesta segunda-feira, em parceria com Nicolás Ajzenman e Daniel Da Mata, da Fundação Getúlio Vargas-SP.

Dois eventos em especial teriam provocado um movimento adicional de nada menos que um milhão de pessoas nas ruas pelo país, diariamente, pelo período de 10 dias: a manifestação de 15 de março em Brasília, depois que a Organização Mundial de Saúde (OMS) já havia recomendado o afastamento social, e o pronunciamento, em cadeia nacional, de 24 de março, quando o presidente minimizou a doença, tratando-a de "gripezinha".

Considerando-se o potencial de infecção de cada indivíduo portador do vírus, estes dois atos podem ter sido responsáveis, sozinhos, por pelo menos 500 novos casos por dia. Trata-se de 10 mil infectados num horizonte de apenas 10 dias. Ou seja, cerca de 10% do número de brasileiros oficialmente registrados como portadores da Covid-19 até ontem (domingo).

Para projetar o impacto que as pessoas que deixaram o confinamento nesses dez dias podem ter tido sobre o número de novos casos da doença e de mortes, Cavalcanti usa o fator de contaminação, a proporção de contaminados em relação à população e o percentual de mortes sobre o total de infectados no país. Isso porque nem todas as pessoas que foram a rua nesse período teriam a doença ou contagiado os outros.

Ele reconhece que a conta pode estar subestimada. Isso porque os cálculos levam em consideração apenas os dez dias subsequentes aos dois eventos e têm por base os casos registrados oficialmente no país. A mesma equação aplicada aos dados de óbitos indica que as manifestações podem estar por trás de pelo menos 700 mortes.

— Não é preciso muita gente para espalhar o vírus. Se esses eventos e discursos não tivessem acontecido, talvez tivéssemos 10 mil casos e 700 óbitos a menos — disse Cavalcanti ao GLOBO.

Monitoramento de celulares

O documento monitorou 60 milhões de aparelhos celulares, sem a identificação dos donos, em todo o Brasil, e confirmou que as palavras do presidente têm, sim, efeitos para muito além da retórica. Os dados ainda são preliminares e serão constantemente atualizados, o que significa que, em breve, deverão computar também o impacto da manifestação do último domingo.

O estudo comparou o índice de distanciamento social com os resultados nas urnas em 2018 em 5.570 municípios, sobretudo naqueles em que o presidente recebeu mais ou menos 50% dos votos no primeiro turno. A diferença no grau de isolamento das pessoas nas cidades onde há mais apoio a Jair Bolsonaro variou em até 30%.

"Nos 3% dos municípios onde o presidente teve o maior número de eleitores, como em Ascura, em Santa Catarina, e Nova Santa Rosa, no Paraná, o isolamento social subiu 24 pontos percentuais. Mas em Paricoa, Alagoras, e Irapuan Pinheiro, no Ceará, por exemplo, onde registrou o menor percentual de votos do país, o indicador aumentou 31 pontos percentuais”, diz o documento.

Paradoxalmente, pontua Cavalcanti, o discurso deletério do presidente acaba por prejudicar, em primeiro lugar, seus próprios eleitores, já que são eles que se sentem mais encorajados a sair de casa em plena pandemia.

Os atos e a retórica de Bolsonaro só complicam um cenário de muitas dúvidas sobre o novo coronavírus no Brasil, de acordo com o especialista.

— Existe muita confusão e desorganização no plano de ação do Brasil, além de muitas incertezas sobre o grau de letalidade e infeçção do vírus. Por isso, é tão importante o que diz o presidente na pandemia. Mas o discurso do governo é antagônico dentro do próprio governo, e não apenas em relação ao que dizem os governadores. É o papel do líder mostra-se como fiel da balança— disse Cavalcanti.

No início da pandemia, quando os primeiros casos começaram a ser revelados no Brasil, as pessoas responderam ao isolamento social de maneira mais imediata. O universo da população que deixou de circular passou de 20% a 50% em média ao longo do tempo. Esta foi a fração dos celulares que permaneceram em um raio de até 450 metros de distância de casa, de acordo com o estudo. Mas a resposta foi desigual pelo país:

— Nossa pesquisa sugere que as declarações sobre comportamento de saúde pública são levadas a sério pelos seguidores, a despeito do seu rigor científico ou da sua capacidade de causar danos — afirmou Cavalcanti, que foi além:

— Bolsonaro desafia ativamente as regulações impostas pelos governos regionais para conter o vírus. Ele ignora as recomendações da OMS e até mesmo do seu próprio ministro da Saúde (Luiz Henrique Mandetta), que foi demitido recentemente.

Para Cavalcanti, a pesquisa realizada com base em "big data" mostra que a atividade do presidente tem efeito sobre a população.

— O Brasil é uma nação polarizada com um líder populista. Os padrões que vemos no Brasil poderiam se repetir em nações com uma situação politica semelhante, como nos Estados Unidos — diz o economista.

Fonte: https://oglobo.globo.com/sociedade/...sonaro-10-dos-casos-mortes-no-brasil-24409253

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Cidades pró-Bolsonaro registraram maior taxa de contágio pela Covid-19, indica estudo

Pesquisa avaliou comportamento da população em 255 municípios brasileiros e identificou maior disseminação do coronavírus em cidades com forte eleitorado bolsonarista

RIO — As cidades que registram maior aprovação ao governo de Jair Bolsonaro tiveram um aumento na taxa de contágio da Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, 18,9% maior do que aquelas que demonstram menor apoio ao presidente, em março. É o que mostra um estudo das universidades da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, e de Bocconi, na Itália, publicado na última sexta-feira.

A pesquisa analisou o impacto em 255 municípios brasileiros das atitudes de Bolsonaro no dia 15 de março, quando o presidente subestimou a pandemia e cumprimentou manifestantes pró-governo em frente ao Palácio do Planalto, em Brasília.

A alta na taxa de contaminação não se dá apenas pela aglomeração das manifestações pró-Bolsonaro que aconteceram naquele mês, como também pelo relaxamento de seus apoiadores em relação às medidas de isolamento social para conter o avanço do vírus.

Para chegar ao resultado, o estudo usou dados de cidades que tinham ao menos um caso confirmado da Covid-19, no período entre 8 e 26 de março, e levou em conta o percentual de votos pró-Bolsonaro no primeiro e no segundo turno da eleição presidencial de 2018.

No dia 15 de março, diversas cidades tiveram aglomeração de pessoas em manifestações de apoio ao presidente. O contato social promovido por esses atos não é o único fator que explica o crescimento nos contágios, indica a pesquisa.

Já nos locais que registraram atos e onde ele também teve maioria popular, a taxa de contágio foi bem maior: 43,3% mais rápida do que nas cidades onde o presidente não teve a maioria dos votos e que não sediaram os atos, indicando que os moradores dessas regiões podem ter parado de seguir as medidas de distanciamento social após o 15 de março, influenciados pelo comportamento de Bolsonaro.

Contágio sobe mais em capitais bolsonaristas

O aumento de contaminações em lugares com mais eleitores do presidente, mas que não promoveram protestos, também tiveram aumento, segundo a pesquisa, o que aponta que os seus eleitores podem ter relaxado com as medidas de proteção após ouvirem suas declarações.

Dentre as capitais brasileiras onde o presidente teve mais votos em 2018 analisadas pelo artigo, estão Cuiabá, Florianópolis, Fortaleza, Goiânia, João Pessoa, Manaus, Natal, Palmas, Porto Alegre, Recife, Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo, São Luís, Teresina, Vitória, Boa Vista, Campo Grande, Porto Velho, Rio Branco.

De acordo com a pesquisa, antes das manifestações do dia 15 de março, não havia diferença nas taxas entre as cidades que apoiaram ou não o presidente na eleição. Após essa data, no entanto, os municípios com maior concentração de eleitores de Bolsonaro viram seus contágios subirem mais rapidamente do que as cidades que registraram menor apoio a Bolsonaro nas eleições de 2018.

Segundo os dados obtidos, os cenários entre cidades que tinham mais e menos apoiadores era semelhante até o dia 18 do mesmo mês. A partir desse dia começa a ter um aumento nos municípios que concentram mais eleitores de Bolsonaro. A justificativa do estudo para isso é que os três dias entre um evento e outro é o tempo necessário para a aparição dos primeiros sintomas da Covid-19.

Para chegar a essas conclusões, os autores da pesquisa compararam a taxa de contágio e isolamento, mas também a capacidade de cada município de testar sua população. O cálculo levou em consideração as cidades com maior PIB, que tendem a fazer uma testagem maior de seus pacientes. Uma das autoras do estudo, Paula Retti, afirma que esses dados foram incluídos na conta mas que, ainda assim, a taxa de crescimento dos locais que apoiaram o presidente foi maior do que aqueles em que ele não obteve maioria dos votos, mesmo considerando a capacidade de testar os seus moradores.

— Nós fizemos um cálculo em que consideramos as diferenças do PIB per capita e da população, que são variáveis que achamos que explicam a capacidade de testagem dos municípios e a velocidade com que o vírus se difundiria na ausência da influência do Bolsonaro. E vimos que a sua influência foi determinante no ritmo da taxa de contágio nos municípios que o apoiaram, mostrando que a maioria dos moradores desses locais acabaram seguindo as orientações do presidente.

Monitoramento de celulares

O estudo ainda usou dados do monitoramento de 60 milhões de celulares para avaliar se as medidas de restrições foram respeitadas ou não. Com base nas informações da empresa de tecnologia In Loco, a pesquisa mediu a porcentagem de aparelhos que permaneceram dentro de um raio a 450 metros do local identificado como “casa”. Aqueles que saiam desse perímetro indicariam as pessoas que burlaram o isolamento.

O cientista político e sociólogo da FGV Carlos Pereira explica que essa influência do presidente sob seus eleitores incide na parcela de seus apoiadores mais ideológicos, que continuam ao lado de Bolsonaro mesmo que tenham discordâncias em pontos específicos ou diante de situações excepcionais, como no caso de uma pandemia.

— Há uma parcela de eleitores, que não é trivial, que independente do que ocorra com o Bolsonaro vão continuar dando apoio a ele por uma questão fundamentalmente ideológica, e não racional. Essa política de Bolsonaro de minimizar a pandemia pode levar à morte de milhares de pessoas — explica Pereira.

O acadêmico segue:

— O eleitor dele quer isso? Obviamente que não, mas vai tentar encontrar um mecanismo psicológico que tente minorar essa divergência e vai dizer ‘mas o Bolsonaro pelo menos está lutando contra a corrupção’ ou que ele está ‘defendendo uma política pró-mercado’. E, com isso, o eleitor ideológico acha justificativas para continuar apoiando o seu representante, mesmo diante dessa situação.

Segundo o cientista político, um desses mecanismos psicológicos seria o chamado ‘custo-benefício’: o eleitor avalia a perda que vai ter confrontando o seu candidato ou o seu presidente com os ganhos das promessas que esse representante fez. De acordo com Pereira, quando se trata de apoios ideológicos, esses ganhos acabam superando as perdas.

De acordo com o estudo das universidades americana e italiana, em geral, eleitores do Bolsonaro tendem a levar a Covid-19 menos a sério do que aqueles que não apoiam o presidente e cumprem com as medidas de isolamento social.

Entre os motivos para isso, a pesquisa aponta que quem o apoia pode ser menos avesso a riscos e que tenham diferentes percepções de custo e benefício das restrições. O trabalho aponta que esses fatores podem derivar da influência que Bolsonaro exerce sob a sua base, alterando o entendimento dos riscos ou reforçando um embate entre saúde e economia, que pode levar a seus partidários a não seguir as orientações para prevenir a propagação do novo coronavírus.

Segundo o professor de economia da Universidade de São Paulo (USP), Luis Meloni, os dados obtidos na pesquisa são robustos e indicam uma tendência já comprovada em outros estudos: os apoiadores do presidente tendem a seguir mais literalmente as posições de Jair Bolsonaro. Segundo ele, não há a escolha entre salvar a economia e impedir o avanço do vírus, como defende o presidente.

— O impacto na economia existirá agora, mas vai ser pior se não tomarmos as medidas necessárias para conter a pandemia. Uma coisa importante de se saber, nesse momento, é que o impacto econômico não virá por conta das medidas de isolamento social, ele virá por conta do vírus. E temos que escolher como lidar com isso, ou voluntariamente, adotando as medidas das organizações de saúde, ou involuntariamente, abrindo a economia e deixando as pessoas sofrerem, vai ser muito pior.

Segundo ele, a pesquisa mostra que a postura do presidente e sua capacidade de angariar os seus apoiadores, que seguem as suas palavras e não as indicações das organizações de saúde, pode se revelar catastrófica ao longo do tempo.

Fora do Brasil

Em um cenário global, Bolsonaro não foi o único chefe de Estado e de governo a subestimar a pandemia do no coronavírus. O presidente americano, Donald Trump, e o mexicano, Andrés Manuel López Obrador, e o nicaraguense, Daniel Ortega, também menosprezaram os riscos que a doença respiratória altamente contagiosa poderia causar em seus países.

Os três, porém recuaram de suas posições após a crise sanitária se agravar. De acordo com o professor de ciência política da Universidade do Texas Kurt Weyland, essa é uma atitude típica de governos populistas, que costumam se considerar “acima de todos”.

— Líderes populistas se descrevem como solucionadores de problemas "sobrenaturais", supremamente capazes. Mas o coronavírus é um problema tão grande que eles não podem ou não têm como resolver. Então, inicialmente eles negam a situação, desejando que ela vá embora — explica Weyland, que ressalta: — líderes populistas prosperam com problemas pontuais e agudos, mas que são resolvíveis,a hiperinflação, que é péssima mas tem maneiras de solucionada rapidamente. Para eles, um problema "insolúvel", ou seja, que não pode ser derrotado rápida e decisivamente, é um enorme desafio político.

Fonte: https://oglobo.globo.com/sociedade/...contagio-pela-covid-19-indica-estudo-24409329

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Bolsonaro é a maior ameaça ao combate à Covid-19 no Brasil, diz revista inglesa Lancet

Em forte editorial, prestigiosa publicação científica diz que o presidente trai o povo com seu comportamento

A maior ameaça à resposta do Brasil à Covid-19 parece ser seu presidente, Jair Bolsonaro, mais empenhado em uma guerra contra a ciência do que contra o novo vírus.

O diagnóstico está no editorial publicado nesta quinta (7) pela prestigiosa revista científica britânica The Lancet, que nomeia Bolsonaro como “líder ‘e daí?’”, em referência à resposta dada pelo presidente a jornalistas quando questionado sobre a recente escalada no número de mortes por Covid-19 no país.

De acordo com o texto, Bolsonaro não só “semeia confusão, desprezando e desencorajando abertamente as medidas de distanciamento físico e confinamento” como também “perdeu dois importantes e influentes ministros nas três últimas semanas”, numa desorganização com consequências fatais que também indicaria a erosão moral de sua liderança.

“É desesperador que o governo brasileiro não esteja seguindo as recomendações das comunidades médica e científica do país”, disse o médico e editor da Lancet, Richard Horton, à Folha ao explicar as motivações para a publicação do editorial. ”O Brasil tem alguns dos melhores cientistas e pesquisadores do mundo, e o governo precisa ouvir esses profissionais e confiar neles.”

O editorial descreve o Brasil como um terreno pantanoso mesmo sem o jogo contra de lideranças políticas: 13 milhões de brasileiros residentes em favelas, falta de saneamento e acesso a água, ameaças a populações indígenas vulneráveis à ação de madeireiros e garimpeiros, que agora trazem, além da destruição da floresta, também uma nova doença.

Condena ainda os ataques à ciência protagonizados pelo atual governo, que ignora as recomendações da comunidade científica e, ao fazer isso, trai a população do país. “Há cientistas brasileiros que são líderes globais em muitos domínios, e esse é um recurso poderoso no qual um país deve se apoiar para o bem da sua população. É por isso que eu chamo o comportamento de Bolsonaro de uma traição a seu povo. E isso é imperdoável”, disse Horton.

Diante de uma emergência global, por que escrever sobre o Brasil?

A gente tem acompanhado os eventos no Brasil, o sexto maior país do mundo, com mais de 200 milhões de pessoas. Estamos no meio de uma emergência humanitária global, o que significa, literalmente, que a vida de milhões de pessoas está em risco no Brasil a menos que as medidas corretas de saúde pública e de controle epidemiológico sejam tomadas pelo governo.

É desesperador que o governo brasileiro não esteja seguindo as recomendações das comunidades médica e científica do país. O Brasil tem alguns dos melhores cientistas e pesquisadores do mundo e o governo precisa ouvir esses profissionais e confiar neles. Ao contrário, o presidente tem apresentado um comportamento negligente e inacreditavelmente perigoso, o que é chocante para aqueles que se importam com o futuro do Brasil.

Você vê alguma situação semelhante no mundo?

Sim. Nos Estados Unidos da América. O presidente Trump e o presidente Bolsonaro estão agindo de maneira semelhante. Trump dá declarações profundamente não científicas, que levaram os EUA a ter o maior número de mortes em todo o mundo.

Minha aflição é que Bolsonaro esteja conduzindo o Brasil para uma disseminação fora de controle do vírus, a não ser que o Brasil adote as medidas corretas, como o distanciamento social, de maneira agressiva e urgente. Trata-se de uma emergência global, e o presidente precisa se comportar de acordo, porque seus cidadãos e trabalhadores da saúde estão nas linhas de frente, em clínicas, hospitais e comunidades, tentando defender a saúde da população brasileira.

Por seu comportamento atual, o presidente está traindo seu povo. Ele é o grande e único obstáculo a resposta brasileira à pandemia baseada em ciência.

O governo cortou verbas de ciência e pesquisa e é acusado de disseminar fake news, além de atacar a imprensa. Como essa campanha de deslegitimação da informação com lastro agrava o quadro atual?

A política criada por Bolsonaro pode ser chamada de uma guerra contra a ciência, e ela colocou o Brasil numa situação de grande risco. O país está certamente mais fraco e vulnerável por conta disso.

Em 20 anos da Lancet, acompanhamos o desenvolvimento da ciência no Brasil como um dos grandes sucessos do país. Instituições como a Fiocruz não são apenas centros nacionais de excelência, são pólos internacionais de excelência. Os cientistas brasileiros são líderes globais em muitos domínios, e esse é um recurso poderoso no qual um país deve se apoiar para o bem da sua população. E é nada menos que uma tragédia que o governo não reconheça, abrace e apoie essa comunidade. É por isso que eu chamo o comportamento de Bolsonaro de uma traição a seu povo. E isso é imperdoável.

O Brasil pode se tornar o novo epicentro da pandemia?

Esse é o maior medo. O comportamento do presidente é de desprezo pelas recomendações científicas, e esse é um exemplo nocivo para o país. O perigo é quando o vírus irromper pelas comunidades mais pobres e mais remotas, onde o acesso a atendimento médico já é precário.

Sabemos agora que não se trata de um vírus como o influenza. Trata-se de vírus que demanda a internação de cerca de 20% dos doentes. Destes, metade acaba nas unidades de terapia intensiva, com alto risco de morte. Essas mortes são passíveis de prevenção se frearmos o vírus. E isso quer dizer que a liderança política do país tem de agir rápido e decididamente para diminuir sua transmissão.

Quais seriam as soluções para a epidemia no país?

Todas essas mensagens têm sido emitidas pela comunidade médica e científica do Brasil de maneira clara e potente. É inexplicável, para aqueles que olham para o Brasil desde fora, que seu presidente não esteja ouvindo os melhores conselheiros que poderia ter nessa área. Diante do perigo de que a curva de contágio e de mortos se acentue, seria necessário um período de “lockdown”, o que causaria danos econômicos.

Estamos passando por isso agora no Reino Unido. A China e partes da Europa já passaram por isso. Se você precisa parar a disseminação do vírus, precisa fazer o “lockdown”, do qual tem de sair de maneira lenta e cautelosa para então reconstruir sua economia e seu sistema de saúde. Do contrário, o vírus pode causar uma catástrofe humanitária como aquela vista na Itália.

Além do presidente, cuja posição você conhece, poucos governadores do país consideram o sistema de “lockdown”.

O que aprendemos com Hong Kong é que a única maneira de escapar do "lockdown" é criar medidas muito rígidas de distanciamento social combinadas com ampla testagem de casos suspeitos, seguida de um rastreamento detalhado dos contatos prévios dos indivíduos que tiveram teste positivo e de sua quarentena. Se você consegue aplicar essas medidas, pode evitar o “lockdown”. Se você não consegue, precisa isolar as pessoas.

No Brasil, com 13 milhões de pessoas vivendo em favelas, fica difícil praticar o distanciamento social. Também sei que não há tantos testes disponíveis em boa parte do país. E aí está minha preocupação: uma explosão do vírus caso o “lockdown” não seja implementado. Não sei detalhes da capacidade das UTIs brasileiras, mas elas provavelmente não serão suficientes para tamanha demanda.

Ao agir contrariamente às recomendações da ciência e da medicina, Bolsonaro pode ser responsabilizado por parte das mortes por Covid-19?

Em democracias, os políticos só são responsabilizados nas urnas. Em tese, portanto, o presidente só pagaria por sua negligência em 2022. Mas a mídia e a comunidade científica o tem responsabilizado. A meu ver, trata-se de um comportamento criminoso o dele. E meu temor é que milhares de brasileiros ainda precisem morrer para que a sociedade civil brasileira diga “chega”.

Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/equil...19-no-brasil-diz-revista-inglesa-lancet.shtml

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Ivo Maropo

Bam-bam-bam
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O negacionismo do coronavírus é essencial para os líderes populistas porque o seu reconhecimento seria também o reconhecimento da sua própria impotência, uma impotência que já reflete uma impotência original e fundacional do próprio populismo em si.

Ou seja, negar o vírus adia o momento em que a nudez de rei tem que ser exposta como nudez. Já não poderemos mais fazer de conta que ele não está nu. É o sintoma claro de que o populismo sabe que a sua base é fraca e falsa. E nada disso é mais verdadeiro do que no bolsonarismo.
 

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O negacionismo do coronavírus é essencial para os líderes populistas porque o seu reconhecimento seria também o reconhecimento da sua própria impotência, uma impotência que já reflete uma impotência original e fundacional do próprio populismo em si.

Ou seja, negar o vírus adia o momento em que a nudez de rei tem que ser exposta como nudez. Já não poderemos mais fazer de conta que ele não está nu. É o sintoma claro de que o populismo sabe que a sua base é fraca e falsa. E nada disso é mais verdadeiro do que no bolsonarismo.

Eu concordo contigo nisso. Como diz o Deleuze parafraseando o Espinosa, o tirano precisa de escravos e os escravos precisam de tiranos. Ambos são impotentes e precisam do poder.



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Sic Parvis Magna

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Cidades pró-Bolsonaro registraram maior taxa de contágio pela Covid-19, indica estudo

Pesquisa avaliou comportamento da população em 255 municípios brasileiros e identificou maior disseminação do coronavírus em cidades com forte eleitorado bolsonarista

RIO — As cidades que registram maior aprovação ao governo de Jair Bolsonaro tiveram um aumento na taxa de contágio da Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, 18,9% maior do que aquelas que demonstram menor apoio ao presidente, em março. É o que mostra um estudo das universidades da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, e de Bocconi, na Itália, publicado na última sexta-feira.

A pesquisa analisou o impacto em 255 municípios brasileiros das atitudes de Bolsonaro no dia 15 de março, quando o presidente subestimou a pandemia e cumprimentou manifestantes pró-governo em frente ao Palácio do Planalto, em Brasília.

A alta na taxa de contaminação não se dá apenas pela aglomeração das manifestações pró-Bolsonaro que aconteceram naquele mês, como também pelo relaxamento de seus apoiadores em relação às medidas de isolamento social para conter o avanço do vírus.

Para chegar ao resultado, o estudo usou dados de cidades que tinham ao menos um caso confirmado da Covid-19, no período entre 8 e 26 de março, e levou em conta o percentual de votos pró-Bolsonaro no primeiro e no segundo turno da eleição presidencial de 2018.

No dia 15 de março, diversas cidades tiveram aglomeração de pessoas em manifestações de apoio ao presidente. O contato social promovido por esses atos não é o único fator que explica o crescimento nos contágios, indica a pesquisa.

Já nos locais que registraram atos e onde ele também teve maioria popular, a taxa de contágio foi bem maior: 43,3% mais rápida do que nas cidades onde o presidente não teve a maioria dos votos e que não sediaram os atos, indicando que os moradores dessas regiões podem ter parado de seguir as medidas de distanciamento social após o 15 de março, influenciados pelo comportamento de Bolsonaro.

Contágio sobe mais em capitais bolsonaristas

O aumento de contaminações em lugares com mais eleitores do presidente, mas que não promoveram protestos, também tiveram aumento, segundo a pesquisa, o que aponta que os seus eleitores podem ter relaxado com as medidas de proteção após ouvirem suas declarações.

Dentre as capitais brasileiras onde o presidente teve mais votos em 2018 analisadas pelo artigo, estão Cuiabá, Florianópolis, Fortaleza, Goiânia, João Pessoa, Manaus, Natal, Palmas, Porto Alegre, Recife, Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo, São Luís, Teresina, Vitória, Boa Vista, Campo Grande, Porto Velho, Rio Branco.

De acordo com a pesquisa, antes das manifestações do dia 15 de março, não havia diferença nas taxas entre as cidades que apoiaram ou não o presidente na eleição. Após essa data, no entanto, os municípios com maior concentração de eleitores de Bolsonaro viram seus contágios subirem mais rapidamente do que as cidades que registraram menor apoio a Bolsonaro nas eleições de 2018.

Segundo os dados obtidos, os cenários entre cidades que tinham mais e menos apoiadores era semelhante até o dia 18 do mesmo mês. A partir desse dia começa a ter um aumento nos municípios que concentram mais eleitores de Bolsonaro. A justificativa do estudo para isso é que os três dias entre um evento e outro é o tempo necessário para a aparição dos primeiros sintomas da Covid-19.

Para chegar a essas conclusões, os autores da pesquisa compararam a taxa de contágio e isolamento, mas também a capacidade de cada município de testar sua população. O cálculo levou em consideração as cidades com maior PIB, que tendem a fazer uma testagem maior de seus pacientes. Uma das autoras do estudo, Paula Retti, afirma que esses dados foram incluídos na conta mas que, ainda assim, a taxa de crescimento dos locais que apoiaram o presidente foi maior do que aqueles em que ele não obteve maioria dos votos, mesmo considerando a capacidade de testar os seus moradores.

— Nós fizemos um cálculo em que consideramos as diferenças do PIB per capita e da população, que são variáveis que achamos que explicam a capacidade de testagem dos municípios e a velocidade com que o vírus se difundiria na ausência da influência do Bolsonaro. E vimos que a sua influência foi determinante no ritmo da taxa de contágio nos municípios que o apoiaram, mostrando que a maioria dos moradores desses locais acabaram seguindo as orientações do presidente.

Monitoramento de celulares

O estudo ainda usou dados do monitoramento de 60 milhões de celulares para avaliar se as medidas de restrições foram respeitadas ou não. Com base nas informações da empresa de tecnologia In Loco, a pesquisa mediu a porcentagem de aparelhos que permaneceram dentro de um raio a 450 metros do local identificado como “casa”. Aqueles que saiam desse perímetro indicariam as pessoas que burlaram o isolamento.

O cientista político e sociólogo da FGV Carlos Pereira explica que essa influência do presidente sob seus eleitores incide na parcela de seus apoiadores mais ideológicos, que continuam ao lado de Bolsonaro mesmo que tenham discordâncias em pontos específicos ou diante de situações excepcionais, como no caso de uma pandemia.

— Há uma parcela de eleitores, que não é trivial, que independente do que ocorra com o Bolsonaro vão continuar dando apoio a ele por uma questão fundamentalmente ideológica, e não racional. Essa política de Bolsonaro de minimizar a pandemia pode levar à morte de milhares de pessoas — explica Pereira.

O acadêmico segue:

— O eleitor dele quer isso? Obviamente que não, mas vai tentar encontrar um mecanismo psicológico que tente minorar essa divergência e vai dizer ‘mas o Bolsonaro pelo menos está lutando contra a corrupção’ ou que ele está ‘defendendo uma política pró-mercado’. E, com isso, o eleitor ideológico acha justificativas para continuar apoiando o seu representante, mesmo diante dessa situação.

Segundo o cientista político, um desses mecanismos psicológicos seria o chamado ‘custo-benefício’: o eleitor avalia a perda que vai ter confrontando o seu candidato ou o seu presidente com os ganhos das promessas que esse representante fez. De acordo com Pereira, quando se trata de apoios ideológicos, esses ganhos acabam superando as perdas.

De acordo com o estudo das universidades americana e italiana, em geral, eleitores do Bolsonaro tendem a levar a Covid-19 menos a sério do que aqueles que não apoiam o presidente e cumprem com as medidas de isolamento social.

Entre os motivos para isso, a pesquisa aponta que quem o apoia pode ser menos avesso a riscos e que tenham diferentes percepções de custo e benefício das restrições. O trabalho aponta que esses fatores podem derivar da influência que Bolsonaro exerce sob a sua base, alterando o entendimento dos riscos ou reforçando um embate entre saúde e economia, que pode levar a seus partidários a não seguir as orientações para prevenir a propagação do novo coronavírus.

Segundo o professor de economia da Universidade de São Paulo (USP), Luis Meloni, os dados obtidos na pesquisa são robustos e indicam uma tendência já comprovada em outros estudos: os apoiadores do presidente tendem a seguir mais literalmente as posições de Jair Bolsonaro. Segundo ele, não há a escolha entre salvar a economia e impedir o avanço do vírus, como defende o presidente.

— O impacto na economia existirá agora, mas vai ser pior se não tomarmos as medidas necessárias para conter a pandemia. Uma coisa importante de se saber, nesse momento, é que o impacto econômico não virá por conta das medidas de isolamento social, ele virá por conta do vírus. E temos que escolher como lidar com isso, ou voluntariamente, adotando as medidas das organizações de saúde, ou involuntariamente, abrindo a economia e deixando as pessoas sofrerem, vai ser muito pior.

Segundo ele, a pesquisa mostra que a postura do presidente e sua capacidade de angariar os seus apoiadores, que seguem as suas palavras e não as indicações das organizações de saúde, pode se revelar catastrófica ao longo do tempo.

Fora do Brasil

Em um cenário global, Bolsonaro não foi o único chefe de Estado e de governo a subestimar a pandemia do no coronavírus. O presidente americano, Donald Trump, e o mexicano, Andrés Manuel López Obrador, e o nicaraguense, Daniel Ortega, também menosprezaram os riscos que a doença respiratória altamente contagiosa poderia causar em seus países.

Os três, porém recuaram de suas posições após a crise sanitária se agravar. De acordo com o professor de ciência política da Universidade do Texas Kurt Weyland, essa é uma atitude típica de governos populistas, que costumam se considerar “acima de todos”.

— Líderes populistas se descrevem como solucionadores de problemas "sobrenaturais", supremamente capazes. Mas o coronavírus é um problema tão grande que eles não podem ou não têm como resolver. Então, inicialmente eles negam a situação, desejando que ela vá embora — explica Weyland, que ressalta: — líderes populistas prosperam com problemas pontuais e agudos, mas que são resolvíveis,a hiperinflação, que é péssima mas tem maneiras de solucionada rapidamente. Para eles, um problema "insolúvel", ou seja, que não pode ser derrotado rápida e decisivamente, é um enorme desafio político.

Fonte: https://oglobo.globo.com/sociedade/...contagio-pela-covid-19-indica-estudo-24409329

c

Cara, o cara foi eleito pela maioria da população, na média tem mais cidades que apoiam o Bolsonaro do que outros candidatos, e quanto mais cidades, mais COVID. Tentativa falha de atribuir correlação. Mídia é burra ou desonesta, não tem outra alternativa.
 

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Cara, o cara foi eleito pela maioria da população, na média tem mais cidades que apoiam o Bolsonaro do que outros candidatos, e quanto mais cidades, mais COVID. Tentativa falha de atribuir correlação. Mídia é burra ou desonesta, não tem outra alternativa.

Foi em termos percentuais e escolha randomizada de 255 municípios. Isso que você está falando não faz muito sentido.

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Foi em termos percentuais e escolha randomizada de 255 municípios. Isso que você está falando não faz muito sentido.

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Explica melhor o que você quis dizer porque não entendi como sua afirmação refuta a limitação em atribuir causalidade que citei.

Mesmo em termos percentuais e sorteando as cidades, na média e ao longo de vários testes, ainda tem o problema da maioria da população ser Bolsonaro, o que numa amostra aleatória faz com que, na média, os infectados sejam mais Bolsonaristas do que outro candidato, o mesmo vale pra cidades. Isso sozinho não é evidência de nada, além das limitações amostrais, é só uma evidência meio óbvia: mais gente é Bolsonaro, logo mais cidades são Bolsonaro, logo a maioria das cidades infectadas são Bolsonaro. Tá, e daí?
 
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Explica melhor o que você quis dizer porque não entendi como sua afirmação refuta a limitação em atribuir causalidade que citei.

Mesmo em termos percentuais e sorteando as cidades, na média e ao longo de vários testes, ainda tem o problema da maioria da população ser Bolsonaro, o que numa amostra aleatória faz com que, na média, os infectados sejam mais Bolsonaristas do que outro candidato, o mesmo vale pra cidades. Isso sozinho não é evidência de nada, além das limitações amostrais, é só uma evidência meio óbvia: mais gente é Bolsonaro, logo mais cidades são Bolsonaro, logo a maioria das cidades infectadas são Bolsonaro. Tá, e daí?
Na real, eu falei errado, mesmo. Mas, sim, eles fizeram uma série de ajustes para comparar as cidades (como número dos votantes no primeiro e segundo turnos, PIB per capita, número da população + os ajustes de manifestações e nível de isolamento por big data de geolocalização).

Procure por "Covid Economics - Vetted and Real-Time Papers", pág. 104, "Words can hurt: How political communication can change the pace of an epidemic":


c

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Na real, eu falei errado, mesmo. Mas, sim, eles fizeram uma série de ajustes para comparar as cidades (como número dos votantes no primeiro e segundo turnos, PIB per capita, número da população + os ajustes de manifestações e nível de isolamento por big data de geolocalização).

Procure por "Covid Economics - Vetted and Real-Time Papers", pág. 104, "Words can hurt: How political communication can change the pace of an epidemic":


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Vamos lá...

Primeiro ponto: artigo submetido no dia 22/04, e aprovado no dia 26/04. Isso não existe no meio científico, a não ser que: 1. a tiragem precisa sair muito rápido, e aí a avaliação de pares fica extremamente prejudicada, se é que foi feita; ou 2. o pesquisador é amigo do editor. As boas revistas da minha área, levam no mínimo 90 dias pra aceitar um artigo, por exemplo. Eu já vi artigo ficar mais de 1 ano pra ser publicado após a submissão. Então, no mínimo, não houve tempo pra esse artigo ser revisado pelos pares/avaliadores/editor.

Segundo ponto: a revista não possui qualis. O qualis é a avaliação da Capes, ela vai de A1, o melhor qualis, pra A2, A3, B1-B7, e depois "sem qualis". Essa aí é "sem qualis". Pra fazer uma analogia, é como se saísse uma notícia, e ela não tá no Globo, na Folha, na UOL etc., ela tá num blog. A analogia pra onde esse artigo tá é mais ou menos essa.

Terceiro ponto:

119714

Aqui mostra graficamente o comportamento das cidades que apoiam/não apoiam o Bolsonaro. Veja que o argumento do artigo (identification strategy) é feito em cima da lógica que: os apoiadores de Bolsonaro tinha um índice menor de contaminação do que os não apoiadores, e que depois do dia 15 isso inverteu, e a causa disso é o Bolsonaro ter apoiado as manifestações do dia 15. Mas olha que isso fica invertendo ao longo do tempo, não dá pra concluir nada disso, pode ser simplesmente variância.

Quarto ponto:

O trabalho fez uma regressão diff-in-diff, mas não colocou um choque exôgeno pra comparar os grupos de teste e controle. Normalmente você precisa de um choque que separa a amostra em "antes" e "após" um evento, porque isso simula um "ceteris paribus". Esse choque precisa ser exôgeno, alguns exemplos de choque que já vi em trabalhos: terremoto, aprovação de lei, furacão, morte de algum VIP. Se você quiser entender a necessidade desse choque, tá explicado no livro de econometria do Wooldridge (2012). Adicionalmente, pra justificar a aplicabilidade do diff-in-diff, o autor tinha que demonstrar qual era a tendência da evolução da variável, a justificativa disso, e como após o choque exôgeno um dos grupos teve um comportamento diferente do esperado. Tudo isso pode não ter sido levado em consideração na publicação do artigo pelo prazo de 4 dias que os avaliadores tiveram pra avaliar a robustes do trabalho. Por conta desses problemas, não é possível inferir a causalidade defendida na pesquisa.

Dito isso, baseado nas informações dispostas, o meu parecer técnico é que esse artigo foi avaliado as pressas, publicado em lugar duvidoso e provavelmente tem motivação política.

Acho o Bolsonaro incompetente, sacrificou o país e o governo pra livrar os filhos, e tem sido um péssimo líder durante o COVID. Mas não é por isso que qualquer pesquisa que corrobore essa visão seja uma boa pesquisa.

Toda hora eu vejo leigo, principalmente da mídia, compartilhando uma pesquisa sem ter ideia do que foi feito, do que acharam, do local que foi publicado, só porque a pesquisa em questão reforça a crença dela. Se você quiser levar esse assunto em diante, me explica o que a tabela 1 tá mostrando, baseado nos coeficientes de inclinação e níveis de significância que tão lá só pra eu saber que eu não tô perdendo meu tempo, e aí a gente continua.
 
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Primeiro ponto: artigo submetido no dia 22/04, e aprovado no dia 26/04. Isso não existe no meio científico, a não ser que: 1. a tiragem precisa sair muito rápido, e aí a avaliação de pares fica extremamente prejudicada, se é que foi feita; ou 2. o pesquisador é amigo do editor. As boas revistas da minha área, levam no mínimo 90 dias pra aceitar um artigo, por exemplo. Eu já vi artigo ficar mais de 1 ano pra ser publicado após a submissão. Então, no mínimo, não houve tempo pra esse artigo ser revisado pelos pares/avaliadores/editor.

Segundo ponto: a revista não possui qualis. O qualis é a avaliação da Capes, ela vai de A1, o melhor qualis, pra A2, A3, B1-B7, e depois "sem qualis". Essa aí é "sem qualis". Pra fazer uma analogia, é como se saísse uma notícia, e ela não tá no Globo, na Folha, na UOL etc., ela tá num blog. A analogia pra onde esse artigo tá é mais ou menos essa.

Terceiro ponto:

Visualizar anexo 119714

Aqui mostra graficamente o comportamento das cidades que apoiam/não apoiam o Bolsonaro. Veja que o argumento do artigo (identification strategy) é feito em cima da lógica que: os apoiadores de Bolsonaro tinha um índice menor de contaminação do que os não apoiadores, e que depois do dia 15 isso inverteu, e a causa disso é o Bolsonaro ter apoiado as manifestações do dia 15. Mas olha que isso fica invertendo ao longo do tempo, não dá pra concluir nada disso, pode ser simplesmente variância.

Quarto ponto:

O trabalho fez uma regressão diff-in-diff, mas não colocou um choque exôgeno pra comparar os grupos de teste e controle. Normalmente você precisa de um choque que separa a amostra em "antes" e "após" um evento, porque isso simula um "ceteris paribus". Esse choque precisa ser exôgeno, alguns exemplos de choque que já vi em trabalhos: terremoto, aprovação de lei, furacão, morte de algum VIP. Se você quiser entender a necessidade desse choque, tá explicado no livro de econometria do Wooldridge (2012). Adicionalmente, pra justificar a aplicabilidade do diff-in-diff, o autor tinha que demonstrar qual era a tendência da evolução da variável, a justificativa disso, e como após o choque exôgeno um dos grupos teve um comportamento diferente do esperado. Tudo isso pode não ter sido levado em consideração na publicação do artigo pelo prazo de 4 dias que os avaliadores tiveram pra avaliar a robustes do trabalho. Por conta desses problemas, não é possível inferir a causalidade defendida na pesquisa.

Dito isso, baseado nas informações dispostas, o meu parecer técnico é que esse artigo foi avaliado as pressas, publicado em lugar duvidoso e provavelmente tem motivação política.

Acho o Bolsonaro incompetente, sacrificou o país e o governo pra livrar os filhos, e tem sido um péssimo líder durante o COVID. Mas não é por isso que qualquer pesquisa que corrobore essa visão seja uma boa pesquisa.

Toda hora eu vejo leigo, principalmente da mídia, compartilhando uma pesquisa sem ter ideia do que foi feito, do que acharam, do local que foi publicado, só porque a pesquisa em questão reforça a crença dela. Se você quiser levar esse assunto em diante, me explica o que a tabela 1 tá mostrando, baseado nos coeficientes de inclinação e níveis de significância que tão lá só pra eu saber que eu não tô perdendo meu tempo, e aí a gente continua.

Pergunta honesta: o que você aponta no terceiro ponto não é exatamente explicado pelo que você quer no quarto ponto e diz ser ausência, isto é, a comparação que o artigo fez em relação aos dois tipos de cidades (apoiadoras e não-apoiadoras, nos dois tipos que contaram com manifestações vs. nos dois tipos que não contaram com manifestações)?

Sobre o primeiro ponto e o segundo ponto, eu entendo a importância desses critérios e requisitos, mas isso sempre me parece muito mais uma crítica rasa à forma - do que faltou ou de um carimbo - do que uma análise do que foi feito, do mérito. Usando sua metáfora jornalística, seria como alguém descredenciar uma notícia porque ela saiu na Folha ou na Globo. É um bom filtro, mas não suficiente.

Perdão se pareci arrogante, mas não foi a minha intenção.

c
 

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Pergunta honesta: o que você aponta no terceiro ponto não é exatamente explicado pelo que você quer no quarto ponto e diz ser ausência, isto é, a comparação que o artigo fez em relação aos dois tipos de cidades (apoiadoras e não-apoiadoras, nos dois tipos que contaram com manifestações vs. nos dois tipos que não contaram com manifestações)?

Sobre o primeiro ponto e o segundo ponto, eu entendo a importância desses critérios e requisitos, mas isso sempre me parece muito mais uma crítica rasa à forma - do que faltou ou de um carimbo - do que uma análise do que foi feito, do mérito. Usando sua metáfora jornalística, seria como alguém descredenciar uma notícia porque ela saiu na Folha ou na Globo. É um bom filtro, mas não suficiente.

Perdão se pareci arrogante, mas não foi a minha intenção.

c

Não, porque tem diversas outras variáveis que podem explicar a contaminação nas cidades além do Bolsonaro ir ou não numa manifestação e a pesquisa não tem o desenho adequado para inferir causalidade entre a contaminação e o Bolsonaro participar de uma manifestação.

Sobre o primeiro e segundo ponto, se eu tivesse ficado apenas neles seu comentário teria mais validade, mas critiquei o desenho da pesquisa também. Não é narrativa, um trabalho científico foi revisado e aprovado em 4 dias, e está num lugar que se quer é rankeado no ranking da qualidade (está abaixo do pior ranking). Nos EUA que os revisores são pagos não leva menos de 1 mês, aqui os revisores trabalham de graça. Ainda que você queira ignorar essa constatação, sobram os problemas no método que citei.
 

ned ludd

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Não, porque tem diversas outras variáveis que podem explicar a contaminação nas cidades além do Bolsonaro ir ou não numa manifestação e a pesquisa não tem o desenho adequado para inferir causalidade entre a contaminação e o Bolsonaro participar de uma manifestação.

Sobre o primeiro e segundo ponto, se eu tivesse ficado apenas neles seu comentário teria mais validade, mas critiquei o desenho da pesquisa também. Não é narrativa, um trabalho científico foi revisado e aprovado em 4 dias, e está num lugar que se quer é rankeado no ranking da qualidade (está abaixo do pior ranking). Nos EUA que os revisores são pagos não leva menos de 1 mês, aqui os revisores trabalham de graça. Ainda que você queira ignorar essa constatação, sobram os problemas no método que citei.

nego tá tudo chutando dados do meio de campo, esses números são uma piada, tudo com margem de erro tão grande que é o equivalente a tirar na moeda o resultado

HAHAHAHAHAHAH
 

Pingu77

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Não, porque tem diversas outras variáveis que podem explicar a contaminação nas cidades além do Bolsonaro ir ou não numa manifestação e a pesquisa não tem o desenho adequado para inferir causalidade entre a contaminação e o Bolsonaro participar de uma manifestação.

Sobre o primeiro e segundo ponto, se eu tivesse ficado apenas neles seu comentário teria mais validade, mas critiquei o desenho da pesquisa também. Não é narrativa, um trabalho científico foi revisado e aprovado em 4 dias, e está num lugar que se quer é rankeado no ranking da qualidade (está abaixo do pior ranking). Nos EUA que os revisores são pagos não leva menos de 1 mês, aqui os revisores trabalham de graça. Ainda que você queira ignorar essa constatação, sobram os problemas no método que citei.

Aproveitando o ensejo: o que você diz a respeito do estudo de parceria entre FGV-SP e Cambridge (também não foi revisado por pares, mas usa uma outra metodologia)?

"More Than Words: Leaders’ Speech and Risky Behavior during a Pandemic

How do political leader’s words and actions affect people’s behavior? We address this question in the context of Brazil by combining electoral data and geo-localized mobile phone data for more than 60 million devices throughout the entire country. We find that after Brazil’s president publicly and emphatically dismisses the risks associated with the COVID-19 Pandemic and advises against isolation, social distancing measures of citizens in pro-government localities reduce relative to those places in which his support is weaker, while pre-event effects are insignificant. The impact is large and robust to different empirical model specifications. We also find suggestive evidence that this impact is driven by localities with relatively higher levels of media penetration."


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Aproveitando o ensejo: o que você diz a respeito do estudo de parceria entre FGV-SP e Cambridge (também não foi revisado por pares, mas usa uma outra metodologia)?

"More Than Words: Leaders’ Speech and Risky Behavior during a Pandemic

How do political leader’s words and actions affect people’s behavior? We address this question in the context of Brazil by combining electoral data and geo-localized mobile phone data for more than 60 million devices throughout the entire country. We find that after Brazil’s president publicly and emphatically dismisses the risks associated with the COVID-19 Pandemic and advises against isolation, social distancing measures of citizens in pro-government localities reduce relative to those places in which his support is weaker, while pre-event effects are insignificant. The impact is large and robust to different empirical model specifications. We also find suggestive evidence that this impact is driven by localities with relatively higher levels of media penetration."


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Não consegui acessar o artigo com meu VPN da USP, mas esse trabalho é um working paper, não tá pronto. O cara só coloca aí pra ficar registrado que ele foi o primeiro a encontrar os achados dele ou desenvolver essa ideia, evitar plágio etc. Mas hoje não tá publicado em revista nenhuma, e não foi avaliado por ninguém.

Como não acessei não consigo comentar o método, mas também não tenho interesse em ficar analisando artigos de uma área acadêmica que não me interessa. Eventualmente, um trabalho com um método pode demonstrar o que ele pretende, mas não é o caso daquele primeiro.

Meu comentário foi bem pontual em relação ao outro, muita calma na hora de usar artigos pra reforçar um ponto de vista, principalmente quem não é treinado pra ler, entender e criticar esses artigos. Tem muita coisa ruim sendo feita, por vários motivos, e um filtro mínimo é a qualidade do lugar que aceita publicar aquele trabalho.
 

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Meu comentário foi bem pontual em relação ao outro, muita calma na hora de usar artigos pra reforçar um ponto de vista, principalmente quem não é treinado pra ler, entender e criticar esses artigos. Tem muita coisa ruim sendo feita, por vários motivos, e um filtro mínimo é a qualidade do lugar que aceita publicar aquele trabalho.

cara, o user Pingu77 já postou um monte de artigo medonho, tudo sem metodologia ou margem de erro. Se ele acredita que isso é ciência, é melhor deixar ele acreditar
 

Pingu77

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cara, o user Pingu77 já postou um monte de artigo medonho, tudo sem metodologia ou margem de erro. Se ele acredita que isso é ciência, é melhor deixar ele acreditar

Bem, eu não disse que acredito em nada. Isso aí já é a sua opinião. Estou justamente perguntando a opinião dele em um debate aberto, franco. Dói tanto assim em você discutir o assunto? (Até como aprendizado.)

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