Nós, brasileiros, sofremos, sim, de uma certa "síndrome de vira-lata". De acordo com o contexto em questão, fazemos sempre malabares para não contrariar o olhar (estrangeiro - preferencialmente europeu ou norte-americano) alheio.
Esta mistura de auto-estima baixa com uma natural "cordialidade" (sim, a minha referência implícita aqui é mesmo o "Homem Cordial", de Sérgio Buarque de Holanda) é que nos proporciona toda esta m****. Quando tem um show estrangeiro aqui, adoramos exibir uma festa carnavalesca, com uma recepção calorosa e efusiva.
Queremos que o estrangeiro saia daqui extensamente maravilhado com a nossa extrema brasilidade. Ou seja, o (obsessivo) jogo é manter uma certa auto-imagem externa (que nós achamos que existe por aí afora) para o olhar alheio anônimo-estrangeiro sobre nós. É por isso que, quando zoam de nós no exterior, nós quase sempre (e de modo quase que automático) entramos num modo "passivo-agressivo" de autocrítica esclarecida ("ah, mas nós também somos racistas pra caramba com os outros! Tudo certo já!").
Uma comparação possível (mesmo que descabida) eu faço com o crente, que, ao ser punido por Deus, jamais volta a sua atenção contra Ele - ele (o crente) pensa, "se Deus me puniu, então deve ser porque eu pequei, por mais que eu desconheça qual foi o meu pecado merecedor de tamanha zombaria! Se Ele me puniu, então eu devo ser merecedor, mesmo sem saber ao certo onde foi que eu errei". Percebem a perversão da lógica?
Sim, nós temos muito o que aprender enquanto povo, mas mesmo que haja razão para uma automática auto-reflexão crítica na crítica alheia, o fato desta ser uma reação "de lei" e imediata já é "patológico" o suficiente (pois a reação natural de qualquer povo que seja, quando de seu ataque por estrangeiros, é a do auto-defender-se, e não de, ao contrário, produzir imediatamente provas contra si mesmo! De modo a não desapontar o olhar alheio sobre nós).