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Sou analista de qualidade de software, especializado em automação de testes e trabalhar (e atualmente coordenar) times distribuídos.
Devido a instabilidades familiares, eu levei pressão pra arrumar um emprego desde antes de fazer 18 anos. Uns meses depois de fazer 18 eu consegui um estágio em TI com um colega meu da faculdade. Era horrível, tinha que arrumar computador, atender hóspede no quarto deles, cuidar do CRM, cuidar de servidor linux, pagar boquete e servir cafézinho. Com menos de 6 meses de estágio já queriam que eu levasse pra casa o telefone do plantão.
Isso foi antes da lei do estágio. Devido às tais pressões familiares, inclusive, fiz 2 meses e meio de estágio de graça, porque minha mãe achava que eu ia perder a vaga se eu não fosse logo.
Saí desse estágio determinado a estudar e virar programador. Estudei pra um c***lho por um ano, tava começando a ir bem nos simulados do SCJP (era na época da Sun ainda e Java 6 hahaha). Mas aí, novamente, vieram meus pais e começaram a tocar terror que não iam mais pagar a faculdade e o c***lho e aí eu tive que correr pra pegar qualquer estágio. Tentei pegar algo bom e acabei indo pra uma empresa bem grande, como estagiário de testes para trabalhar com automação. Muita coisa rolou, eu não consegui trabalhar com automação direito lá e acabei saindo pra empresa que estou hoje em dia, onde finalmente consegui me especializar nisso. E eles continuaram pagando a faculdade por mais 2 anos, ou seja, a pressa era injustificada.
Pessoalmente, eu não gosto do meu trabalho. Gostaria de ter tido a chance de virar desenvolvedor, principalmente porque quando eu tava saindo dessa primeira empresa (já como funcionário) eu descobri que a maior parte dos estagiários de desenvolvimento nem sabiam programar e eram dispensados. Hoje, principalmente devido ao fato de eu ganhar razoavelmente acima do mercado, eu levo o trabalho mais como o instrumento para eu tocar minha vida do que algo para satisfação pessoal. Em 10 anos que eu trabalho nessa área eu nunca senti muito tesão, não vejo muito propósito na área de QA devido ao fato de que fazem uns bons anos que não trabalho em um projeto/cliente que entenda o que precisa ser feito e que compreenda qual o papel do analista de qualidade. Hoje eu ainda trabalho com um cliente extremamente complicado e difícil de lidar, cheguei inclusive a pedir pra sair ano passado. Ainda assim, como sempre procuro fazer o melhor trabalho possível acabei tendo um crescimento bom mesmo não acreditando muito no que eu faço.
Não foi de todo ruim, nesse tempo tive a oportunidade de desenvolver habilidades importantíssimas. Tiveram casos em que eu tive que apagar incendio entrando em reuniões com diretor, VP e o papa do cliente numa pressão do c***lho e acabei me saindo bem e resolvendo problemas gigantescos. Isso é uma experiência valiosa. Viajei duas vezes para os EUA e, em um dos projetos, fiz uma implementação realmente legal e que por um momento me fez ficar feliz com o que eu fiz, principalmente quando fiquei sabendo que eles estavam há 10 anos atrás de alguém que conseguisse fazer o que eu fiz.
Não sei quando eu vou ter chance de mudar de área porque no ponto que eu estou e pela minha especialização, tem vaga de automação em todo lugar e ninguém quer "desperdiçar" o que eu sei me colocando pra fazer outra coisa. Uma das coisas que mais se procura aqui na área de TI é analista de automação sênior ou liderança. Meu plano principal é de segurar a onda até quitar meu apartamento e então correr atrás de outra coisa mais agradável, se possível fora do mercado de TI. Ainda assim até lá tem alguns bons anos.
Em paralelo, despejo minhas frustrações de programador nos projetos pessoais. Nos últimos anos venho desenvolvendo meu jogo para fins de fazer algo que realmente me satisfaça. Se não da pra fazer as coisas certas no trabalho, que ao menos faça em casa. O fato de eu ficar programando jogos em casa faz com que eu me destaque no trabalho devido às habilidades que eu ganho fazendo isso. E aí se mantém esse ciclo.