O problema da seleção brasileira é tático + bastidores, e não de talento individual. Antigamente a gente conseguia se virar com técnicos medíocres pois, se hoje temos um jogador brilhante na seleção, antigamente tínhamos 4, 5, 6 - pessoas que colocavam a bola debaixo do braço e tinham personalidade e talento para resolverem os jogos, articulando entre si. Isso que reclamam que o Neymar faz hoje em dia, esse "egoísmo" de tentar resolver tudo sozinho é exatamente a mesma coisa que jogadores talentosos faziam antigamente. A diferença é que eles tinham outros talentos ao lado. Ronaldo procurava Rivaldo, que procurava Ronaldinho Gaúcho, que procurava Kaká, que procurava Adriano. Neymar no PSG em todos os momentos procura Mbappé para articular as jogadas, no Barcelona procurava Iniesta, Messi, Suárez. É algo natural.
Brasil deixou de ser o berço do futebol no mundo. Isso não significa que algum outro país tomou esse lugar. Não existe mais berço. Existem ligas extremamente competitivas e que reúnem os mais diversos talentos, porém o título de uma nação como o berço de jovens talentos inexiste. A Europa avançou horrores em termos táticos e coletivos nos últimos 20 anos, e o futebol brasileiro ficou para trás. A Eurocopa não brilha por conta de talentos individuais, e sim por conta do brilho coletivo. Jogadores como Mbappé, Messi, Neymar e afins são ainda mais valorizados hoje em dia do que antigamente justamente porque, em um esporte em que o coletivo se torna preponderante, o talento do jogador que num lampejo individual pode quebrar qualquer organização tornou-se cada vez mais raro e escasso.
Como perdemos nosso diferencial, precisamos nos equiparar no aspecto que outras seleções evoluíram, que é o esquema tático. Nossa geração não é das mais diferenciadas em talento, porém ainda existem bons jogadores nela. Não é como se outros países tivessem elencos impecáveis. Porém não existe um pingo de organização no Brasil. A seleção que perdeu para a Argentina ontem joga no mesmo nível que jogou desde que o Tite assumiu. Não existiu evolução alguma, não existe dinamicidade. Eu tenho uma dificuldade absurda em entender o que diabos a CBF quer, já que, EM TESE, uma seleção vitoriosa é uma seleção que dá mais dinheiro; uma seleção que encanta de se ver é uma seleção que vende mais. O que diabos esses caras almejam com uma gestão que tem ruído não só a seleção, como o futebol brasileiro no geral?
Eu espero muito que com essa queda no preconceito acerca de técnicos estrangeiros no Brasil que tem acontecido nos últimos anos, isso se reflita também na seleção. Que o Tite vai para a Copa ano que vem nós já sabemos. Que jogaremos um futebol medíocre e cairemos antes da eventual final também é uma certeza. A CBF insiste que percamos tempo, sabe-se lá o porque, mas o que resta é a esperança de que para o próximo ciclo finalmente a gente tenha alguma mudança mais contundente na maneira de gerir o elenco e o time.