Larva Maligna
Ei mãe, 500 pontos!
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Esse é o quinto tópico de uma série que eu pretendia escrever para a Outer Space, narrando situações interessantes ocorridas durante a segunda guerra mundial. Tinha a intenção de ir criando mais tópicos, mas atualmente o esforço não compensa muito, não me decidi ainda se continuo ou se paro com esses tópicos. Enfim, eu espero que esteja a contento da turma, peço apoio ao pessoal.
Breve quadro: as pesadas perdas da marinha britânica.
Não é nenhum segredo que no decorrer da segunda guerra mundial, as marinhas de todos os países envolvidos no conflito sofreram pesadas perdas. E isso não seria diferente com a marinha inglesa. Porém, um fato chama muito a atenção por esse user que vos escreve. A marinha inglesa perdeu ao todo 8 porta-aviões no decorrer da guerra, e desses 8 porta-aviões, 5 deles foram afundados por U-boats. São eles o HMS Ark Royal, HMS Audacity, HMS Avenger, HMS Courageous e HMS Eagle.
Aqui, o porta-aviões HMS Ark Royal, cujas aeronaves atacaram o famoso Bismarck, afundando em 13 de novembro de 1941, após ser torpedeado pelo U-81.
Mas vejam bem, estou mencionando apenas os porta-aviões, que dirá de todas as outras demais embarcações?
Por exemplo, temos os couraçados, cruzadores, destróiers, e outros, os quais a Inglaterra perdeu vários para o oceano, vindo a repousar no fundo do mar, graças aos malditos krautzs e seus U-boats. Um caso bem famoso seria o couraçado HMS Royal Oak, que foi afundado dentro de um porto fortemente protegido em Scapa Flow, quando um sorrateiro U-boat, o U-47, adentrou a base silenciosamente, e mandou alguns torpedos contra a embarcação ali ancorada, fazendo-o afundar em pouco tempo. Temos também o famoso caso do couraçado HMS Barham, outra vítima dos famigerados submarinos alemães. Inclusive ficou bem famosa a filmagem dele adernando enquanto os paióis de munição explodiram, fazendo o estrago que você confere no gif abaixo.
Sim, os pontinhos pretos no casco do navio são os tripulantes abandonando a embarcação enquanto esta afundava rapidamente no meio do oceano Atlântico.
Diante dessas perdas, era evidente a necessidade de lidar com os submarinos alemães que estavam causando pesadas perdas para a marinha das forças aliadas, e para tal, diversas medidas foram tomadas, bem como muitos foram os projetos para tentar acabar de vez com a ameaça que espreitava abaixo da superfície do mar. E um desses projetos foi a construção de um porta-aviões gigante de gelo, nascia aí o projeto Habakkuk.
Uma temível wolfpack, isto é, uma frota de U-boat.
Uma arte conceitual mostrando como seria o super porta-aviões caso o projeto fosse concretizado. Apesar do exagero que há nessa ilustração, a ideia era mais ou menos essa.
As embarcações convencionais, de superfície, fizeram alguns estragos, mas analisando friamente, não contribuíram de maneira significativa para o esforço de guerra. Basta verificarmos a caçada contra o Bismarck, ou a vida reclusa que seu irmão Tirpitz levou no norte da Noruega, ou a destruição do Scharnhorst, ou até mesmo ao analisarmos os cruzadores pesados: parte deles foram afundados e parte deles sobreviveram ao conflito porque não eram utilizados com frequência pela marinha alemã. Até mesmo o único porta-aviões alemão, o Graf Zeppelin, não foi lançado ao mar.
Apesar disso, os alemães deram bastante trabalho com os seus navios, mas é importante compreender que os verdadeiros vilões eram os U-boats, estes sim tiravam o sono de muitas pessoas. E é daí que nasceu o projeto Habakkuk, projeto este de autoria de Geoffrey Pyke, o inventor do material que leva seu nome, Pykrete, e que seria o componente principal do super porta-aviões.
O idealizador do projeto Habakkuk, o inventor Geoffrey Pyke.
O Pykrete é uma combinação de gelo e serragem (14% de serragem para 86% de gelo) e apresenta baixa taxa de fusão, é mais resistente e mais duro que o gelo, que é quebradiço. O porta-aviões teria 1200 metros de comprimento e 180 de largura com uma couraça de 12 metros de largura e seria movido por diversos motores elétricos. Em caso de um bombardeio ao navio, ele poderia ser reparado adicionando água e celulose à cratera da explosão e congelando a mistura.
O super porta-aviões nunca foi produzido. Apenas um modelo em escala foi criado em um lago no Canadá e utilizado para testes com explosivos. Seu modelo, todavia, apresentou vários problemas. O material sofria uma deformação sobre grande estresse mecânico, o que tornava obrigatório o uso de um reforço de aço que encareceria o já caro projeto. A quantidade de aço usada para os reforços somada à planta de refrigeração usada pelo navio era maior que a necessária para construir um porta-aviões convencional totalmente feito de aço. Além disso, a Marinha Real Britânica exigia o uso de um leme no navio, e montar e controlar um leme de 30 metros de altura era uma tarefa árdua.
Uma ilustração do projeto Habakkuk mostrando como seria a estrutura do gigante de gelo.
Por conta disso, o ano de 1943 é considerado o ano da virada para os historiadores. Seja pelo front oriental, com os alemães fracassando na operação Citadela, a batalha de Kursk e Prokhorovka, seja pelo front do mediterrâneo, com a derrota definitiva das forças do eixo no norte da África, seja pelo front do pacífico, com a reconquista de diversos locais estratégicos como o término da batalha de Guadalcanal e o início da campanha das Ilhas Marshal e Gilbert, o atlântico também foi o palco de reviravoltas.
É daí que vem o temível Maio Negro (Black May) de 1943, quando a marinha alemã sofreu pesadas perdas em sua frota de U-boat (U-Bootwaffe), com a destruição de 43 submarinos pelas forças aliadas, correspondendo à 25% da frota de submarinos alemães operacionais naquele período.
Ainda, com a liberação do governo de Portugal para pousos e decolagens aliadas nos Açores e com a adoção de maiores tanques de combustível por aviões britânicos, a tarefa de patrulhar o Atlântico ficou mais fácil, tornando o gigante de gelo ainda mais dispensável. A maior quantidade de porta-aviões de escolta, menores e mais baratos que grandes porta-aviões também facilitou as patrulhas no Atlântico, pondo um fim à Era de Ouro dos U-Boats alemães e encerrando a necessidade aliada de ter um porta aviões como o Habakkuk. O modelo em escala, mantido no lago no Canadá, demorou 3 verões quentes sem seu sistema de resfriamento para derreter por completo.
Fontes usadas para produzir o texto:
http://www.conservadorismodobrasil.com.br
Minha cabeça.
Para quem quiser ver e conferir os outros tópicos, segue links abaixo:
Crônicas da Segunda Guerra Mundial: Tópico 1 - O anjo de Hamburgo.
https://forum.outerspace.com.br/index.php?threads/crônicas-da-segunda-guerra-mundial-tópico-1-o-anjo-de-hamburgo.525546/
Crônicas da Segunda Guerra Mundial: Tópico 2 - Eu matei Saint-Exupéry.
https://forum.outerspace.com.br/index.php?threads/crônicas-da-segunda-guerra-mundial-tópico-2-eu-matei-saint-exupéry.525556/#post-16124932
Crônicas da Segunda Guerra Mundial: Tópico 3 - Vento divino.
https://forum.outerspace.com.br/index.php?threads/crônicas-da-segunda-guerra-mundial-tópico-3-vento-divino.527034/
Crônicas da Segunda Guerra Mundial: Tópico 4 - A rosa de Stalingrado.
https://forum.outerspace.com.br/index.php?threads/crônicas-da-segunda-guerra-mundial-tópico-4-a-rosa-de-stalingrado.530840/#post-16229712
Breve quadro: as pesadas perdas da marinha britânica.
Não é nenhum segredo que no decorrer da segunda guerra mundial, as marinhas de todos os países envolvidos no conflito sofreram pesadas perdas. E isso não seria diferente com a marinha inglesa. Porém, um fato chama muito a atenção por esse user que vos escreve. A marinha inglesa perdeu ao todo 8 porta-aviões no decorrer da guerra, e desses 8 porta-aviões, 5 deles foram afundados por U-boats. São eles o HMS Ark Royal, HMS Audacity, HMS Avenger, HMS Courageous e HMS Eagle.
Aqui, o porta-aviões HMS Ark Royal, cujas aeronaves atacaram o famoso Bismarck, afundando em 13 de novembro de 1941, após ser torpedeado pelo U-81.
Mas vejam bem, estou mencionando apenas os porta-aviões, que dirá de todas as outras demais embarcações?
Por exemplo, temos os couraçados, cruzadores, destróiers, e outros, os quais a Inglaterra perdeu vários para o oceano, vindo a repousar no fundo do mar, graças aos malditos krautzs e seus U-boats. Um caso bem famoso seria o couraçado HMS Royal Oak, que foi afundado dentro de um porto fortemente protegido em Scapa Flow, quando um sorrateiro U-boat, o U-47, adentrou a base silenciosamente, e mandou alguns torpedos contra a embarcação ali ancorada, fazendo-o afundar em pouco tempo. Temos também o famoso caso do couraçado HMS Barham, outra vítima dos famigerados submarinos alemães. Inclusive ficou bem famosa a filmagem dele adernando enquanto os paióis de munição explodiram, fazendo o estrago que você confere no gif abaixo.
Sim, os pontinhos pretos no casco do navio são os tripulantes abandonando a embarcação enquanto esta afundava rapidamente no meio do oceano Atlântico.
Diante dessas perdas, era evidente a necessidade de lidar com os submarinos alemães que estavam causando pesadas perdas para a marinha das forças aliadas, e para tal, diversas medidas foram tomadas, bem como muitos foram os projetos para tentar acabar de vez com a ameaça que espreitava abaixo da superfície do mar. E um desses projetos foi a construção de um porta-aviões gigante de gelo, nascia aí o projeto Habakkuk.
Uma temível wolfpack, isto é, uma frota de U-boat.
O projeto Habakkuk
Esse projeto de origem inglesa visava a construção um super porta-aviões que seria constituído majoritariamente de gelo. O objetivo era combater os U-Boats que estavam inflingindo pesadas perdas aos aliados, afundando diversas embarcações, e aterrorizaram o Atlântico durante a Segunda Guerra Mundial. É importante ressaltar que para todos os efeitos, a marinha alemã, a Kriegsmarine, possuía uma temível frota de submarinos. Se analisarmos somente os navios, se verifica que sua força não era muito expressiva ao ser comparada com a marinha americana, inglesa ou japonesa (no início da segunda guerra mundial). Isto porque as grandes embarcações de superfície não puderam surtir muita eficácia contra navios inimigos. O grande terror dos aliados era a frota de submarinos, estes sim, eram o grande triunfo dos alemães para atuarem na guerra em alto-mar.
Uma arte conceitual mostrando como seria o super porta-aviões caso o projeto fosse concretizado. Apesar do exagero que há nessa ilustração, a ideia era mais ou menos essa.
As embarcações convencionais, de superfície, fizeram alguns estragos, mas analisando friamente, não contribuíram de maneira significativa para o esforço de guerra. Basta verificarmos a caçada contra o Bismarck, ou a vida reclusa que seu irmão Tirpitz levou no norte da Noruega, ou a destruição do Scharnhorst, ou até mesmo ao analisarmos os cruzadores pesados: parte deles foram afundados e parte deles sobreviveram ao conflito porque não eram utilizados com frequência pela marinha alemã. Até mesmo o único porta-aviões alemão, o Graf Zeppelin, não foi lançado ao mar.
Apesar disso, os alemães deram bastante trabalho com os seus navios, mas é importante compreender que os verdadeiros vilões eram os U-boats, estes sim tiravam o sono de muitas pessoas. E é daí que nasceu o projeto Habakkuk, projeto este de autoria de Geoffrey Pyke, o inventor do material que leva seu nome, Pykrete, e que seria o componente principal do super porta-aviões.
O idealizador do projeto Habakkuk, o inventor Geoffrey Pyke.
O Pykrete é uma combinação de gelo e serragem (14% de serragem para 86% de gelo) e apresenta baixa taxa de fusão, é mais resistente e mais duro que o gelo, que é quebradiço. O porta-aviões teria 1200 metros de comprimento e 180 de largura com uma couraça de 12 metros de largura e seria movido por diversos motores elétricos. Em caso de um bombardeio ao navio, ele poderia ser reparado adicionando água e celulose à cratera da explosão e congelando a mistura.
O super porta-aviões nunca foi produzido. Apenas um modelo em escala foi criado em um lago no Canadá e utilizado para testes com explosivos. Seu modelo, todavia, apresentou vários problemas. O material sofria uma deformação sobre grande estresse mecânico, o que tornava obrigatório o uso de um reforço de aço que encareceria o já caro projeto. A quantidade de aço usada para os reforços somada à planta de refrigeração usada pelo navio era maior que a necessária para construir um porta-aviões convencional totalmente feito de aço. Além disso, a Marinha Real Britânica exigia o uso de um leme no navio, e montar e controlar um leme de 30 metros de altura era uma tarefa árdua.
O destino.
No decorrer da guerra, com a adoção de novas tecnologias, uma combinação de forças navais e aéreas, somados à logística e a crescente bancarrota que circulava a Alemanha, os U-boats acabam perdendo espaço e território, sendo cada vez mais alvos fáceis para os aliados.
Uma ilustração do projeto Habakkuk mostrando como seria a estrutura do gigante de gelo.
Por conta disso, o ano de 1943 é considerado o ano da virada para os historiadores. Seja pelo front oriental, com os alemães fracassando na operação Citadela, a batalha de Kursk e Prokhorovka, seja pelo front do mediterrâneo, com a derrota definitiva das forças do eixo no norte da África, seja pelo front do pacífico, com a reconquista de diversos locais estratégicos como o término da batalha de Guadalcanal e o início da campanha das Ilhas Marshal e Gilbert, o atlântico também foi o palco de reviravoltas.
É daí que vem o temível Maio Negro (Black May) de 1943, quando a marinha alemã sofreu pesadas perdas em sua frota de U-boat (U-Bootwaffe), com a destruição de 43 submarinos pelas forças aliadas, correspondendo à 25% da frota de submarinos alemães operacionais naquele período.
Ainda, com a liberação do governo de Portugal para pousos e decolagens aliadas nos Açores e com a adoção de maiores tanques de combustível por aviões britânicos, a tarefa de patrulhar o Atlântico ficou mais fácil, tornando o gigante de gelo ainda mais dispensável. A maior quantidade de porta-aviões de escolta, menores e mais baratos que grandes porta-aviões também facilitou as patrulhas no Atlântico, pondo um fim à Era de Ouro dos U-Boats alemães e encerrando a necessidade aliada de ter um porta aviões como o Habakkuk. O modelo em escala, mantido no lago no Canadá, demorou 3 verões quentes sem seu sistema de resfriamento para derreter por completo.
Fontes usadas para produzir o texto:
http://www.conservadorismodobrasil.com.br
Minha cabeça.
Para quem quiser ver e conferir os outros tópicos, segue links abaixo:
Crônicas da Segunda Guerra Mundial: Tópico 1 - O anjo de Hamburgo.
https://forum.outerspace.com.br/index.php?threads/crônicas-da-segunda-guerra-mundial-tópico-1-o-anjo-de-hamburgo.525546/
Crônicas da Segunda Guerra Mundial: Tópico 2 - Eu matei Saint-Exupéry.
https://forum.outerspace.com.br/index.php?threads/crônicas-da-segunda-guerra-mundial-tópico-2-eu-matei-saint-exupéry.525556/#post-16124932
Crônicas da Segunda Guerra Mundial: Tópico 3 - Vento divino.
https://forum.outerspace.com.br/index.php?threads/crônicas-da-segunda-guerra-mundial-tópico-3-vento-divino.527034/
Crônicas da Segunda Guerra Mundial: Tópico 4 - A rosa de Stalingrado.
https://forum.outerspace.com.br/index.php?threads/crônicas-da-segunda-guerra-mundial-tópico-4-a-rosa-de-stalingrado.530840/#post-16229712
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