Como qualquer existencialista vulgar já sabe desde criancinha (e até mesmo todos nós, crescidos na ciência moderna, mesmo que não o admitamos), não há qualquer "Grande Sentido Prévio da Vida". A nossa razão-de-ser tem que ser sempre descoberta de forma contingente, com um violento ato decisório de uma escolha individual e inconsciente. Isto implica dizer que, do mesmo modo com que o "Sentido" vem meio que "do nada", ele também pode ir embora sem aviso prévio. A existência humana pressupõe sempre esta absoluta fragilidade parcial valorativa. O valor da vida só é "absoluto" enquanto ele é parcial.
Uma vez cessando a nossa constante atividade de assim mantê-lo, ele também logo se esvai (o que abre as porteiras do suicídio como possibilidade; como um prospecto que jamais pode ser abandonado em definitivo). É claro que a questão não é simplesmente "estou mal, logo, devo me suicidar!", mas sim aceitar que há casos mais "metafísicos" onde o próprio chão onde a (nossa) vida corre nos parece ter sumido. Um sentido, a urgente necessidade de se viver a vida, é sempre uma construção contingente e retroativa.
Ele não nos é dado em antecipação (no sentido de ser pré-definido), mas é paradoxalmente encontrado como "sempre-já-destinado-a-ser". Assim como há um lapso temporal entre consciente e inconsciente, também há um "gap" que nos divide entre "não-ainda" e "sempre-já", e é este abissal Nada pré-ontológico que faz o valor da vida potencialmente oscilar entre "absoluto" e (por isso mesmo) "irrenunciável" de um lado, e uma obscena miséria sem valor intrínseco algum do outro. Mas, para ser mais pessimista, nem mesmo o suicídio nos serve de escape "em definitivo".
Desde a descoberta do que Freud chamou de "pulsão de morte", de uma obscena persistência infinda para além da vida e da morte, não há nenhum "Fora" de uma "Vida" onde se buscar refúgio, só há um incontornável "Eterno Retorno do Mesmo", nas palavras de Nietzsche, e é na superação desta condição perversa onde por fim se assentaria este misterioso X existencial chamado "além-homem" (que nada tem a ver com as conotações posteriores de precursora da "raça ariana" dada à obra de Nietzsche, principalmente pela sua reapropriação indébita por sua irmã anti-semita e insandecida).