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Diplomata é acusado de violência contra mulheres
Renato de Ávila Viana, que já foi alvo de outras denúncias desse tipo, é investigado agora pelo Itamaraty por agredir ex-namorada; defesa nega acusações
O rapaz gentil, sorriso tímido e sedutor chamou a atenção de Joana (nome fictício), então colega na Faculdade de Direito do Largo São Francisco, da Universidade de São Paulo (USP), por imitar tão bem a voz melodiosa do cantor Chico Buarque – mérito conquistado graças às aulas de teatro no Colégio Bandeirantes. O encontro naquele ano de 1995 avançou para um relacionamento com Renato de Ávila Viana, o jovem, também estudante de direito, que se gabava, entre outros feitos, de citar frases de grandes autores. De O Pequeno Príncipe, por exemplo, pegou emprestado “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”. Desde então, Joana e outras mulheres escutariam essas mesmas citações. Infelizmente, esse não é o único elo que as une. Joana é uma das vítimas de agressão de Ávila, hoje diplomata e primeiro-secretário do Ministério das Relações Exteriores. Se na década de 1990 as vítimas eram estudantes, as mais recentes incluem até uma funcionária do Itamaraty.
“Como me culpo por não ter feito nada, por não ter avisado minhas colegas na época. Mas eu achei que um dia a Justiça seria feita, que ele iria tropeçar. Mas nada deu errado até então”, disse Joana. Por três semanas, ela e Ávila ficaram juntos. Nesse tempo, ela diz que reconheceu no companheiro um agressor. A insistência em seguir e controlar todos os passos dela e de sair do carro e esmurrar a lataria quando contrariado dispararam o sinal de alerta. “Na época, não havia celular. Então, ele ligava e falava com a minha família. Gritava dizendo que sabia que eu estava lá e não queria atender.” Em uma festa da faculdade, o fim trágico. Joana foi abatida com um soco no rosto.
Machucada, acuada e sozinha, conta, calou-se. Não registrou um boletim de ocorrência. Sem queixa-crime, não há investigação. “Convivo até hoje com a minha inércia.” Meses depois, Joana soube de outra aluna espancada por Ávila. E depois outra. As estudantes se uniram e espalharam cartazes pela faculdade, ela diz. Sem citar nomes, alertavam para relações abusivas. Uma estudante registrou um boletim de ocorrência e acionou o então grêmio estudantil, conta Joana. Nada aconteceu. Um advogado contemporâneo de Ávila na USP, recentemente, contatou Joana para se solidarizar. “Foi chocante, mas, na época, o máximo de apoio que a mulher recebia era que tinha de fazer o boletim de ocorrência. Não existia urgência nem consciência social sobre violência contra a mulher”, afirmou. Ex e atuais colegas de Ávila o descrevem da mesma maneira: autodidata, prodígio e habilidoso com as palavras. “Eu revivo o horror a cada nova abuso contra outras mulheres. E o impacto ainda é tão grande que continuo quieta sobre o que aconteceu comigo. O tempo permanece reafirmando que ele ainda tem poder sobre mim”, disse.
Mais de duas décadas depois, a agressão se repetiu. Dessa vez, a vítima não se calou. Se na USP o apelido do diplomata era “Renato, o espancador”, no Itamaraty ele é conhecido como “Renato facada” – uma ex-namorada o atingiu com objeto cortante após ele tê-la agredido. Neste mês, mais uma mulher decidiu falar. Ela tem 22 anos e mora em Brasília. Acusa Ávila, hoje com 41 anos, de ter arrancado dela um dente, com chutes e uma cabeçada, da última vez que apanhou do então namorado. Há, ainda, agressões anteriores, segundo o site Metrópoles, do Distrito Federal. Uma vaquinha on-line tenta amealhar recursos para que ela passe por uma cirurgia reparadora. Dois processos administrativos disciplinares (PAD) foram abertos no Itamaraty para investigar a conduta do servidor. Não foi a primeira vez.
Outros três já haviam sido iniciados e encerrados dentro do corpo diplomático. No primeiro, segunda fonte ouvida por VEJA, a violência foi contra uma funcionária e ocorreu em um corredor da instituição. Depois, Ávila agrediu duas mulheres enquanto estava a serviço do Brasil – uma venezuelana e depois uma canadense. Em um dos casos, precisou retornar antes de terminar o trabalho por decisão do Itamaraty.
https://veja.abril.com.br/brasil/diplomata-e-acusado-de-violencia-contra-mulheres/
E, em resposta, o Itamaraty:
O diplomata Renato de Ávila Viana, acusado de agredir mulheres, perdeu o cargo de confiança que ocupava no Ministério das Relações Exteriores (MRE). Saiu nesta quarta-feira (20/12), no Diário Oficial da União (DOU), a exoneração do servidor da posição de Assessor Técnico do Gabinete da Subsecretária de África e Oriente Médio do Itamaraty.
Com salário de R$ 23.230,50, ele chegou à prestigiada função de primeiro-secretário. Viana recebia ainda um adicional de mais de R$ 3 mil pelo cargo comissionado, do qual foi retirado após publicação de reportagem do Metrópoles sobre seu histórico de agressões a mulheres.
Atualmente, Renato Viana responde na Justiça por agredir uma namorada, de 22 anos. Ele agarrou os seios da moça e a deixou com hematomas pelo corpo, segundo consta na ação judicial. Em outra ocasião, a atingiu com uma cabeçada, arrancando um dente da frente da moça.
Histórico de violência
O diplomata respondeu, anteriormente, a três processos administrativos disciplinares na Corregedoria do Serviço Exterior do MRE, após registros de ataques a duas mulheres em outros países e a outras duas no Brasil. Em território estrangeiro, ele desfrutou da imunidade diplomática: as autoridades locais não puderam investigá-lo, precisando recorrer ao Itamaraty.
Em 2002, um processo disciplinar investigou agressão do homem a uma terceira-secretária do Ministério das Relações Exteriores. A ação terminou arquivada com uma observação: o diplomata deveria controlar suas emoções e impulsos. No ano seguinte, Renato Viana se envolveu em um caso de violência contra sua namorada brasileira, de quem recebeu uma facada durante briga.
REPRODUÇÃO/FACEBOOK
Renato de Ávila Viana é primeiro-secretário do MRE e acusado de agressão a várias mulheres
Outra sindicância, de 2006, apurou violência contra uma cidadã paraguaia. Junta médica avaliou Viana e concluiu que, do ponto de vista neurológico, ele estava apto para exercer suas funções. A punição foi apenas uma advertência.
Em 2015, a Embaixada do Brasil em Caracas encaminhou ao MRE denúncia de uma venezuelana que alegava ter “sofrido ameaças, maltrato psicológico e tentativa de sequestro por parte de Renato de Ávila Viana”, como consta na sindicância à qual o Metrópoles teve acesso. A vítima enviou uma cópia da medida cautelar, expedida contra o diplomata pela Divisão de Investigações e Proteção à Mulher da Venezuela.
A mesma investigação apurou comportamento violento do brasileiro em um evento no Instituto Cultural Brasil-Venezuela, quando ele agrediu verbalmente colegas e prestadores de serviços durante uma festa após um jogo do Brasil da Copa do Mundo de 2014.
O processo concluiu que não havia provas suficientes para puni-lo sobre a agressão à venezuelana. O servidor do Itamaraty ficou afastado das funções por 10 dias pelo comportamento inadequado no evento diplomático.
Procurada pela reportagem, a advogada de Renato de Ávila Viana afirmou que ele estava viajando e não iria se manifestar.
https://www.metropoles.com/brasil/diplomata-agressor-de-mulheres-e-exonerado-de-cargo-de-confianca
Renato de Ávila Viana, que já foi alvo de outras denúncias desse tipo, é investigado agora pelo Itamaraty por agredir ex-namorada; defesa nega acusações
O rapaz gentil, sorriso tímido e sedutor chamou a atenção de Joana (nome fictício), então colega na Faculdade de Direito do Largo São Francisco, da Universidade de São Paulo (USP), por imitar tão bem a voz melodiosa do cantor Chico Buarque – mérito conquistado graças às aulas de teatro no Colégio Bandeirantes. O encontro naquele ano de 1995 avançou para um relacionamento com Renato de Ávila Viana, o jovem, também estudante de direito, que se gabava, entre outros feitos, de citar frases de grandes autores. De O Pequeno Príncipe, por exemplo, pegou emprestado “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”. Desde então, Joana e outras mulheres escutariam essas mesmas citações. Infelizmente, esse não é o único elo que as une. Joana é uma das vítimas de agressão de Ávila, hoje diplomata e primeiro-secretário do Ministério das Relações Exteriores. Se na década de 1990 as vítimas eram estudantes, as mais recentes incluem até uma funcionária do Itamaraty.
“Como me culpo por não ter feito nada, por não ter avisado minhas colegas na época. Mas eu achei que um dia a Justiça seria feita, que ele iria tropeçar. Mas nada deu errado até então”, disse Joana. Por três semanas, ela e Ávila ficaram juntos. Nesse tempo, ela diz que reconheceu no companheiro um agressor. A insistência em seguir e controlar todos os passos dela e de sair do carro e esmurrar a lataria quando contrariado dispararam o sinal de alerta. “Na época, não havia celular. Então, ele ligava e falava com a minha família. Gritava dizendo que sabia que eu estava lá e não queria atender.” Em uma festa da faculdade, o fim trágico. Joana foi abatida com um soco no rosto.
Machucada, acuada e sozinha, conta, calou-se. Não registrou um boletim de ocorrência. Sem queixa-crime, não há investigação. “Convivo até hoje com a minha inércia.” Meses depois, Joana soube de outra aluna espancada por Ávila. E depois outra. As estudantes se uniram e espalharam cartazes pela faculdade, ela diz. Sem citar nomes, alertavam para relações abusivas. Uma estudante registrou um boletim de ocorrência e acionou o então grêmio estudantil, conta Joana. Nada aconteceu. Um advogado contemporâneo de Ávila na USP, recentemente, contatou Joana para se solidarizar. “Foi chocante, mas, na época, o máximo de apoio que a mulher recebia era que tinha de fazer o boletim de ocorrência. Não existia urgência nem consciência social sobre violência contra a mulher”, afirmou. Ex e atuais colegas de Ávila o descrevem da mesma maneira: autodidata, prodígio e habilidoso com as palavras. “Eu revivo o horror a cada nova abuso contra outras mulheres. E o impacto ainda é tão grande que continuo quieta sobre o que aconteceu comigo. O tempo permanece reafirmando que ele ainda tem poder sobre mim”, disse.
Mais de duas décadas depois, a agressão se repetiu. Dessa vez, a vítima não se calou. Se na USP o apelido do diplomata era “Renato, o espancador”, no Itamaraty ele é conhecido como “Renato facada” – uma ex-namorada o atingiu com objeto cortante após ele tê-la agredido. Neste mês, mais uma mulher decidiu falar. Ela tem 22 anos e mora em Brasília. Acusa Ávila, hoje com 41 anos, de ter arrancado dela um dente, com chutes e uma cabeçada, da última vez que apanhou do então namorado. Há, ainda, agressões anteriores, segundo o site Metrópoles, do Distrito Federal. Uma vaquinha on-line tenta amealhar recursos para que ela passe por uma cirurgia reparadora. Dois processos administrativos disciplinares (PAD) foram abertos no Itamaraty para investigar a conduta do servidor. Não foi a primeira vez.
Outros três já haviam sido iniciados e encerrados dentro do corpo diplomático. No primeiro, segunda fonte ouvida por VEJA, a violência foi contra uma funcionária e ocorreu em um corredor da instituição. Depois, Ávila agrediu duas mulheres enquanto estava a serviço do Brasil – uma venezuelana e depois uma canadense. Em um dos casos, precisou retornar antes de terminar o trabalho por decisão do Itamaraty.
https://veja.abril.com.br/brasil/diplomata-e-acusado-de-violencia-contra-mulheres/
E, em resposta, o Itamaraty:
O diplomata Renato de Ávila Viana, acusado de agredir mulheres, perdeu o cargo de confiança que ocupava no Ministério das Relações Exteriores (MRE). Saiu nesta quarta-feira (20/12), no Diário Oficial da União (DOU), a exoneração do servidor da posição de Assessor Técnico do Gabinete da Subsecretária de África e Oriente Médio do Itamaraty.
Com salário de R$ 23.230,50, ele chegou à prestigiada função de primeiro-secretário. Viana recebia ainda um adicional de mais de R$ 3 mil pelo cargo comissionado, do qual foi retirado após publicação de reportagem do Metrópoles sobre seu histórico de agressões a mulheres.
Atualmente, Renato Viana responde na Justiça por agredir uma namorada, de 22 anos. Ele agarrou os seios da moça e a deixou com hematomas pelo corpo, segundo consta na ação judicial. Em outra ocasião, a atingiu com uma cabeçada, arrancando um dente da frente da moça.
Histórico de violência
O diplomata respondeu, anteriormente, a três processos administrativos disciplinares na Corregedoria do Serviço Exterior do MRE, após registros de ataques a duas mulheres em outros países e a outras duas no Brasil. Em território estrangeiro, ele desfrutou da imunidade diplomática: as autoridades locais não puderam investigá-lo, precisando recorrer ao Itamaraty.
Em 2002, um processo disciplinar investigou agressão do homem a uma terceira-secretária do Ministério das Relações Exteriores. A ação terminou arquivada com uma observação: o diplomata deveria controlar suas emoções e impulsos. No ano seguinte, Renato Viana se envolveu em um caso de violência contra sua namorada brasileira, de quem recebeu uma facada durante briga.
REPRODUÇÃO/FACEBOOK
Renato de Ávila Viana é primeiro-secretário do MRE e acusado de agressão a várias mulheres
Outra sindicância, de 2006, apurou violência contra uma cidadã paraguaia. Junta médica avaliou Viana e concluiu que, do ponto de vista neurológico, ele estava apto para exercer suas funções. A punição foi apenas uma advertência.
Em 2015, a Embaixada do Brasil em Caracas encaminhou ao MRE denúncia de uma venezuelana que alegava ter “sofrido ameaças, maltrato psicológico e tentativa de sequestro por parte de Renato de Ávila Viana”, como consta na sindicância à qual o Metrópoles teve acesso. A vítima enviou uma cópia da medida cautelar, expedida contra o diplomata pela Divisão de Investigações e Proteção à Mulher da Venezuela.
A mesma investigação apurou comportamento violento do brasileiro em um evento no Instituto Cultural Brasil-Venezuela, quando ele agrediu verbalmente colegas e prestadores de serviços durante uma festa após um jogo do Brasil da Copa do Mundo de 2014.
O processo concluiu que não havia provas suficientes para puni-lo sobre a agressão à venezuelana. O servidor do Itamaraty ficou afastado das funções por 10 dias pelo comportamento inadequado no evento diplomático.
Procurada pela reportagem, a advogada de Renato de Ávila Viana afirmou que ele estava viajando e não iria se manifestar.
https://www.metropoles.com/brasil/diplomata-agressor-de-mulheres-e-exonerado-de-cargo-de-confianca