Eu vejo um tanto quanto diferente. Tom Kalinske foi importante em vários aspectos, mas faltava uma coisa nele. A Sega precisava de uma única coisa, uma visão de videogame, uma ideia de videogame, de como os jogos seriam nos próximos 4, 5 anos. Ela não poderia bater a Sony trabalhando como a Sony, porque em tudo ela iria perder da Sony. A Sega era uma empresa de videogames, mas naquela geração ela foi tudo exceto isso. Não havia nenhum jogo que expressasse a cultura da empresa Sega no ramo de videogames. Isso, por outro lado, é evidente no caso da Nintendo com Mario 64 e Ocarina of TIme. O que faltou verdadeiramente na Sega foi um Miyamoto. Aquele livro A Guerra dos Consoles dá essa impressão porque é na realidade uma biografia do Tom Kalinske, tem a visão parcial dele, se nós apenas vemos o lado dele, os argumentos dele, vamos acreditar em tudo que ele vai falar.
Existia outra pessoa importante na Sega, não sei se o presidente no Japão, agora esqueci o seu nome, mas um cara que queria que a Sega tivesse saído já em meados dos anos 90 do mercado de consoles. Caso a visão dele tivesse prosseguido, a Sega não teria sequer lançado o Saturn. A Sega não tinha um Miyamoto como a Nintendo tinha, mas ela estava acima ao meu ver de várias outras empresas japonesas que tiveram um êxito enorme no Playstation com seus jogos, Sega poderia ter feito isso e teria lucrado financeiramente naquela geração. Ela fez o contrário e perdeu dinheiro.
Outro ponto que eu acho importante é que independente do que você vai fazer você tem que tomar uma decisão e ir com ela até o final. Acredite naquilo que você quer fazer e faça bem feito. Não dá para questionar isso na Nintendo. Ela acreditou em uma coisa naquela geração e foi com ela até o fim. A Sega perdeu a confiança na primeira queda. Se um dia ela acreditou que naquela geração os jogos ainda seriam em 2d e em sprites, por que ela foi incapaz de entregar um jogo 2d e feito em sprites que nos mostrasse que ela estava certa em acreditar nisso? Ao contrário, ela foi desistindo repetidas vezes de todas as ideias que ela tinha no desenvolvimento de Sonic Xtreme. Eram várias e várias versões que passavam por algum desenvolvimento e então eram canceladas para darem lugar a outras que por sua vez também seriam canceladas. Faltou foco.
Por falar em foco, a maior virtude do Saturn é o maior defeito do Nintendo 64. O Saturn recebeu vários e vários jogos de luta 2d. Agora me diz aí sem consultar no Google, tem algum jogo de luta 2d da Sega naquela geração que te venha a memória? Qual o grande jogo 2d do Saturn da Sega? Qual o grande jogo 2d do Saturn dessa first party japonesa?
Isso não explica todos os erros da Sega, mas explica muito porque ela falhou em vender no mínimo 10 milhões de unidades enquanto a Nintendo superou a barreira de 30 milhões. Porque o Saturn falha numa questão primordial que todo consumidor faz: por que eu vou querer ter um Saturn? O que o Saturn faz que nenhum outro videogame faz? Se o Saturn não responde isso com games que sejam realmente exclusivos, não esses falsos exclusivos do tipo Virtua Fighter se o concorrente tem também um jogo de luta 3d, mas exclusivo de verdade, de peso, de impacto, como era o Mario 64, então bem... Isso obriga o Saturn a ser melhor em outras coisas como: ser mais potente, ser mais barato, ser um produto melhor. E ele também falhava nisso. Você cria um produto partindo do consumidor para o processo de produção. Que vantagem o consumidor final teria ao ter um Saturn em casa e não o videogame concorrente? Se você fizer essa pergunta levando em conta o Playstation como concorrente, única resposta possível é melhores conversões de jogos arcade. E o resto? Tá vendo que é diferente no caso da Microsoft versus Sony, a MS entendeu que não foi capaz de entregar os melhores jogos, então ela criou o Gamepass. Só que a Sega não era uma Microsoft, a Sega era uma empresa de jogos, e ela falhou nisso. Então eu não coloco na conta o fato de não terem escutado o Tom Kalinske.
Uma coisa que o Sega&AMD bateu sistematicamente neste tópico, o Saturn só teve 3 million sellers. Só discordo de um ponto dele. Ele acha que os consumidores da Sega não compraram os games da Sega. Eu acho que a Sega não entregou games a altura da expectativa de que os consumidores e fãs da empresa queriam. Em relação ao videogame anterior da Sega, o Saturn deixa muito a desejar em games first party.
Baita post.
Bom, eu não quero bancar o "engenheiro de obra pronta" pois, obviamente, é muito fácil falar o que deveria ter sido feito se eu já vi o que aconteceu... Mas eu concordo 100% com o que falou: oras, tivesse feito uma "gourmetização" e investido em um grande mercado de nicho e com certeza a SEGA teria se dado melhor do que se deu. Objetivamente as specs poderiam ser:
Processador: Motorola 68000 16bits a 12Mhz e o velho e bom Zilog Z80 de 8Mhz;
Memória RAM: 8MB (64mb);
VRAM: 1MB; SRAM: 128Kb SRAM;
Resolução: 320x224;
Paleta: 65K; Simultâneas: 4096;
Som de CD (sic);
Drive de CD: 2x
Slot para cartuchos.
Retrocompatível com Mega Drive e SEGA CD (32X nem lançaria então)
Lançar a $199 no meio de 1994, antes do PS1 a $299 e de Donkey Kong e Killer Instinct do SNES, com jogos em CD a $39 (lançamentos).
Olhem o que até hoje conseguem fazer com Mega Drive e SNES... Seria a máquina 2D definitiva. Como perceberam, equivalente ao Neo Geo e a CPS2 em poder de fogo, porém, com o logo da SEGA, todos os seus first e a abertura com as thirds. Perderia todos os jogos 3D que foram para o PS1 e N64, porém, iria ganhar no 2D de todo mundo. Teria as maiores e melhores versões dos jogos 2D, conversões arcade perfect (que ainda eram populares), relançamentos dos melhores jogos do Mega Drive e do SEGA CD com mais cores, sprites, efeitos, etc. Tudo o que não foi possível fazer nos consoles 16bits seria possível ter feito com ele. Exemplos para quem não entendeu meu raciocínio:
Continuariam os lançamentos anuais do Sonic em 1995, 1996, 1997... Só que sem "limites técnicos".
Castlevania SOTN potencialmente melhores do que os do PS1 e Saturn.
Conversões "Arcade Perfect" dos jogos de luta da CAPCOM e da SNK (que foi um dos nichos do Saturn).
Todos os RPGs 2D do Saturn poderiam ser lançados normalmente.
Os jogos do Mega Man teriam sido melhores ainda com mais sprites, velocidade, etc.
Lançamentos dos jogos de beat'n'up dos arcades.
Mais duas ou três versões do Streets of Rage, com gráficos, animações, vídeos e outras opções que nunca vimos.
Jogos de esportes como ISSS e NBA Jam sairiam em versões mais animais ainda, sendo graficamente muito mais atraentes do que os primeiros jogos de esporte 3D que ainda engatinhavam e tinham gráficos horríveis.
Na parceria com a Disney poderiam sair ainda mais jogos lindos como obras-primas.
Jogos de "navinha" na excelência, podendo ser diversos lançados para o Saturn, outros vindos do Neo Geo e, ainda, novidades pelo tempo desse console de arquitetura amigável no mercado.
Jogos da Treasure como Alien Soldier e Gunstar seriam mais monstruosos ainda, infinitamente melhores.
Todos os jogos do Mega Drive lançados em 1994, 1995 e 1996 teriam versões upadas e dando maior liberdade aos seus criadores, como Comix Zone, MK3 seria arcade perfect, Toy Story seria um primor, Batman Forever seria graficamente perfeito, Maui Mallard seria melhor ainda, Vectorman e Vectorman 2 seriam ainda mais impressionantes, Road Rash seria a versão definitiva, os jogos do Spiderman/Venom teriam gráficos bombados nível arcade, X-Men 2: Clone Wars poderia ser hoje o melhor jogo da história dos X-Men, etc.
Todos os jogos 2D que saíram para Saturn e PS1 seriam iguais ou melhores.
Teria Astal, Golden Axe, Dragon Force, MK Trilogy, Mithologies Subzero, Super Tempo, Rayman, In the Hunt (jogo de submarino matador), Shinning Force, Gex, Darkstalkers, Street Fighter, The King of Fighters, Earthworm Jim, Phantasy Star, Shadownrun, Dragon Heart, Shinobi, Bomberman, Metal Slug, Diablo (ficaria muito bom se bem adaptado), Princess Crown, Elevator Action, Legend of Oasis, Dungeons & Dragons, etc.
Com o velho e bom Motorola 68000 que todo mundo sabia programar na época, com fôlego de sobra para meter sprites, com drive de CD, acessível (e com possibilidade de fortes cortes de preço nos anos seguintes), certamente inventariam muita, mas muita coisa nova e boa para esse console. Imaginem a capacidade gráfica animalesca do Neo Geo em um console SEGA aberto às thirdies, que fariam jogos para o público de massa.
Poderíamos estar falando agora de um console de nicho ou um segundo console de quem teve PS1, mas com 20 ou 25 milhões de unidades vendidas e que não teria dado prejuízos à SEGA. Um console que tivesse sobrevivido forte no mercado por uns 4 ou 5 anos e que teria tido condições de ter lançamentos rentáveis até a era HD. Poderíamos estar falando agora da era de ouro dos games 2D, em que a SEGA, Taioto, SNK, Capcom, Konami, Treasure, Hudson, Virgin, EA, Atlus, Disney, Activision, Namco, Midway, Data East e Telenet fariam jogos que simplesmente não existiram.
Enfim, depois de tanto devaneio e "futurologia do passado", minha paixão pelos games 2D e criatividade, penso que teria sido um caminho extremamente rentável para a SEGA.
Fim da "viagem".