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[Diversos] Contraditorium

Goris

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Conheci o Meio-Bit muitos e muitos anos atrás, mas conheci naquele lance de "Que matéria legal, vou favoritar e depois volto pra ler mais" e eu até voltava, mas muitas vezes só naquelas limpezas semestrais de favoritos (quando você decide que tem muitos favoritos e deleta os que não precisa, mas acaba parando no 5 u 6º favorito porque entrou pra ler eles e perdeu duas horas nisso), até ver umas matérias mais legais desse site, acho que em tópicos do @Zefiris (não lembro se os links eram dele ou de alguém que os respondia).

E só recentemente conheci o Contraditorium, que já haviam me indicado mil vezes (tbm por aqui) e eu nunca havia ido visitar. Mas uns seis meses atrás passei a visitar com mais afinco, ler matérias do Cardoso e, algo que eu adoro, descobri que nesse blog dele tem matéria de mais de 10 anos atrás!

Tipo, eu comecei a participar de fóruns em 1998, no então famoso Survivors e viciei no troço, a ponto de em 2002 eu me perguntar o que eu fazia na internet antes de descobrir os fóruns. E sempre gostei de ler e escrever. E cada vez que um fórum passava por um hack, um update ou um reboot e tudo era perdido, eu perdia parte de mim, textos que eu escrevia na fossa, histórias de vida que eu me esqueceria sem poder reler, mudanças de pensamento.

Em 2002 participei de um RPG via fórum, no BrekGo, que durou até 2005. Imagine, um único RPG de mais de 3 anos, com mais de 100 participantes (naquelas de um membro sai do fórum, entra outro, sai mais um entra mais outro) e com tanto material quanto um mini O Senhor dos Anéis. Tínhamos planos até mesmo de juntar todo esse material em um único livro ou algo assim, até o Crash de 2006, quando perdemos tudo.

Bom, acabei me desviando do tema.

Pois bem, Contraditorium tem matérias de 2005 e eu acho incrível poder ver matérias de 2005, com o cara pensando de um jeito, mudando em 2010, quase oposto em 2015... E matérias que em 2005 ele pensava uma coisa totalmente diferente do que eu pensava em 2005 e, em 2018 eu estar concordando totalmente com ele.

Dito isso, alguém aqui segue o Contraditorium? Cardoso?

Tem alguma matéria legal dele ou gosta do estilo dele escrever?

Postei aqui e não no Vale Tudo porque o Cardoso tem opiniões bem fortes sobre vários temas políticos e, de repente, algo assim pode vir parar aqui!

https://contraditorium.com
 

Goris

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Conheça a série sobre muçulmanos que bombou bem antes de Homeland
Cardoso 22/02/2017
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Houve um tempo, muitos, muitos anos atrás onde não havia patrulha ideológica, onde a militância lacradora não vigiava todos os nossos atos. Nesse tempo você podia ser politicamente incorreto, fazer as piadas que quisesse, chamar imigrantes de nazistas por botarem ordem no restaurante e ninguém controlava quantas minorias havia em seu elenco. Imigrantes e religiões esquisitas também eram alvos válidos. E piadas de terroristas muçulmanos, claro.

Nessa época surgiu Little Mosque on the Prairie, um de meus vícios secretos, uma sitcom que funcionou maravilhosamente bem em suas 6 temporadas. Eu sei que você nunca ouviu falar. Não era lacradora ou ofensiva, e na época esses conceitos nem estavam na moda.

E sim, eles faziam piadas com 11 de Setembro, até no teaser antes do lançamento da série:



Little Mosque se passa na cidadezinha de Mercy, 14 mil habitantes na província de Saskatchewan, Canadá. A cidade tem uma pequena comunidade muçulmana, e depois que perdem sua mesquita, acabam entrando em um acordo com a paróquia da cidade. Como o padre precisa de dinheiro, aluga metade do prédio da igreja.

Quer dizer, na verdade o aluguel foi negociado por Yasir Hamoudi, que aproveitou para sublocar um pedaço da sublocação para instalar o escritório de sua empreiteira. Ele é muçulmano, marido de Sarah, uma anglicana que se converteu ao islã e trabalha para a prefeita Popowitz, que como toda prefeita de seriado é enrolona, quase corrupta e extremamente incompetente.

Os dois são pais de Rayyan, uma jovem progressista, moderna, a melhor médica da cidade e que segue a religião mais do que a mãe E o pai, mas questiona sempre que vê algo que considera injustiça, ou que contrarie seus princípios feministas. Rayyan antagoniza menos com Fred Tupper, o radialista conservador radical da cidade do que com Fatima e Baber.

Fatima é uma imigrante nigeriana que comanda o restaurante mais popular da cidade. É extremamente desconfiada de tudo que seja ocidental, mas como todo mundo adora sua comida, o restaurante é point de todo mundo, inclusive Fred Tupper, que tem uma quedinha por ela, mas nunca vai admitir.

little-mosque-on-the-prairie-serie-tv-08-g.jpg

A discussão sobre quando começa o Ramadã é hilária e real em todas as mesquitas do planeta.

No primeiro episódio a comunidade está ansiosa esperando a chegada do novo Iman, Baber é uma figura folclórica mas seus sermões são dignos de qualquer religioso radical: Tudo é errado tudo é pecado TV é pecado inclusive American Idol. Até mesmo Canadian Idol!

O problema é que Amaar Rashid era um advogado bem-sucedido em Toronto, e seu choque cultural com a comunidade de Mercy é mais estressante e divertido (pra nós) do que suas interações com os conservadores.

No meio de tudo temos o Padre Duncan, o líder da igreja local, um sujeito boa-praça, liberal mas com uma paróquia como todas as outras, perdendo fiéis a cada dia. Por isso ele não tem problemas em alugar parte da igreja pros muçulmanos. Como ele explica a Amaar, “Foi Deus quem disse Que Haja Luz, mas sou eu quem paga a conta de eletricidade”.

Ah sim, Baber, como todo sujeito muito conservador tem uma filha rebelde, Layla:



A série não é panfletária, não é condescendente, não é paternalista. Não tem propósitos “educativos”. É uma sitcom cujo cenário é uma cultura diferente, ao invés de ser a 545435ª série de hipsters descoladinhos vizinhos de porta em NY. Funcionaria perfeitamente se os papéis fossem invertidos.

Se dá pra tirar uma lição de Little Mosque On the Prairie, é que devemos nos focar nos moderados, eles são as primeiras e maiores vítimas dos radicais, em todos os grupos. Vide como a feministas sérias estão apanhando depois que aquela guria mala chilicou por causa de moças trabalhando servindo cerveja num jogo de futebol.

Essa série foi por anos meu vício secreto, estou devendo este texto a mim mesmo faz tempo. Recomendo MUITO que você, que gosta de sitcoms leves com texto ágil e original assista.

Como incentivo extra, temos o fato de que a militância lacradora (que você NUNCA viu recomendando a série) odiaria Little Mosque se assistisse hoje. Além de não vilanizar a população branca/cristã como um todo, a série, apesar de ter sido criada por Zarqa Nawaz, uma mulher muçulmana de origem paquistanesa, a maior parte do elenco não é composta de muçulmanos, e isso é haram para a militância que desconhece o conceito de atuação.

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Inclusive a Rayyan, essa demonha infiel.

Little Mosque on the Prairie é uma série inofensiva, divertida e que é igualmente rejeitada pela militância lacradora e pela direita xenófoba histérica. Foi exibida em 90 países, incluindo Israel. Tem na locadora do Paulo Coelho, e vale o download!

https://contraditorium.com/2017/02/22/conheca-serie-sobre-muculmanos-bombou-bem-antes-de-homeland/
 

Goris

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Cientista negro famoso devora cérebro de Katy Perry e dá uma lição a todos nós
Cardoso 24/06/2017
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Uma velha história apócrifa e quase certamente falsa diz que quando Marilyn Monroe e Einstein se encontraram ela falou “Professor, nós deveríamos ter um filho, já imaginou, com a minha beleza e sua inteligência?” Ao que Einstein teria respondido “Nem pensar, já imaginou se ele nasce com a sua inteligência e a minha beleza?”

Neil DeGrasse Tyson teve toda chance de repetir essa piada quando passou mais de uma hora conversando com Katy Perry, em sua casa de reality show, parte de um streaming que ela está fazendo para promover um disco, ou algo assim. Katy é, nas palavras de uma leitora, “uma toupeirinha”. Entre as pérolas que ela soltou durante a conversa temos:

“Matemática tem alguma relação com ciência?”

Katy mistura os ingredientes básicos da pseudoespiritualidade moderna: monoteísmo cristão disfarçado de ecumenismo, acredita em cristais, signos, reencarnação, etc, etc. Seu conhecimento de ciência é mínimo e motivo de piada. Qualquer um se divertiria mostrando como ela está errada em um monte de coisas, como não compreende conceitos básicos, ela sairia humilhada pisoteada e colocada em seu devido lugar.

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Eu fiquei esperando a patada, mas ela não veio. Então percebi algo interessante: Neil em nenhum momento falou “você está errada”, “não, não é assim”. Ele buscava pontos em comum com Katy Perry, como contar que a citação na bio dela no Twitter era de Sócrates.





Ele mostrou ciência a ela, ciência que está no dia a dia, ninguém é imune a isso. Muda a perspectiva perceber que para você existir uma estrela teve que morrer, bilhões de anos atrás, forjando em seu núcleo os elementos que hoje são… você.

Eu esperava uma reação de nerd, possessivo, defensivo e territorial. Só entra no meu círculo quem tiver o Conhecimento Sagrado, do contrário é poser, tire essa camiseta da Mulher Maravilha, moleque. O que eu vi foi um Divulgador Científico. Um verdadeiro discípulo de Carl Sagan, que adorava dar aulas para crianças, e responder todas as perguntas, por mais simples que fossem.

As perguntas da Katy Perry são simples também. Em um momento ela embarca em uma sequência de porquês digna de uma criança, mas o brilhante é que Neil não se irrita, não perde o raciocínio e a mantém fascinada. O lindo de tudo é que ele não a espanta, não a afasta, ela mesmo sem entender fica cada vez mais curiosa e fascinada com a Ciência.

ISSO é a verdadeira divulgação científica, não se manter em torres de marfim desdenhando de quem sabe menos. O objetivo dele ali não era ensinar ciência para Katy, mas ensinar o conceito da Ciência, reacender a chama da curiosidade, que nasce com toda criança e é pisoteada por professores ruins e pais desinteressados.

Neil DeGrasse Tyson deu uma aula, não de ciência mas de divulgação científica. Todo mundo que tem a pretensão de escrever sobre ciência para leigos, precisa assistir esse vídeo.

PS: Sim, eu sei que você conhece o Neil DeGrasse Tyson, mas depois que um idiota postou um vídeo onde ele é chamado de “cientista negro famoso” e não se dão ao trabalho de mencionar o nome (uai, não era famoso?) sempre que posso chamo assim, em prol da zoeira.
 

Goris

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We don’t need another hero?
Cardoso 08/04/2009


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Uma das constatações da vida é que nossos ídolos têm pés de barro, esqueletos no armário. Ninguém está livre. O primeiro estadista a promover uma campanha nacional antifumo, o primeiro a patrocinar pesquisa científica séria que associou fumo a câncer e outras doenças tinha atividades paralelas que acabaram diminuindo sua imagem como Campeão da Saúde.

Não há nada errado em ter modelos, mas ao atribuir status de perfeição eles se distanciam da humanidade, o que dá margem a posições no mínimo ridículas, como a Igreja Católica na Idade Média defendendo que “Jesus não ria”.

Vamos a um exemplo: Os cristãos dizem “Jesus se fez Homem”, “O verbo virou carne” e outras alegorias. OK. Pergunte em um fórum cristão: “Jesus peidava?”

Imediatamente teremos uma mini-inquisição, um monte de gente se sentirá ofendida, achará um absurdo, bla bla bla.

Gente, ou era Gente ou não era Gente. Se era gente, peidava. Até mulheres bonitas peidam, os Mythbusters já comprovaram.

Se você precisa de ídolos, exemplos, líderes perfeitos, você tem problemas. Se você precisa da perfeição de seus ídolos para acreditar em seus exemplos, você tem mais problemas ainda.

Na maioria dos casos a inspiração causada pelos ídolos é muito maior do que eles mesmos. Neste post do Chapéu, Chicote e Carbono-14 o autor comenta:

Eu sei, estou careca de saber, que o bom e velho Henry “Indiana”
Jones Jr. não é exatamente o sujeito adequado para refletir como é a
arqueologia na vida real. PelamordeDeus, o cara é praticamente um
ladrão de tumbas. Contexto arqueológico? Não trabalhamos. (Também nem
dava. Toda vez que o principal artefato era tocado, o sítio inteiro
desabava…)

E, no entanto, pataquadas à parte, Indy e companhia bela conseguiram
inculcar em jovens mentes impressionáveis (tipo a minha aos nove anos
de idade) o essencial: o passado pode ser uma aventura. E o passado importa. Portanto, é uma honra colocar a surrada fedora na cabeça, nem que seja metaforicamente. Vamos em frente.

Não é só ele. Scotty era um péssimo engenheiro, sempre inventando gambiarras e maceteando os sistemas de segurança da Enterprise. Pombas, ele cometia fraude de forma institucionalizada, multiplicando por 4 os prazos, para ganhar fama de milagreiro.

Dr McCoy então vivia perdendo pacientes, fazia tratamentos não-homologados, chegou a atender pacientes estando bêbado.

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Lara Croft – Outra arqueóloga que inspirou muitos jovens
Mesmo assim toda uma geração de médicos e engenheiros foi formada por inspiração desses dois. DeForrest Kelly conta que já nem lembra mais quantos médicos o encontraram e disseram que resolveram seguir carreira por sua causa. James Doohan era recebido por engenheiros e cientistas de verdade como um de seus pares.

Quando Nichelle Nichols pensou em sair de Star Trek, por não fazer mais do que serviço de telefonista da Enterprise, o Dr Martin Luther King Jr a convenceu a ficar, pois era um exemplo para milhares de meninas negras.

Em 1992 a Dra Mae Jemison se tornou a primeira mulher negra astronauta. Sua inspiração? A Tenente Uhura, de Star Trek.

Nichelle Nichols foi amante de Gene Roddenberry, e muito provavelmente por isso conseguiu o papel.

E DAÍ?

Eu vejo um movimento muito ruim de “destruição de ídolos”, há todo um grupo que tem prazer em dizer “fulano não presta”, referenciando-se a todo e qualquer ser humano que ouse sair do lago de m**** que é a mediocridade corrente.

Uma vez um sujeito em uma lista reclamou da série ROMA, da HBO, dizendo que mostrava Julio Cesar de forma muito mundana, que não era bom que figuras históricas agissem como gente de verdade, que isso era um “desrespeito”.

Discordo totalmente.

O Reinaldo, do Carbono-14 não é o primeiro nem será o último a se interessar por arqueologia graças a Indiana Jones. Não será o primeiro nem o último a perceber que Indy não é perfeito. Espero que ele perceba, isso sim, que não é necessário ser perfeito para INSPIRAR outros.

Criar ideais inatingíveis é uma forma de controle, garante que no máximo as pessoas almejarão ficar abaixo de você, seu posto está garantido. Destruir ídolos também é uma forma de garantir a mediocridade. Se ninguém vale nada, para quê se esforçar?


Fonte: Contraditorium
=-=-=-=-=-=-=​

Engraçado como penso parecido com ele em muitos aspectos.

Poxa, eu digo exatamente o mesmo do The Last Jedi! Eles destroem ídolos, mas não constroem nada em seu lugar, são como bárbaros burros e ignorantes destruindo, pilhando e queimando e deixando terra arrasada por trás de seu rastro.
 

Goris

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Você acha Hugh Hefner Ruim? Ele fez um funcionário negro se sentar com um nazista
Cardoso 28/09/2017
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Era o começo dos Anos 60, o movimento dos Direitos Civis ainda engatinhava em boa parte dos EUA, no Sul principalmente a rejeição era imensa e segregação racial era algo real e legal. Negros e Brancos eram separados sempre que possível, de bebedouros a bares, e isso gerou um problema para Hugh Hefner.

O criador da Playboy era meio ingênuo, por isso topou abrir uma franquia dos Clubes Playboy em New Orleans, e isso voltou para morder sua mão. Os clubes eram locais exclusivos onde os sócios usavam suas chaves especiais e assistiam a shows, concertos, bebiam, networkavam e eram servidos por coelhinhas altamente treinadas, inclusive proibidas de manter qualquer contato inapropriado com os clientes. Hefner mandava detetives para tentar seduzir as coelhinhas de vez em quando e garantir que andavam na linha. Clientes abusados eram expulsos, mas o problema era outro.

Clientes de outros Estados estavam chegando no Clube Playboy da cidade e sendo barrados, com o argumento de que eram… negros. Hefner tentou argumentar, os donos mostraram que eram legalmente autorizados a segregar o estabelecimento. Sem opção, Hugh Hefner puxou o talão de cheque e comprou o clube de volta. Imediatamente o acesso passou a ser liberado para todos os sócios.

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Até o Clube Playboy fica melhor com coelhinhas japinhas.

Que qualquer Clube Playboy nos Anos 60 aceitasse negros hoje soa como surpresa, mas na época era algo que qualquer um familiarizado com Hugh Hefner acharia natural. Ele era um sujeito completamente fora da curva, hoje é hostilizado como sexista, machista porco esTRUpador, bla bla bla, mas o verdadeiro Hugh Hefner e a Playboy foram fundamentais para os movimentos sociais nos anos 60/70.

Hefner era um caso raro na época, uma mentalidade avançada nas questões sociais E CEO de uma empresa bem-sucedida. Ironicamente ele perdeu dinheiro com isso. O público em sua maioria não gostava de mensagens progressistas, e consequentemente os anunciantes também não. E por mensagem progressista eu digo reconhecer que EXISTEM pessoas “diferentes”. Por isso o grande Nat King Cole foi demitido da NBC, não havia anunciantes.





Isso não impediu Hugh Hefner de bancar seus dois programas, Playboy’s Penthouse e Playboy After Dark, vendidos para emissoras de todo o país, com exceção de várias estações do Sul, que se recusavam a divulgar aquele absurdo, e por absurdo em digo um programa que mostrava festas no que seria a cobertura de Hefner, onde convidados negros e brancos se divertiam, e até dançavam juntos, interracialmente. Brrr…

Para piorar era comum a presença de atrações negras, como Gregory Hynes, Louis Armstrong, Ella Fitzgerald, Sarah Vaughn, Marvin Gaye e muitos outros. Inclusive gente que não era preta ou branca, mas da pior cor possível: vermelha. Artistas na Lista Negra do Senador McCarthy eram rotineiramente convidados. Ronald Reagan chegou a mandar uma carta pedindo que Hefner parasse de chamar esses indesejáveis, como o comediante Lenny Bruce. Hefner chegou a ser preso por levar Bruce no programa.

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Sarah Vaughn no Clube Playboy de Chicago.

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Hugh Hefner e Ella Fitzgerald

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Marvin Gaye no Clube Playboy

Hefner sabia que irritava alguns consumidores, mas no fundo isso servia como filtro para manter longe dos clubes e da revista gente que não se alinhava com os ideais da revista, gente que se incomodava com isto:

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Coelhinhas negras sempre foram contratadas para trabalhar nos clubes, as aí de cima são de Chicago. E a disputa era imensa, era ótimo negócio ser coelhinha, o salário era bom, o ambiente de trabalho era quase militar em sua organização. Sharon Peyton foi coelhinha em um dos clubes, e conta que lá aprendeu tudo sobre organização e qualidade de serviço, conhecimentos que aproveitou quando abriu seu próprio nightclub tempos depois.

Além das coelhinhas visíveis, a Playboy também era conhecida por empregar um número fora do normal de mulheres, em uma época onde o normal era um ambiente Mad Men, e não eram empregadas só como secretárias. Hefner não tinha problemas em colocar mulheres em postos de alta responsabilidade, inclusive esta senhora aqui:

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Ela se chama Zelda Wynn Valdes, designer e estilista, responsável por uma das imagens icônicas da cultura pop, a fantasia de coelhinha usada pelas playmates e recepcionistas dos Clubes Playboy.

Na revista Hefner tentava aplicar sua visão inclusiva, dentro dos limites do real, pois senão a Playboy fecharia. O público não estava preparado para um choque cultural, mesmo assim a primeira Playmate negra apareceu em 1965. Para dar uma idéia de como isso foi ousado socialmente, a Sports Illustrated só foi ter uma negra na capa, a Tyra Banks, em 1994.

Mesmo nos textos Hefner ousava. Entre os números 2 e 4 da revista publicaram Farenheit 451, de Ray Bradbury. Matérias sobre direitos civis, racismo, liberdade de expressão eram rotineiramente publicadas. Em 1955 a revista publicou um conto de ficção científica rejeitado pela Esquire por ser polêmico demais, “The Crooked Man,” de Charles Beaumont.

Na história uma sociedade onde a norma era todos os homens sendo gays excluía e perseguia héteros, que se encontravam em clubes secretos e viviam à margem da sociedade. Um monte de leitores escreveu reclamando. Ao contrário das empresas bananas de hoje em dia Hefner não pediu desculpas. Publicou uma nota defendendo o conto e dizendo que se parecia tão errado assim perseguir héteros, talvez fosse errado fazer o mesmo com gays.

A Fundação Playboy, criada em 1965 foi pioneira em bancar custas de processos envolvendo aborto e uso de anticoncepcionais, que eram proibidos em alguns Estados. Certa vez Hefner recebeu uma carta de um Disc Jockey cumprindo uma pena de 12 anos de prisão. Motivo: Antes de um show um fã praticou fella felacc pagou um boquete, foram flagrados e enquadrados em Leis contra Sodomia.

Sim, hoje em dia a gente dá verba federal de pesquisa pra quem quiser chupar p*rocas em banheiros públicos, mas nos Anos 50 era cadeia, sem dó. Hefner não concordava, colocou a Fundação Playboy em cima e conseguiu que o sujeito fosse solto, e as Leis anti-sodomia acabaram caindo.

A posição progressista da Playboy fica evidente já na primeira entrevista, em 1962: Miles Davis. Hefner amava Jazz, amava talento e não tinha tempo pra se preocupar com a cor do tal talento. Isso desencadeou uma série de entrevistas que se tornaria lendária. A piada de que se comprava Playboy por causa das entrevistas era, no fundo, verdadeira.

E não eram entrevistas chapa-branca com artistas da moda. Em 1963 foram entrevistados pela Playboy Malcom X e Jimmy Hoffa, e na edição de Dezembro, Albert Schweitzer, o cientista. Outros nomes que passaram pela revista:

  • Vladimir Nabokov
  • Ayn Rand
  • Salvador Dali
  • Muhammed ALi
  • George Wallace
  • Ian Fleming
  • Martin Luther King, Jr
  • Jean-Paul Sartre
  • Fidel Castro
  • Orson Welles
  • Truman Capote
  • John Kenneth Galbraith
  • Ralph Nader
  • Stanley Kubrick
  • Marshall McLuhan
  • Gore Vidal
  • Jesse Jackson
  • Buckminster Fuller
  • Kurt Vonnegut, Jr
  • Erica Jong
Só alguns, e só até 1975, cansei de ler listagens.

Muitas dessas entrevistas foram feitas por Alex Haley, que mais tarde produziria clássicos como o livro e depois série Raízes. Haley fez a primeira entrevista da Playboy, com Miles Davis, conseguiu a maior entrevista que Martin Luther King, jr deu a qualquer veículo e sozinho elevou o padrão do jornalismo “entrevistativo”.

Um de seus momentos mais tensos foi quando entrevistou para a Playboy George Lincoln Rockwell, líder do partido nazista americano. O sujeito deu a entrevista com uma arma em cima da mesa, mas isso não intimidou Alex, veterano da Segunda Guerra Mundial. Ele já começou chutando a porta:

“Eu já fui chamado de nigger antes, desta vez estou sendo bem pago pra isso, então vá em frente e diga por quê nos odeia.”

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Alex Haley

A Playboy é sinônimo de revista de mulher pelada, mas essa é uma visão simplista. Quando ela foi criada sexo era basicamente proibido, algo feito entre quatro paredes, digno de vergonha. Hugh Hefner trouxe o erotismo para a luz, apresentava mulheres com nome e sobrenome e uma incrível predileção por longos passeios na praia. A preocupação com o prazer feminino era constante nos artigos, o homem bem-sucedido era o que sabia agradar. A Revolução Sexual deve muito à Playboy, pois de nada adianta mulheres liberadas se os homens continuam trogloditas.

Quanto a Hugh Hefner, que faleceu ontem aos 91 anos, ele fez muita coisa errada na vida, mas também muita coisa certa. Ele tinha um DC-9, o Big Bunny:

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Ele era usado primariamente para consumir coelhinhas, mas com o desastre do final da Guerra do Vietnã os EUA começaram a Operação Babylift, transportando milhares de órfãos recém-nascidos para os EUA. Hugh Hefner disponibilizou o avião, que fez parte do esforço conjunto. Pelo menos duas gerações estão vivas por causa dele.

A Internet está cheia de ódio gratuito contra Hugh Hefner, e espero sinceramente nunca descer tanto em uma espiral de desumanidade que eu fale isso de um senhor de 91 anos:

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A Playboy conseguiu glamourizar e tornar invejável a mulher que posava nua, algo que mesmo hoje é visto meio de lado. O título de playmate era ostentado com orgulho, isso é o oposto de objetificação. Isso é humanização, e nem vou entrar na parte em que a Playboy publicou ensaios com modelos transsexuais.

A postura progressista da revista era às vezes controversa mesmo internamente. Em 1987 publicaram um ensaio com Ellen Stohl, uma modelo paraplégica. Isso gerou uma briga imensa na redação, vários editores, muitos deles mulheres, foram contra, achando que pareceria um show de bizarrices. A decisão final foi de Hugh Hefner.

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A própria Ellen Stohl relembra:

“Hef foi inflexível , eu tinha o mesmo direito de expressar minha voz sexual quanto mulheres sem deficiências”

Hugh Hefner é facilmente odiado e invejado, mas assim como sua revista, há muito mais do que o conteúdo superficial, é só uma questão de saber e gostar de ler. Agora ele nos deixou, e eu temo por seu destino. Se sua alma pesar mais que uma pena, ele achará as festas no Inferno coisa de amadores, e se for pro céu morrerá de novo, de tédio.

A mim só resta agradecer. Por ensinar gerações a idéia de sexualidade saudável e positiva, por ensinar que mulheres bonitas podem e devem ser apreciadas mas se você não as tratar com respeito você é um m****, por toda uma vida defendendo direitos civis e avanços sociais mas principalmente, obrigado Senhor Hefner por uma certa capinha em Dezembro de 1987.

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Fonte: Contraditorium

Acho que o tema não agrada muito a turma da OS, né.
 

colision

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Gosto bastante dos textos dele, leio a anos, mas primariamente no meiobit. Tenho que visitar mais o Contraditorium.
 


Hobgoblin

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Hugh Hefner é facilmente odiado e invejado, mas assim como sua revista, há muito mais do que o conteúdo superficial, é só uma questão de saber e gostar de ler. Agora ele nos deixou, e eu temo por seu destino. Se sua alma pesar mais que uma pena, ele achará as festas no Inferno coisa de amadores, e se for pro céu morrerá de novo, de tédio.

A mim só resta agradecer. Por ensinar gerações a idéia de sexualidade saudável e positiva, por ensinar que mulheres bonitas podem e devem ser apreciadas mas se você não as tratar com respeito você é um m****, por toda uma vida defendendo direitos civis e avanços sociais mas principalmente, obrigado Senhor Hefner por uma certa capinha em Dezembro de 1987.

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Fonte: Contraditorium

Acho que o tema não agrada muito a turma da OS, né.

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D

Deleted member 35588

Conheço tanto o meiobit quanto o Cardoso (e o Contraditorium) há pouco tempo, talvez uns 3-4 anos. Gosto muito da maneira que ele escreve e hoje são dois dos meus sites preferidos.
 

sebastiao coelho neto

Lenda da internet
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Você acha Hugh Hefner Ruim? Ele fez um funcionário negro se sentar com um nazista
Cardoso 28/09/2017
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Era o começo dos Anos 60, o movimento dos Direitos Civis ainda engatinhava em boa parte dos EUA, no Sul principalmente a rejeição era imensa e segregação racial era algo real e legal. Negros e Brancos eram separados sempre que possível, de bebedouros a bares, e isso gerou um problema para Hugh Hefner.

O criador da Playboy era meio ingênuo, por isso topou abrir uma franquia dos Clubes Playboy em New Orleans, e isso voltou para morder sua mão. Os clubes eram locais exclusivos onde os sócios usavam suas chaves especiais e assistiam a shows, concertos, bebiam, networkavam e eram servidos por coelhinhas altamente treinadas, inclusive proibidas de manter qualquer contato inapropriado com os clientes. Hefner mandava detetives para tentar seduzir as coelhinhas de vez em quando e garantir que andavam na linha. Clientes abusados eram expulsos, mas o problema era outro.

Clientes de outros Estados estavam chegando no Clube Playboy da cidade e sendo barrados, com o argumento de que eram… negros. Hefner tentou argumentar, os donos mostraram que eram legalmente autorizados a segregar o estabelecimento. Sem opção, Hugh Hefner puxou o talão de cheque e comprou o clube de volta. Imediatamente o acesso passou a ser liberado para todos os sócios.

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Até o Clube Playboy fica melhor com coelhinhas japinhas.

Que qualquer Clube Playboy nos Anos 60 aceitasse negros hoje soa como surpresa, mas na época era algo que qualquer um familiarizado com Hugh Hefner acharia natural. Ele era um sujeito completamente fora da curva, hoje é hostilizado como sexista, machista porco esTRUpador, bla bla bla, mas o verdadeiro Hugh Hefner e a Playboy foram fundamentais para os movimentos sociais nos anos 60/70.

Hefner era um caso raro na época, uma mentalidade avançada nas questões sociais E CEO de uma empresa bem-sucedida. Ironicamente ele perdeu dinheiro com isso. O público em sua maioria não gostava de mensagens progressistas, e consequentemente os anunciantes também não. E por mensagem progressista eu digo reconhecer que EXISTEM pessoas “diferentes”. Por isso o grande Nat King Cole foi demitido da NBC, não havia anunciantes.





Isso não impediu Hugh Hefner de bancar seus dois programas, Playboy’s Penthouse e Playboy After Dark, vendidos para emissoras de todo o país, com exceção de várias estações do Sul, que se recusavam a divulgar aquele absurdo, e por absurdo em digo um programa que mostrava festas no que seria a cobertura de Hefner, onde convidados negros e brancos se divertiam, e até dançavam juntos, interracialmente. Brrr…

Para piorar era comum a presença de atrações negras, como Gregory Hynes, Louis Armstrong, Ella Fitzgerald, Sarah Vaughn, Marvin Gaye e muitos outros. Inclusive gente que não era preta ou branca, mas da pior cor possível: vermelha. Artistas na Lista Negra do Senador McCarthy eram rotineiramente convidados. Ronald Reagan chegou a mandar uma carta pedindo que Hefner parasse de chamar esses indesejáveis, como o comediante Lenny Bruce. Hefner chegou a ser preso por levar Bruce no programa.

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Sarah Vaughn no Clube Playboy de Chicago.

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Hugh Hefner e Ella Fitzgerald

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Marvin Gaye no Clube Playboy

Hefner sabia que irritava alguns consumidores, mas no fundo isso servia como filtro para manter longe dos clubes e da revista gente que não se alinhava com os ideais da revista, gente que se incomodava com isto:

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Coelhinhas negras sempre foram contratadas para trabalhar nos clubes, as aí de cima são de Chicago. E a disputa era imensa, era ótimo negócio ser coelhinha, o salário era bom, o ambiente de trabalho era quase militar em sua organização. Sharon Peyton foi coelhinha em um dos clubes, e conta que lá aprendeu tudo sobre organização e qualidade de serviço, conhecimentos que aproveitou quando abriu seu próprio nightclub tempos depois.

Além das coelhinhas visíveis, a Playboy também era conhecida por empregar um número fora do normal de mulheres, em uma época onde o normal era um ambiente Mad Men, e não eram empregadas só como secretárias. Hefner não tinha problemas em colocar mulheres em postos de alta responsabilidade, inclusive esta senhora aqui:

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Ela se chama Zelda Wynn Valdes, designer e estilista, responsável por uma das imagens icônicas da cultura pop, a fantasia de coelhinha usada pelas playmates e recepcionistas dos Clubes Playboy.

Na revista Hefner tentava aplicar sua visão inclusiva, dentro dos limites do real, pois senão a Playboy fecharia. O público não estava preparado para um choque cultural, mesmo assim a primeira Playmate negra apareceu em 1965. Para dar uma idéia de como isso foi ousado socialmente, a Sports Illustrated só foi ter uma negra na capa, a Tyra Banks, em 1994.

Mesmo nos textos Hefner ousava. Entre os números 2 e 4 da revista publicaram Farenheit 451, de Ray Bradbury. Matérias sobre direitos civis, racismo, liberdade de expressão eram rotineiramente publicadas. Em 1955 a revista publicou um conto de ficção científica rejeitado pela Esquire por ser polêmico demais, “The Crooked Man,” de Charles Beaumont.

Na história uma sociedade onde a norma era todos os homens sendo gays excluía e perseguia héteros, que se encontravam em clubes secretos e viviam à margem da sociedade. Um monte de leitores escreveu reclamando. Ao contrário das empresas bananas de hoje em dia Hefner não pediu desculpas. Publicou uma nota defendendo o conto e dizendo que se parecia tão errado assim perseguir héteros, talvez fosse errado fazer o mesmo com gays.

A Fundação Playboy, criada em 1965 foi pioneira em bancar custas de processos envolvendo aborto e uso de anticoncepcionais, que eram proibidos em alguns Estados. Certa vez Hefner recebeu uma carta de um Disc Jockey cumprindo uma pena de 12 anos de prisão. Motivo: Antes de um show um fã praticou fella felacc pagou um boquete, foram flagrados e enquadrados em Leis contra Sodomia.

Sim, hoje em dia a gente dá verba federal de pesquisa pra quem quiser chupar p*rocas em banheiros públicos, mas nos Anos 50 era cadeia, sem dó. Hefner não concordava, colocou a Fundação Playboy em cima e conseguiu que o sujeito fosse solto, e as Leis anti-sodomia acabaram caindo.

A posição progressista da Playboy fica evidente já na primeira entrevista, em 1962: Miles Davis. Hefner amava Jazz, amava talento e não tinha tempo pra se preocupar com a cor do tal talento. Isso desencadeou uma série de entrevistas que se tornaria lendária. A piada de que se comprava Playboy por causa das entrevistas era, no fundo, verdadeira.

E não eram entrevistas chapa-branca com artistas da moda. Em 1963 foram entrevistados pela Playboy Malcom X e Jimmy Hoffa, e na edição de Dezembro, Albert Schweitzer, o cientista. Outros nomes que passaram pela revista:

  • Vladimir Nabokov
  • Ayn Rand
  • Salvador Dali
  • Muhammed ALi
  • George Wallace
  • Ian Fleming
  • Martin Luther King, Jr
  • Jean-Paul Sartre
  • Fidel Castro
  • Orson Welles
  • Truman Capote
  • John Kenneth Galbraith
  • Ralph Nader
  • Stanley Kubrick
  • Marshall McLuhan
  • Gore Vidal
  • Jesse Jackson
  • Buckminster Fuller
  • Kurt Vonnegut, Jr
  • Erica Jong
Só alguns, e só até 1975, cansei de ler listagens.

Muitas dessas entrevistas foram feitas por Alex Haley, que mais tarde produziria clássicos como o livro e depois série Raízes. Haley fez a primeira entrevista da Playboy, com Miles Davis, conseguiu a maior entrevista que Martin Luther King, jr deu a qualquer veículo e sozinho elevou o padrão do jornalismo “entrevistativo”.

Um de seus momentos mais tensos foi quando entrevistou para a Playboy George Lincoln Rockwell, líder do partido nazista americano. O sujeito deu a entrevista com uma arma em cima da mesa, mas isso não intimidou Alex, veterano da Segunda Guerra Mundial. Ele já começou chutando a porta:

“Eu já fui chamado de nigger antes, desta vez estou sendo bem pago pra isso, então vá em frente e diga por quê nos odeia.”

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Alex Haley

A Playboy é sinônimo de revista de mulher pelada, mas essa é uma visão simplista. Quando ela foi criada sexo era basicamente proibido, algo feito entre quatro paredes, digno de vergonha. Hugh Hefner trouxe o erotismo para a luz, apresentava mulheres com nome e sobrenome e uma incrível predileção por longos passeios na praia. A preocupação com o prazer feminino era constante nos artigos, o homem bem-sucedido era o que sabia agradar. A Revolução Sexual deve muito à Playboy, pois de nada adianta mulheres liberadas se os homens continuam trogloditas.

Quanto a Hugh Hefner, que faleceu ontem aos 91 anos, ele fez muita coisa errada na vida, mas também muita coisa certa. Ele tinha um DC-9, o Big Bunny:

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Ele era usado primariamente para consumir coelhinhas, mas com o desastre do final da Guerra do Vietnã os EUA começaram a Operação Babylift, transportando milhares de órfãos recém-nascidos para os EUA. Hugh Hefner disponibilizou o avião, que fez parte do esforço conjunto. Pelo menos duas gerações estão vivas por causa dele.

A Internet está cheia de ódio gratuito contra Hugh Hefner, e espero sinceramente nunca descer tanto em uma espiral de desumanidade que eu fale isso de um senhor de 91 anos:

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A Playboy conseguiu glamourizar e tornar invejável a mulher que posava nua, algo que mesmo hoje é visto meio de lado. O título de playmate era ostentado com orgulho, isso é o oposto de objetificação. Isso é humanização, e nem vou entrar na parte em que a Playboy publicou ensaios com modelos transsexuais.

A postura progressista da revista era às vezes controversa mesmo internamente. Em 1987 publicaram um ensaio com Ellen Stohl, uma modelo paraplégica. Isso gerou uma briga imensa na redação, vários editores, muitos deles mulheres, foram contra, achando que pareceria um show de bizarrices. A decisão final foi de Hugh Hefner.

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A própria Ellen Stohl relembra:

“Hef foi inflexível , eu tinha o mesmo direito de expressar minha voz sexual quanto mulheres sem deficiências”

Hugh Hefner é facilmente odiado e invejado, mas assim como sua revista, há muito mais do que o conteúdo superficial, é só uma questão de saber e gostar de ler. Agora ele nos deixou, e eu temo por seu destino. Se sua alma pesar mais que uma pena, ele achará as festas no Inferno coisa de amadores, e se for pro céu morrerá de novo, de tédio.

A mim só resta agradecer. Por ensinar gerações a idéia de sexualidade saudável e positiva, por ensinar que mulheres bonitas podem e devem ser apreciadas mas se você não as tratar com respeito você é um m****, por toda uma vida defendendo direitos civis e avanços sociais mas principalmente, obrigado Senhor Hefner por uma certa capinha em Dezembro de 1987.

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Fonte: Contraditorium

Acho que o tema não agrada muito a turma da OS, né.
Mais uma prova da teoria da ferradura, de como a extrema esquerda e a extrema direita são tão parecidas, ambas detestam a sexualidade de mulheres bonitas.
 

Goris

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Caetano, apesar de você ainda temos Liberdade
Cardoso 03/03/2006
Todos esses pseudo intelectuais que ficavam se esbaldando nos anos 70, tendo orgasmos quando uma música era censurada (disco de ouro garantido) adoravam discursar sobre liberdade de expressão, fazer passeatas contra censura, bla bla bla. Mas quando é no fiofó deles, a coisa muda de figura. O grande baluarte da liberdade, caetano veloso, processou a revista Sexy por publicar fotos de uma suposta namorada sua. E mais, ainda exigiu a retirada dos exemplares em circulação. Belo exemplo, caetano.
Se ainda fosse um caso de calúnia e difamação, sei lá, dizer que viu o caetano beijando o Gil na boca (eu sei, aconteceu, mas felizmente não achei a foto) eu ainda entenderia. A ação de danos morais, claro. NÃO a ação de recolhimento da revista.

O que foi feito requerido, entretanto, foi um ato TOTALITÁRIO, digno dos piores exemplares de radicalismo, um sujeito que quer controlar o mundo que o cerca, não aceita nenhuma opinião que não seja a sua e apela para todos os meios legais (pelo menos) para isso, mesmo que não sejam éticos.

Por decisão da juíza Márcia Helena Bosch, da 11ª Vara Cível de São Paulo, a edição de março da Revista Sexy será retirada das bancas. O motivo foi uma ação proposta pelo cantor e compositor Caetano Veloso e sua ex-esposa, Paula Lavigne, que impede a publicação de um ensaio fotográfico de Denise Assis dos Santos. Segundo os autores da ação, a revista estaria associando o nome da modelo ao cantor e ainda sugerindo, indevidamente, que ambos teriam um caso.

Sim, a EX-mulher entrou com a ação junto. Faça-me o favor, dona paula.. Ele é solteiro. Ele pode ter caso com quem quiser. Se você não quer, case com ele de novo. Seu caetano, ela não manda mais, você come quem quiser agora, acorde. Não sei como eram as coisas nos anos 70, mas hoje em dia um sujeito não fica ofendido a ponto de processar alguém por ter seu nome associado a uma mulher bonita. No máximo você diz “não peguei não… infelizmente”.


O objeto da discórdia, que ofendeu caetano e ex

Denise Assis ficou conhecida ao ser apontada, em uma matéria de capa da revista Isto é Gente, a nova namorada de Caetano Veloso, após um ano de separação do artista com a segunda autora, Paula Lavigne. O engano foi desfeito após negativa de Caetano publicada na íntegra, onde ele explicava de que a relação entre ambos não se tratava de namoro.

OK, foi um caso, uma ficada, fuck buddies, que seja. Ronaldinho vai processar as três travestis que se fantasiaram no Gala Gay de “Ex do Ronaldinho”? Duvido. A Playboy cansou de publicar fotos de modelos que foram em restaurantes no mesmo bairro onde imprimiram o recibo de venda do carro da ex-sobra de alguma celebridade, e isso é motivo para ligarem nome à pessoa e mandar ver… ninguém foi processado por isso.


só faltou declarar que nem conhecia…

Felizmente, caetano, alguns juízes são inteligentes. O recurso da Editora foi aceito, a revista foi pro ar sim, por mais que cause um dano moral terrível a você, ter sido visto um ano após sua separação com essa menina, e a Sexy publicar um ensaio que não estava na capa da revista e havia apenas uma menção com o título “Beleza pura! Ensaio exclusivo com a tigresa que tirou Caetano Veloso do sério”.

Em sua carta-resposta à IstoÉ, que ousou afirmar barbaridades como:

Axé total: Caetano Veloso e Denise Assis apareceram de mãos dadas no ensaio do bloco Cortejo Afro, em Salvador, na segunda-feira 30. “Eles nunca trocaram um beijo em público, mas a família toda a tem como namorada dele. É uma negra belíssima”, conta uma amiga da família dele

Você diz: “Tenham mais respeito por mim“. Quer saber, caetano? Eu tinha, mas depois que você e sua ex-mulher se prestam a um papel ridículo desses, depois que você começou a praticar abertamente tudo que sempre se disse contra, não tenho mais nenhum respeito por você.

Respeito eu tenho pelo Desembargador Beretta da Silveira, que acatou a liminar da Editora, dando em seu parecer:

“Eram apenas fotos de duas pessoas solteiras e não comprometidas. A não publicação era um ato de censura. Tomamos ofício da ação na sexta-feira, quando a revista já havia iniciado a distribuição, o que por questões logísticas, torna o processo de recolhimento da revista irreversível”.

Tomou, papudo? Liberdade é ouvir o que a gente não quer, de vez em quando…

Notícias originais:

A pedido de Caetano Veloso, Justiça retira Revista Sexy das bancas

Quinta-feira, 2 de março de 2006

Fonte: Ultima Instância

Por decisão da juíza Márcia Helena Bosch, da 11ª Vara Cível de São Paulo, a edição de março da Revista Sexy será retirada das bancas. O motivo foi uma ação proposta pelo cantor e compositor Caetano Veloso e sua ex-esposa, Paula Lavigne, que impede a publicação de um ensaio fotográfico de Denise Assis dos Santos.

Segundo os autores da ação, a revista estaria associando o nome da modelo ao cantor e ainda sugerindo, indevidamente, que ambos teriam um caso.

Com essa decisão, a editora Rickdan, responsável pela publicação da Sexy, foi condenada liminarmente a recolher os exemplares da revista nas bancas de todo o país e também na internet, além de estar proibida de fazer qualquer alusão ou menção ao nome de Caetano e Paula Lavigne nas fotos a serem republicadas, sob pena de multa diária de R$ 500 mil.

Denise Assis ficou conhecida ao ser apontada, em uma matéria de capa da revista Isto é Gente, a nova namorada de Caetano Veloso, após um ano de separação do artista com a segunda autora, Paula Lavigne. O engano foi desfeito após negativa de Caetano publicada na íntegra, onde ele explicava de que a relação entre ambos não se tratava de namoro.

A juíza entendeu que Caetano Veloso teve seu nomes e imagem envolvidos em matérias inverídicas, conforme publicada na revista Isto É Gente, onde desmente qualquer envolvimento com Denise, e concedeu antecipação de tutela. Bosch considera “sagrado o direito de qualquer cidadão de proteger seu nome, imagem, honra em qualquer meio de comunicação”.

Bosch fez questão de frisar que “a publicação do ensaio fotográfico de Denise não está sendo impedida, mas desde que o façam sem qualquer menção ou alusão aos autores e sua família, de qualquer natureza”.

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A última decisão:

TJ-SP suspende liminar e libera publicação da revista Sexy
João NovaesO TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo) concedeu, na noite desta quinta-feira (2/3), uma liminar à editora Rickdan, e a edição do mês de março da revista Sexy, com o polêmico ensaio da modelo Denise Assis, está liberada para ir às bancas e circular na versão on-line.

O advogado da editora, responsável pela publicação da Sexy, Djair de Souza Rosa, entrou nesta quinta-feira com um agravo de instrumento na 3ª Câmara de Direito Privado do TJ-SP, pedindo a anulação de liminar concedida em primeira instância ao cantor e compositor Caetano Veloso, que havia suspendido a distribuição da revista nas bancas de todo o país. O motivo seria que o ensaio fotográfico da modelo associava seu nome ao do artista.

O relator do caso, desembargador Beretta da Silveira, entendeu que a editora sofreria dano irreversível com a liminar de primeira instância, e que a decisão poderia ser resolvida por outras maneiras, como ação por indenização de danos morais.

Souza Rosa alegou que a decisão em primeira instância, além de não causar qualquer tipo de dano à imagem do autor, era um ato de censura. Em entrevista a Ultima Instancia, ele reiterou que em nenhum momento o nome do artista foi vinculado ao da modelo, insinuando algum tipo de relacionamento afetivo, e que, portanto, não estaria caracterizada a publicação de informação inverídica nem prejuízo à imagem do artista.

O ensaio não estava na capa da revista e havia apenas uma menção com o título “Beleza pura! Ensaio exclusivo com a tigresa que tirou Caetano Veloso do sério”. A editora alega ainda que Caetano Veloso é uma personalidade pública e não pode querer selecionar as reportagens que saem a seu respeito. As fotos foram publicadas um ano depois que Caetano se separou da atriz Paula Lavigne – que, por continuar tratando dos interesses do cantor, foi co-autora na ação.

“Eram apenas fotos de duas pessoas solteiras e não comprometidas. A não publicação era um ato de censura. Tomamos ofício da ação na sexta-feira, quando a revista já havia iniciado a distribuição, o que por questões logísticas, torna o processo de recolhimento da revista irreversível”.

Segundo Rosa, a decisão do TJ não cabe recurso. Para ele, a ação já perdeu objeto, pois o objetivo era apenas a retirada de qualquer menção do nome de Caetano associado à modelo. “Para conceder antecipação de tutela, como na decisão anterior, eram necessários dois requisitos que não se apresentavam: o periculum in mora (dano irreversível) à imagem do requerente e fatos que deixassem o dano muito claro, o que não foi o caso”, concluiu Rosa.
 

Goris

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Vou colocar em spoiler pra não quebrar o tópico.

Novamente, só posso concordar com Cardoso. Mudar de opinião é uma arte!
Sendo honesto, eu até pensei em pular esse texto, que defende as feminazi que tanto gosto de atacar, mas eu seria justamente o tipo de pessoa desonesta que considero desonestas, se fizesse isso.

A Arte de Mudar de Opinião -ou: Nessa fecho com a Feminista
Cardoso 23/03/2014


Uma das coisas que mais me irrita é histeria, até por ser uma condição facilmente tratável. A internet, claro, sofre dela em proporções epidêmicas. Tudo é tratado com um exagero patológico. Crise na Ucrânia? Histéricos gritam 3a Guerra Mundial Iminente, Obama vai destruir o Mundo, Putin vai invadir Niterói. Avião sumiu? Illuminati, plano maligno, falha endêmica que ameaça todos os aviões do planeta.

Marcha da Família? Golpe de Direita prestes a ocorrer vão matar todos que não tatuem uma suástica na testa. Como? Marcha foi resposta ao Golpe Comunista que o PT estaria armando pra chegar ao poder? Quem governa o país tem uns 3 mandatos, o PDS?

Essa incapacidade de tratar qualquer assunto de forma racional, de não conseguir enxergar tons de cinza inviabiliza qualquer debate. Por isso inclusive estou me abstendo de sequer tomar conhecimento do tal Marco Gomes Civil, ou algo assim. TODAS as matérias que vi traziam mastigada a conclusão a qual eu deveria chegar, sob pena da Internet no Brasil se tornar uma ditatura gay, de esquerda, de direita, nazista, fascista ou reptiliana.

Isso torna o ato de se informar muito mais complicado. Por mais macaco velho que a gente seja, sempre passa algum ruído. Estou acompanhando e repassando o suposto conflito na Crimeia, mas 60% do que acho é material antigo ou falso passado como novo. A propaganda está a todo vapor, dos dois lados.

É preciso muito, muito bom-senso antes de sequer começar a formar uma opinião, como no caso da Professora Mireille Miller-Young. Ela dá aulas de Estudos Femininos (e você achava homeopatia inútil) na Universidade da Califórnia. É militante feminista, faz parte do movimento negro, pesquisa pornografia e seus efeitos e tem todo o jeito de ser uma das criaturas mais chatas do planeta pra qualquer um que não siga exatamente sua cartilha.

E à Professora Mireille eu peço profundas desculpas mesmo não tendo feito nada.

Ela está sendo acusada de (segundo uma das manchetes) agredir uma estudante de 16 anos, em uma manifestação anti-aborto.

Os relatos que vi descreviam o caso como se um grupo de manifestantes estivessem protestando, a professora tivesse chegado e arrancado os cartazes das mãos delas, machucando a pobre menina no processo. Dada a péssima imagem das feministas radicais, dada a mania delas de gritar Lobo! o tempo todo, fiquei propenso a acreditar, ainda mais com todo mundo falando que havia um vídeo do incidente.

Mea culpa, mea maxima culpa, não vi o vídeo. Achei que não precisava. Até ontem, quando descobri um esquema no Twitter. Propagandistas histéricos estão criando manchetes tipo “Mais tropas ucranianas abandonam seus postos”, e em anexo colocam links para CNN, Reuters, etc. Usando o encurtador oficial desses sites. Muita, muita gente dá RT sem clicar, mas se você seguir o link, verá que cai em uma página genérica, às vezes na home do site. A PRESUNÇÃO DE CREDIBILIDADE nubla o ceticismo. Maligno maquiavélico e genial.

Quanto ao vídeo da professora, é este aqui. Veja, não acredite em mim.

Viu? Pois é. A história mudou completamente de figura. As tais militantes, como você pode ler aqui, eram de um grupo cristão anti-aborto chamado Sobreviventes do Holocausto do Aborto. Estavam se manifestando no campus, onde sequer estudam, e o alvo era a professora. Começam a assediar, a aporrinhar a coitada, perseguindo com um daqueles cartazes de fetos esmigalhados. Uma delas fica mais atrás, filmando tudo.

Elas GRUDAM e não param de falar, enchendo o saco da professora, invadindo espaço pessoal. A coitada aguenta até o elevador, quando entram junto mas a babaquinha com a câmera mete o pé e trava. Nessa hora a Profa incorporou o estereótipo de Shirley de Community e deu uns safanões, empurrando a idiota com a câmera e rasgando o cartaz.

ESTÁ ABSOLUTAMENTE CERTA! Uma coisa é você protestar pacificamente, outra é aporrinhar os outros.

Quando Bart Sibrel, um daqueles idiotas que não aceitam o Pouso na Lua resolveu aporrinhar Buzz Aldrin, o astronauta se mostrou um poço de educação, desviando, não dando atenção, mas o imbecil do Sibrel continuou, chamando Buzz de LADRÃO por “ganhar dinheiro com palestras sobre algo que não fez”. Mesmo assim Buzz deixou passar, mas “covarde” foi demais. Veja até o fim, vale cada segundo:

Video Apagado​

Não digo que violência seja a melhor resposta sempre, mas não acredito em sangue de barata. Até chegar ao ponto de dar aula em uma universidade conceituada essa professora viu muita coisa pela vida, ainda mais sendo mulher e negra. Eu garanto que ela já abaixou a cabeça mais vezes do que gostaria, e ser aporrinhada, em seu local de trabalho, por duas merdinhas privilegiadas que quando precisarem de um aborto e ele for proibido(e vão precisar, as estatísticas mostram) vão pra alguma clínica de luxo na Europa, enquanto o resto da população se vira com açougueiros ilegais, isso é mais do que ela precisa aguentar.

Quer protestar, proteste, mas não seja um mala. Ou pelo menos siga o exemplo da Sara Winters e mostre os peitos, assim ainda sobra algo de bom.
 
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Goris

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A matéria abaixo, sobre racismo e ficção científica, dois temas que eu sempre me interesso, mostra um pensamento que eu mesmo possuo:

Não adianta você serse dizer contra o racismo se você defende um racismo diferente (que não deixa de ser racista). Em nome da diversidade impedir que brancos, heteros e cristãos possam dar sua opinião sobre algo não é agir em nome da diversidade, é ser um novo modelo de racista.

Breve Manifesto contra Racismo na Ficção Científica
Cardoso 02/11/2015




Whoopy Goldberg gosta de contar como um dia, criança, chamou a mãe correndo para ver uma moça negra na TV que não era uma empregada. A moça negra em questão era a Tenente Uhura, uma das oficiais da ponte da USS Enterprise, a nau capitânia da Frota Estelar em Jornada nas Estrelas.

No final dos Anos 60 Gene Roddenberry colocou uma negra em uma posição de comando, quando no mundo real ela não poderia nem legalmente se casar fora da raça, em alguns Estados.

Uhura foi uma das idéias que Roddenberry fez a emissora engolir. No primeiro piloto da série a 1a Oficial era mulher, inclusive. 20 anos depois da Grande Guerra um ator gay que havia vivido em campos de prisioneiros japoneses e descendentes nos EUA era o navegador da Enterprise. Ao lado de um russo.

O computador da Enterprise? Construído por um gênio da computação chamado Dr Richard Daystrom.



Enquanto queimavam cruzes e enforcavam negros no Sul dos EUA, Roddenberry colocava um como cientista interplanetariamente famoso.

Quando um script pediu um beijo entre a Tenente Uhura e o Capitão Kirk várias emissoras se recusaram a passar a cena. A NBC tentou resolver exigindo a filmagem de duas cenas, com e sem beijo. Roddenberry Shatner e Nichelle conspiraram e erraram todas as cenas sem beijo até não haver mais tempo.



Star Trek discutia temas sociais por sua ausência. Não havia sexismo ou racismo, mostrar pessoas de várias etnias e origens interagindo com respeito e profissionalismo era uma boa forma de passar a mensagem, mas às vezes eram mais direitos.

No clássico Let That Be Your Last Battlefield a Enterprise encontra dois aliens que são idênticos exceto por sua coloração invertida.



Os dois são membros da mesma espécie, mas se identificam como espécies isoladas, estão em uma luta de 50 mil anos com os dois povos se desprezando, com histórico de escravidão, segregação e declarações de inferioridade, afinal “veja o rosto dele, é preto do lado esquerdo. isso é nojento”.

No final eles descobrem que o planeta de origem dos dois havia sido destruído por uma guerra racial, e ainda assim continuam lutando. Foi um grande episódio admiravelmente escrito por Gene Coon.

Jornada nas Estrelas manteve essa tradição da ficção científica, lidar, através de metáforas e alegorias com questões sociais. O mais obtuso dos racistas acharia idiota brigar por causa de metade do rosto ser da cor errada, e muita gente conseguiu extrapolar isso para o rosto inteiro.

Em Deep Space Nine Jornada nas Estrelas teve seu primeiro comandante negro, mas não era esperado que ele lidasse diretamente com racismo, afinal estavam no Século XXIV. Mesmo assim Benjamin Sisko foi protagonista de Far Beyond The Stars, talvez o melhor episódio da série.

DS9 conta a história de uma estação espacial da Federação em uma zona de conflito, onde um planeta que foi por muito tempo ocupado por invasores tenta se recuperar, enquanto é observado pelos Profetas, alienígenas vistos como deuses pelos habitantes de Bajor, e que interagem de vez em quando com eles.

Benjamin Sisko foi escolhido pelos Profetas como Emissário, e costuma ter visões. No episódio elas se intensificam, até que ele acorda como Benny Russel, um escritor de ficção científica em Nova York dos Anos 50.

Ele trabalha em uma revista de ficção, junto com outros autores, todos personagens de Deep Space Nine, mas sem maquiagem. Embora seus contos sejam populares, ele não aparece nas fotos dos escritores, os fãs não gostariam de saber que estão lendo histórias escritas por um negro.

A Major Kira é K.C. Hunter, autora que assina com as iniciais para que os fãs não descubram que é mulher. Isso foi uma referência à grande roteirista de Star Trek Dorothy Fontana, que assinava como D.C. Fontana pelos mesmos motivos.



Benny escreve um conto sobre uma estação espacial no futuro onde não há pobreza ou racismo ou discriminação, e o comandante é um negro, Benjamin Sisko. O dono da revista manda recolher e destruir a edição, dizendo que ninguém comprará uma história com um protagonista “de cor”.

O episódio inteiro mostra Benny sofrendo com racismo diário, hostilizado pela polícia, que não acredita que um negro seja capaz de escrever literatura, cobrado pelos amigos por não arrumar um emprego condizente com sua situação, e por aí vai.

Sua única esperança é o futuro que ele sonhou. Veja esta cena onde Benny, brilhantemente interpretado por Avery Brooks descobre que sua história foi rejeitada e a edição destruída:



Far Beyond The Stars é baseado em uma história de Marc Scott Zicree, com roteiro de Ira Steven Behr e Hans Beimler. Foi indicado para 3 Emmys.

Jornada nas Estrelas sempre mostrou o melhor e o pior do ser humano. Nós erramos, nosso passado é horrível mas aprendemos, melhoramos, nos aprimoramos sem perder nossa humanidade. Klingons, terríveis inimigos do passado, agora são aliados. Todos mudamos, se possível para melhor.

O dedo sempre foi metido na ferida, seja via alegorias, seja mostrando com todas as letras como pessoas eram segregadas, mesmo pelo fandom que tanto gostava do trabalho delas.

Temos muito a agradecer ao grupo responsável pelos episódios acima, uma pequena fração do que foi Star Trek e a ficção científica como um todo. Eis esses rostos:



Yoda me ensinou que não se pode julgar as capacidades de alguém com base na aparência. Star Trek me ensinou que toda criatura senciente merece respeito, não importa a espécie, e que em um universo de Infinita Diversidade em Infinitas Combinações, é ilógico achar que alguém é melhor ou pior por causa de cor, raça, sexo ou planeta de origem.

Por isso eu fico pra morrer quando vejo isto aqui:



Isso mesmo. Um evento que pretende discutir diversidade e representatividade em ficção científica, com discurso de inclusão e que de cara proíbe a participação de palestrantes baseado em orientação sexual, gênero e raça.

Não é isso que eu aprendi com ficção científica, mas há vários ditos “nerds” defendendo essa atitude. Pela lógica deles um sujeito que briga com a emissora para botar um casal interracial se beijando ou um autor que faz um episódio didático mostrando que racismo é errado e idiota não têm nada a dizer. Porque são da cor errada.

estão justificando essa segregação de mil maneiras mas se eu aprendi direito com Far Beyond The Stars, no fundo não passa do bom e velho racismo mesmo.

Fonte: https://contraditorium.com/2015/11/02/breve-manifesto-contra-racismo-na-ficcao-cientifica/
 

Goris

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A Mulher-Pirata que aterrorizou a França

Cardoso 03/12/2017
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Nossa história começa onde a maioria dos contos de fada termina. É um final feliz, mesmo a noiva tendo apenas 12 anos, mas é o Século 14, os médicos da época não eram exatamente o House e a expectativa de vida era a mesma de um beija-flor. Imagina então como sofriam os beija-flores da Época.


A noivinha novinha se chamava Jeanne Louise de Belleville, era o ano de 1312 e ela juntava os trapos com Geoffrey de Châteaubriant VIII, bretão muito rico de família pobre em imaginação. Oito filhos e nenhum Enzo?

Dois nobres de boa origem, podres de ricos, alta aristocracia, curtindo o clima na Bretanha, aquela região na pontinha da frança. Em breve seria um dos pontos focais da Guerra dos Cem anos, mas por enquanto era só paz e alegria, até que Geoffrey morreu, em 1326.

Jeanne já era uma senhora de meia-idade, com 26 anos e precisava se sustentar e aos filhos. Arrumou um novo marido em 1328, mas o casamento foi anulado em 1330 pelo papa João XXII. Sem problemas, ela cedeu aos avanços de Olivier de Clisson IV, outro nobre podre de rico.

Os dois se deram muito bem, segundo todos os relatos era um casamento feliz, que rendeu cinco filhos. Infelizmente a História como sempre apareceu pra atrapalhar. A Bretanha começou uma guerra civil, com apoio dos ingleses de um lado e dos franceses do outro. No meio de tudo, Jeanne e a família.

Olivier precisava escolher um lado, e indo contra boa parte dos amigos e parentes, escolheu lutar pelo lado da França, o que não ajudou quando depois de quatro tentativas a cidade de Vannes foi derrotada e Olivier capturado.

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Como era de praxe, foi cobrado resgate, mas como também havia uma troca de prisioneiros no meio, a cabeça de Olivier saiu muito barato, barato demais e os franceses desconfiaram, até porque ele foi o único nobre bretão que foi devolvido.

Em 1343 rolou uma trégua, todos estavam de novo amiguinhos e Olivier foi convidado para um torneio na França. Você sabe, cavalos, lanças, arqueiros, leitões assados nas fogueiras, Jon Snow, Robin Hood… só que o personagem de ficção aqui é outro.

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É, era uma armadilha do Rei Felipe VI. Olivier foi capturado em 19 de Janeiro de 1343, legado para Paris e julgado traidor. Sua cabeça foi separada do corpo em 2 de Agosto de 1343, e para horror da nobreza como um todo, a cabeça foi exposta ao público, coisa que só se fazia com criminosos de baixo escalão.

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A notícia chegou até Jeanne. Ela pegou os dois filhos mais novos e foi até Nantes, onde a cabeça de Olivier estava sendo exposta. Ninguém sabe o que ela falou nesse momento, mas o consenso entre os historiadores é que pode ser traduzido por “big mistake”.

Jeanne voltou para casa, vendeu tudo que tinha. Castelos, terras, jóias, tapeçarias, pedras preciosas, iphones, a medida do bonfim, disco do Pixinguinha, tudo. Com o Ouro que arrecadou contratou um exército de soldados fiéis a Olivier.

Sua primeira incursão foi a um castelo comandado por Galois de la Heuse, um nobre local leal aos franceses que reconheceu Jeanne e abriu os portões. Como eu falei, big mistake. As tropas entraram com tudo, Jeanne queria sangue, e teve. Só sobrou um sujeito, deixado vivo para contar a história.

Daí em diante Jeanne e seus homens começaram a aterrorizar castelos e guarnições na região. As tropas do Rei Felipe VI bem que tentavam mas ela estava sempre vários passos adiante.

Depois de um tempo ela começou a ser notada, e receber ajuda de bretões simpáticos à causa de tocar terror nos franceses. Entre os simpatizantes, estava o Rei da Inglaterra, que a armou com uma carta de corso, ou seja: Jeanne era uma pirata a serviço da coroa inglesa.

Um pirata precisa de um navio, já que um PC com BitTorrent provavelmente demoraria a chegar da China, era o Século 14 afinal. Jeanne ganhou três.

Ela pintou os navios de preto e mandou tingir as velas de vermelho. A nau capitânia da chamada Frota Negra foi batizada por Jeanne de “Minha Vingança”. A idéia era aterrorizar suas vítimas. Nada de surpresa, nada de ataques furtivos. As velas vermelho-sangue ao longe significavam morte.

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Os três navios atacavam em conjunto e pilhavam sem dó embarcações francesas no Canal da Mancha. Jeanne de Clisson comandava os ataques na linha de frente, abordando os navios inimigos brandindo um machado, seu método preferido era cortar cabeças francesas. Em geral só sobraram uns dois ou três miseráveis para, como sempre, contar a história.

Exceto se fossem nobres franceses, desses ela não tinha nenhuma misericórdia.

Em uma das batalhas seu navio foi afundado. Jeanne conseguiu pular em um bote com os dois filhos mais novos, dos quais não se separava. Sem suprimentos ela enfrentou o mar por cinco dias, remando sem cessar. O menor não aguentou e morreu, mas Jeanne conseguiu chegar até terra firme com o filho sobrevivente.

Nessa época ela era figura conhecida e temida, chamada de Leoa da Bretanha. Nem a morte do Rei Felipe em 1350 a acalmou. Ela continuou massacrando navios inteiros, invadindo e incendiando vilas francesas e barbarizando todo mundo pela frente até 1356.

Provavelmente ela teve um momento de reflexão enquanto cortava a garganta de algum duque ou conde, e pensou “I`m too old for this shit”, e em 1356, 56 anos de idade era BEM puxado. Tão súbito quanto quando começou, acabou a carreira de pirata de Jeanne de Clisson. Aproveitando que tinha um bom pistolão, é bom ser amiga do Rei da Inglaterra, ela casou com Sir Walter Bentley, lugar-tenente de Eduardo III.

Eles se mudaram para Hennebont, na Bretanha, onde Jeanne levou uma vida pacata e sossegada, até morrer em paz, em 1359.

Fonte: Contraditorium
 

Goris

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Jumbo – não era uma geladeira mas teria protegido o Indiana Jones
Cardoso 30/04/2018


Existe a impressão de que o Projeto Manhattan foi o mais avançado e tecnologicamente complicado empreendimento da Segunda Guerra Mundial. Barato não foi, em dinheiro de hoje custou US$27,7 bilhões de dólares, é um trocado mas só em ajuda dos EUA a União Soviética recebeu US$150 bilhões. O bombardeiro B-29, ele sim uma maravilha tecnológica e futurista e a única aeronave capaz de levar as bombas atômicas foi um projeto que custou o equivalente a US$41,59 bilhões.

Boa parte do dinheiro do Projeto Manhattan foi usado construindo as instalações de refino de Urânio e produção de Plutônio. Não era como 1985 onde você comprava Plutônio em farmácias, sintetizar o elemento custava uma fortuna e levava anos, não era permitido desperdiçar. E aí entra o problema de testar a bomba.

Havia dois projetos paralelos. Um usava um sistema de canhão, onde o núcleo de Urânio-235 era disparado em um alvo do mesmo material, atingindo massa crítica e iniciando a reação de fissão.



Era um modelo tão simples que nem iria ser testado. Só que a eficiência é muito baixa, a Little Boy, usada em Hiroshima tinha 64Kg de Urânio, dos quais só 0,6g foram transformados em energia, e para piorar tiveram que alterar o projeto. Originalmente ela usaria Plutônio, mas descobriram em 1944 que o estoque estava contaminado.

O Plutônio contaminado poderia ser usado em outro modelo de bomba, o de implosão. Nele uma série de explosivos cuidadosamente direcionados comprime uma esfera de Plutônio.



Na teoria a idéia funciona, mas na prática foi muito complicado criar uma explosão sincronizada em microssegundos, usando componentes dos Anos 40, onde a eletrônica era basicamente barro fofo e pedra lascada. Foram feitos avanços em engenharia e mecânica de precisão que são usados até hoje, e para piorar Los Alamos não era como Fukushima, Plutônio não dava em árvores. (too soon?).

O Dispositivo, como era chamada a bomba de implosão precisava ser testado, e muita gente apostou que não iria dar certo, que a detonação seria parcial, que nem explodiria, etc. Alguém sugeriu que já que provavelmente não funcionaria, ao menos o Plutônio, o precioso Plutônio deveria ser recuperado. A solução? Um equipamento de contenção que resistisse à explosão convencional da bomba. Assim se a parte nuclear não funcionasse, era só abrir a caixa, raspar o Plutônio das paredes e usar no próximo teste.

Os cientistas se reuniram para calcular as dimensões e características do equipamento. O resultado foi um cilindro de 7,62 metros de comprimento, 3,05 metros de diâmetro, paredes com 35,6cm de espessura de puro aço, peso total 194 toneladas. Foi carinhosamente batizado de Jumbo.



Jumbo foi construído por uma empresa de Barbeton, Ohio, que tinha experiência em fazer caldeiras para a Marinha. Aí surgiu outro problema: Como levar um monstro de 194 toneladas por uma distância de 2500Km até o local do teste. Muitas pontes ferroviárias no caminho não aguentariam o peso, tiveram que planejar toda uma rota especial. Foi a carga mais pesada já transportada por trem até então.

Chegando na estação final, mais 80Km de deserto até o local do teste. Construíram um trailer especial com 64 rodas só para levar o Jumbo.



Aí com tudo pronto, os cientistas dizem que não precisam mais do Jumbo, a confiança de que a detonação vai ocorrer corretamente está bem alta e o Jumbo iria interferir com os instrumentos de medição. Em resumo: Obrigado, mas não obrigado.

Por mais que o Projeto Manhattan fosse prioritário e tivesse uma carteira sem-fundo de onde tirar dinheiro, ainda era preciso prestar contas, e o General Leslie Groves, o bambambam do projeto precisava dar um jeito de usar o Jumbo, afinal foram US$277 milhões em dinheiro atual pra construir aquela garrafa térmica gigante.



Well, se é pra usar durante um teste nuclear, vamos usar. Jumbo foi suspenso em uma torre a uns 600 metros de distância da bomba nuclear que seria testada. Se há uma forma de se livrar de algo indesejado, é assim.



Agora é só apertar o botão e..





Problema resolvido, bye-bye Jumbo, certo?

Jumbo não colaborou. A torre onde ele estava pendurado foi vaporizada pela explosão de 20 kilotons, mas fora um amassado que o Martelinho de Ouro resolvia de letra, Jumbo permaneceu intacto.



Jumbo foi um elefante branco que se tornou uma batata quente na mão do Exército, ficou esquecido até o final da guerra, quando o General Groves decidiu que era hora de se livrar dele. Como havia sido projetado para testar uma explosão, inventaram um teste onde 230Kg de cargas de demolição foram colocadas dentro do cilindro, na parede do fundo para anular a capacidade do Jumbo de resistir a uma detonação, que normalmente aconteceria em seu centro.

Mais uma vez, Jumbo decidiu que não morreria em silêncio. A detonação foi amplificada e embora a área de segurança fosse de uns 200 metros, pedaços do Jumbo foram encontrados a 1Km do centro da detonação. Um pedaço de 15 toneladas foi parar a quase 300 metros.




Este pedaço aqui tem umas duas toneladas. Note a espessura da parede.



Depois disso tudo Jumbo tirou a poeira dos ombros e no melhor estilo Cavaleiro Negro disse “é só um arranhão”. O cilindro principal havia sobrevivido.



Depois dessa o Exército desistiu de tentar destruir o Jumbo. Ele ficou abandonado no deserto até ser redescoberto nos Anos 70, quando foi movido para a entrada do Trinity Atomic Bomb Site, que hoje é uma atração turística, aberta algumas vezes por ano para visitação. Turistas podem ver o ponto zero da primeira explosão nuclear, aprender sobre a História do Projeto Manhattan e até tirar fotos dentro do Jumbo.


Yeah, eu sei

Outros fragmentos do Jumbo estão expostos em vários museus, com direito até a placa comemorativa.





No final Jumbo sobreviveu para demonstrar que nem generais, nem bombas atômicas são capazes de vencer engenheiros realmente obstinados, com tempo e dinheiro suficientes para fazer um excelente trabalho.
 

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O Cardoso, dos "bloggers", é o autor que eu mais gosto de ler atualmente. Poucos autores tem uma escrita tão prazerosa de ler. Torna assuntos secos em algo gostoso de ler.
 

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Indica algum na mesma linha?
Todo mundo que escreve no meiobit escreve bem. Outros que eu gosto (e estão na ativa) são o Rodrigo Ghedin, do Manual do Usuário (informática), Rodrigo Mattar (automobilismo) e o André Barcinski (música).
Tinha outros muito bom, só que pararam de escrever tipo o Verde (automobilismo) e o Gagá Games (jogos antigos).
 

Goris

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Robert Smalls, o escravo fujão que virou o Django, mas no Outubro Vermelho
Cardoso 11/05/2018


A Guerra Civil nos EUA é um tema extremamente complexo, e nem de longe foi o Bem contra o Mal com o Norte bonzinho libertando escravos e o Sul malvado fazendo maldade com o Kunta Kintê, embora isso seja parte da equação. O próprio Abraham Lincoln, um homem de seu tempo tinha idéias hoje consideradas racistas, era contra dar a negros direito a voto, cargos públicos e dizia com todas as letras que eram inferiores aos brancos.

Mesmo não vivendo uma vida excelente, era muito melhor ser negro no Norte do que no Sul, e por um tempo escravos fugitivos conseguiam viver em paz, mas o Fugitive Slave Act de 1850 determinou que a União deveria auxiliar a busca e retorno de escravos fugidos, mesmo em Estados onde não havia escravidão. Isso fez com que muitos escravos fugissem direto para o Canadá, até estourar a Guerra Civil, agentes federais ficaram menos propensos a retornar escravos para o Sul.

Em meio a essa confusão toda que começa a história de Robert Smalls. Quer dizer, a história dele começa em 1839, quando nasceu em Beaufort, Carolina do Sul, filho de Lydia Polite, escrava doméstica da família McKee e muito provavelmente de Henry McKee, o dono da casa e dos escravos.



Quando Robert fez 12 anos os McKees se mudaram para Charleston, e como ele já tinha idade suficiente, foi colocado para trabalhar, de uma forma tão cruel que parece até alguns casamentos: O Mestre mandou que ele arrumasse um emprego. O dinheiro do salário ia todo para o Mestre, claro. Era tipo uma terceirização.

Primeiro ele arrumou emprego em um hotel, mas acabou trabalhando nas docas, Robert descobriu que amava o mar e de estivador, costureiro de velas e outros empregos, acabou virando timoneiro, e trabalhou como prático do porto de Charleston, sem o título pois escravos não podiam ser práticos. Com 17 anos ele se casou com Hannah Jones, uma escrava de 22 anos. Eles tiveram uma filha, que juntada às duas que Hannah havia tido de um casamento anterior, formaram a família de Robert Smalls.

Em 1861 a Guerra Civil estourou, e todos os barcos foram usados no esforço de guerra, inclusive o CSS Planter, uma canhoneira fluvial usada para transporte de suprimentos, na qual Robert era o timoneiro.

A tripulação era composta de oficiais brancos e marinheiros escravos, e isso deu uma idéia a Robert: Tentar um Outubro Vermelho, uma deserção em massa. Mas para isso era preciso ganhar a confiança dos oficiais, e ele conseguiu, sendo um excelente marinheiroe cumprindo todas as ordens enquanto viajavam pela costa da Flórida, Geórgia e Carolina do Sul levando munições, comida e plantando minas nas rotas inimigas.



Pacientemente Robert esperou um ano até o momento propício. Ele já conhecia o Planter como a palma da mão, todos os conspiradores sabiam seus papéis, quem era pra ser avisado estava avisado. No dia 13 de Maio de 1862, depois de pegar uma carga de 4 canhões pesados, 200 libras de munição e 20 fardos de lenha o Planter atracou em Charleston. Os oficiais foram passar a noite em terra, provavelmente bebendo e socializando com as moças do porto, e “como sempre” deixaram os escravos tomando conta do navio.

Robert apareceu vestindo um uniforme naval completo, inclusive com um chapéu igual ao do capitão do Planter. Subiu a bordo sem que ninguém percebesse algo diferente, soltaram as amarras e seguiram até um ancoradouro próximo. Lá pegaram a família dele e outros parentes dos escravos a bordo, e seguiram em direção ao norte.

Havia pelo menos 5 postos de checagem no caminho, inclusive fortes com artilharia que obliterariam o Planter da face da Terra se fosse preciso. Ele hasteou a bandeira dos Confederados, e a cada posto de checagem respondia corretamente aos sinais luminosos, com os cumprimentos e códigos precisos, que ele havia decorado depois de ver os oficiais os usarem tantas vezes.

Quando passaram o último posto, chegou a fase mais perigosa: Eles rumavam direto para a frota da União, os inimigos. A bandeira confederada foi rapidamente arriada e um lençol serviu de bandeira branca. Por sorte o capitão do USS Onward não era desconfiado, acreditou na bandeira, mandou um grupo de abordagem ao qual Robert alegremente entregou o navio, as armas, munições e principalmente os livros de código com todas as cifras usadas pelos Confederados. Ah sim, e mapas mostrando a localização de todos os campos minados, muitos dos quais instalados pelo próprio Robert.

Levado até o Almirante Samuel Dupont, que comandava o bloqueio a Charleston Robert apontou os bancos de areia, as regiões com mais ou menos suprimentos, a quantidade de tropas, tudo. Ele virou um herói nacional ou pelo menos de metade do país. Jornais e revistas publicavam a história, ele deu entrevistas, tomou café com a Ana Maria Braga, pacote completo. O Congresso até votou uma Lei na correria dando uma recompensa a Robert Smalls e todos os outros escravos da tripulação do Planter. Ele recebeu US$1500,00, o equivalente hoje a US$37 mil mais ou menos. O suficiente pra começar uma vida nova, arrumar uma casinha, comprar um mimo pra patroa. Só que ele não teve muito tempo pra vida doméstica.

Requisitado pela Marinha, ele trabalhou indicando áreas minadas por um tempo, mas logo perceberam que sua fama poderia ser melhor aproveitada. Convencido a ir a Washington, ele conheceu o Presidente Lincoln, que logo depois mudou de opinião e passou a permitir que negros servissem nas forças armadas da União. Robert foi pessoalmente responsável por mais de 5000 voluntários.

De volta a Port Royal, ele foi transferido para o Exército, onde continuou trabalhando como consultor civil pilotando barcos. Se envolveu em várias batalhas navais, foi afundado uma ou duas vezes, até que acabou de novo no timão do Planter, som o comando do Capitão James Nickerson, quando em primeiro de Dezembro de 1863 foram atacados por baterias de artilharia inimiga atirando de terra.



Apavorado o capitão abandonou a ponte e se escondeu no depósito de carvão do barco. Robert Smalls se viu sozinho na casa do leme. A única opção era a rendição, mas o Sul não seria gentil com um ex-escravo que roubou um navio e repassou um monte de informações sigilosas pro inimigo. “hoje não”, provavelmente pensou ele, enquanto avisava ao pessoal da casa de máquinas, provavelmente ex-escravos como ele que iriam sair dali a toda.

Os carvoeiros carvoaram como nunca, Robert usou todo seu conhecimento para navegar o Planter pelas rasas e perigosas águas, enquanto os inimigos tentavam inutilmente mirar seus canhões em algo que hoje de longe pareceria um jet ski. Fora de perigo, rumaram ao porto, onde o navio chegou, avariado mas flutuando. James Nickerson deixou a História coberto de vergonha, e Quincy Adams Gillmore, comandante geral da região promoveu Robert Smalls na hora para o posto de capitão do Planter.

No ano seguinte, 1864 Smalls se dividia entre pilotar e comandar o Planter, acompanhar convenções políticas, aprender a ler (ele ainda era analfabeto) e arrecadar dinheiro para organizações de apoio à educação de ex-escravos. Nesse mesmo ano um incidente na Filadélfia foi fundamental para a história de Smalls e a História em geral: Em um bonde, ele foi ordenado a ceder seu lugar para um passageiro branco. Ele se recusou a viajar de pé e desceu do bonde, mas era conhecido o bastante pra isso virar um escândalo.

Os jornais denunciaram a humilhação de um veterano herói de guerra que havia sobrevivido a 17 grandes batalhas da Guerra Civil, a discussão chegou ao senado estadual, e em 1867 a Pennsylvania promulgou uma Lei dessegregando o transporte público, décadas antes de Rosa Parks.

Depois do fim da guerra ele continuou pilotando o Planter em missões humanitárias levando mantimentos para o Sul, Depois ele fez algo que pode ser caracterizado como “vingancinha” das boas: Comprou a casa do seu ex-mestre, que havia sido confiscada pela União durante a guerra. Nela morou Robert, a família e sua mãe. Em um gesto de caridade ele permitiu que a esposa do antigo mestre morasse na casa até o fim da vida.


A casa do ex-mestre e que depois foi comprada por Robert existe até hoje.

Robert arrumou um sócio, abriu uma loja para vender suprimentos principalmente para ex-escravos. Com o lucro contratou um professor particular para aprimorar seus conhecimentos, e comprou um prédio de dois andares e criou uma escola para crianças negras. Em 1870 junto com outros sócios ele montou uma ferrovia, só havia um branco no quadro de diretores. Ele havia se estabelecido como um homem rico e influente, e fundou até um jornal, como esse tipo de sujeito costuma fazer.

Ele era um republicano devoto, trabalhava dentro do partido pra promover a idéia de educação pública gratuita e compulsória. Eleito deputado estadual, ajudou a aprovar a carta dos Direitos Civis de 1870 na Carolina do Sul. Logo foi eleito senador estadual, onde angariou fãs entre os outros políticos, por sua habilidade oratória e de articulação.

Eleito para o Senado Federal, ele permaneceu por 5 mandatos, onde tentou promover integração das forças armadas e combateu sem sucesso tentativas democratas de diminuir o alcance do voto negro, com redimensionamento de distritos eleitorais e outras marmotagens. Sim, aquilo que reclamaram da última eleição nos EUA já não era novidade em 1874. Ele acabou prejudicado depois de uma armação dos democratas o envolver em uma denúncia de suborno. No final o caso foi arquivado quando os republicanos acharam uma acusação semelhante envolvendo democratas. Política, né…


Em 2006 o Exército dos EUA lançou ao mar o USAV Major General Robert Smalls, um navio de apoio logístico, o primeiro a ser batizado em honra a um negro.

Robert Smalls venceu todas as adversidades possíveis, enfrentou situações inimagináveis para qualquer um vivendo no conforto do Século XXI (em países com PIB decente, claro) e conseguiu construir uma vida honrada, fez muito pelo seu povo e por si mesmo. Chega a ser uma afronta à sua memória gente em 2018 dizer que não consegue algo por causa da escravidão.

Ele morreu em 1915, aos 75 anos de idade sempre defendendo a igualdade entre as raças.



“Minha raça não precisa de nenhuma defesa especial, a história deles neste país mostra que são iguais a todos os povos em qualquer lugar. Tudo que precisam é uma oportunidade igual na batalha da vida”

Robert Smalls, 1839-1915

Fonte: Contraditorium
 

Goris

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Douglas Bader, o piloto que chutava bundas, e nem tinha como.
Cardoso 22/05/2018


O dia que começou ruim para Douglas Bader estava prestes a piorar, muito. Voando sem seu fiel ala, ele se desorientou nas manobras e não conseguiu derrubar nenhum dos 12 caças alemães que seu grupo de 4 Spitfires havia atacado. Mirando em outro grupo ele conseguiu um abate, mas quando decidiu voltar pra casa seu caça foi atingido violentamente, a ponto de se partir em dois.

Sem a seção de cauda, o Spitfire girava descontrolado a 640Km/h, caindo como uma pedra. Brigando contras as forças g bader abriu a carlinga, mas não conseguiu sair. Sua perna estava presa nas ferragens. Vendo o chão se aproximar, ele tentou uma manobra desesperada: Abriu o paraquedas. Puxado pela força do ar, sua perna foi arrancada logo acima do joelho mas ao menos ele conseguiu pousar em segurança.

A perna era a menor das preocupações, pois era uma perna mecânica. Na verdade, Douglas Bader tinha duas.

Nascido em 1910, Douglas era jovem demais para lutar na Grande Guerra mas isso não impediu que visse seu pai morrer de ferimentos de combate, em 1917. Ele nunca mostrou propensão a uma carreira militar, ou a qualquer carreira. O padrasto (a mãe se casou assim que enviuvou) era um pastor que não dava bola pra Bader, a mãe também não ligava, ele acabou virando um adolescente revoltado, atirou no irmão com uma arma de chumbinho, e como punição foi mandado para uma escola preparatória, onde canalizou sua violência em esportes e… mais violência, participando de equipes de luta.



Aos 13 anos ele foi introduzido por um tio (epa!) ao mundo da aviação militar, mas embora tenha gostado não cogitou a idéia de se tornar um piloto. As notas não eram grande coisa, mas depois de um esporro e um acompanhamento do diretor da escola, mudaram totalmente. Douglas Bader era extremamente inteligente, só não estava nem aí pra Hora do Brasil, literal e metaforicamente, mais metaforicamente.

O tio insistiu, ele viu que era uma boa e de qualquer jeito gostava de aviões (que garoto de 13 anos não gosta?) e ele acabou fazendo Academia da RAF e Oxford. Como cadete da Força Aérea ele adorava corridas de carros, acrobacias e corridas com aviões, as três coisas proibidas pelo regulamento. Cadetes morriam como moscas por causa dessas gracinhas, e com Douglas (quase) não foi diferente. Em 14 de Dezembro de 1931 ele forçou demais uma manobra acrobática e se esfacelou no chão com o avião. Depois de 4 semanas no hospital, Douglas Bader havia perdido as duas pernas. Ele tinha 21 anos de idade e esse foi o fim de sua carreira de aviador.

OK, foi o que disseram, mas o moleque rebelde jamais aceitaria uma opinião dessas, e usando a tecnologia da época, que não era exatamente a do Tony Stark, arrumou um par de pernas mecânicas e reaprendeu primeiro a andar, e quando se sentiu confortável procurou cursos de aviação civil para reaprender a voar usando as pernas mecânicas para acionar os pedais do leme.


Douglas Bader, antes de seu acidente, fazendo manobras com aviões.

Em 1932 ele fez um teste prático e foi aprovado. Um exame médico o liberou para voar novamente, mas alguns meses depois a Força Aérea mudou de idéia. Douglas ficou puto mas só sobrou continuar voando como civil, até que em 1937 o bicho começou a pegar na Europa e os ingleses já não estavam tão exigentes em termos de pessoal. Ele aporrinhou o Ministro do Ar até conseguir uma posição, mas descobriu que era um posto em terra. Interveio o Vice-Marechal do Ar Halahan, que havia sido comandante de Douglas Bader antes do acidente.

Bader foi submetido -de novo- a todos os testes e exames, e foi aprovado com louvor e a contragosto. A idéia de um piloto sem pernas era ridícula para os envolvidos, e ninguém se preocupou em perguntar a Bader o que ele achava. O grande e praticamente aliado era o Vice-Marechal Halahan, que garantiu pessoalmente a capacidade de Bader.

Em 27 de Novembro de 1939 Douglas Bader fazia seu primeiro vôo solo como Tenente da Força Aérea Real, e como Baden era Banden, depois das manobras básicas ele vez um vôo invertido com seu biplano Avro Tutor. Em Janeiro de 1940 ele já estava voando num Spitfire, e batendo de frente com os superiores. Bader tinha suas próprias idéias de táticas de combate, que eram opostas ao ensinado. Esperto, ele parou de reclamar, fez o que todo mundo esperava dele, e foi sendo promovido.

Claro, na hora do vamos ver ele usava as táticas que achava melhor, o que levou a vários sustos. Muito agressivo, Bader gostava de mergulhar a toda em direção a seus alvos, e quase colidiu com um bombardeiro em uma de suas primeiras missões. Seu estilo era consequência de sua agressividade natural mas também de sua condição de amputado. Sem pernas não havia para onde o sangue ir durante manobras extremas. Em pilotos normais o sangue se acumulava nas pernas e eles perdiam a consciência. Bader não.

Ele Começou a acumular vitórias na Batalha da França, em Dunquerque e na Batalha da Inglaterra, onde chegou a ser quase abatido, pousar, trocar de avião e voltar.

Promovido a líder de esquadrão, coube a Bader resolver o problema de um grupo de canadenses, abalados com a perda de um monte de companheiros. Quando viram o sujeito mancando acharam que tinham sido sacaneados, mas rapidamente ele demonstrou no ar e em terra que estava ali a sério, e os pilotos passaram a adorar seu comandante, principalmente por seu desrespeito à burocracia. O que era preciso pra colocar o esquadrão nos trilhos, ele conseguia, sem papelada.



Em 9 de Agosto de 1941, logo após ter derrubado um alemão Bader colidiu ou foi abatido pelo inimigo, saltando no último segundo ele perdeu uma perna presa no avião, e danificou a outra na queda. Isso explica ter sido capturado pelos nazistas, mas isso não era tão ruim se você fosse Douglas Bader. Sua captura foi comunicada ao General Adolf Galland, que imediatamente requisitou o prisioneiro para “interrogatório”.

Na verdade Galland era fã de Bader, um às não-conformista reconhece outro.

Adolf Galland era um dos últimos pilotos-cavalheiros, voando com honra e elegância. Defendia a arte dos combates aéreos como duelos, não como massacres, e protegia seus pilotos a ponto de brigar com Hermann Göring e Hitler, que não entendiam nada de combate aéreo (que era ruim sendo Göring chefe da Luftwaffe). Galland chegou a ser preso e quase foi acusado de traição durante a Revolta dos Pilotos, quando a elite da Luftwaffe exigiu uma série de mudanças para continuar combatendo.

Após verificar que Bader estava confortável, Galland usou de sua influência para resolver outros problemas do inglês que estava começando a se tornar um amigo e assim o seria por toda a vida. Contatando o Comando Britânico através da Cruz Vermelha, Galland garantiu salvo-conduto e no dia 19 de Agosto um bombardeiro inglês lançou de paraquedas uma caixa contendo uma perna mecânica substituta para Bader.



Em uma atitude bem pouco britânica o bombardeiro depois lançou bombas sobre a base, mas a maior encrenca nem foi essa. Dar pernas novas a Bader se mostrou fonte de muita dor de cabeça. Ainda no hospital da base, ele fez uma clássica corda com lençóis e fugiu, mas foi recapturado quando uma enfermeira traíra entregou aos alemães que ele havia escapado.

Depois disso ele fugiu de todo campo de prisioneiros que era colocado. Em um deles sua fama o prejudicou. Um oficial da Luftwaffe soube que o famoso Douglas Bader estava no Campo 3. Foi até lá para conhecê-lo, mas quando chegou o alojamento estava vazio. Dado o alarme, Bader foi preso. De novo.

Chegaram até a fazer cartazes de procura-se para usar durante suas fugas, sendo que Bader achou hilário quando 20 anos depois ele viu um dos cartazes que dizia que ele “andava bem com uma bengala”. “Absurdo” disse ele “eu nunca usei bengala”.



Bader só sossegou o facho depois que ameaçaram tirar as pernas mecânicas para que ele parasse de tentar fugir, mas foi só por um tempo. Ele só sossegou mesmo quando foi mandado para o Castelo Colditz, um hotel de luxo transformado em prisão VIP onde ficavam altos oficiais aliados, ministros e políticos de alto escalão de países inimigos, celebridades, etc.

Libertado pelos americanos em 1945, Bader voltou para a Inglaterra, onde soube que seu velho amigo Adolf Galland, junto com outros dois pilotos, Hans-Ulrich Rudel e Günther Rall seriam recebidos como prisioneiros de guerra. Bader fez questão de estar presente, e em uma espécie de equilíbrio cármico, usou de sua influência para conseguir uma perna mecânica para Günther Rall, que também era amputado.

Bader era tosco e pé na porta. Uma vez em um programa na TV alemã homenageando Galland ele passou por um monte de ex-pilotos da Luftwaffe e comentou “Nossa, não sabia que tínhamos deixados tantos de vocês bastardos vivos”. Por outro lado ele era extremamente leal. Depois que os caças ficaram rápidos demais, complexos demais e ele não estava ficando mais novo, Bader deu baixa na Força Aérea e foi trabalhar como executivo da Shell.

Ele recebeu várias ofertas mais lucrativas, mas quando sofreu seu acidente a empresa havia oferecido uma vaga a ele, gesto que Bader nunca esqueceu.

Nesta edição do Essa É Sua Vida britânico, Douglas Bader foi homenageado entre outros por seu velho amigo Adolf Galland, e se há melhor mensagem de integração e humanidade do que isso, eu não sei, mas é bom demais ver uma platéia inglesa aplaudindo um general nazista.





Após se aposentar em 1969, Douglas Bader se dedicou a promover inclusão de deficientes no mercado de trabalho, e é complicado dizer a um sujeito que derrubava nazistas em seu Spitfire sem precisar das pernas que não dá pra empregar um sujeito pra dirigir um bonde por faltar u`a mão.

Por causa de seus esforços sociais Bader foi sagrado Cavalheiro do Império Britânico em 1976, mesmo ano em que parou de voar. Ele recebeu todas as honras e medalhas que poderia, foi visto como exemplo mesmo não sendo o modelo de bom-cidadão que a mídia gostava de vender. Bader era conservador, meio racista, nacionalista e briguento, mas pensando bem ele era um inglês de 76 anos, estranho seria se ele tivesse um tumblr e gênero próprio.

Douglas Bader morreu em 1982, deixando um legado, uma história e amigos de longa data, incluindo Adolf Galland, que compareceu a seu funeral, um gesto digno de um antigo inimigo.

Fonte: Contraditorium
 

Goris

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Um Wall of Text imenso, mas que vale cada minuto de leitura, caso seja de seu gosto.

Vou colocar em spoiler porque realmente é grande. Mas vale muito a pena alguém me citar e colar no Humans of... Grelo Duro. Mostra que a sororidade, que é regra em qualquer lista de DCE, no mundo real, não existe. Pelo contrário.

No mais, mais um texto do Cardoso:

A princesa muçulmana espiã que peitou Hitler mas não foi páreo para a Sororidade!

A princesa muçulmana espiã que peitou Hitler mas não foi páreo para a Sororidade
Cardoso 21/06/2018


Noor Inayat Khan teria uma vida incrível mesmo se não tivesse saído de casa. Ela não era tecnicamente uma princesa, pois não tinha um ajudante animal fofinho nem era filha do Rei ou do Chefe, mas seu pai, Inayat Khan Rehmat Khan Pathan era da realeza indiana, músico talentoso e estudioso do Sufismo, uma vertente do islamismo extremamente pacifista, tipo a Religião da Paz™ da Religião da Paz™.

Contra a lógica, Noor Inayat nasceu em Moscou, em 1/1/1914. A mãe era… americana. Pirani Ameena Begum, nome escolhido depois que perceberam que ficaria estranho uma Ora Ray Baker numa família indiana. Ela conheceu o marido nos Estados Unidos durante uma turnê.

No mesmo ano em que Noor nasceu, a família se mudou para a Inglaterra, e em 1920 quando não havia mais guerra foram para a França. Noor estudou psicologia infantil na Sorbonne, aprendeu música no Conservatório de Paris, tocava harpa e piano, se tornou autora popular (assinando como Nora Baker), mas Hitler tinha outros planos, e quando o bicho começou a pegar a família se mudou de mala e cuia de volta pra Inglaterra, em 1940.



A filosofia Sufi impedia que Noor pegasse em armas, e a legislação da época também, mas ela queria fazer sua parte, então alistou-se no WAFF – Women’s Auxiliary Air Force e arrumou uma vaga como operadora de radiotelegrafia. Sua habilidade como música a tornava excelente, com transmissões claras e baixíssima taxa de erro. Isso fez com que Noor fosse recrutada pelo SEO, o Special Operations Executive, a agência que cuidava de espiões, agentes e sabotadores em território inimigo.

Ela foi treinada para ser uma agente infiltrada, a primeira mulher enviada como operadora de radiotelegrafia, algo muito, muito perigoso. Os alemães viviam triangulando sinais, mais de 20 minutos de transmissão e chegariam nela. Era preciso montar e desmontar o rádio, camuflar antenas, tudo sem chamar a atenção.



O treinamento foi rigoroso, mas ela se deu bem na maior parte. Não gostava da parte de segurança, detestava ter que mentir, mas quando passou por um interrogatório simulado, os agentes deram nota 10. Ela chorou, se desesperou mas não entregou a verdadeira identidade. Quando seu relatório final foi feito e o instrutor disse que ela não era muito inteligente mas era esforçada, entretanto sua personalidade instável e temperamental era problemática o chefe do departamento rabiscou a conclusão e escreveu do lado “bobagem!”

Noor Inayat Khan embarcou em um vôo clandestino e chegou na França em Junho de 1943, onde assumiu o nome de Jeanne-Marie Renier, uma enfermeira pediátrica. Falando francês fluente sem sotaque, era tranquilo se passar por uma local filha de imigrantes. Imediatamente ela começou a trabalhar na célula da resistência organizada por Francis Suttill, Henri Garry e Emile Garry, codinome Cinema, porque era parecido com Gary Cooper.

Ela transmitiu e recebeu milhares de mensagens assinando como “Madeleine”, sua contribuição foi valiosíssima para atrasar a vida dos nazistas na França, mas em Outubro de 1943 Noor foi capturada. Levada para o quartel da Gestapo, o interrogatório foi brutal, mas Hans Kieffer, chefe da SS na época testemunhou depois da guerra que ela não havia dado nenhuma informação útil, mentia consistentemente o tempo todo.

Em Novembro de 1943 ela tentou fugir mas foi recapturada durante um ataque aéreo. Depois da segunda tentativa de fuga, Noor foi mandada para uma prisão em Pforzheim, na Alemanha, onde permaneceu dez meses com as mãos e pés acorrentados, até que cansados de não obter informações, os nazistas a mandaram para o campo de concentração de Dachau.

Lá no dia 13 de Setembro de 1944 ela foi reunida com outras três prisioneiras. Um oficial chamado Wilhem Ruppert a espancou até cansar, depois elas foram colocadas ajoelhadas e executadas com tiros na nuca.



Apesar do serviço de contra-espionagem de Hans Kieffer ser excelente, ele não foi o responsável pela prisão de Noor. Os nazistas chegaram até ela graças a uma denúncia de Renée Garry, irmã de Henri Garry, o principal agente da célula da Resistência.

O motivo da traição? Renée gostava de um agente do grupo, France Antelme, mas ele estava arrastando asa para Noor, e como dizia Shakespeare, o Inferno não conhece fúria como a de uma mulher desprezada.

Renée foi uma filha da put*, claro, mas o que fez foi fruto de algo que está enraizado no DNA humano: A…

Competição Intrasexual Feminina
Darwin já havia notado que há várias formas com que espécies selecionam parceiros sexuais adequados. Ele observou que os machos costumam brigar entre si para determinar quem vai ficar com a fêmea, mas que elas também são bem exigentes, então não adianta você ganhar na disputa de chifres, tem que caprichar na dança do acasalamento.



A Seleção Sexual gera estes exageros evolucionários:




Esses exageros se justificam, mesmo que prejudiquem a sobrevivência dos machos. Manter toda essa estrutura exuberante consome muita energia, o que significa que um macho que consiga um rabo pavonesco de primeira, é excelente em encontrar alimentos e está com a saúde em dia.

Todo o trabalho é para agradar a fêmea, que é a parte escassa da equação. Por isso Darwin disse que elas são exigentes. O nome dessa disputa indireta entre machos para ver quem tem o melhor canto, o melhor rabo, o melhor chifre ou o melhor iate na Riviera Francesa é chamada Competição Intersexual.

Quando dois machos brigam entre si disputando a fêmea, é a chamada Competição Intrasexual, como no caso destes dois veados abaixo:



Essas disputas não raro terminam em morte. A Natureza não é fofinha e lindinha, o imperativo da reprodução é soberano e nada mais importa. O resultado acaba sendo coisas como estes dois alces que morreram congelados em meio a uma briga:



Cervos costumam morrer de fome quando suas galhadas ficam presas nas de outros machos durante brigas. No desespero às vezes acontece isto: A cabeça de um dos cervos é arrancada e ele passa o resto do ano com a carcaça presa. Por sorte ao contrário dos humanos, os chifres dos alces não são eternos, eles caem todo ano.



Um detalhe interessante é que essa competição intrasexual não acontece com fêmeas, não desse modo. O motivo é simples: Fêmeas têm filhotes pra gestar e cuidar, se começarem a cair na porrada vão se ferir, morrer e uma fêmea morta significa gerações de filhotes que não nascerão.

Não que não haja competição agressiva. Fêmeas podem ser bem cruéis. Inclusive quanto menor a oferta de machos maior a agressividade das fêmeas3. Detalhe: Elas competem pelos melhores machos, não pela xepa. Se há uma abundância de oferta, se contentam com um mais ou menos, se a oferta é mínima, vão direto pro Clooney.

Um fato curioso é que quando a competição intrasexual feminina sai de controle, no final termina-se com uma espécie matriarcal, como as Hienas.

Na maioria das vezes, claro, elas competem de forma mais sutil, por isso a pobre Noor Inayat Khan foi pra vala.

Sim, foi uma medida extrema, que exigiu uma boa dose de maucaratismo mas a realidade é que a sororidade vai igualmente pra vala rapidinho quando surge um macho atraente, mas às vezes nem isso é preciso. Uma pesquisa1 de Tracy Vaillancourt e Aanchal Sharma com 83 mulheres heterossexuais entre 19 e 23 anos determinou que mulheres julgam fortemente as outras, com base em aparência e atitude.

O teste usou um subterfúgio excelente pra determinar a reação das entrevistadas em relação a outras mulheres, com variados graus de atratividade.



As participantes foram chamadas achando que participariam de outro estudo. Foram divididas em pares de amigas e desconhecidas. Uma assistente então apareceu e as levou até a sala da pesquisa. No primeiro lote 40 e mulheres foram recebidas pela assistente, uma jovem nova, bonita, dentro de todos os padrões de beleza tradicionais, cintura, peitos grandes, etc. Vestida de forma conservadora, a Figura A.

O segundo lote, com 46 mulheres foi recepcionado pela mesmo assistente, mas em modo full periguete, fazendo estilo sexy.

Em ambos os casos as participantes foram levadas até a sala, onde encontraram a “pesquisadora”, uma mulher oriental na casa dos 30 vestida com roupas conservadoras. Após alguns minutos ela e a periguete saíram da sala, e as participantes inevitavelmente começaram a conversar, e claro falavam da periguete, da pesquisadora ou das duas. A conversa foi filmada e depois apresentada a um grupo de dez mulheres, que classificou na escala Bitchy o quanto os pares de mulheres falavam mal da outra.

O resultado? A pesquisadora passou indiferente, não gostaram da recepcionista certinha e ODIARAM a recepcionista bonita periguete, a presença de uma mulher sexualmente ativa ativou todos os alarmes, e a arma contra isso é falar mal da outra.

Outra pesquisa2 pegou um grupo de voluntárias, e as apresentou a uma imagem de uma outra mulher, “Sara”, composta pela média de 25 imagens de mulheres ovulando. Em seguida as voluntárias eram instruídas a imaginar uma festa com Sara conversando com seus maridos ou namorados. Outro grupo foi apresentado a uma outra Sara, composta de imagens de mulheres fora do período fértil.

As voluntárias perceberam a Sara ovulando, e em suas respostas ao questionário deixaram claro que não queriam nem deixariam seus parceiros perto da adversária. Outro efeito é que a presença de “Sara Ovulando” fez com que as mulheres ficassem tivessem maior atração sexual por seus parceiros.

Agora o melhor: Esses efeitos só apareceram nos casos onde a mulher reconhecia o parceiro como sexualmente atraente, se for um sujeito bagaceira elas não ligam se ele arrastar a asa pra Sara, sabem que não vai rolar mesmo… e eu me gabando de ter sorte de nunca namorar mulher ciumenta…

A competição intrasexual feminina tem vários modelos, a fofoca é uma das medidas mais populares, outra é tentar minar a vantagem das mulheres mais jovens e atraentes ocultando essas características. Por isso há tantas mulheres conservadoras. Não são os pais que ensinam o que uma moça não deve dizer, fazer ou vestir, são as mães.



O FEMEN é um bom exemplo dessa competição levada a um extremo. Ele ofende basicamente mulheres, e a escolha de representantes sempre jovens e bonitas funciona para ganhar as manchetes E provocar outras mulheres. Em realidade homens não ligam para mulheres de peito de fora. Uma pesquisa nos EUA mostrou que em todos os casos apresentados homens são pelo menos duas vezes mais favoráveis a mulheres andando com os topless de fora do que… mulheres.



54% dos homens são favoráveis a mulheres na praia fazendo topless, somente 25% das mulheres aprovam isso.

Outra forma de competição intrasexual feminina é isto:



É um Romy 85, da Jimmy Choo, e se você não reconhece nenhuma dessas palavras, parabéns, é um homem hétero. Esse sapato custa a bagatela de US$2850,00. Sim, é só um sapato, não voa, não tem nem um telefone, igual ao do Maxwell Smart, mas ele tem um superpoder.

Uma mulher que entre em uma festa usando um desses está declarando em altos brados que é muito melhor do que todas as outras ali, e que por isso ELA escolhe os homens, as outras que fiquem com a xepa.

Nenhum homem do planeta dá a mínima para um sapato feminino. Claro, a gente acha sexy, mas não percebemos diferença entre um Louboutin e um comprado na Sapatilha Moderna, na Rua da Alfândega. Esses sapatos não são comprados pra gente, mas para outras mulheres. Bem como isto:



É uma Cloud, da Jimmy Choo também. Bordada a ouro, com cristais encrustados. Custa absurdos US$4950,00. Isso é kryptonita pra qualquer entidade do sexo feminino num raio de 50 metros.

Mulheres não compram essas coisas só pra se sobressair diante de outras, compram pra se sentir bem. Por quê você acha que marcas de lingerie caras faturam milhões em países como a Arábia Saudita?



O quê vocês acham que elas usam debaixo das roupas? Exato, lingeries, cintas-ligas, pacote completo. É uma forma de criar autoconfiança em um país onde não podem nem votar, e têm sua feminilidade tolhida pelas tradições que são principalmente repassadas pelas próprias mães e avós.

O desejo de se sentir bonita é tão inato que segue o ciclo hormonal. Isso mesmo miga, quando você está em ponto de bala pra produzir um bacurinho é a época em que mais se cuida, mais se produz e mais usa jóias e maquiagem4.

A competição intrasexual feminina existe durante toda a vida, mas é especialmente forte durante a adolescência e juventude, período de máxima fertilidade onde o imperativo reprodutivo é mais forte, também conhecido pelo termo científico calor na bacurinha. É uma época em que a agressividade indireta é usada o tempo todo, e direcionada às mulheres vistas como competição, ou seja, as mais bonitas e desejáveis.

Por isso toda aquela zoeira em cima de modelos e atrizes lindas que disseram que tiveram infâncias difíceis é injusta. Elas são alvo de constantes ataques, que vão do clássico slutshaming, com outras espalhando mentiras sobre a reputação dela, até o igualmente clássico salto quebrado em desfiles de passarela.

Distúrbios alimentares estão associados à Competição Intrasexual Feminina, com mulheres se sentindo pressionadas pelos ataques de outras mulheres e apelando para bulimia ou anorexia. Curiosamente homens são imunes a esse tipo de bodyshaming. No máximo a gente começa a juntar grana pra comprar um Porsche.

Óbvio que toda essa competição e agressão não acontece em um nível consciente5, e racionalmente defendem o discurso da sororidade, das mulheres juntas amigas e não-agressivas, mas já se perguntou por quê tantas mulheres bonitas defendem tanto o discurso de aceitação, de que não é preciso mudar nada, que você deve amar seu corpo, mas elas mesmas continuam frequentando academia, salão e boutique top?

Samantha Brick, uma produtora de TV descobriu tudo isso da pior forma: Ela achou que criaria um paraíso ao abrir uma empresa só com mulheres. O relato todo você pode ler aqui mas vamos a alguns trechos do desastre:

“Em uma semana a equipe já se dividiu entre as que já tinham trabalhado juntas e as novatas.”

“Todo dia havia stress na hora do almoço ou nas pausas para o lanche, quem não era convidada se sentia rejeitada.”

“Moda era um grande divisor, roupas eram grande fonte de comentários, com críticas sobre quem se vestia demais e a qualidade dos bronzeados artificiais.”

“Minha segunda em comando, Sarah, a Gerente Geral se recusou a contratar a garota mais qualificada para o cargo de assistente pois ela não sabia diferenciar Missoni de Marc Jacobs, e a função dela seria fazer chá e ir na rua resolver coisas.”

“O escritório era como uma passarela de Milão, mas com a competitividade de um concurso de Miss World e o nível de uma luta na lama”

“Uma amizade acabou quando Sarah e uma jovem pesquisadora receberam o mesmo presente de natal uma bolsa Chloe Paddington de £900. Quando as duas chegaram no escritório com a mesma bolsa parecia que pistolas haviam sido sacadas.”

“Duas das garotas magras viviam falando mal da gordinha do escritório, dizendo coisas como ‘se fosse gorda assim eu me matava'”

“Quando tínhamos reuniões com homens, o staff se tornava feroz, cada uma tentando provar que era a mais sexy na sala. Com um representante do Canal 4 uma funcionária disse ‘olhe isso!’, então enfiou as mãos por debaixo do sutiã e torceu os mamilos. O homem e eu ficamos sem fala.”

Em menos de dois anos a empresa faliu. Bárbara diz que se for abrir outro negócio se puder só contratará homens.

Isso, claro, é um exagero, um ambiente misto é perfeitamente manejável, só com homens você não terá competição intrasexual mas o ambiente vai virar um chiqueiro.

De resto, não é um problema que tenha uma solução. Nós somos assim, a culpa é do Darwin. É possível sermos racionais e minimizarmos esse tipo de comportamento, em verdade fazemos isso o tempo todo, mas seria legal que fosse ensinado, principalmente nas escolas. Evitaria muito drama e muita escrotidão principalmente entre as meninas.

O choque de realidade é que muito de nosso comportamento é inato, e racionalizar faz com que a gente o entenda, não que ele desapareça. Uma vez eu estava conversando um um amigo psicólogo (no bar, não acredito nesses vudus) e falava de como não entendia como havia terminado um relacionamento tão bom, sem nenhum ciúme ou possessividade. Ele tomou um gole de uisque, me olhou e perguntou quando eu havia sido eleito Deus.

“Sim, afinal de contas você reescreveu comportamentos humanos básicos, deve ser Deus pra fazer isso”.

Portanto fica a dica, crianças: Não tenham pretensões divinas, mas não esqueçam que podemos entender nossos comportamentos e aprender com eles. Hoje compreendemos o motivo de Noor Inayat Khan, e o importante é que ela não foi esquecida.

Ela recebeu postumamente a George Cross, a segunda maior honraria militar britânica, e a Croix de Guerre, condecoração francesa para aqueles que lutaram para a libertação do país. Em 2012 a Princesa Anne inaugurou um busto de Noor, no Gordon Square Gardens, em Londres, para que ela nunca seja esquecida.



Bibliografia

1 – Vaillancourt, T., & Sharma, A. (2011). Intolerance of sexy peers: Intrasexual competition among women. Aggressive Behavior, 37, 569 –577

2 – Krems, J. A., Neel, R., Neuberg, S. L., Puts, D. A., & Kenrick, D. T. (2016). Women selectively guard their (desirable) mates from ovulating women. Journal of Personality and Social Psychology, 110, 551–573.

3 – Rosvall KA, 2011. Intrasexual competition in females: evidence for sexual selection? Behav Ecol 22:1131–1140.

4 – Martie G.Haselton, MinaMortezaie Elizabeth G.Pillsworth April Bleske-Rechek David A.Frederick (2007). Ovulatory shifts in human female ornamentation: Near ovulation, women dress to impress. Hormones and Behavior Volume 51, Issue 1, January 2007, Pages 40-45.

5 – Vaillancourt T. 2013 Do human females use indirect aggression as an intrasexual competition strategy.Phil. Trans. R. Soc. B 368, 20130080. (doi:10.1098/rstb.2013.0080)
 
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Goris

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As moças que fizeram a alegria das tropas quando deram a rosca aos soldados
Cardoso 02/03/2018


A maioria das pessoas acha que guerras são ganhas por quem tem mais soldados e mais armas, mas Napoleão já dizia que um exército marcha em seu estômago. Na realidade há vários outros fatores, um dos mais importantes se chama… moral.

Sem acreditar no que estão fazendo soldados não ganham guerras. Se o sujeito achar que que está vencendo, tem apoio dos superiores e dos colegas, ele pode tudo.

Um bom exemplo é uma história que rola em várias versões, mas em essência foi durante a Batalha de Ardenas, quando os alemães ajudados pelo General Inverno deram uma surra nas tropas da 325a Divisão, que sofreu perdas terríveis. Segundo a história um grupo de uma guarnição anti-tanque estava em retirada, quando passaram por um soldado solitário cavando uma trincheira na beira da estrada.

Ele teria perguntado: “Vocês estão procurando um lugar seguro?”

“Sim”

“Então podem se acomodar atrás de mim. Eu sou da 82a Divisão Aerotransportada e aqui é o mais distante que aqueles bastardos vão chegar!”



Na Primeira Guerra Mundial o problema da moral era muito pior. Foi uma guerra de trincheiras, com soldados passando anos sem avançar um metro sequer, andando na lama, comendo mal, passando frio e sofrendo com doenças reais e imaginárias. Muitos atiravam no próprio pé na esperança de uma infecção, uma amputação e uma passagem para casa.

As tropas americanas sofriam especialmente, pela própria distância era quase impossível uma dispensa para visitar a família, e até a correspondência era limitada. Muitos grupos assistenciais tentaram diminuir essa distância, mandando pros rapazes um pouco de casa. Entre esses estava o Exército da salvação, fundado em 1865.

Eles mandaram 250 voluntários, quase todos mulheres para montar serviços religiosos, sessões de música (os Walkmans da época eram enormes) e… comida. As moças receberam capacetes, máscaras de gás, botas, uma Colt 1911 calibre 45 e foram mandadas pra linha de frente, onde serviam chocolate, café e bolos para os soldados.



No dia 19 de Outubro de 1917 duas delas, Margaret Sheldon e Helen Purviance ouviram de um soldado um pedido: Fazia tempo que ele não comia… um donut. Elas gostaram da idéia, e começaram a correr atrás de ingredientes, pilhando caminhões de suprimentos e até reservas pessoais de outros soldados. Conseguiram farinha, fermento, açúcar, sal, ovos e leite. Pegaram um capacete, encheram de gordura e botaram no fogo, enquanto prepararam a massa usando uma garrafa e um estojo de munição de canhão como rolos de amassar.



Com um cobertor tampando a área de preparo, elas fritavam 9 rosquinhas de cada vez, o cheiro se espalhava pelas trincheiras e os soldados não conseguiam acreditar. O primeiro da fila a receber uma rosquinha disse “Oh boy, se isso é a guerra, não quero que acabe”.

No primeiro dia elas produziram 150 rosquinhas, mas logo atingiram níveis industriais, produzindo diariamente 9000 unidades.



Com ajuda de mecânicos do exército improvisaram equipamentos pra cortar e furar a massa (as primeiras rosquinhas não tinham furo no meio) e arrumaram fritadeiras maiores. Outras voluntárias do grupo percorriam as casas das fazendas próximas pedindo doações de ovos, e às vezes conseguiam até canela e baunilha. Elas produziam outras guloseimas, como tortas e cupcakes mas as rosquinhas acertaram o coração dos soldados.

Havia algo mágico no sujeito estar numa condição miserável e do nada surgir um par de moças bonitas trazendo rosquinhas e chocolate.



Ao final da guerra mais de um milhão de rosquinhas foram comidas pelos soldados. Quando eles voltaram pra casa começaram a pedir nas lanchonetes pelo doce (rosquinha é um doce?) que tanto conforto havia trazido em seus momentos mais solitários. Logo donuts deixaram de ser apenas mais um ítem no menu e se tornaram uma das comidas preferidas da América.

As moças das rosquinhas se tornaram parte da cultura popular, indo para na Broadway em shows do Ziegfried Follies, viraram música do Irvin Berlin e fizeram bastante sucesso como tema da Don’t Forget The Salvation Army (My Donut Girl).

Durante a Segunda Guerra Mundial a Cruz Vermelha assumiu a tarefa demandar moças bonitas oferecer roscas para jovens soldados, foi tudo muito mais organizado, com várias unidades percorrendo os acampamentos. As rosquinhas eram produzidas e distribuídas em algo que os millenials iriam inventar só em 2016 e chamar de Food Truck:



A iniciativa era tão popular que alguns exagerados começaram a dizer que “Os Donuts vencerão a guerra”. Não chega a tanto, mas que eles ajudaram, ajudaram, e Helen Purviance morreu em 1981 aos 95 anos, com a sensação de dever cumprido e sabendo que agora havia o Dia Nacional do Donut, e organizações de apoio a veteranos de guerra mantinham viva a tradição de dar rosquinhas para soldados.

 

Goris

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Tecnologia rosa, fofinha Ótima para ajudar mulheres e confundir feminazis
Cardoso 12/03/2013
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Ontem não foi um dia bom para mim, tive muitas pequenas aporrinhações, felizmente passei a maior parte dele na rua, e não acompanhei a sucessão de mimimis que se tornaram as redes sociais.

PARECE que resolveram lançar Kinder Ovo com brinquedos para meninos e meninas, e rolou um certo revolt entre a galera que acha que todo homem deve praticar pegging (não clique) para compensar a violência que é o ato sexual hetero.

Depois começou a discussão sobre cor de menina e cor de menino. O que é uma bobagem, ninguém é OBRIGADO a vestir o pimpolho de rosa ou azul. “ah, mas é difícil achar roupa de bebê em outra cor” então se planeje melhor, filha, em 9 meses você aprende a costurar e faz até roupa Flicts pro Cléverson Carlos.

O melhor é que enquanto as interwebs se digladiavam com banalidades de fazer o Psy ter vergonha, do outro lado do mundo um grupo colocava em bom uso essas convenções de cores masculinas e femininas.




É o pessoal da OXFAM, uma espécie de ONU anti-pobreza, composta de 17 organizações presentes em 90 países. No caso, no Camboja, que como todo mundo que cresceu vendo filme de Vietnã sabe, é uma m****. (cartas pra redação)

Em um projeto eles doaram telefones celulares para fazendeiras pobres com potencial de se tornarem líderes comunitárias. Treinaram as mulheres em como utilizar os equipamentos para se comunicar com outras líderes da região, e montaram um serviço de envio de informações de preços de produtos, meteorologia, agendas de reuniões e muito mais.

Mulheres já usaram os telefones para fazer partos, com uma mais experiente explicando enquanto a outra metia a mão na massa. Os aparelhos também são usados em casos de violência doméstica. Um telefonema e a mulherada vai em peso resolver o Charlie 04.

AQUI um vídeo com depoimentos das beneficiadas.


Agora, o ponto polêmico: Os celulares em questão são… ROSAS.

Isso mesmo, a cor polêmica, sexista, que cria uma divisão em gêneros. Feministas devem estar espumando diante disso, é praticamente o equivalente à Bic For Her, aquela idéia genuinamente estúpida de criar uma esferográfica para mulheres.

Claro, se você pensar fora da boceta, perceberá que há sim sexismo na criação do celular rosa, mas é sexismo inteligente, que sabe que não faz a MENOR diferença para a mulher se o aparelho é rosa ou não, mas faz toda para o homem.

Ao doar aparelhos rosa-choque, a ONG os tornou indesejáveis para os machões cambojanos, que assim não os doarão às mulheres. O conceito bem-sucedido já havia sido usado em outro projeto, que doou bicicletas rosadas.

E agora? O rosa deixa de ser sexista por ser benéfico às mulheres? Ou continua sendo sexista, é ainda inaceitável e só devemos ajudar as criaturas quando vivermos em uma sociedade livre de preconceitos, definições de gênero e com muito pegging?

Ou é só uma porra de uma cor, e não vai arrancar seu braço usar algo cor-de-rosa?

Sinceramente, se meninas gostam de rosa eu não sei. Um monte de mulheres que conheço (né, @FlaRomani?) adora. Só sei que se há um incentivo social para meninas usarem coisas rosadas, ao invés desse mimimi todo, eu daria isto pra minha filha:





 

Goris

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Vou esperar sair o seriado...

Zueira @Goris
Provavelmente meu tópico menos comentado. Mas, sei lá, sempre torço pra pelo menos uma pessoa ler e curtir.

A comida de b***la que fez os soldados americanos chorarem
Cardoso 29/07/2018


No texto anterior nós vimos como a necessidade fez com que um grupo de aviadores Macgyverizasse uma máquina de fazer sorvete em uma ilha do Pacífico. Em verdade foi um caso raro mas não único. Na Europa vários aviadores descobriram que se eles pegassem um pote com mistura pra sorvete, ovos, leite e aromatizantes e colocassem no compartimento do artilheiro de ré nos bombardeiros, na volta da missão a temperatura de -50C e o sacolejar do avião teriam transformado tudo em um delicioso sorvete.

O fato é que americanos adoram sorvete. Em consumo per capita eles só perdem para -acredite se puder- a Nova Zelândia1. E não é de hoje. Sorvete é consumido nos EUA desde o final do Século XVIII, mas estourou mesmo com a Lei Seca, quando milhares de bares perderam seu principal produto. A solução foi transformar o estabelecimento em um lugar que vendesse produtos como sorvete e refrigerante. Deu certo,

Em 1922 as cem mil lanchonetes espalhadas pelos EUA venderam o equivalente a US$15 bilhões, corrigindo pela inflação. Boa parte era sorvete. Mesmo com o fim da Lei Seca o amor do americano médio por sorvete não desapareceu, isso ficou tão associado ao país que durante a Segunda Guerra Mundial alguns olhavam de lado para o sorvete. Na Itália Mussolini simplesmente proibiu sua venda, por ser “americano demais”. No Japão o Imperador não tentou impedir a venda mas baixou um decreto reduzindo o preço a ponto de não ser mais lucrativo pra ninguém vender sorvete.



Parece muito com a campanha contra conteúdo “lixo e degenerado” feita pelos nazistas, que levaram ao rápido banimento de todas as histórias em quadrinhos na Alemanha da Segunda Guerra2. Há uma imensa ironia nos nazistas terem como alvo principal o Super-Homem, acusando-o de ser uma criação de dois judeus “física e intelectualmente circuncisados”, sendo o personagem batizado em referência ao Übermensch, figura idealizada por Nietzsche e “emprestada” por Hitler.

No começo os militares não davam muita prioridade ao sorvete, mas os soldados logo deram um jeito. As histórias são muitas, como contado no livro Chocolate, Strawberry, and Vanilla: A History of American Ice Cream, de Anne Cooper Funderburg3:

Localização geográfica não afetava a demanda dos soldados por sorvete, que era comido tanto no ártico quando nos trópicos. Soldados no ártico misturavam leite em pó, ovos, açúcar, água e baunilha em uma vasilha, iam para fora das barracas e enquanto um segurava a vasilha o outro misturava os ingredientes. Com a temperatura ambiente de -40 graus (não sei se Célsius ou Farenheit4) em cinco minutos o sorvete estava pronto.

Engenheiros da marinha nas ilhas do Pacífico construíram uma máquina de sorvete com tubulação de um avião, engrenagens de um motor japonês, o motor de arranque de outro avião japonês, um pequeno motor à gasolina e outras partes encontradas pela área.

Na África do Norte, outra unidade construiu um freezer usando equipamento abandonado, incluindo um motor alemão, engrenagens italianas e partes de um trator americano. Em Novas Hébridas (hoje Vanuatu) um soldado lotado em uma loja da marinha convenceu um oficial de suprimentos a aceitar um jipe em troca de uma máquina de fazer sorvete. Ele começou a incrementar criando sabores diferentes, e foi um sucesso. Tanto que em 1945 ele fundou sua própria sorveteria. O nome do soldado era Burton Baskins. A sorveteria é a Baskin-Robbins, que hoje existe em 50 países com 7500 lojas.


Uma das máquinas improvisadas, em Bouganville.

Mesmo em situações desastrosas o sorvete tinha efeitos incríveis na moral. Quando o porta-aviões USS Lexton foi afundado pelos japoneses os marinheiros aguardavam o resgate no convés, comendo sorvete servido pelos taifeiros. Vários inclusive atacaram a cozinha na hora que soaram abandonar o navio, e encheram seus capacetes de sorvete. Apesar das terríveis explosões que mataram 216 tripulantes, durante o resgate nenhum dos 2735 sobreviventes foi perdido.

Em 1943 já era evidente que o sorvete tinha um efeito impressionante na moral das tropas, que vinham definhando. Entediados com as rações de combate, os soldados comiam cada vez menos; as rações foram alteradas para inclusão de balas, doces, Coca-Cola e… sorvete.

A ordem foi mudar isso, e a intendência do Exército se comprometeu a comprar equipamento e ingredientes para produção de 300 milhões de litros de sorvete anualmente, mesmo com os EUA em racionamento. Máquinas foram despachadas para todo canto onde houvesse uma base mais permanente, e mesmo pacotes de sorvete de 250ml eram entregues direto nas trincheiras.

O Almirante James Forrestal, Secretário da Marinha determinou que a distribuição de sorvete tivesse a mais alta prioridade, depois de ler que o sorvete era a mais negligenciada de todas as formas de elevar o moral das tropas. O investimento da Marinha foi tão a sério que eles chegaram a construir uma barcaça a um custo de US$14 milhões (corrigidos). Era uma fábrica de sorvete flutuante, em uma estrutura de concreto rebocada para o Pacífico, onde navios se reabasteciam de sorvete.


A única imagem da barcaça do sorvete

A barcaça era capaz de armazenar 7500 litros de sorvete geladinho e produzir 40 litros a cada 7 minutos.

Sorvete era prescrito por médicos como auxiliar na recuperação de pacientes, e para muitos era a única comida que conseguiam segurar no estômago. Um veterano se recorda:

“A melhor época que eu passei no hospital foi quando os Fuzileiros conseguiram uma máquina de sorvete. Nós misturamos os ingredientes e havia alguns camaradas com tanta saudade de casa que estavam quase chorando. Todo mundo queria girar a manivela. Havia tantos soldados que cada um só conseguiu comer uma ou duas colheradas de sorvete, mas foi a melhor coisa que comemos nas ilhas.”

Mesmo para os inimigos sorvete era importante. Günter Gräwe5 era um jovem alemão de 18 anos, ferido por uma granada na Normandia, capturado e levado para um campo de prisioneiros de guerra nos EUA, mais precisamente no Estado de Washington.

Ele se recorda de que foi bem-tratado, estranhando tanta carne e vegetais nas refeições, mas o grande momento foi quando economizou dinheiro para… fazer um lanche. Os prisioneiros podiam trabalhar colhendo batatas e algodão em fazendas próximas, ganhando o equivalente hoje a US$11,20 por dia.


Günter Gräwe em 2017 aos 91 anos visitando seu antigo campo de prisioneiros.

Gräwe conta que ficou olhando o cardápio, sem saber se pedia uma Coca-Cola, que nunca havia tomado, ou um sorvete, que havia anos que não comia. Contando as moedas, ele fez o lógico: Pediu os dois. Em casa sua família há muito não via esses luxos, racionados pela guerra.

O maior desafio do sorvete só aconteceu bem depois, mais ou menos uns dez anos depois, durante a Guerra da Coréia. O General Lewis B. Puller se recusou a servir sorvete para seus fuzileiros, escrevendo para o Pentágono dizendo que isso era ruim para as tropas pois sorvete era “comida de b***la” e que seus homens deveriam ser servidos de produtos americanos másculos, como whiskey e cerveja.

A história veio a público, a opinião popular ficou totalmente contra o General, e os veteranos do Pentágono que se lembravam de todo o bem causado pelo sorvete na Segunda Guerra não pensaram duas vezes: Emitiram uma ordem para que todas as tropas -incluindo as de Puller- recebessem porções de sorvete pelo menos 3 vezes por semana.

Bibliografia e Fontes
1 – Ice Cream Consumption Per Capita Around The World – Business Insider, 2013

2 – “Smut and Trash:” A Brief History of Comics Censorship in Germany – Caitlin McCabe – 2016

3 – Chocolate, Strawberry, and Vanilla: A History of American Ice Cream – Anne Cooper Funderburg

4 – EU SEI.

5 – Former German POW says, ‘Thank you, America’ – Ruth Kingsland – 2017
 

Seu Oscar

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Provavelmente meu tópico menos comentado. Mas, sei lá, sempre torço pra pelo menos uma pessoa ler e curtir.
Não desanima não, pq o site é excelente. Eu só prefiro ler direto pelo innoreader.
 

Goris

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Tem bastante atualizações no Contraditorium, muita coisa legal de história.

Vale a pena dar uma conferida.
 

Geo

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Eu não conhecia esse tal de Jumbo. Mais uma prova de que só conhecemos os sucessos e quase nada dos incontáveis fracassos que levaram até ele.
 

Goris

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Não achei meu tópico com histórias da África, então...

A inconveniente história de como Abraham Lincoln ajudou a criar o país mais racista do mundo
Cardoso 08/11/2019

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Em 1927 Thomas J. Faulkner recebeu apenas 9000 votos na Eleição Presidencial na Libéria. Perdeu de lavada para seu oponente, Charles D. B. King que ganhava nas urnas seu terceiro mandato, com incríveis 243 mil votos. O único problema é que a Libéria só tinha 15000 eleitores cadastrados.

Essa eleição entrou para o Guinness como a mais fraudulenta da História, e a Libéria se consolidou como um shithole de proporções cósmicas, humilhando qualquer Brasil coronelista.

Isso tudo começou bem antes, com uma proposta que no papel seria a Nova Wakanda, um paraíso africano para escravos libertos.
A idéia surgiu na Sociedade para Colonização das Pessoas de Cor Livres da América, um grupo fundado em 1816 com o nobre propósito de dar uma vida melhor para negros libertos, em teoria. Na prática o grupo era formado por escravagistas do Sul E anti-escravagistas do Norte, o que por si só é suspeito, e a imensa maioria dos negros não via o grupo com bons olhos.

O método que a tal Sociedade usava era ajudar os negros livres a emigrar para colônias na África e mais tarde no Caribe, onde viveriam em lugares onde todo mundo era negro. A idéia de convivência e miscigenação não era bem-vinda entre os membros da American Colonization Society, como era mais conhecido o grupo.
Na prática, assim como aquela pecinha na ponta dos cadarços, a ACS tinha um propósito sinistro. O pessoal do Sul não gostava da idéia de negros libertos e suas idéias abolicionistas, então ao patrocinar a Sociedade, se livravam do problema de ter ex-escravos entre eles, dando idéias incômodas aos que ainda eram escravos. Já os membros do Norte, principalmente Quakers e evangélicos eram contra a Abolição e posterior integração de negros libertos, então melhor mandar todo mundo pra casa.

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Aqui começa o primeiro problema: Da mesma forma que os floquinhos lacradores de hoje em dia, “África” era um conceito monolítico, não havia a percepção de milhares de culturas, nações, tribos. Os negros que se interessavam eram enviados para onde fosse a Colônia da Vez. Em 1820 o primeiro navio partiu para a África Ocidental, levando 88 passageiros negros. Por volta de 1867 esse número já havia passado de 13000, a maioria mandada para a Libéria.

Um dos incentivadores da ACS era… Abraham Lincoln.

Lincoln é uma figura complicada. Não por seus atos, mas por ser idealizado e venerado como uma figura sagrada ou odiada, dependendo de que lado você esteja.
A Guerra Civil

Nos EUA rola um certo revisionismo histórico onde o motivo principal da Guerra Civil se torna complexo e a escravidão é apenas uma das desavenças que resultaram no conflito, mas os documentos da época já deixam claro que foi pro causa dos escravos mesmo, o Sul teria seu modo de vida destruído com a abolição, já o Norte não sofreria quase nada, e os assentamentos do Oeste eram pobres demais pra ter escravos então tanto faz.

A realidade é que o Norte podia se dar ao luxo de desenvolver a mentalidade de que escravidão era moralmente errada, mas isso não quer dizer que eles eram bonzinhos iluminados lacradores sem preconceitos.

É algo alienígena para os millenials militantes de hoje em dia, que exigem absoluta pureza moral de todo mundo, mas no mundo real você pode ser contra escravidão E ainda assim ser racista. Sim, pessoas e opiniões vêm em todo tipo de graduação, interseccionalidade é um conceito lindo (e insano) da militância mas não é obrigação, uma feminista não precisa ser vegana, um militante do movimento negro não tem que ser automaticamente defensor da causa palestina.
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Já na época a postura do Lincoln era meio cínica para alguns.
Abraham Lincoln, o Presidente que libertou os escravos NÃO era um abolicionista. Acima de tudo Lincoln era um constitucionalista, ele era contra a escravidão mas como a Constituição previa a existência de escravos, ele não se manifestava oficialmente pela Abolição. Mesmo quando a 13a Emenda foi aprovada, emancipando os escravos, Lincoln continuava com sua posição, que era pró-abolição, mas não pró-igualdade:

Em um debate em Charleston, 1858, Lincoln declarou:

“Eu digo então, não sou, nem nunca fui a favor de promover a igualdade social e política entre as raças branca e negra”
Ele era a favor de que negros e brancos fossem iguais no sentido de viver, progredir e usufruir dos frutos de seu trabalho, mas fora isso ele era contra negros terem direito a voto, servir como jurados, ocupar cargos políticos ou casar com brancos.

Em uma carta para Horace Greeley, em 1862 Lincoln escreveu:

“Se há aqueles que não querem salvar a União, a não ser que se mantenha a escravidão, eu não concordo com eles. Se há aqueles que não querem salvar a União, a não ser que se destrua a escravidão, enão concordo com eles. Meu objetivo pétreo nessa luta é salvar a União, e não manter ou destruir a escravidão.”

“Se eu puder salvar a união sem libertar qualquer escravo, eu o faria, e se eu puder salvá-la libertando todos os escravos, eu o faria; e se eu pudesse salvá-a libertando alguns e deixando outros como estão, eu também o faria. O que eu faço pela escravidão e a raça de cor, eu faço porque acredito que isso ajuda a salvar a União.”

Em outro discurso Lincoln falou:
“Se todos os poderes terrenos me fossem dados, meu primeiro impulso seria libertar todos os escravos e mandá-los para a Libéria -para sua própria terra natal. Mas uma rápida reflexão me convence que por mais que tenhamos esperança, a longo prazo a execução súbita dessa idéia é impossível”
A idéia de “voltar para casa” soa romântica e bem-intencionada, mas a imensa maioria dos ex-escravos não eram africanos. Os Estados Unidos proibiram o comércio de escravos com navios americanos em 1794 e qualquer tipo de importação em 1807. A maioria das famílias de escravos já estava no país fazia tempo, eles eram nascidos e crescidos nos Estados Unidos, não tinham nenhuma ligação real com a África, não falavam os idiomas, não compartilhavam da cultura nem da religião.
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A Libéria, com 4.8 milhões de habitantes, fica entre a Serra-Leoa e a Costa do Marfim. Não que isso importe.
O choque cultural resultou em muitos conflitos com os nativos, enquanto os colonizadores negros agiam da exata mesma forma que todos os outros colonizadores do mundo.

Situada na chamada Costa da Pimenta, a Libéria começou a ser colonizada ainda no Século XV, por portugueses, ingleses e holandeses, mas só se consolidou como pais e obteve independência em 1847. Seu primeiro presidente foi este sujeito aqui:
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Joseph Jenkins Roberts era um mulato nascido livre nos EUA, filho ilegítimo de um fazendeiro e uma ex-escrava, que se casou com um negro bem rico, James Roberts, que cedeu seu sobrenome a Joseph e os irmãos.
Tocando os negócios da família, Joseph foi ficando indignado com as limitações dos negros livres nos EUA. Ele não podia votar, estudar, portar armas ou mesmo se congregar religiosamente sem autorização dos brancos, e com isso acabou achando boa a idéia da Libéria, e emigrou com a família, com objetivo adicional de evangelizar a população nativa.

Uma de suas primeiras missões na Libéria foi organizar milícias para cobrar impostos de tribos no interior do país. Mais tarde ele virou governador geral, e em 1847 foi eleito Presidente, o primeiro de quatro mandatos.

A maior parte do país ignorou as idéias abolicionistas, e continuou por um bom tempo traficando escravos. Em verdade HOJE a Libéria tem 33 mil pessoas, 7.4 a cada mil habitantes vivendo em situação análoga à escravidão.
Pior ainda: Os colonos levaram consigo tudo que pior poderiam ter aprendido nos Estados Unidos. Esta é uma família dos chamados americo-liberians:
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Fica evidente que os americo-liberians, como gostam de ser chamados se diferenciam claramente dos nativos. Eles eram uma elite que detinha o poder e o dinheiro. Se consideravam moralmente superiores afinal de contas eram cristãos, e faziam o máximo esforço para manter a população nativa em seu devido lugar.
Até 1904 os nativos sequer tinham direito a voto. Também não podiam sequer se dirigir a americo-liberians sem permissão, e era proibido relações sexuais e casamento entre os dois grupos.
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Até a bandeira dos caras é kibada dos EUA.
No começo da colonização os americo-liberians tentaram proibir a escravidão, fonte de renda da maior parte das tribos locais, que foram separadas em reservas, e controladas com mão de ferro. Tribos rebeldes, o chefe era sumariamente executado, e em alguns casos a tribo inteira, mulheres e crianças eram exterminadas, as casas incendiadas para servir de exemplo.
Ironicamente com o crescimento das plantações comandadas pelos negros colonos mais prósperos, mão de obra barata se tornou essencial e a melhor mão de obra era… escravos.
Isso começou na metade do Século XIX, e só com pressão da Liga das Nações na década de 1920 a escravidão foi tornada (tecnicamente) ilegal, mas é praticada até hoje.
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Palácio Maçônico, em Monrovia, capital da Libéria. Arquitetura mais africana impossível.
Como a Constituição da Libéria proibia escravidão, os colonos chamavam seus escravos de “servos”, como escreveu o abolicionista William Nesbit:
“Cada colono mantém escravos nativos (o como eles chamam, servos) à sua volta, variando em número de um a quinze, de acordo com as circunstâncias de seu mestre”
A dependência de dinheiro externo, a corrupção endêmica e a má-gestão contribuíram para a Libéria se tornar um shithole mesmo na África, enquanto vários países avançaram e prosperaram, ultrapassando os padrões da Europa do Século XIX e se tornando lugares decentes, a Libéria hoje tem a 147ª renda per capita do mundo, US$728,00. 147 de um total de 186.
A Libéria só foi sair da mão dos Americo-Liberians em 1980, quando uma revolta popular por causa do aumento do preço do arroz levou à deposição do então Presidente William R. Tolbert, Jr, que foi executado pessoalmente pelo líder dos golpistas. Logo em seguida os ministros do Gabinete foram pra vala, e uma revoada de americo-liberians decidiu por bem fugir do país.
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Monrovia, capital da Libéria. Note a ausência de prédios.
Samuel Kanyon Doe, o novo Presidente e chefe dos golpistas era nativo da minoria Krahn, e agora a Libéria estava na mão de seu povo, e tudo ficaria bem, certo?
Errado. Entre 1981 e 1985 foram sete tentativas de golpe, entre 1989 e 1996 rolou uma Guerra Civil, entre 1997 e 2003 outra Guerra Civil, e depois uma ditadurazinha de Charles Taylor. Fora isso a Libéria veio sofrendo embargos, pressões e em 2014… EBOLA!

Hasa diga eebowai…

Os americo-liberians foram os únicos responsáveis pelos massacres do golpe de 1980, por mais de 150 anos pisotearam os nativos, transformando-os em cidadãos de terceira classe. Esse ressentimento todo um dia iria estourar, mas o pior: Ninguém aprendeu nada.
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Rebeldes posam com o corpo do Presidente deposto Samuel Doe.

A Constituição da Libéria é baseada na dos Estados Unidos, com os mesmos ideais de Liberdade e Felicidade para todos, mas assim como a Constituição Americana Original, nem todo mundo conta como todos, tanto que a Constituição de 1986 mantém o mesmo Artigo 27b da Constituição de 1847:

“Em ordem de preservar, promover e manter uma cultura liberiana positiva, seus valores e caráter, somente pessoas que são negras ou descendentes de negros estão qualificadas por nascimento ou naturalização a ser cidadãos da Libéria”

Isso mesmo. A Libéria conseguiu o feito de ser racista contra si mesma, contra a própria população negra que não era composta do tipo certo de negros, e depois de tudo agora é racista como todo mundo que não é negro, com uma cláusula horrenda, atrelando cidadania a etnia, algo que nem o pessoal da Ku Klux Klan prega mais hoje em dia.

A Libéria é um país fracassado. Não tanto quanto o Haiti, mas não caia na armadilha fácil de dizer que a Libéria fracassou por causa dos colonos negros. O problema foi cultural, só que a cultura que eles levaram foi a do colonialismo, do entitlement, a cultura de que são superiores apenas por terem o mesmo amigo imaginário. Se há uma lição a ser aprendida, é que independente da cor da pele, as pessoas podem ser extremamente escrotas, se tiverem oportunidade.
 
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