Mas a ideia é justamente inserir essa frase pelo momento, isso é fato. Não fosse o momento, não teriam colocado essa frase de efeito lá, e isso é errado. Tezuka não pensou a obra dessa forma, isso vai além de mera adaptação, tinham inúmeros melhores de se escrever esse texto.
faz parte de traduzir colocar questões do contexto em que a obra vai se inserir, não está fora da tradição. também não acho que seja um bom argumento.
e questiono bem o "tezuka não pensou dessa forma", a obra é uma crítica a um regime despótico, à paranoia de um indivíduo e a tradução cria uma intertextualidade com um indivíduo da mesma estirpe no local e época em que ela vai circular. também não vejo como um problema. o que fico te devendo é saber o acordo com quem detém os direitos.
ok, você pode discordar se essa intertextualidade é boa, mas "tezuka pensou a obra" não é verdade mesmo sem biroliro: NINGUÉM no mundo editorial faz as coisas sozinho. não existe "pureza". o tezuka pensou a obra, o editor dele interferiu, tezuka refez, editor vetou, preparador alterou, revisor corrigiu. processo editorial não é um processo individual. e, quando muitos anos depois, depois da morte do autor inclusive, quem detém os direitos os vende pra uma editora do outro lado do mundo, que vai ter um editor, preparador, revisor etc. isso definitivamente não é o que o tezuka pensou (mas o tezuka desde sua primeira publicação sabia como o mercado funciona). só que isso vale pra toda qualquer obra que você conhece.
as traduções de kafka do modesto carone são diferentes das do torrieri guimarães, e ambos as fizeram depois do autor morrer e numa língua que, imagino, ele mal conhecia. e as traduções são desses dois autores, não do kafka. toda tradução é uma recriação, que leva em conta o idioma, fatores comerciais e o contexto social em que é inserida. no caso do adolf tem tipo um "protesto" que deixou a questão evidente, mas esse processo é universal.
posto isso, sim, você pode achar uma m**** essa decisão, só não é deturpação, isso é o próprio processo editorial. e, se estiver de acordo com as diretrizes de quem vendeu os direitos, não há nada do que se reclamar, segue o jogo. não gostar e não comprar é uma escolha, tá tudo bem.
a proporção da polêmica é porque mexeram com um líder religioso, só isso. e tá tudo bem, se os caras fizeram isso, sabiam que isso ia rolar. faz parte do jogo.
edit: não tô falando tudo isso pra ganhar discussão, não. você ter levantado essas lebres tá me fazendo pensar, tô achando bem legal. se quiser retomar em semanas, vou ter mais acúmulo.
edit2: estímulo é o c***lho, tô é procrastinando um frila. aiai
E não, Bolsonaro não é fascista. Ele não estatizou empresas, não restringiu o acesso da população à armas, e inclusive nem mesmo calou humoristas ou censurou ninguém.
Eu concordo porém, que ele é mais parecido com o Lula do que muitos imaginam, mas isso não constitui fascismo per se. Há muita coisa onde ele destoa. Não significa que não hajam defeitos, pois eles existem, mas a maioria não intersecciona com o que Mussolini pregava.
Ah, Bolsonaro também não é similar ao Hitler. Vou falar algo polêmico, mas Hitler apesar de abominável enquanto ser humano, era extremamente inteligente no que tange à estratégia política, o que já é uma diferença em relação ao Bonoro que é burro feito uma porta. Hitler não teria dominado metade da Europa se fosse burro, e ele fez isso. Esses ditadores daquela época em geral (Hitler, Stalin, etc) eram homens imorais e ruins, porém, inteligentes e estrategistas políticos, o que Bolsonaro não é.
E se a gente falar do pessoal, Hitler também era vegetariano, pintor, e outras coisas até surpreendentes e destoantes se a gente olhar somente a figura do ditador da Alemanha nazista. Bolsonaro em sua vida pessoal, por outro lado, era um caipira chucro que virou militar e depois político de carreira, o que não condiz em nada com o que Hitler foi.
Então, critique Bolsonaro pelos seus defeitos reais, e não por causa de um nazi-facismo inexistente. Por favor. Isso melhora o debate.
cara, eu mantenho o lance de chamar ele de fascista, mas a gente não precisa discutir isso a fundo, porque acho que temos razoável acordo no que tange ao que é o governo (e inclusive concordo que "fascismo" virou um termo guarda-chuva que esvazia o sentido do que é fascismo, então inclusive prefiro não ir por esse lado mesmo, é contraproducente).
e, não, não tenho nem tive medo de uma ditadura fascista dele, meu entendimento é que isso nem é possível no brasil, governo autoritário aqui é de outra ordem - e viria com ou sem ele, há uma necessidade intrínseca de recrudescimento do regime que já se via nos governos petistas mesmo, vejo mais continuidade e aprofundamento que outra coisa. meu medo é e sempre foi o fato de que ele tinha um potencial de destruição gigantesco, e obviamente as instituições não segurariam.
agora, independentemente de classificá-lo como fascista, vou achar viagem se não encarar ele como um cara totalmente autoritário e que só não dá o bote porque não pode. lance de não censurar tem mais a ver com ele não ter poder pra isso do que por ele ter algum respeito ao contraditório. eu só faria essa ressalva, sem ela acho que não rola entender bem o governo atual.