Eudaimon
Bam-bam-bam
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Ou não?
Quando Hamlet confessava ter estado com o fantasma de seu pai a Orácio, e o próprio fantasma sussurrava para que o interlocutor de seu filho jurasse silêncio sobre o fato, Orácio parecia não acreditar no que vivia, ao que Hamlet lhe disse: " There are more things in heaven and earth, Horatio/ Than are dreamt of in your philosophy" (em tradução literal " Há mais mistérios entre o céu e a Terra, Horácio/ Do que foram sonhados em sua filosofia", ou, como costumou-se traduzir a passagem: " Há mais mistérios entre o céu e a terra do que sonha nossa vã filosofia.")
O que a cena e as personagens, dando voz ao próprio dramaturgo inglês, quiseram passar, ao que parece, não foi propriamente uma crítica à racionalidade e à ciência; mas um convite para que não se imagine encontrar todas as respostas aos fenômenos mundanos a partir da simples percepção sensorial humana.
Pois foi algo que aconteceu comigo que me remeteu a essa passagem de Shakespeare.
Domingo passado, pretendia ver um filme com minha mãe, depois de ter lido o romance homônimo russo, " Doutor Jivago". Não havia no catálogo do Netflix, então compramos até um aparelho reprodutor de dvd ( esforço pra não recorrer à pirataria). Mas não é que o bendito filme a gente não achou em nenhum lugar no shopping? Já era tarde, e nos restou pegar um longa-metragem qualquer, dentre os que havia à venda, para não desperdiçar o programa de domingo. O escolhido foi " Comer, Rezar e Amar", não por uma razão em específico, mas por protagonizarem dois bons atores ( a Júlia Roberts e o Javier Barden).
Bem, e é aí que vem o surpreendente.
Ainda naquele dia, pela manhã, navegava despretensiosamente pela internet, quando me vi em um desses sites de fofoca, daqueles que noticiam coisas como " Juliana Paes é fotografada no supermercado". Não sei nem explicar como eu às vezes to vendo essas porcarias, mas lá estava, e lia uma notícia que era mais ou menos assim: " Anitta compartilha em sua rede social viagem com o ex de Luana Piovani". Sim, algo assim com o potencial de influenciar as bolsas de valores pelo mundo afora. Porém, sem nem perceber, já estava vendo os stories no Instagram da nossa gloriosa expoente cultural ( tenho quase certeza- ou pelo menos assim espero- de que pela primeira vez na vida).
A viagem da Anitta com o ex da Piovani tinha sido em Bali, na Indonésia. À noite estou vendo o filme, que até tem essa temática de viagens, passa-se em 4 pontos turísticos pelo mundo. Mas onde ocorre o clímax, o ponto fundamental do filme? Justamente em Bali. Posso estar enganado, mas creio que no mesmíssimo hotel que havia visto nos stories da cantora da " Paradinha".
Daí você pode dizer que Bali não é exatamente um paraíso escondido. Ok, mas pensando bem: é um entre uma boa centena de pontos de turismo para conhecermos no mundo; assim como aquele filme era um entre uma boa centena de filmes fortuitos que havia para escolhermos ( e dificilmente algum também se passaria em Bali, ainda que trouxesse a temática de viagens); e aquela notícia sobre a Anitta e seu novo affair era uma entre uma centena de bobagens sobre famosos que eu poderia ter lido naquele dia.
Pois veja bem: nunca lhe aconteceu situação semelhante? Algo como lembrar de um amigo que não vê, e de quem sequer ouve falar há anos, e a pessoa simplesmente lhe surgir, no meio da rua, ou fazer-lhe um telefonema? " Poxa, que incrível coincidência!" Você fala isso, mas mais para tentar convencer a si próprio de que aquilo é minimamente razoável, apesar das probabilidades matemáticas irrisórias.
Não que com essa reflexão eu pretenda referendar o argumento da Ronda Bhyrne, no seu " O Segredo", segundo o qual tudo aquilo que nos acontece foi precedido por uma determinada vibração, de modo que seria possível inclusive refrear os infortúnios,com um "pensamento sempre positivo". Não acho que a complexidade do que nos cerca possa ser resumida em fórmulas assim.
No entanto, como já observava Shakespeare, com seu brilhantismo habitual, há de fato aspectos que fogem dos nossos 5 sentidos. Boas razões existem para acreditar que, dentre esses aspectos, está uma ligação invisível entre os acontecimentos, sobre a qual não necessariamente temos ingerência.
De toda forma, a única certeza, diante de tais incertezas, é da importância de cultivar uma humildade, tal, que nos permita reconhecer que nem tudo já foi explicado, ou mesmo um dia poderá ter uma explicação racional. Isso nos conduzirá a, inclusive, ter a racional postura de respeitar a fé alheia.
Quando Hamlet confessava ter estado com o fantasma de seu pai a Orácio, e o próprio fantasma sussurrava para que o interlocutor de seu filho jurasse silêncio sobre o fato, Orácio parecia não acreditar no que vivia, ao que Hamlet lhe disse: " There are more things in heaven and earth, Horatio/ Than are dreamt of in your philosophy" (em tradução literal " Há mais mistérios entre o céu e a Terra, Horácio/ Do que foram sonhados em sua filosofia", ou, como costumou-se traduzir a passagem: " Há mais mistérios entre o céu e a terra do que sonha nossa vã filosofia.")
O que a cena e as personagens, dando voz ao próprio dramaturgo inglês, quiseram passar, ao que parece, não foi propriamente uma crítica à racionalidade e à ciência; mas um convite para que não se imagine encontrar todas as respostas aos fenômenos mundanos a partir da simples percepção sensorial humana.
Pois foi algo que aconteceu comigo que me remeteu a essa passagem de Shakespeare.
Domingo passado, pretendia ver um filme com minha mãe, depois de ter lido o romance homônimo russo, " Doutor Jivago". Não havia no catálogo do Netflix, então compramos até um aparelho reprodutor de dvd ( esforço pra não recorrer à pirataria). Mas não é que o bendito filme a gente não achou em nenhum lugar no shopping? Já era tarde, e nos restou pegar um longa-metragem qualquer, dentre os que havia à venda, para não desperdiçar o programa de domingo. O escolhido foi " Comer, Rezar e Amar", não por uma razão em específico, mas por protagonizarem dois bons atores ( a Júlia Roberts e o Javier Barden).
Bem, e é aí que vem o surpreendente.
Ainda naquele dia, pela manhã, navegava despretensiosamente pela internet, quando me vi em um desses sites de fofoca, daqueles que noticiam coisas como " Juliana Paes é fotografada no supermercado". Não sei nem explicar como eu às vezes to vendo essas porcarias, mas lá estava, e lia uma notícia que era mais ou menos assim: " Anitta compartilha em sua rede social viagem com o ex de Luana Piovani". Sim, algo assim com o potencial de influenciar as bolsas de valores pelo mundo afora. Porém, sem nem perceber, já estava vendo os stories no Instagram da nossa gloriosa expoente cultural ( tenho quase certeza- ou pelo menos assim espero- de que pela primeira vez na vida).
A viagem da Anitta com o ex da Piovani tinha sido em Bali, na Indonésia. À noite estou vendo o filme, que até tem essa temática de viagens, passa-se em 4 pontos turísticos pelo mundo. Mas onde ocorre o clímax, o ponto fundamental do filme? Justamente em Bali. Posso estar enganado, mas creio que no mesmíssimo hotel que havia visto nos stories da cantora da " Paradinha".
Daí você pode dizer que Bali não é exatamente um paraíso escondido. Ok, mas pensando bem: é um entre uma boa centena de pontos de turismo para conhecermos no mundo; assim como aquele filme era um entre uma boa centena de filmes fortuitos que havia para escolhermos ( e dificilmente algum também se passaria em Bali, ainda que trouxesse a temática de viagens); e aquela notícia sobre a Anitta e seu novo affair era uma entre uma centena de bobagens sobre famosos que eu poderia ter lido naquele dia.
Pois veja bem: nunca lhe aconteceu situação semelhante? Algo como lembrar de um amigo que não vê, e de quem sequer ouve falar há anos, e a pessoa simplesmente lhe surgir, no meio da rua, ou fazer-lhe um telefonema? " Poxa, que incrível coincidência!" Você fala isso, mas mais para tentar convencer a si próprio de que aquilo é minimamente razoável, apesar das probabilidades matemáticas irrisórias.
Não que com essa reflexão eu pretenda referendar o argumento da Ronda Bhyrne, no seu " O Segredo", segundo o qual tudo aquilo que nos acontece foi precedido por uma determinada vibração, de modo que seria possível inclusive refrear os infortúnios,com um "pensamento sempre positivo". Não acho que a complexidade do que nos cerca possa ser resumida em fórmulas assim.
No entanto, como já observava Shakespeare, com seu brilhantismo habitual, há de fato aspectos que fogem dos nossos 5 sentidos. Boas razões existem para acreditar que, dentre esses aspectos, está uma ligação invisível entre os acontecimentos, sobre a qual não necessariamente temos ingerência.
De toda forma, a única certeza, diante de tais incertezas, é da importância de cultivar uma humildade, tal, que nos permita reconhecer que nem tudo já foi explicado, ou mesmo um dia poderá ter uma explicação racional. Isso nos conduzirá a, inclusive, ter a racional postura de respeitar a fé alheia.