Isso. O chanceler ser ideológico não é problema. O problema é essa ideologia atrapalhar as relações internacionais. Por exemplo,não faz sentido você rejeitar acordos com a UE porque ela tem um viés de esquerda em favor de acordos comerciais com as Filipinas que é de extrema direita (e não estou dizendo que o novo chanceler fará isso, é só um exemplo teórico).
Agora é ver o que acontecerá. É ver como será o embate dele com o Guedes que é liberal. É ver se não perderemos acordos comerciais com isso. Duas coisas que pelo menos me tranquilizam é que provavelmente não haverá financiamento via BDNES para obras em países estrangeiros ou que esse pendor ideológico não será só uma fachada para roubar que tanto aconteceram nos governos petistas.
Fique tranquilo quanto a isso. Até onde pude apurar com colegas que o conhecem diretamente, não se trata de nenhum lunático. É articulado, trata bem as pessoas (o que não se pode dizer de uma boa parcela de chefias no Itamaraty) e já serviu em Postos importantes, como a Embaixada em Washington (ainda que não como chefe).
Uma coisa que um diplomata brasileiro - especialmente alguém que conseguiu chegar a Ministro de Primeira Classe, a.k.a. "Embaixador" - não faria seria dinamitar as pontes já construídas, então não o vejo recuando de qualquer acordo assinado por pura ideologia. Se houver conversas nesse sentido, seria para tentar obter termos que nos favorecessem mais, como uma abertura maior do Mercosul para acordos bilaterais. Nada de rupturas bruscas.
Ele soa um pouco religioso demais para o meu gosto, mas trata-se de alguém com 30 anos de Casa, e nós conhecemos quem são os loucos lá de dentro. Não há queixas a respeito dele. Não haverá uma guinada de 180º graus na nossa diplomacia, que, em primeiro lugar, sempre busca o melhor para o Estado Brasileiro, e antagonizar outros países sem necessidade não é algo que o MRE costuma fazer. Até agora, as polêmicas foram criadas pela equipe próxima ou pelo Bolsonaro propriamente dito, que, até o momento, não tinham um profissional por perto para assessorá-lo. Agora tem.
O máximo de choque que consigo prever, se chegar a tanto, é algum atrito pelo controle da APEX Brasil, agência de promoção às exportações, incorporada recentemente ao Itamaraty. E só. Apesar da ênfase no campo da identidade cultural ocidental, o novo Ministro de Estado é tão liberal quanto o resto da equipe do novo governo em termos puramente econômicos/comerciais.
Em suma, não há razão para essa histeria plantada pela mídia, a não ser 'vender jornal'. Uma coisa é se posicionar como um chefe de departamento; outra é ser o Ministro de Estado, que irá conduzir um ministério cuja "religião" é defender os interesses do Brasil em bases geralmente pragmáticas (sim, uma ou outra escorregada ideológica, vide Celso Amorim, mas é a exceção da regra).