Ivo Maropo
Bam-bam-bam
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Que não me entendam mal: este tópico não tem absolutamente nada a ver com se odiar a tecnologia, e nem tem como seu objetivo "desmoralizar" o 4K. Eu não tenho absolutamente nada contra a evolução tecnológica. Muito pelo contrário até - se tem um cara que sempre foi um graphics' wh*re assumido e um tecnófilo de plantão desde a mais tenra idade, este alguém sou eu (e eu continuo sendo). Mas eu também não pude deixar de notar nos últimos anos uma (de)crescente excitação, magia e demanda por novas resoluções de TV.
Novamente, não me entendam mal: não é que "ninguém liga mais para resolução", ou mesmo que "ela já não é mais algo tão importante assim" (ela é, sim, mas não me parece haver mais tanta afobação assim pelo seu constante avanço como já houve um dia, com a excitante introdução das HDTVs no mercado nos anos 2000). O que eu quero chamar a atenção aqui é para uma sutil (ainda que determinante) distinção de percepção, e que, por isto mesmo, pode beirar ao imperceptível.
Eu argumento que o interesse pela constante autorrevolução tecnológica ainda claramente existe, mas que ele já não é mais tão esbaforido, excitante e encantado como ele já foi um dia, em nossa história recente. Não me parece haver no ar a mesma espécie de excitação mágica e esbaforida para a obtenção de uma tv em 4K como claramente havia no início das HDTVs - salvo engano quando aquelas estão em tentadoras promoções de queima de estoque, e/ou quando as nossas antigas TVs de led em 1080p já começam a dar sinais de mal funcionamento, tornando a sua custosa manutenção constante um mau negócio, indiretamente nos "forçando" e/ou "conduzindo" a migrar para o 4K como "a próxima bola da vez".
O interesse (da nossa migração para o 4K) ainda claramente existe, mas ele "ainda pode esperar"; isto é, ele é algo mais acidental e circunstancial; ele já não tem mais tanta pressa assim de acontecer, e com frequência espera a quebra para além de um bom reparo tranquilizador e financeiramente interessante das nossas guerreiras led em Full HD, até que a nossa migração para o 4K seja por fim decididamente pré-requisitada. E eu ainda iria além: este fenômeno não só é algo pontual, como ele também é generalizado. Algo semelhante também me parece estar em andamento com o mercado de smartphones.
Sim, ainda desejamos (e invejamos) smartphones mais modernos e top de linha, mas com o constante barateamento de bons smartphones, os quais cumprem perfeitamente bem todas as funções básicas da atualidade (como rodar games relativamente sofisticados, tirar fotos razoáveis, navegar na net e pelas redes sociais com tranquilidade, entre tantas outras funcionalidades), eu também não vejo o mesmo esbaforido afã consumidor pela constante compra de (e troca por) novos smartphones - exceção novamente feita à sua eventual quebra e/ou inutilização da sua tela.
Eu também acho que há um lento e inexorável ponto de acomodação em curso não só entre os televisores mais modernos (neste caso, os de 4K), como também entre os smartphones, e até mesmo com a própria internet em si - esta última cada vez mais desesperada por nos vender novas velocidades e larguras de banda quando estas há muito já se estabilizaram (tenho internet de 15MB desde os anos 2010 e não possuo qualquer pressa ou maior senso de urgência no aumento desta velocidade). Isto dito, eu não diria que este processo de acomodação, onde as necessidades por inovação constante são sutil e progressivamente estacionadas, é algo escandaloso e nem imediatamente preocupante, mas algo que, ainda assim, está decididamente se tornando uma realidade; em suas progressivas vias de fato.
Repetindo: não é que o capitalismo irá simplesmente desaparecer e se evaporar (e ainda por cima de uma hora para a outra) na sua constante ânsia por renovação e autorrevolução, mas apenas que as taxas de retorno dos investimentos em inovações não me parecem estar tão parelhas atualmente com as taxas de inovação quanto elas já estiveram um dia, em um passado ainda recente. Os efeitos das inovações tecnológicas já não me parecem ter a mesma intensidade hoje em sua excitação, ingenuidade, maravilhamento, senso de magia e de urgência.
Na filosofia hegeliana, quando algo atinge o seu mais elevado grau de evolução, o que nós temos não é bem o seu pleno desenvolvimento "como ele sempre deveria ter sido ou esperou para ser", mas, ao contrário, o começo da sua decaída. A nossa ingênua e mágica excitação pelas coisas só é mantida em obsessiva alta rotação pela constante luta de sua melhoria. A melhor maneira de se frustrar um desejo a partir de dentro, lhe retirando o próprio chão por onde este pisa, é lhe subtrair de todas as suas dificuldades e obstáculos de obtenção, e não resolvê-los.
É para este estranho paradoxo básico que este simplório tópico pretende chamar a atenção. E aí, o que vocês me dizem? Também tem notado alguma mudança no status do consumo nas últimas décadas como eu? Ou é tudo apenas uma ilusão de óptica da minha parte (e da qual eu sequer estou ciente) e tudo permanece sendo exatamente o mesmo do que era antes? Em um mesmo ciclo de inovação e (temporária nova) acomodação? O que vocês me dizem?
Novamente, não me entendam mal: não é que "ninguém liga mais para resolução", ou mesmo que "ela já não é mais algo tão importante assim" (ela é, sim, mas não me parece haver mais tanta afobação assim pelo seu constante avanço como já houve um dia, com a excitante introdução das HDTVs no mercado nos anos 2000). O que eu quero chamar a atenção aqui é para uma sutil (ainda que determinante) distinção de percepção, e que, por isto mesmo, pode beirar ao imperceptível.
Eu argumento que o interesse pela constante autorrevolução tecnológica ainda claramente existe, mas que ele já não é mais tão esbaforido, excitante e encantado como ele já foi um dia, em nossa história recente. Não me parece haver no ar a mesma espécie de excitação mágica e esbaforida para a obtenção de uma tv em 4K como claramente havia no início das HDTVs - salvo engano quando aquelas estão em tentadoras promoções de queima de estoque, e/ou quando as nossas antigas TVs de led em 1080p já começam a dar sinais de mal funcionamento, tornando a sua custosa manutenção constante um mau negócio, indiretamente nos "forçando" e/ou "conduzindo" a migrar para o 4K como "a próxima bola da vez".
O interesse (da nossa migração para o 4K) ainda claramente existe, mas ele "ainda pode esperar"; isto é, ele é algo mais acidental e circunstancial; ele já não tem mais tanta pressa assim de acontecer, e com frequência espera a quebra para além de um bom reparo tranquilizador e financeiramente interessante das nossas guerreiras led em Full HD, até que a nossa migração para o 4K seja por fim decididamente pré-requisitada. E eu ainda iria além: este fenômeno não só é algo pontual, como ele também é generalizado. Algo semelhante também me parece estar em andamento com o mercado de smartphones.
Sim, ainda desejamos (e invejamos) smartphones mais modernos e top de linha, mas com o constante barateamento de bons smartphones, os quais cumprem perfeitamente bem todas as funções básicas da atualidade (como rodar games relativamente sofisticados, tirar fotos razoáveis, navegar na net e pelas redes sociais com tranquilidade, entre tantas outras funcionalidades), eu também não vejo o mesmo esbaforido afã consumidor pela constante compra de (e troca por) novos smartphones - exceção novamente feita à sua eventual quebra e/ou inutilização da sua tela.
Eu também acho que há um lento e inexorável ponto de acomodação em curso não só entre os televisores mais modernos (neste caso, os de 4K), como também entre os smartphones, e até mesmo com a própria internet em si - esta última cada vez mais desesperada por nos vender novas velocidades e larguras de banda quando estas há muito já se estabilizaram (tenho internet de 15MB desde os anos 2010 e não possuo qualquer pressa ou maior senso de urgência no aumento desta velocidade). Isto dito, eu não diria que este processo de acomodação, onde as necessidades por inovação constante são sutil e progressivamente estacionadas, é algo escandaloso e nem imediatamente preocupante, mas algo que, ainda assim, está decididamente se tornando uma realidade; em suas progressivas vias de fato.
Repetindo: não é que o capitalismo irá simplesmente desaparecer e se evaporar (e ainda por cima de uma hora para a outra) na sua constante ânsia por renovação e autorrevolução, mas apenas que as taxas de retorno dos investimentos em inovações não me parecem estar tão parelhas atualmente com as taxas de inovação quanto elas já estiveram um dia, em um passado ainda recente. Os efeitos das inovações tecnológicas já não me parecem ter a mesma intensidade hoje em sua excitação, ingenuidade, maravilhamento, senso de magia e de urgência.
Na filosofia hegeliana, quando algo atinge o seu mais elevado grau de evolução, o que nós temos não é bem o seu pleno desenvolvimento "como ele sempre deveria ter sido ou esperou para ser", mas, ao contrário, o começo da sua decaída. A nossa ingênua e mágica excitação pelas coisas só é mantida em obsessiva alta rotação pela constante luta de sua melhoria. A melhor maneira de se frustrar um desejo a partir de dentro, lhe retirando o próprio chão por onde este pisa, é lhe subtrair de todas as suas dificuldades e obstáculos de obtenção, e não resolvê-los.
É para este estranho paradoxo básico que este simplório tópico pretende chamar a atenção. E aí, o que vocês me dizem? Também tem notado alguma mudança no status do consumo nas últimas décadas como eu? Ou é tudo apenas uma ilusão de óptica da minha parte (e da qual eu sequer estou ciente) e tudo permanece sendo exatamente o mesmo do que era antes? Em um mesmo ciclo de inovação e (temporária nova) acomodação? O que vocês me dizem?