Pode comentar um pouco sobre sua estratégia?
Olho aspectos de governança da empresa, atual e passados, como liquidez das ações, free float, quanto o majoritário tem de ON e PN, quem são os majoritários, se é novo mercado ou não, se tem escândalos no contexto da empresa, se tem histórico de sacanear os minoritários, etc., enfim, busco qualquer indicador que sugira que a empresa não é boa para os minoritários, porque eu serei um deles.
Se for tudo ok, parto pras informações contábeis. Gosto de olhar um histórico na faixa de 10 anos. Olho comportamento da receita, lucro líquido, patrimônio líquido, endividamento e as DFC (demonstração de fluxo de caixa, foco mais na operacional mas também olho de investimento e financiamento). Junto com isso, eu olho a decisão de dividendo da empresa, quanto ela costuma distribuir e quanto ela costuma reter, e baseado na estratégia da empresa sobre isso eu olho se a evolução/comportamento dos aspectos que citei estão condizentes (não ligo se a empresa paga dividendo ou não, eu uso o dividendo pra ver se o crescimento dela está condizente com o caixa que ela retém/distribui, caso esteja a empresa vai dar retorno no longo prazo. Então por ex: Se a empresa distribui 25% de lucro e retém 75%, eu espero que ela tenha um crescimento do lucro e PL muito maior do que uma que distribui 75% e retém 25%. Na verdade, nesse sentido, de certa forma tenho preferência por empresas que distribuem MENOS dividendos. Distribuir dividendo é uma escolha de caixa e a empresa só deve tomar ela quando não conseguir a render o dinheiro dela a uma taxa interessante. Se a empresa não consegue fazer isso e opta por distribuir caixa, pra mim não faz muito sentido eu ser sócio, porque aí eu seria basicamente um financiador dela.)
Só compro ordinária (ON), porque é a que os donos da empresa tem em 100% dos casos. Como em várias empresas eles não tem (muitas) PN (preferenciais), quando estoura algo pra cima do minoritário geralmente é pra quem detém PN.
Identifiquei o quanto a empresa é boa, eu estabeleço (de cabeça mesmo, não tem critério objetivo) uma alocação do meu capital pra ações nela. Tento ficar no máximo em 10% de alocação em uma empresa, a maioria tá na faixa de 8%, apesar de ter uma na casa dos 20%.
Estabelecido o percentual, eu faço aportes sempre que possível pra manter esse percentual. Sempre que possível = não importa cotação, crise, guerra mundial etc. Mas não é por inocência, todos os passos da minha estratégia são pautados em evidências que me dão algum embasamento. Ex., tem um gráfico que já postei várias vezes aqui no tópico, lá você observa que em nenhum período nos últimos 200 anos na bolsa americana o índice DowJones levou mais de 5 anos para no mínimo voltar ao mesmo patamar que estava. E quando eu falo "nenhum período" está incluso duas guerra mundiais, o maior crash que já houve (1927), inúmeras bolhas (superestimação contábil, internet, subprime etc.), guerras "menores" (vietnam, coréia etc.). Juntamente com essa evidência, esse mesmo gráfico demonstra que dificilmente algum investimento bateu a bolsa (estou excluindo usar o dinheiro pra empreender). Além disso, outras evidências mostram que ficar fora de uma boa ação ou tentar acertar o momento certo dela, a longo prazo, te faz terminar com menos patrimônio do que simplesmente comprar ela e deixar lá queta. Por esses e outros motivos, eu não espero hora certa pra comprar ação, eu compro quando tenho dinheiro. Na minha experiência, não tem lugar melhor pra ele ficar de qualquer forma. Obs: falei muito em "evidências", eu não vou trazer elas porque não quero convencer ninguém a investir como eu invisto, só estou comentando que a minha estratégia possui um embasamento por trás.
Pra fechar a estratégia, quero lembrar a fórmula do juro composto: aportes vezes rendimento elevado a tempo.
O rendimento é consequência da minha expertise (sou mestre em contabilidade, professor e pesquisador em finanças, pra citar algo sobre "expertise") em identificar boas empresas, não controle ele muito além disso. O tempo já cobri ali atrás, é o máximo de tempo possível. Sobra os aportes: comentei que também é sempre que possível.
O que resta pra comentar é sobre os aportes. É a coisa que eu mais foco. Tento aumentar eles o máximo possível, já que os outros dois não tem muito o que fazer além do que já faço (tempo e rentabilidade). Então me dedico a duas questões: 1. Aumentar os aportes através de rendas complementares e investimento em conhecido; e 2. Investindo no que me permite aumentar os aportes e aproveitar algum dinheiro que acumulei: família, saúde, esportes, lazer etc.
Eu comentei sobre o que o Warren Buffett falou não fazer diferença pra mim, mas é no sentido de que a carta que ele escreve, ele escreve como majoritário da Berkshire. As coisas que ele diz se aplica a ele e a empresa dele, e não aos minoritários.
Porém, das pessoas que eu não conheço pessoalmente ele é uma das que eu mais admiro, e é quem me fez me interessar por ações e finanças no primeiro lugar. Pra mim sempre vai ser o maior e melhor investidor que já houve.
Se filtro o que ele fala, é porque sei que a maioria não se aplica aos pequenos minoritários. E o pouco que ele já falou e se aplica, é bem difícil de ser encontrado. Não é nessas cartas anuais ou nos inúmeros livros que terceiros escreveram sobre ele (ele nunca escreveu um).