Vou ir direto aos pontos, pra discussão fluir:
Acho que não vamos chegar num consenso, mas tu concorda comigo que não teria como ter o mesmo ódio por corrupção contra o Bozo na comparação com o Lula.
Se o ódio fosse realmente contra a corrupção, sim, teria. Afinal, corrupção é corrupção.
São extremos políticos, simples assim.
Aqui é que as coisas não são "simples assim". Não sei se você se lembra do pavor do mercado e da mídia em 2002, quando o Lula ganhou. O dólar a R$ 4,00, a Regina Duarte dizendo que "tinha medo"... tanto medo que a primeira coisa que o Lula fez, ao vencer, foi soltar a "Carta ao povo brasileiro". Na carta, ele dizia basicamente que queria uma grande aliança de classes para governar e levar o Brasil a um outro patamar de desenvolvimento. É até engraçado, se a gente comparar essa carta com o último discurso, na coletiva de duas semanas atrás. Fora os trechos do assunto "Bolsonaro" e da Lava-jato, o conteúdo é praticamente o mesmo.
As origens do Lula podem ser de esquerda, mas os governos dele e da Dilma sempre foram, na prática, de centro. Pode parecer absurdo falar isso no Brasil de hoje, mas isso é porque o centro (enquanto ponto) do espectro político foi empurrado, pela mídia e pelo próprio Bolsonaro, para a direita. E te convido a pegar dados e análises dos governos petistas para embasar o meu ponto: foram governos onde a elite - bancos, agronegócio, industriais, classe política etc - nunca deixou de faturar o seu; ao mesmo tempo, os petistas fizeram política de inclusão, de acesso à renda, universidades, crédito e etc. para as classes médias e baixas... sem entrar no mérito do que foi ou não foi suficiente, isso foi o mais próximo que chegamos de um governo que contemplou interesses de todas as classes. O que o coloca, por definição lógica, no centro.
Um é a antítese do outro..., mesmo que tenham algo muito importante em comum: o desejo pelo poder acima de tudo, de forma ideologicamente patológica e psicótica.
Que um é a antítese do outro, sem dúvida. Bolsonaro só ganhou por ser "anti-Lula" e existem inúmeras análises boas sobre esse aspecto. Mas entender eles apenas nessa chave de "sedentos por poder" é uma coisa meio míope. Vamos lembrar que tanto um quanto outro estiveram/estão nas mãos de um congresso - esse sim, tem o poder como único projeto - que pouco se renova, mantendo-se no poder há muito mais tempo.
Enquanto um diz "QUE BOM QUE A NATUREZA CRIOU O CORONAVIRUS" pra enaltecer o estado, o outro diz "COMPRAR VACINA NA CASA DA TUA MÃE" pra sustentar o negacionismo.
Uma declaração infeliz do Lula como figura pública equivale a inúmeras declarações e AÇÕES sistemáticas do Bolsonaro como presidente? Não era você lá em cima que estava falando em "proporção"? Aqui ela não vale mais?
Então voltando a raiz do teu ponto vista - de que o ódio contra o Lula é fruto da imprensa - eu diria que, EM PARTES, pode ser.
Mas tem outra parte, a mais representativa, que é por puro e simples MERECIMENTO.
Acho que você inverte a proporção das partes, muito por naturalizar e introjetar o discurso da mídia. E isso é um processo não apenas racional e de escolha, mas um condicionamento. Tem um buraco bem mais fundo aí, que é o modo como a gente constrói a nossa noção de Brasil usando o discurso da mídia.