Tanque de guerra, praticamente inquebrável.
Agora, estável e seguro aí forçou demais a barra hein.
Estável como poucos! Cambagem negativa das rodas traseiras, suspensão independente nas quatro rodas, faz curvas que um Corsa ou Celta sequer sonham. Seguro... melhor não bater.
Tenho um Mille Fire 2002 desde 30 de Abril de 2002, meu primeiro carro, comprado com muito esforço. De lá para cá outros carros vieram, mas o velho Átila descansa na minha garagem. O único opcional que consegui incluir foram as 4 portas. Quando comprei, o financiamento era taxa 0, ganhei um tanque de gasolina cheio e 6 meses de seguro. Tudo que um jovem sem dinheiro poderia desejar.
Eu odiava (e odeio!) transporte público. O Uno foi meu carro do dia a dia até 2009. À época da compra, minha mãe tinha um Corsa Sedan 2000, e minha avó tinha uma Palio Weekend também 2000. Quando peguei a primeira estrada com o Uno, me deu uma tristeza... era muito diferente do Corsa e da Weekend. Mas comecei a entender o carro. A Rodovia Fernão Dias, famosa por suas curvas, virou minha pista preferida.
É um carro barato de ser mantido, espaçoso, leve, o motor Fire é muito bem calibrado nessa versão, mas é um projeto da década de 80. Não espere sofisticação ou mesmo comportamento próximo de carros atuais.
Principais problemas que eu conheço:
- O motor Fire tem muita propensão à formação de borra. São apenas 3 litros de óleo no cárter, então não estenda o prazo de troca, use bons filtros e boas marcas de óleo, seguindo a especificação. Uso desde sempre o óleo original, que hoje é o Selenia semi-sintético SN 15W40. Troco a cada ano ou 7.500 km. Há óleos melhores, mas nessa especificação basta (se me lembro bem, a original era SL 15W40).
- A válvula blow by, o famoso anti-chamas, às vezes entope e estoura a mangueira, marejando óleo. É o primeiro sinal desse problema. Troque, senão o prejuízo é grande.
- A bomba d'água original costuma vazar (a minha ainda é a original). A versão atualizada da peça é plug n' play e melhor que a original.
- Não use água pura no sistema de arrefecimento, jamais! O bloco do motor é de ferro fundido, o cabeçote é de alumínio. Use um líquido adequado; alguns atacam o alumínio.
- Os selos do motor costumam vazar óleo depois de um tempo. Se me lembro bem, são três. Tampa de válvulas, um o-ring atrás da bobina (para fasagem do comando de válvulas), e próximo à caixa de câmbio, que agora esqueci exatamente qual peça.
- O feixe de molas da suspensão traseira cede com o tempo. Antes disso, ele começa a ranger, pois o isolamento entre as lâminas se desgasta. Mas o rangido mais comum que vem da suspensão traseira é do cabo do freio de estacionamento, que exige lubrificação.
- Esse carro foi o último dos modelos brasileiros (talvez também a Kombi?) que exigia revisão de carroceria. Tem uns pontos de atenção para ferrugem (mas as chapas são tratadas, não terá corrosão perfurativa, a não ser em cidades litorâneas), como atrás do suporte da bateria, a captação de ar da cabine (churrasqueira). Na parte interna dos pára-lamas traseiros acumula muita sujeira. Limpe sempre, senão acumula umidade.
- Se estiver entrando água na cabine, tire as tampas de borracha que ficam na parte de baixo da porta. São guarda-pó, mas entopem e quando chove forte, a água entra na cabine.
- O carro até freia bem. A válvula equalizadora dos freios traseiros nunca funciona muito bem. Os discos de freios são sólidos, mas o carro é leve. Após chuva forte, as lonas dos freios traseiros podem colar; estarão quentes e o freio de mão puxado irá pressioná-las forte. Dê uma marcha à ré que normalmente descolam sozinhas. E fazem um barulhão, quando descolam. Rodei com pastilhas, discos e lonas originais por mais de 100.000 km (Brasília é uma cidade com trânsito de rodovia e eu gostava muito de reduzir, ao invés de frear. Em compensação, destruí o colar da embreagem com 40.000 km e deixei de ser besta. Se for trocar a embreagem, pode pôr a do Fire 1.4, que aguenta mais. Se bem que isso tem tantos anos...).
- Não deixe a palheta do limpador de pára-brisa ressecar, senão arranha muito o pára-brisa.
- São duas bobinas, uma para cada 2 cilindros. Não é um primor de potência, mas é muito econômico. Fazia entre 15 e 20 km/l, dependendo do pé. Na cidade, trânsito pesado, nunca fiz menos que 12 km/l. Mas é um motor calibrado para 15% de álcool. Hoje nossa gasolina safada tem até 27,5% de álcool. Para ser honesto, o motor pára de bater pino em alta carga, mas não sei o que causará a longo prazo.
- Verifique a correia dentada a cada 10.000 km. Essa versão do motor Fire dificilmente atropela válvulas, mas não pague para ver.
- O carro consome mais pneu que os concorrentes. E exige alinhamento também nas rodas traseiras. Coisas do projeto antigo da suspensão independente. Mas, ei! até Porsches usaram esse conceito. Funciona muito bem. E a suspensão é mais confortável que dos Honda (chupa, Fit!).
- Se ficar sem bateria, o TBI perde o ponto da borboleta e a marcha lenta fica oscilando logo após ligar. Basta desligar e ligar novamente, que ele se calibra.
É um carro muito robusto. Se bem cuidado, não lhe deixará na mão. É divertido de guiar, espaçoso, até certo ponto confortável em marcha. Não tem muito o quê quebrar, de tão simples. A parte elétrica é robusta. Mas... achar um inteiro é missão no nível God Mode. Por ser barato, pouca gente cuida. E inventam, mexem, destroem. O meu, já com 18 anos bem vividos, nunca me deixou a pé. Nunca! Está certo que não rodo muito mais com ele, mas carro parado estraga mais que carro andando. Ah, sim. Tecido dos bancos, forro do teto, das portas, tudo original e em bom estado até hoje.
Boa sorte!