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O conceito de economia donut, um capitalismo focado nas limitações do planeta.

abcdario

Bam-bam-bam
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Em junho de 2019, 2 bilhões de toneladas de gelo derreteram na Groenlândia, considerado o maior evento do tipo na história. Ao mesmo tempo, quase 800 milhões de pessoas passam fome no planeta. Para a economista britânica Kate Raworth, ambos os episódios nascem de um modelo econômico que não contempla a redução da desigualdade nem a preservação da natureza. E o prognóstico é preocupante: nesse ritmo, talvez não haja Terra para habitar em breve.

Raworth, contudo, não acha que o planeta está em um caminho sem volta. Pesquisadora na Universidade de Oxford, ela propõe um modelo econômico para os desafios do presente e futuro: a Economia Donut, que também dá nome a seu livro publicado neste mês no Brasil pela Zahar. Em entrevista a ÉPOCA, Raworth explica quais são as mudanças que a teoria econômica precisa promover. Elas vão desde a valorização do trabalho doméstico e não baseado em lucro até a conscientização sobre o papel essencial que o planeta Terra deve ter para uma sociedade sem desigualdade.

O cenário de crise financeira permanente, desigualdade extrema e pressão implacável sobre o meio ambiente revela que o sistema econômico dominante está ultrapassado e não responde aos desafios do século XXI, resume ela. Existe alguma alternativa viável? Será possível imaginar uma outra economia, uma que sirva tanto às pessoas quanto ao planeta? Um modelo que garanta a qualidade de vida em vez de uma economia focada no lucro?

A escritora virá ao Brasil participar de palestras e promover o lançamento do livro Economia Donut: uma alternativa ao crescimento a qualquer custo na Casa Firjan, no Rio, nos dias 2 e 3 de julho, e na Unibes Cultural, em São Paulo, no dia 4 de julho.
Como a senhora explicaria as ideias do seu livro Economia Donut para quem não está familiarizado com o conceito?

São as ideias econômicas para o século XXI, caso nós queiramos prosperar. E é o livro que eu gostaria de ler quando eu era estudante. São ideias que estão aí há décadas, como o feminismo e a complexidade institucional. As teorias que foram empurradas às margens da academia pelo consenso neoliberal e neoclássico na economia.

O donut em si é um compasso para o progresso humano. Parece uma rosquinha, e a parte de dentro é onde as pessoas caem quando ficam sem casa, dinheiro, água e alimentação. Não queremos que ninguém fique ali. O objetivo é que todos fiquem dentro do donut, mas sem aumentar demais a pressão no sistema de vida do planeta. Do contrário, teremos problemas climáticos, oceanos ácidos e florestas desmatadas. Esse é o desafio e a base da ideia: ficar nesse ponto que contemple ambas as necessidades. As perguntas que mais importam são: “Como podemos chegar lá? Com que ideias e diretrizes?”.

Além das universidades, como podemos passar essas ideias para quem não vai estudar economia?

A primeira coisa que precisamos é ensinar sobre nossa casa planetária e como nós dependemos dela e somos conectados a ela. Toda criança aprende sobre o corpo humano, seus órgãos, sistemas e como mantê-lo saudável. E pretendemos aprender o mesmo sobre o planeta: como manter o clima estável, a água potável e o solo fértil. Se não entendermos isso, trataremos o meio ambiente sempre como algo externo que podemos explorar, e não como a nossa casa, da qual precisamos cuidar. Toda criança deveria aprender que somos parte da natureza.
Em segundo lugar, nós aprendemos ainda na escola — e não intencionalmente — um modelo de humanidade que nos mostra como criaturas gananciosas e egoístas. Somos muito rápidos em nos convencer de que somos consumidores, acreditamos nessa história de que a humanidade é egoísta e busca dinheiro e sempre quis mais. As histórias que contamos sobre nós mesmos são poderosas, elas moldam quem somos. As crianças aprende um modelo de economia que valoriza a competição e não o altruísmo. E isso começa muito cedo. É uma visão da humanidade desconectada do mundo.

Temos dificuldade em conceber alternativa ao sistema vigente?

Muita gente acha mais fácil imaginar o fim do mundo do que o fim do capitalismo. E é verdade. O fim do mundo, no sentido de ser um caminho que estamos seguindo, aparece o tempo todo nos jornais. O desafio para o sistema econômico é que isso não costuma aparecer. Sempre pergunto para quem já estudou economia qual foi a primeira coisa que aprendeu. É sempre “oferta e demanda”. Está lá no primeiro dia de aulas. Não aprendemos para que serve a economia, mas sim como o mercado funciona e porque funciona. Isso fica no centro da nossa visão, com o preço sendo a métrica mais importante e o mercado como o centro do mecanismo econômico.

Quais são conceitos da economia que deixamos de pensar, por exemplo, em prol do mercado?

No segundo capitulo do livro, explico o que é a economia. É interdependente, como mostro em um gráfico com as pessoas vivendo juntas. Um exemplo do que é ignorado é a casa. No surgimento da teoria econômica do século XVIII, feita por homens, a casa é ignorada. Pois era relegada às mulheres. Mas ela é essencial, pois é onde começamos todos os dias. Sim, existe o mercado também, mas o século XX ficou obcecado na disputa entre laissez-faire contra o socialismo de estado. É uma luta de boxe ideológica, mas nela perdemos a noção do “bem comum”. Foi tão apagado que nem sabemos como é. Pode ser um projeto como a Wikipedia, ou um jardim onde você vive. Bens e serviços podem ser gerados assim e de várias outras maneiras diferentes, não só na lógica do mercado. O nosso século depende desses bens comuns, o clima incluso, e precisamos pensar nele.

No livro, a senhora fala em acabar com o modelo do “homem econômico” egoísta. De onde ele veio e qual é um modelo que podemos tentar adotar?

É uma história triste, pois tem uma distorção. O economista Adam Smith mostrou que o egoísmo pode ser útil ao mercado, mas que o interesse pelos outros é essencial para que a sociedade funcione. E ele fala disso em seus trabalhos. Mas quando Stuart Mill veio, ele quis simplificar e fez uma coisa horrível. Pintou o homem, na economia política, não como parte da natureza ou interessado em sua conduta social, mas como um ser que deseja possuir riqueza. Ali ele nos dividiu em dois, e disse que não interessa a parte social. O homem se torna o animal que busca os dólares. Aí começou o problema, com eles fazendo modelos de cálculo e nos tornando um modelo que não reflete o Homo sapiens como ele é. E, depois disso, passamos a imitar esse comportamento, nos tornamos mais como eles. Precisamos refazer esse retrato. O comportamento social precisa ser o novo modelo.
Um ponto que parece ficar perdido no sistema que vivemos hoje é a contribuição da economia do lar para a sociedade, como um trabalho essencial mesmo sem remuneração. Por quê?

Isso começou quando Adam Smith diz, em A riqueza das nações, que não é de benevolência do padeiro e do açougueiro que esperamos a riqueza, mas dos seus interesses em seus próprios bens. Estão fazendo isso pois são pagos. Ele estava certo, mercados são mecanismos poderosos de interação. Mas, quando escreveu seu livro, Adam Smith tinha 42 anos, não era casado ou tinha família. Então ele não estava imerso na economia do lar. Aliás, ele se mudou para a casa da mãe para escrever esse livro, e dependia dela para fazer seu dinheiro. Ainda assim, a ignorou completamente e ela foi esquecida na história. Se ele tivesse pensado nela ao falar do padeiro ou do açougueiro, teríamos outra teoria econômica. Nem tudo deve ser pago ou parte do mercado, mas deve ser reconhecido.

Em seu livro a senhora fala bastante da importância das imagens para a economia. Se pudesse, qual imagem da economia a senhora gostaria que as pessoas substituíssem?

A curva de crescimento, que é a metáfora econômica mais importante do século XXI. Ela diz que o progresso é um crescimento sem fim. É como todo político fala sobre economia, através do crescimento. Mas, se você olha para a natureza, que dá certo há bilhões de anos, verá que ela não cresce o tempo todo. Ela amadurece. E só amadurecendo ela prospera. O que cresce para sempre se destrói ou esgota o sistema em que está inserido. No corpo, chamamos isso de câncer. Temos um sistema baseado no crescimento ininterrupto, e essa é a tensão mais importante entre nossa sociedade e o mundo em que vivemos. Algum dos lados terá de ceder. No momento, o mundo está perdendo e por isso temos secas, aquecimento global. Precisamos respeitar o mundo para prosperar, e criar um sistema econômico que leve isso em consideração. Parte disso é por conta do PIB, que inventamos no século XX. Estávamos obcecados por uma métrica única que mostre tudo.

Acho que vale a reflexão levando se em conta as últimas polêmicas sobre o meio ambiente pelas quais andamos a passar no Brasil e no mundo.
 

SuRf Boy

Bam-bam-bam
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Onde é que as pessoas conseguem esse gerador de lacração?

Ela conseguiu reunir no mesmo texto TODOS os chavões marxistas, digo comunistas, aliás socialista... Desculpa é social democrata que fala ainda ou já tem um novo nome?

As pessoas vão longe demais nesse negócio de ser soça.

Mas o estado vai resolver todo essa grande m**** formada (por sua própria interferência) no sistema natural de trocas voluntárias!!!
Assim mugiu alto o senhor(a) bovino gadoso.
 

DanielMF

Ei mãe, 500 pontos!
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Eu acho que a crítica dela do modelo econômico baseado no mercado é fora de contexto histórico e científico, a final, quem se propôs no passado a estudar o mercado, contribuiu para a construção do conhecimento atual. Este conhecimento deve continuar sendo construído, levando em consideração o contexto atual que vivemos. Então o que ela vê como um problema no passado, eu vejo como um processo natural de acordo com o contexto das épocas.

Também pode estar existindo uma mistura entre economia e política. A economia sempre visará o lucro, não adianta confrontar essa realidade. Já a política, essa sim visa o estabelecimento de um conjunto de regras que conduzam a sociedade para um caminho prospero levando em considerações todos os fatores ambientais, sociais e tecnológicos. Diante desses fatores, a própria política determinará em quais condições o desenvolvimento econômico deverá ocorrer. Porém, isso já acontece atualmente, por exemplo com acordo de Paris referente ao clima.

O que pode ser questionado é se as políticas ambientais na atualidade estão sendo suficientes para garantir o desenvolvimento sustentável do planeta, só que essa discussão deve acontecer através de dados científicos.

O que é válido, no meu entender, é o debate sobre políticas sustentáveis. Me parece claro que a busca pela sustentabilidade deve ter como ponto de partida a conscientização, e não o lucro, pois caso contrário, estaremos reféns de uma suposta convergência obrigatória entre os dois.
 

sparcx86_GHOST

Ei mãe, 500 pontos!
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A curva de crescimento, que é a metáfora econômica mais importante do século XXI. Ela diz que o progresso é um crescimento sem fim. É como todo político fala sobre economia, através do crescimento. Mas, se você olha para a natureza, que dá certo há bilhões de anos, verá que ela não cresce o tempo todo. Ela amadurece. E só amadurecendo ela prospera. O que cresce para sempre se destrói ou esgota o sistema em que está inserido. No corpo, chamamos isso de câncer. Temos um sistema baseado no crescimento ininterrupto, e essa é a tensão mais importante entre nossa sociedade e o mundo em que vivemos. Algum dos lados terá de ceder. No momento, o mundo está perdendo e por isso temos secas, aquecimento global. Precisamos respeitar o mundo para prosperar, e criar um sistema econômico que leve isso em consideração. Parte disso é por conta do PIB, que inventamos no século XX. Estávamos obcecados por uma métrica única que mostre tudo.
nada, absolutamente nada a acrescentar. simplesmente belo e incrivelmente importante que isto seja cada vez mais demonstrado! :kjoinha
 

UT_Killer

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Eu já tinha visto um vídeo interessante sobre isso, no tempo que estava fazendo pesquisa em sustentabilidade.

 


NÃOMEQUESTIONE

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Nunca me passou pela cabeça que os Donuts um dia seriam a resposta para os problemas da humanidade.

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