Antes de tudo, desculpe por agrupar as suas respostas por elemento comum:
Concordo em partes.
Quando pensamos que a única forma de entrar no Brasil vindo da China, Europa ou EUA (praticamente) é aérea, qual exatamente é a lógica de dizer que fomos fundamentalmente penalizados pelas fronteiras terrestres?
Nossas infecções vieram do Paraguai, Venezuela, Argentina, etc.? Só olhar o mapa das infecções no país pra constatar que os focos são ao redor dos grandes aeroportos internacionais e portos:
Visualizar anexo 179320
Embora até concorde com você (de novo, minha principal crítica é ser determinista com relação a geografia), o risco de você só enxergar facilitadores nos vencedores é cair no viés de sobrevivência (ou numa espécie de
p-hacking, como falei antes):
- Diziam que o Brasil tinha vantagem por ser tropical.
- Diziam que o o fato de não termos voos diretos da China era uma vantagem.
- Diziam que o fato de estarmos longe da China era uma vantagem.
- Diziam que o fato de termos bastante tempo para nos preparar era uma vantagem.
- Diziam que nossa população ser mais jovem do que a européia era uma vantagem.
Bom, o incentivo de pagar um pedágio é certamente muito maior do que pegar uma rodovia mal conservada, muito mais longa, insegura e remota... então é quase indiferente.
Mas meu ponto não é esse. Eu quis dizer que existem ferramentas, mas faltou coordenação (sobretudo federal) e vontade de tratar a pandemia com seriedade. É ridículo pensar que em março do ano passado a NZ já tinha sacado a seriedade e fechado as fronteiras aéreas, enquanto no Brasil, ainda hoje, está sendo debatido se o número de mortos é tudo isso mesmo.
Primeiramente, o Brasil lidou da forma mais zuada possível e não é parâmetro para o tópico, que eu penso ser sobre as razões do sucesso australiano. Recordo novamente que em Março de 2020 eu já falava aqui, em vários tópicos, do erro que foi ter acontecido Carnaval e do outro erro que foi não ter fechado os aeroportos lá no começo da pandemia. Inclusive foi na época que a Polônia (onde moro agora) fechou os aeroportos.
Sobre o primeiro post: O que eu falei é que fronteira terrestre
com vários pontos de acesso é um dificultador geográfico. Em momento algum eu falei que o Brasil foi prejudicado pela fronteira dele até porque os pontos de acesso com maior fluxo de pessoas são concentrados no centro-sul. Alemanha, França e Espanha, por exemplo, com certeza têm mais pontos rodoviários de entrada/saída internacionais + os trens do que o Brasil tem de rodovias internacionais + balsas.
Sobre o segundo post: Tudo o que você citou como vantagem é de fato vantagem, o que volta ao meu parágrafo inicial e que não muda em nada o meu argumento no nosso debate.
E, sobre o terceiro post e o último adendo que faço sobre o nosso zuado Brasil: IMO, para o Brasil mitigar os danos do covid, quatro coisas eram fundamentais: (i) fechado os aeroportos em fevereiro e cancelado o Carnaval; (ii) STF e o Judiciário ficarem na deles quietos antes e depois do (iii) a seguir; (iii) Bolsonaro ter pedido Estado de Defesa E o Congresso autorizado; (iv) a população ter um mínimo de senso cívico e sossegar o fogo no rabo das festas e etc.
Como num universo paralelo eu só consigo imaginar remotamente o (i) sendo feito (e já seria um milagre), a gente merece o que aconteceu. E olha que se o Brasil tivesse inverno, por exemplo, os números seriam bem maiores.
Mas o Reino Unido tem um único túnel que liga ao continente. E se antes não dava pra fechar, agora dá.
Curioso você citar democracia, pois o apelido de Singapura é
nanny-state dada a notória influência e
mão de ferro estatal lá. Sem contar as penas pra quem viola a quarentena: multas pesadas e deportação (se você for estrangeiro).
Agora o Reino Unido fecha de forma seletiva e já está vacinando de forma acelerada. Não precisa mais fechar os aeroportos todos.
Aliás, bom ter falado porque o Reino Unido só conseguiu a quantidade de vacinas que conseguiu e tá vacinando de forma acelerada porque saiu da UE. Acho que você sabe (até porque tá tendo bastante críticas à Comissão Europeia) que os países-membros não 'puderam' comprar vacinas separadamente, compram como UE e aí distribuem proporcionalmente.
Multa pesada é diferente das medidas que os países autocráticos tomam em situações do gênero
Meu ponto, desde o primeiro post, é que está se dando um valor muito alto ao fato dos países insulares terem uma eficácia maior simplesmente por não terem fronteiras terrestres, ou o fato de serem pequenos, ou o fato de serem democracias, quando os pontos em comum dos casos de sucesso são os que citei acima: testagem massiva, isolamento, controle de contato, etc. Isso foi feito nem muitos países europeus por algum tempo, por isso houve certo sucesso no começo da pandemia, mas depois várias medidas foram sendo revogadas e a população em si tacou o f**a-se e vimos no que deu.
Só pra citar um exemplo: duvido que alguém consiga sair da Austrália, ir pra Mallorca e voltar sem o mínimo de cuidado igual um monte de Alemão tá fazendo aqui.
Como eu disse, eu atribuo como vantagem e quem sabe usar, sabe.
O primeiro lockdown foi pra ver a situação, depois a própria UE relembrou do acordo de livre-movimentação e depois pressionou pra carai os países-membros para relaxarem no verão por conta do $$ do turismo (esses dois pontos foram assunto no trampo aqui). Os países até fizeram lockdowns internos mas não puderam fechar fronteiras intra-UE. Depois, no outono, começou a época de minerar carvão pra calefação do inverno e tome vírus espalhando nas minas com o trabalho não podendo parar e o relógio correndo.
E aí, com o vírus já dentro, boa sorte pra equalizar 440 milhões de pessoas com liberdade de movimentação dentro do bloco.
Se a Austrália tivesse no lugar geográfico da Alemanha e integrando a UE, duvido que teria conseguido o sucesso que conseguiu porque já de saída não teria se fechado como se fechou.
Não exatamente. Onde estão os hotéis de quarentena aqui na Alemanha?
Em janeiro voltei pra cá e o máximo que tive que fazer foi apresentar um PCR e assinar um papel afirmando que ia ficar de quarentena por alguns dias.
Não foi 100% igual mas foi muito parecido.
Em nenhum lugar da UE teve quarentena em locais designados pelo governo por motivos de UE. Sem contar que aí na Alemanha em especial (e aqui na Polônia, obviamente) tem um componente muito sensível de você obrigar um cidadão comum a ficar em uma instalação designada pelo governo.
De forma geral tudo influencia, essa é exatamente minha crítica: não dá pra escolher um fator e dizer que ele é determinante.
E puxando pro óbvio viés político que estamos discutindo aqui: se o segredo pro sucesso do Vietnam fosse o autoritarismo, Irã, Rússia e mais uma penca de países do Oriente Médio e Ásia não estariam com tantos casos.
Mas eu não tô falando que "sou ilha, tô imune e não preciso fazer nada). O que eu pontuo é que há fatores que facilitam, esse é o meu ponto.
Pra qualquer coisa, tem fator que facilita e dificulta. E na maioria dos casos, o mesmo fator que facilita hoje vai te dificultar em outro problema.
Os países autocráticos podem tomar as medidas que quiserem porque não estão sujeitos a controle interno. Ter esse poder é um facilitador numa situação como essa. Quem não usou, aí é com cada um. Mas a ferramenta tá lá.
O que importa é se você sabe jogar o jogo com as cartas que tem na mão.
A Austrália fez vários lockdowns localizados em vários subúrbios de Melbourne.
Lockdown em partes de cidade é diferente de pegar a cidade inteira e cortar as conexões, igual foi feito em Wuhan, por exemplo (onde só entrava e saía o Exército).