“Essa consciência de si mesma; tem, consciência de si, de seus semelhantes, de seu passado e das possibilidades do seu futuro. Essa consciência de seu próprio e curto período de vida, do fato de haver nascido sem por vontade própria e de ter de morrer contra a sua vontade, de ter de morrer antes daqueles que ama, ou estes antes dele, a consciência de sua solidão e separação, de sua impotência ante às forças da natureza e da sociedade, tudo isso faz da sua existência apartada e desunida uma prisão insuportável”, Erich Fromm - A Arte de Amar.
Quando anos atrás eu estava lendo esse livro e passei por essa parte, eu fiquei uns 5 minutos atônito, tinha parado de ler e só fiquei pensando nisso que Erich Fromm falou. Destaquei esse excerto porque sabia da sua importância e que ele me levaria a outras reflexões futuras. O impacto de sua obra foi muito importante pra mim e automaticamente me remeteu a outros pensadores que lido anos passados, a maioria até mesmo antes de Fromm.
O saber da efemeridade da vida que nos ronda e da nossa insignificância ante um universo quase que incompreensível para nós, nos leva a um desespero surreal. Se nós, seres humanos, fomos agraciados pela consciência e também de nos destacarmos intelectualmente perante os outros seres vivos, ao mesmo tempo, a consciência de nossa efemeridade, de nossa morte e de não compreendermos a existência é o preço alto demais que pagamos por chegarmos a esse pico.
A importância que o existencialismo teve em minha linha de pensamento, desde quando o primeiro livro que li a respeito que foi também do considerado pai do existencialismo: O Desespero Humano/A Doença da Morte de Søren Kierkegaard. Nesse livro, Kierkegaard destaca os 5 tipos de desesperos que nos acometem. O interessante é que, segundo a filosofia existencial de Kierkegaard, não há como fugirmos do desespero, a sua ausência é impossível, nisso acomete o desespero inconsciente, cuja a pessoa se sente mal e não entende que está desesperada, esse seria, segundo ele, o desespero mais brando, mas ainda assim, presente e perene.
Outros pensadores, filósofos, escritores e psicanalistas passaram por questões e pensamentos semelhantes, a exemplo do Schopenhauer, Nietzsche, Dostoiévski e Freud. E anos mais tarde, tivemos em decorrência dessa filosofia existencial (tanto a cristã quanto a ateia) e com base da filosofia "negativa/pessimista" de Schopenhauer, o marco da filosofia do Emil Cioral, considerada a filosofia do "ultra negativismo ou ultra pessimismo", levando o existencialismo e o pessimismo da existência humana a um patamar nunca antes alçado por nenhum outro pensador.
Quando conheci a obra de Emil Cioran, fiquei fascinado, comprando todos os livros que foram lançados em português e francês. Assim como houve escritores que tiveram um impacto de impulso positivo em minha vida, como o Fromm e Ortega y Gasset; Emil Cioran, por sua vez, me deu de presente uma baita depressão a ponto de eu pensar em me matar. Quando estava lendo seus livros, perdi até mulher e passei a beber uísque todos os dias, não queria fazer nada, me sentia mal o tempo inteiro. Nesse ínterim era difícil conseguir achar salvação. Se a pessoa está em depressão ou tem tendência a tal, está passando por algum momento difícil, não recomendo de forma alguma ler qualquer uma de suas obras.
Toda essa parte do existencialismo nos faz procurar o sentido da vida, das coisas, uma razão para se existir. Sartre definiu que já que a vida não faz sentido nenhum, cabe ao ser humano criar o seu próprio sentido, que somos livres para decidirmos agir da maneira que quisermos, procurando o sentido que nos convir. Outro pensador, Viktor Frankl, versou pelo mesmo tema dizendo da necessidade de criarmos um sentido sólido para as nossas vidas, dai, criou-se, talvez derivada de todo o pensamento prévio proposto pelo existencialismo, a logoterapia que é uma psicoterapia fundada na busca de sentido.
O próprio budismo é talvez a religião mais existencialista e "neutra" da história da humanidade, é quase uma filosofia e nisso estou me interessando muito nos últimos tempos.