Branco, Mauro Silva, Neto, Márcio Santos... o meninu não ia passar nem dos coletivos.
Joey, vamos brincar de "... E SE" ?
Como vc acha q teria sido a seleção se o Falcão tivesse continuado até 94? Luiz Henrique, Neto e João Paulo teriam tido mais chances ? Bebeto e Romário teriam se sobressaído ?
Desculpe, Vei, vi há dois dias a postagem.
Eu era fã do João Paulo.
Vei, eu acredito que a situação dos três jogadores não teve a ver com técnico.
A grande Copa do João Paulo deveria ter sido a de 90, quando no período em que ele jogou no Bari era tido como um dos maiores jogadores do Calcio, ao lado de Careca, Maradona, Caniggia, Gullit, Vialli, Matthaus, Brehme, Klinsmann, Baggio, Van Basten, Rijkaard, Baresi etc. Na temporada que antecedeu a Copa, por exemplo, o João Paulo foi eleito o melhor jogador estrangeiro do Calcio, superando nomes como os acima citados. Foi um erro o Lazaroni deixá-lo de fora para preferir os seus queridinhos do Vasco, como o veteraníssimo Tita (apesar de cracaço, mas longe do auge) e a promessa Bismarck.
O próprio Falcão, citado por você, há algum tempo comentando sobre a malfadada campanha de 90, disse que Lazaroni falhou ao escalar o Brasil no 352, sistema modal à época, de modo que deveria ter explorado mais o talento brasileiro. Para ele, o Brasil deveria ter usado o 433, cujos atacantes deveriam ser João Paulo na esquerda, Bebeto na direita e Careca no centro de ataque, uma vez que Romário estava contundido.
Em 94, o João Paulo já estava em vertiginoso declínio, decorrente da quebra da perna esquerda no início da temporada de 91-92 do italiano, após a Copa América que jogou. Depois do infortúnio, não lembro mais se ele foi convocado pelo Parreira. Foi só declínio.
A situação do Luiz Henrique foi parecida com a do João Paulo. Além de ele quebrar a perna no início de 94, houve também a situação de sua saída do time titular para dar lugar ao Dunga, após a famigerada derrota para a Bolívia por 2 a 0, a qual fez com que a seleção melhorasse o jogo, goleando no jogo seguinte a Venezuela por 5 a 1, com um show de Dunga.
Um parêntese.
Por incrível que pareça, o Parreira escalava, no papel, uma seleção até bem ofensiva, no 4312 (losango), com o Mauro Silva de médio-centro, Luiz Henrique na meia-direita e Zinho na meia-esquerda. O Raí fazia o meia-atacante atrás de Bebeto e Muller, ou Bebeto e Careca, ou Valdeir e Bebeto. Digo ofensivo porque o Zinho desta época - você sabe melhor do que eu - estava em transição do ponteiro habilidoso e arisco do Flamengo para o meia-armador do Palmeiras, assim como Luiz Henrique era um meia do Bahia/Mônaco, ambos recuados para jogar de médios.
Esse esquema o Parreira usou pelos dois primeiros anos na seleção e só veio alterá-lo após a derrota para a Bolívia do Etcheverry. No papel era ofensivo, porém, se assistirmos os jogos da época, o time era muito pragmático, burocrático e engessado - jogadores presos em seus trilhos predeterminados de jogo. Hoje, esse tipo de jogo é chamado de disciplina e organização tática. O curioso é que, se assistirmos o Brasil de Zagallo, após 94, é notável a diferença de jogo, do pragmático para o intuitivo, com quatro últimos jogadores se movimentando e caindo por todos os lados.
Voltando ao Dunga. Ele, por um tempo, era preterido pelo Parreira, pelo estigma da "Era Dunga". Depois ele foi convocado e passou a ser reserva imediato do Mauro Silva. Com a derrota para a Bolívia, o Parreira armou o time no 442 em linha, com dois volantes, Mauro e ele, e com dois meias abertos, Zinho e Raí. Embora tenha deixado o time mais seguro e com mais saída de bola com o Dunga, o time perdeu poder ofensivo e acabou prejudicando o Raí, que passou a jogar de meia-direita, posição que não era a dele. Não é à toa que a média de gols do Raí caiu exponencialmente depois da alteração e culminou no seu péssimo desempenho em 94.
E quanto ao Neto, todos nós sabemos que ele era um grande jogador, mas o cume da sua carreira durou muito pouco, de 90 a meados de 92. E só. Em 93, ele foi para a Colombia; em 94, estava no Matsubara.
Penso que até mesmo em 90 ele não tinha chance de ser convocado. Há uma lenda que ele merecia. Não merecia. A Copa foi em junho. O Neto foi eleito o melhor jogador do Brasil em dezembro de 90, devido ao grande Brasileirão que fizera - campeonato esse que até o fim dos anos 90 ocorria nos cinco últimos meses do ano, de agosto a dezembro.
E acerca da Copa de 94, hoje, eu entendo a convocação do Paulo Sérgio, embora dela discorde frontalmente. O Parreira, assim como o Tite, é o tipo do técnico que escala o time a partir do esquema tático preferido, e não a partir dos melhores jogadores à sua disposição. Não gosto de técnico assim. Acho uma limitação. Prefiro caras como o Guardiola, o Luxemburgo e o próprio Ancellotti, este que admitira que um dia já fora assim, o que lhe fez recusar até o Baggio:
https://www.otempo.com.br/superfc/a...-de-pensar-depois-de-treinar-zidane-1.2124117
O mediano Paulo Sérgio foi convocado para a reserva imediata do Zinho, para fazer o corredor esquerdo, como um falso ponta. Com essa ideia, ele deixou Rivaldo, Palhinha, Marcelinho e Edílson, os melhores meia-atacantes do Brasil à época, para a reserva imediata do Raí. O Raí não tinha reserva ou talvez tivesse, o Leonardo, que estava na lateral. Ou, para isso, poderia ter trazido os estrangeiros Silas e Valdo, que sempre foram oks na seleção.
No ataque, ele deixou o Evair de fora para dar lugar ao Viola. Acho que ele preferiu aquele Viola, que, diferentemente do jogador que fora depois no Palmeiras, Vasco e Santos, era um nove típico do futebol brasileiro daquele tempo, rápido, móvel, agudo, que ia para o drible. Ainda sim, eu preferia o Evair, fácil. Ele não era forte como o Viola, mas era muito técnico e tinha muita qualidade no passe.
A geração do final da década de 80 para meados de 90 foi a melhor que tivemos no que tange a zagueiros centrais. Julio César, Mozer, os Ricardos, Aldair, Mauro Galvão, Márcio Santos. Qualquer um estava de bom tamanho. Mas acho que o primeiro deveria ter vaga no lugar do Ronaldão. Ninguém vira ídolo eterno na Juventus de Baggio e no Dortmund de Moller à toa.
O Edmundo disputava vaga com o Muller e o Ronaldo. O Muller foi muito bem nas eliminatórias e o Edmundo era um maluco desvairado. O são-paulino era mais confiável. E o Ronaldo era Ronaldo, apesar de novo - 47 jogos e 44 gols no Cruzeiro com apenas 17 anos. Sem comentários. Se, hoje, alguns ficam surpresos com Vinícius Jr. e Mbappé com 18 anos, com 17 anos, o Ronaldo era um jogador amadurecidíssmo, com fundamentos muito bem dominados, sem erros, sem correria desnecessária e sem afobação com a bola nos pés, defeitos tão típicos em jogadores novos, sem amadurecimento.
Reparem na intensa participação no jogo que ele tinha com apenas 17 anos, no amistoso antes da Copa de 94. Apesar de ser um jogo contra a Islândia, a sua personalidade e fundamentos são notáveis:
Dito isso, eu não sei se o Falcão iria mudar muita coisa se continuasse técnico. Acho que o time dele, certamente, não teria o espírito pragmático e defensivo. À vista do 433 que ele montou o Brasil nos amistosos e Copa América de 91 e somado às situações do auge do Raí, Bebeto e Romário, com o apreço que ele tinha ao Mauro Silva (não sem razão), é provável que ele iria fazer algo como 4213, com Mauro e Dunga/Sampaio/Mazinho; Raí; Bebeto, Muller/Ronaldo e Romário.
O Roberto Carlos poderia ter ido no lugar do Branco, pois foi Falcão que o convocou pela primeira vez quando ele jogava na União de Araras. Mas não sei se ele superava o Branco ainda, quando era tão novo. O Branco era um lateral muito completo, tecnicamente falando, apesar de não ter 20% da velocidade e força do Roberto.
O próprio Parreira poderia ter testado o 433 conservador, que hoje se usa atualmente: Ronaldo, Romário e Bebeto no ataque, livres, leves e soltos; com os três volantes de ótima qualidade e saída de bola: Mauro, Dunga e Mazinho. Na convocação, ele poderia ter preferido Evair a Viola, assim como Valdo, Edílson, Rivaldo ou Marcelinho a Paulo Sérgio.
OBS: Se Dener não tivesse morrido, talvez disputasse vaga com Muller e Ronaldo, ou talvez com algum meia-atacante, apesar de Parreira ter levado apenas o Raí. O Falcão, se fosse técnico em 94, não sei se o levaria, pois foi o primeiro a convocá-lo. Entretanto, não se pode perder de vista que o Dener, apesar do talento, era MUITO inconstante e vivia mudando de clube. Ele morreu um mês antes da convocação, em abril de 94, e já não vinha sendo convocado por Parreira. E, para as Copas de 98 e 2002, é muito questionável se Dener estaria no nível de craque incontestável ou de uma promessa que não engatou, como o Alexandre Pato.