Memórias do subsolo (ou Notas do subterrâneo) de Fiódor Dostoiévski
Terminei agora e no momento meus sentimentos com relação a uma avaliação final do livro são confusos. Dostoiévski é, para mim, um dos melhores autores que existe, mas tenho que dizer que pelo que o pessoal comenta e sobre a crítica e até no prefácio do tradutor deste livro eu esperava muito mais, fiquei um pouco decepcionado com a história e seus desdobramentos. Mas o livro não é de todo ruim, longe disso, é bastante esclarecedor e original.
Livro curtinho, dá pra ler calmamente e sem maiores dificuldades, exceto a primeira parte, que mencionarei mais a frente, e abarca memórias no mínimo peculiares de um personagem que considerando os vários livros que já li na minha vida é um dos mais ruins que já vi, sem dúvidas. Até me relacionei com ele um pouco ali na parte final do livro com a ansiedade; no caso dele conseguimos ver, e isso durante todo o decorrer da trama, aquela ansiedade de dar nos nervos do personagem, em alguns momentos com resquícios de loucura mesmo, mas o que mais se destaca é o fracasso. Em minha opinião, e aí cabe minha interpretação, talvez eu tenha entendido de uma forma diferente, cada pessoa que lê pode interpretar de uma forma diferente, isso é normal, mas com isso concluo que o livro deveria se chamar ''memórias de um fracassado'', acho que cairia muito melhor que memórias do subsolo. Veja, eu não sabia nada da história, do que poderia se passar, mas apenas tinha suposto que, conhecendo Dostoiévski, talvez ele retratasse um personagem ou pessoas que estariam mais ''livres'', largadas no mundo da pobreza, do desespero e que não se relacionam com o alto escalão da sociedade. Não pelo menos dessa forma escolhida. Supus isso pelo mero título da trama, mas o que podemos observar são memórias extremamente peculiares, algumas bastante fúteis e vergonhosas, diria até sem sentido, de um personagem extremamente esquisito e peculiar.
A historia é basicamente dividida em duas partes e a primeira é muito carregada filosoficamente, por muitos momentos até incompreensíveis seja em seu sentido, seja no ambiente de nos posicionarmos como leitores, nos relacionarmos, pois são notas extremamente subjetivas com uma semântica muito complicada.
Diria que é até difícil para aquele leitor menos iniciado em leituras, acho que exclui pessoas. Vale o destaque para o tradutor, que consegue trazer toda a raiz do que se quer ser passado, numa linguagem até formalíssima nessa primeira parte, dá pra ver realmente que o tradutor possui vasto conhecimento da língua, gostei bastante. Aliás, mais um trabalho sensacional da editora 34, capa simples, revisão sem erros de ortografia e tradutor muito bom.
Não consegui observar mais do que é mostrado no personagem narrador, parece ser apenas uma pessoa extremamente peculiar, excêntrica e ansiosa, sendo que, como disse, me identifiquei com ele nesse ultimo quesito. Conseguimos observar na alma o maquinismo de pensamentos em sua cabeça, toda aquela alucinação e desespero em observar as coisas como elas são, mas de fato não são; acho que foi uma excelente retratação, mas fora isso não consegui entender muita coisa dos devaneios desse protagonista não, que pra mim se mostrou um personagem não só mau, mas ruim mesmo.
Não é um dos livros que recomendaria primeiro do Dostoiévski, recomendo somente pra quem já tiver mais avançado em sua literatura ou goste muito do autor.