é mais ou menos isso ae...
vc pode ta errado, mas tem que encher o saco que ta certo.
E se vc duvidar do que escrevi só confirma o que Paul no Freire pregava. Se concordar tb
Tipo, você tem trechos contextualizados em que ele defende coisas assim?
Fiquei até curioso e procurei coisas nas obras dele nesse sentido, mas não achei
Eu até achei uns trechos meio reaças
"É como profissionais idôneos – na competência que se organiza politicamente está talvez a maior força dos educadores – que eles e elas devem ver-se a si mesmos e a si mesmas. É nesse sentido que os órgãos de classe deveriam priorizar o empenho de formação permanente dos quadros do magistério como tarefa altamente política e repensar a eficácia das greves. A questão que se coloca, obviamente, não é parar de lutar, mas reconhecendo-se que a luta é uma categoria histórica, reinventar a forma também histórica de lutar."
"O professor que não leve a sério sua formação, que não estude, que não
se esforce para estar à altura de sua tarefa não tem força moral para
coordenar as atividades de sua classe. Isso não significa, porém, que
a opção e a prática democrática do professor ou da professora sejam
determinadas por sua competência científica. Há professores e professoras cientificamente preparados mas autoritários a toda prova. O que
quero dizer é que a incompetência profissional desqualifica a autoridade do professor "
__
Esse negócio de inserir o conhecimento no contexto de quem está sendo educado, talvez seja aquela crítica que o feynman fez ao ensino brasileiro:
"Descobri um fenômeno muito estranho: eu podia fazer uma pergunta e os alunos respondiam imediatamente. Mas se fizesse a pergunta de novo - o mesmo assunto e a mesma pergunta, pelo que eu sei -, eles simplesmente não conseguiam responder! Por exemplo, uma vez eu estava falando sobre luz polarizada e dei a eles alguns filmes polaroides. O polaroide só deixa passar a luz cujo vetor de campo elétrico esteja em uma determinada direção; então expliquei como se pode dizer em qual direção a luz está polarizada, observando se o polaroide está escuro ou claro.
Primeiro pegamos duas tiras de polaroide e as giramos até que elas deixassem passar a maior parte da luz. Podíamos, então, dizer que as duas fitas estavam deixando passar a luz polarizada na mesma direção - o que passou por uma tira de polaroide também poderia passar pela outra. Mas, então, perguntei como se poderia dizer a direção absoluta da polarização a partir de um único polaroide.
Eles não faziam a menor ideia.
Eu sabia que isto exigia um pouco de engenhosidade; então dei uma pista:
"Olhe a luz refletida da baía lá fora." Ninguém respondeu nada.
Então eu prossegui: "Vocês já ouviram falar no ângulo de Brewster?"
- Sim, senhor! O ângulo de Brewster é o ângulo para o qual a luz refletida por um meio que tem um índice de refração é completamente polarizada.
- E em que direção a luz fica polarizada quando é refletida?
-A luz fica polarizada perpendicularmente ao plano de reflexão, senhor. - Mesmo hoje em dia, tenho de pensar; eles sabiam responder na hora! Eles sabiam até que a tangente do ângulo era igual ao índice de refração!
Eu disse "Bem?"
Nada ainda. Eles simplesmente haviam me dito que a luz refletida por um meio com um índice de refração, tal como a baía lá fora, era polarizada: eles haviam me dito até em qual direção ela estava polarizada.
Eu disse: "Olhem a baía lá fora, pelo polaroide. Agora girem o polaroide."
- Ah! Está polarizada! - eles disseram.
Depois de muita investigação, finalmente descobri que os estudantes tinham decorado tudo, mas não sabiam o que queria dizer. Quando ouviram "luz que é refletida por um meio com um índice de refração", não sabiam que isso significava um material como a água. Eles não sabiam que "a direção da luz" é a direção na qual você vê alguma coisa quando está olhando, e assim por diante. Tudo estava totalmente decorado, mas nada havia sido traduzido em palavras que fizessem sentido. Assim, se eu perguntasse o que é o ângulo de Brewster, eu estava entrando no computador com a senha correta. Mas se digo "Observe a água", nada acontece - eles não têm nada que responda ao comando "observe a água".
[...]
"Descobri mais uma coisa", continuei. "Ao folhear o livro aleatoriamente e ler uma sentença de uma página, posso mostrar qual é o problema, isto é, que não há ciência, mas sim memorização, em todos os casos. Portanto, tenho coragem o bastante para folhear as páginas agora na frente deste público, colocar meu dedo em uma página, ler e provar para os senhores."
Fiz isso. Brrrrrrrup - coloquei meu dedo em uma página e comecei a ler:
"Triboluminescência. Triboluminescência é a luz emitida quando os cristais são friccionados ..."
Digo: "E aí, você fez ciência? Não! Apenas foi dito o que uma palavra significa em termos de outras palavras. Não foi dito nada sobre a natureza, quais os cristais que produzem luz quando você os fricciona, por que eles produzem luz. Alguém viu algum estudante ir para casa e verificar isto experimentalmente? Ele não pode."
"Mas, se em vez disso, estivesse escrito: 'Quando você pega um torrão de açúcar e o pressiona com um alicate no escuro, pode-se ver um clarão azulado. Alguns outros cristais também fazem isso. Ninguém sabe o motivo. O fenômeno é chamado triboluminescência.' Aí alguém vai para casa e tenta. Nesse caso, há uma experiência científica." Usei aquele exemplo para chamar a atenção deles, mas não faria qualquer diferença em que página eu pusesse meu dedo; o livro era desse jeito em quase todas as páginas.
Por fim, disse que não conseguia entender como alguém podia ser educado neste sistema autopropagante, no qual as pessoas passam nas provas e ensinam os outros a passar nas provas, mas ninguém sabe nada.
___
Já freire às vezes diz coisas em sentido semelhante:
"O educador faz “depósitos” de conteúdos que devem ser arquivados pelos
educandos. Desta maneira a educação se torna um ato de depositar, em que
os educandos são os depositários e o educador o depositante. O educador
será tanto melhor educador quanto mais conseguir “depositar” nos educandos. Os educandos, por sua vez, serão tanto melhores educados, quanto
mais conseguirem arquivar os depósitos feitos"
__
Enfim, pode ser que ele seja ruim mesmo, só li agora trechos isolados de curiosidade. Mas não me parece ser esse bicho papão pregado. Fora que é totalmente viagem achar que um cara sozinho foi responsável pelo fracasso da educação brasileira. Mesmo se for num sentido simbólico dito isso, além de atrapalhar na busca de soluções, acho que a maior simbologia seria o descaso que o país teve com a educação por mais de 50 anos.