Sou esquerdista, por consequência, me acho o vigia da moral e um homem culto para falar de democracia. Sou pedante e cínico, sim, é bem verdade, porque sou fanaticamente convicto de que não há vida senão for pela Esquerda. Afinal, para aonde iremos nós, se só na esquerda há palavra de vida, de vida em abundância?
Logo, justamente por ser eu um arauto da verdade, vocês deveriam se intimidar frente aos meus argumentos, muito embora sejam eles ridiculamente superficiais, desconectados com a realidade e humildemente fingidos, e, subjacentemente, denotem proselitismo ideológico e desonestidade intelectual.
Mas, veja bem, se tiverem um pouco de compaixão de mim, tamanha é a minha resistência argumentativa por meio de falácias, escárnios e sofismas, contra tudo que se opõe ao meu credo e fé esquerdista, vocês se deixariam influenciar pelas minhas ideias e até me elogiariam, para me embebedarem do meu próprio ego, frente à minha virtude humanista.
Sofro de depressão e oportunamente faço disso um instrumento de exibicionismo humanista, com o fim de denotar humildade e arrancar comiseração. Ganho autoridade indiretamente para meus argumentos patéticos.
Uso minha orientação sexual como mecanismo de justificação do meu orgulho ativista e autoritário, até mesmo legitimadora do preconceito reverso que destilo contra a heteronormatividade.
Uso meu tom de pele como legitimidade autorizativa para ofender e promover ódio racista ao revés. Arvoro-me detentor de direitos fascistoides para diminuir e sobrepujar aquilo que não convém.
Coloco minha atração sexual por genitalia e ânus do mesmo gênero, como fundamento angular de minhas escolhas políticas e democráticas, independentemente da vida pregressa e das escorreitas decisões defendidas pelos candidatos à presidente.
Como também, faço da minha condição de usuário de entopercentes elemento de formação política, a ponto de ingressar numa irresponsável militância contra a ordem pública e o progresso educacional da coletividade brasileira.
Uso um vocabulário que enaltece as genitalias e o buraco excretor, e também ostento um comportamento imoralmente contraventor, sempre com apelo à excrescência e à sexualidade, com o objetivo esquizofrênico de enfrentar este inimigo abstrato, o conservadorismo moral ocidental. Faço de minha frustrada e infeliz depravação moral, admito, um instrumento de provocação de escândalo e abjeção aos que me leem ou me observam.
Apregoou sutilmente a cultura do banditismo e racionalizo a criminalidade como fatores naturais da vida em sociedade. Relativizo a ilegalidade e a depravação moral, e dissipo a responsabilidade pessoal para a coletiva. Faço deste discurso um instrumento de angariar admiração pessoal. Afinal, quanto mais esdrúxulas e subversivas forem minhas ideias, mas elas terão um ar de sofisticadas para os acriticos, de sorte a chamarem atenção para mim e satisfazerem meu ego, e, de quebra, alinharem-se à narrativa do meu credo político sectário-exclusivista.
Sou esquerdista, portanto, cuja natureza é essencialmente passional e primitiva. Já não penso com a razão civilizatória e com espírito republicano, em busca do bem comum. Na verdade, sou egoísta ao extremo, um egolatra movido a ressentimentos, frustração e ódio embutido na alma, destilando divisionismos e promovendo conflitos entre classes e categorias de pessoas. De modo que tudo que faço na vida é no embalo de invejar pessoas bem resolvidas na sua vida emocional, profissional e matrimonial. Uso o esquerdismo como ferramenta de pretexto para destilar minha natureza pérfida e fracassada.
Sou arrogante o suficiente para não procurar ajuda espiritual ou psicológica. Já estou tão irracional nas minhas paixões vaidosas e ruminações coléricas, que não há a menor possibilidade de dar meia-volta para uma vida moderada, racional e comprometida com a verdade e a justiça para o Brasil, para mim mesmo, para a minha família.
Sou um adulto com idade mental de adolescente birrento e hormonal. Então, não quero o bem ao Brasil nem à minha família. Prefiro um Brasil desgraçado, assim como a própria vida, a contar com a possibilidade do político representante das minhas invejas e frustrações ser eleito e fazer um governo de sucesso econômico e social. Voto sabidamente em qualquer bandido, seja quem for, desde que carregue a bandeira que represente os meus ódios, invejas e frustrações, independentemente da necessidade do povo brasileiro e do discurso justo, objetivo e verdadeiro do adversário político.
A Esquerda acima de tudo. O ego acima de todos.